Pele como suporte, sangue como tinta : um estudo sobre o embodiment num exercício de animação experimental

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Corso, Carina Pierro
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/40810
Resumo: A presente pesquisa busca, através de um exercício prático realizado em conjunto com cinco participantes, compreender algumas das formas pelas quais a relação espetatorial corpórea se concretiza, tendo como foco a perceção háptica. A investigação prática foi efetivada em diferentes etapas e aproximações, nomeadamente duas conversas e uma intervenção corpórea feita por uma técnica denominada bloodline (tatuagem sem tinta), registrada por meio da captação visual e sonora. Por fim, o material coletado foi editado em formato de experimento animado, numa tentativa de traduzir os assuntos tratados nas conversas por meio de uma experiência multissensorial. A animação, apesar de ser uma prática artística que, tradicionalmente, privilegia majoritariamente a visão e a audição, ao entrar em contacto com o espetador, também afeta todos seus outros sentidos de forma sinestésica, se relacionando com a memória corpórea que ele carrega. O campo experimental da animação, por geralmente ter qualidades materiais mais explícitas e valorizar estímulos sensoriais em sua prática (Taberham, 2019: 24), permite uma leitura do corpo do espetador como um terceiro elemento integrado, inserido não somente como produtor de significado e experiência, mas como um meio através do qual o trabalho artístico se concretiza sensorialmente. Esta forma de atuação da prática da animação experimental, em algum nível, reata a divisão entre corpo e mente que emergiu a partir da ascensão do pensamento Cartesiano, e, posteriormente, Iluminista, os quais foram responsáveis por realizar uma rutura dualista na perceção humana. Apesar do enraizamento de tal tipo de pensamento na sociedade, algumas teorias fenomenológicas e do embodiment compreendem a forma como o ser humano se relaciona de forma corpórea, não somente com qualquer evento que o aconteça, mas também com trabalhos artísticos. O embodiment aplicado à prática da imagem em movimento, estudado extensivamente por autoras como Laura Marks, Jennifer Barker e Vivian Sobchack, estimula uma leitura integrada da participação espetatorial em trabalhos audiovisuais. As teorias que assumem a visualidade corporalizada reconhecem a presença do corpo no ato de visão, produzindo uma noção de que os sentidos e o intelecto agem em conjunto. Assim, é promovido um retorno ao corpo como uma superfície de comunicação e perceção complexa e indivisível, que enxerga o cinema como um tipo de contato, um encontro com o outro (Elsaesser & Hagener, 2010: 110). Tendo estas perspetivas em consideração, as perguntas que guiam esta pesquisa são as que se seguem: de qual forma o embodiment numa animação experimental pode afetar a sua relação com os seus espetadores? A utilização da pele e do sangue como matérias artísticas criam uma relação háptica com o espetador-participante? A valorização e aplicação do conhecimento corpóreo num trabalho artístico é capaz de motivar uma horizontalização nas relações criadas dentro da arte? Como a corporeidade pode auxiliar na construção de um conhecimento com e a partir do outro?
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A animação, apesar de ser uma prática artística que, tradicionalmente, privilegia majoritariamente a visão e a audição, ao entrar em contacto com o espetador, também afeta todos seus outros sentidos de forma sinestésica, se relacionando com a memória corpórea que ele carrega. O campo experimental da animação, por geralmente ter qualidades materiais mais explícitas e valorizar estímulos sensoriais em sua prática (Taberham, 2019: 24), permite uma leitura do corpo do espetador como um terceiro elemento integrado, inserido não somente como produtor de significado e experiência, mas como um meio através do qual o trabalho artístico se concretiza sensorialmente. Esta forma de atuação da prática da animação experimental, em algum nível, reata a divisão entre corpo e mente que emergiu a partir da ascensão do pensamento Cartesiano, e, posteriormente, Iluminista, os quais foram responsáveis por realizar uma rutura dualista na perceção humana. Apesar do enraizamento de tal tipo de pensamento na sociedade, algumas teorias fenomenológicas e do embodiment compreendem a forma como o ser humano se relaciona de forma corpórea, não somente com qualquer evento que o aconteça, mas também com trabalhos artísticos. O embodiment aplicado à prática da imagem em movimento, estudado extensivamente por autoras como Laura Marks, Jennifer Barker e Vivian Sobchack, estimula uma leitura integrada da participação espetatorial em trabalhos audiovisuais. As teorias que assumem a visualidade corporalizada reconhecem a presença do corpo no ato de visão, produzindo uma noção de que os sentidos e o intelecto agem em conjunto. Assim, é promovido um retorno ao corpo como uma superfície de comunicação e perceção complexa e indivisível, que enxerga o cinema como um tipo de contato, um encontro com o outro (Elsaesser & Hagener, 2010: 110). Tendo estas perspetivas em consideração, as perguntas que guiam esta pesquisa são as que se seguem: de qual forma o embodiment numa animação experimental pode afetar a sua relação com os seus espetadores? A utilização da pele e do sangue como matérias artísticas criam uma relação háptica com o espetador-participante? A valorização e aplicação do conhecimento corpóreo num trabalho artístico é capaz de motivar uma horizontalização nas relações criadas dentro da arte? Como a corporeidade pode auxiliar na construção de um conhecimento com e a partir do outro?This research aims to comprehend some of the ways through which the spectatorial relationship is present in works of experimental animation, focusing on haptic perception. The investigation was executed in different phases and approaches, namely two conversations and the moment when a bodily intervention was made through a technique called bloodline (tattooing without ink). All of those processes were recorded through visual and sound capture and later edited into an animated experiment as an attempt to translate the subjects brought by the conversations into a multisensory experience. In spite of being an artistic practice that traditionally privileges vision and audition, animation as a medium also affects all of the other senses of each spectator in a synesthetic way, activating and relating to the bodily memories they carry. The experimental field of animation, usually having explicit material qualities and valuing sensory stimulation in its practice (Taberham, 2019: 24), allows a reading of the spectator’s body as a third constituent element of the work. In this way, the body is perceived not only as a producer of meaning and experience, but also as a means through which the artistic work is sensorially concretized. At some level, this mode of action in the experimental practice reconnects the division between body and mind that emerged from the rise of Cartesian and Illuminist philosophies. These currents were responsible for carrying out a dualistic rupture in human perception. Despite the rootedness of this type of thinking in society, some phenomenological and embodiment theories understand how the human being relates in a corporeal way not only with any event that happens to them, but also with artistic works. Embodiment applied to moving image practice was extensively studied by authors such as Laura Marks, Jennifer Barker and Vivian Sobchack, responsible for stimulating an integrated reading of spectatorship in audio-visual works. In recognizing the presence of the body in the act of vision, the theories that comprehend that visuality is embodied produce a notion that the senses and the intellect act together. Consequently, a return to the body as an indivisible surface of communication and complex source of perception is promoted, seeing the cinema as a type of contact, an encounter with the other (Elsaesser & Hagener, 2010: 110). Considering these perspectives, the research questions that guide this investigation are the following: how can embodiment in experimental animation affect its relationship with its viewers? Does using skin and blood as artistic materials create a haptic relationship with the spectator-participant? Is the appreciation and application of bodily knowledge in a creative work capable of motivating a horizontalization in the relationships created within art? How can corporeality help construct knowledge with and from the other?Gomes, Sahra Ursula KunzCordas, EkaterinaVeritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaCorso, Carina Pierro2023-04-13T10:57:35Z2022-12-072022-092022-12-07T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/40810TID:203223578porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-12T17:46:22Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/40810Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:33:30.127586Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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description A presente pesquisa busca, através de um exercício prático realizado em conjunto com cinco participantes, compreender algumas das formas pelas quais a relação espetatorial corpórea se concretiza, tendo como foco a perceção háptica. A investigação prática foi efetivada em diferentes etapas e aproximações, nomeadamente duas conversas e uma intervenção corpórea feita por uma técnica denominada bloodline (tatuagem sem tinta), registrada por meio da captação visual e sonora. Por fim, o material coletado foi editado em formato de experimento animado, numa tentativa de traduzir os assuntos tratados nas conversas por meio de uma experiência multissensorial. A animação, apesar de ser uma prática artística que, tradicionalmente, privilegia majoritariamente a visão e a audição, ao entrar em contacto com o espetador, também afeta todos seus outros sentidos de forma sinestésica, se relacionando com a memória corpórea que ele carrega. O campo experimental da animação, por geralmente ter qualidades materiais mais explícitas e valorizar estímulos sensoriais em sua prática (Taberham, 2019: 24), permite uma leitura do corpo do espetador como um terceiro elemento integrado, inserido não somente como produtor de significado e experiência, mas como um meio através do qual o trabalho artístico se concretiza sensorialmente. Esta forma de atuação da prática da animação experimental, em algum nível, reata a divisão entre corpo e mente que emergiu a partir da ascensão do pensamento Cartesiano, e, posteriormente, Iluminista, os quais foram responsáveis por realizar uma rutura dualista na perceção humana. Apesar do enraizamento de tal tipo de pensamento na sociedade, algumas teorias fenomenológicas e do embodiment compreendem a forma como o ser humano se relaciona de forma corpórea, não somente com qualquer evento que o aconteça, mas também com trabalhos artísticos. O embodiment aplicado à prática da imagem em movimento, estudado extensivamente por autoras como Laura Marks, Jennifer Barker e Vivian Sobchack, estimula uma leitura integrada da participação espetatorial em trabalhos audiovisuais. As teorias que assumem a visualidade corporalizada reconhecem a presença do corpo no ato de visão, produzindo uma noção de que os sentidos e o intelecto agem em conjunto. Assim, é promovido um retorno ao corpo como uma superfície de comunicação e perceção complexa e indivisível, que enxerga o cinema como um tipo de contato, um encontro com o outro (Elsaesser & Hagener, 2010: 110). Tendo estas perspetivas em consideração, as perguntas que guiam esta pesquisa são as que se seguem: de qual forma o embodiment numa animação experimental pode afetar a sua relação com os seus espetadores? A utilização da pele e do sangue como matérias artísticas criam uma relação háptica com o espetador-participante? A valorização e aplicação do conhecimento corpóreo num trabalho artístico é capaz de motivar uma horizontalização nas relações criadas dentro da arte? Como a corporeidade pode auxiliar na construção de um conhecimento com e a partir do outro?
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