Indústria e conflito no meio rural: os mineiros alentejanos (1858-1938)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Guimarães, Paulo Eduardo
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/2743
Resumo: O livro analisa o conflito industrial emergente numa sociedade rural. O universo escolhido recaiu sobre o Alentejo entre a Regeneração e o Estado Novo. Durante este período o Alentejo foi a principal região mineira do país. Em torno da exploração das pirites, do ferro e do manganês iriam surgir empreendimentos de duração muito variável, curta ou intermitente na maior parte dos casos. Porém, algumas lavras arrastaram-se por vários anos. Em torno delas desenvolveu-se uma actividade notável, surgindo verdadeiros complexos industriais com oficinas de manutenção e de metalurgia, criaram-se de raiz ou animaram-se circuitos ferroviários e portos, enfim, atraíram-se e fixaram-se novas gentes em locais ermos. Surgiram assim autênticos povoados mineiros com uma vida febril, regulada pelos poços de extracção, que animavam as feiras e o comércio regional. Numa sociedade que se via a si própria como rural por vocação e por fatalidade, estes povoados disseminados no meio agreste transtagano surgiam como a excepção que confirmava a regra. São Domingos, cuja aldeia chegaria a contar com seis mil almas, era descrito no início deste século como um lugar exótico, uma aberração industrial enquistada na aridez que a paisagem oferecia ao viajante durante a estiagem, lá para as bandas do Guadiana. Aljustrel chamava igualmente a atenção pela invulgar dimensão. No entanto, sobre a maior parte das explorações pouco ou nada foi registado, para além das lacónicas referências oficiais a produções, trabalhadores, valores e concessionários. Frequentemente a ocupação do espaço não passou dum simples acampamento que concentrava por algum tempo capitais, homens, máquinas e animais de modo precário. Terminado o ciclo da exploração dum minério ou esgotada a viabilidade económica dum filão, ficavam apenas o que não podia ser levado: a paisagem ferida e a memória das gentes. Interessava, pois, retractar o diálogo que se estabeleceu durante aquele tempo entre a actividade industrial e o meio rural. As relações afectavam mercados de trabalho, salários e mobilidade de diferentes tipos de personagens rurais como sejam simples jornaleiros ou almocreves, carpinteiros, ferreiros ou caldeireiros. Contudo, a própria indústria criava categorias profissionais inteiramente novas ou dificilmente conversíveis como eram os desenhadores, os maquinistas, os fogueiros e mesmo os próprios mineiros. A indústria, enfim, impunha uma organização e uma disciplina próprias que afectavam toda a área da concessão e que se estendia a todos os seus habitantes, independentemente do estrito vínculo contratual. As hierarquias criadas no interior da empresa moldavam a vida colectiva, impunham regras de sociabilidade, definiam normas de comportamento precisas. Quando o patrão era também o senhorio da casa que se habitava e o proprietário da terra que se pisava, quando os poderes públicos estavam longe ou eram aliados (quando não meros subordinados) da empresa, quando as pessoas que se viam no trabalho eram os mesmos que se encontravam na rua, enfim, neste meio que não beneficiava da liberdade que a cidade oferecia, as fronteiras entre o interior e o exterior da empresa e até entre o público e o privado tendiam a esbater-se muito. Nestes aspectos essenciais encontramos fortes semelhanças entre o empreendimento industrial e a grande unidade agrícola capitalista que do mesmo modo se desenvolve neste período. Sob outro ponto de vista, a moderna actividade mineira aumentava a procura local de mercadorias, oferecia oportunidades de negócio a vários intervenientes e a diversos títulos. Apesar de não existirem mercados locais de minérios, nem metalurgias nem uma rede regional de actividades industriais que dependessem desta actividade, entre o negócio das concessões, dos seguros, do fornecimento de víveres, do transporte e exportação de minérios foram vários os intervenientes nacionais e internacionais com interesses directos nesta actividade. A indústria proporcionava assim diferentes oportunidades em função do escalão social que mobilizava. Contudo, para muitos trabalhadores, as minas tornaram-se um destino. (Da Introdução)
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Surgiram assim autênticos povoados mineiros com uma vida febril, regulada pelos poços de extracção, que animavam as feiras e o comércio regional. Numa sociedade que se via a si própria como rural por vocação e por fatalidade, estes povoados disseminados no meio agreste transtagano surgiam como a excepção que confirmava a regra. São Domingos, cuja aldeia chegaria a contar com seis mil almas, era descrito no início deste século como um lugar exótico, uma aberração industrial enquistada na aridez que a paisagem oferecia ao viajante durante a estiagem, lá para as bandas do Guadiana. Aljustrel chamava igualmente a atenção pela invulgar dimensão. No entanto, sobre a maior parte das explorações pouco ou nada foi registado, para além das lacónicas referências oficiais a produções, trabalhadores, valores e concessionários. Frequentemente a ocupação do espaço não passou dum simples acampamento que concentrava por algum tempo capitais, homens, máquinas e animais de modo precário. Terminado o ciclo da exploração dum minério ou esgotada a viabilidade económica dum filão, ficavam apenas o que não podia ser levado: a paisagem ferida e a memória das gentes. Interessava, pois, retractar o diálogo que se estabeleceu durante aquele tempo entre a actividade industrial e o meio rural. As relações afectavam mercados de trabalho, salários e mobilidade de diferentes tipos de personagens rurais como sejam simples jornaleiros ou almocreves, carpinteiros, ferreiros ou caldeireiros. Contudo, a própria indústria criava categorias profissionais inteiramente novas ou dificilmente conversíveis como eram os desenhadores, os maquinistas, os fogueiros e mesmo os próprios mineiros. A indústria, enfim, impunha uma organização e uma disciplina próprias que afectavam toda a área da concessão e que se estendia a todos os seus habitantes, independentemente do estrito vínculo contratual. As hierarquias criadas no interior da empresa moldavam a vida colectiva, impunham regras de sociabilidade, definiam normas de comportamento precisas. Quando o patrão era também o senhorio da casa que se habitava e o proprietário da terra que se pisava, quando os poderes públicos estavam longe ou eram aliados (quando não meros subordinados) da empresa, quando as pessoas que se viam no trabalho eram os mesmos que se encontravam na rua, enfim, neste meio que não beneficiava da liberdade que a cidade oferecia, as fronteiras entre o interior e o exterior da empresa e até entre o público e o privado tendiam a esbater-se muito. Nestes aspectos essenciais encontramos fortes semelhanças entre o empreendimento industrial e a grande unidade agrícola capitalista que do mesmo modo se desenvolve neste período. Sob outro ponto de vista, a moderna actividade mineira aumentava a procura local de mercadorias, oferecia oportunidades de negócio a vários intervenientes e a diversos títulos. Apesar de não existirem mercados locais de minérios, nem metalurgias nem uma rede regional de actividades industriais que dependessem desta actividade, entre o negócio das concessões, dos seguros, do fornecimento de víveres, do transporte e exportação de minérios foram vários os intervenientes nacionais e internacionais com interesses directos nesta actividade. A indústria proporcionava assim diferentes oportunidades em função do escalão social que mobilizava. Contudo, para muitos trabalhadores, as minas tornaram-se um destino. 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