Morte e olhar médico em Naissance de la clinique : leituras da arqueologia de Foucault, para uma resposta à fenomenologia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Mariana de Soveral Gomes da
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/32662
Resumo: O presente trabalho toma como referência a obra Naissance de la clinique: Une archéologie du regard médical, que Michel Foucault publicou pela primeira vez em 1963, assumindo o objectivo de reverter o seu estatuto quase-marginal no corpus foucaultiano. Procuraremos medir o lugar intermédio de Naissance de la clinique entre a investigação sobre a medicina mental encetada em Histoire de la folie à l’âge classique e a analítica da finitude preconizada por Les mots et les choses, mas sobretudo assinalar a sua especificidade, relevando tanto a sua importância programática para Les mots et les choses como o carácter embrionário das teses aí expressas para os estudos posteriores de Foucault em torno do poder-resistência ou da biopolítica. A arqueologia do olhar médico que Foucault se propõe fazer em Naissance de la clinique assenta na tese central de que a morte é o a priori histórico da passagem à modernidade científica da medicina, a partir da ruptura anátomo-clínica de finais do séc. XVIII e da integração da morte na prática e no discurso de uma medicina que a descobre também como fundamento ontológico da vida e da doença. Para a discussão da anteposição da morte à vida, recorreremos ao conceito de ser-para-a-morte de Heidegger, bem como à pulsão de morte de Freud. Inclinar-nos-emos, contudo, para uma indistinção fundamental entre elas, a partir de uma leitura do pensamento de Bataille e da sua presença forte em Naissance de la clinique. Que tipo de experiência é a que o olhar médico tem da morte? Corresponde este olhar a um sujeito? A resposta a estas perguntas é decisiva para compreendermos o ponto em que se encontra nesta altura o Foucault arqueólogo face às suas influências e aos adversários que procura combater, mormente a fenomenologia. Pode a morte ser aí uma experiência fundamental à maneira da desrrazão na Histoire de la folie? A remanescer uma qualquer forma de verdade extra-discursiva na arqueologia, ela não pode nunca ser validada num terreno epistemológico, mas apenas no da experiência literária de dissolução do sujeito. É na disjunção entre esses dois pólos de articulação do pensamento do primeiro Foucault que se encontra a chave de compreensão desta obra.
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Procuraremos medir o lugar intermédio de Naissance de la clinique entre a investigação sobre a medicina mental encetada em Histoire de la folie à l’âge classique e a analítica da finitude preconizada por Les mots et les choses, mas sobretudo assinalar a sua especificidade, relevando tanto a sua importância programática para Les mots et les choses como o carácter embrionário das teses aí expressas para os estudos posteriores de Foucault em torno do poder-resistência ou da biopolítica. A arqueologia do olhar médico que Foucault se propõe fazer em Naissance de la clinique assenta na tese central de que a morte é o a priori histórico da passagem à modernidade científica da medicina, a partir da ruptura anátomo-clínica de finais do séc. XVIII e da integração da morte na prática e no discurso de uma medicina que a descobre também como fundamento ontológico da vida e da doença. Para a discussão da anteposição da morte à vida, recorreremos ao conceito de ser-para-a-morte de Heidegger, bem como à pulsão de morte de Freud. Inclinar-nos-emos, contudo, para uma indistinção fundamental entre elas, a partir de uma leitura do pensamento de Bataille e da sua presença forte em Naissance de la clinique. Que tipo de experiência é a que o olhar médico tem da morte? Corresponde este olhar a um sujeito? A resposta a estas perguntas é decisiva para compreendermos o ponto em que se encontra nesta altura o Foucault arqueólogo face às suas influências e aos adversários que procura combater, mormente a fenomenologia. Pode a morte ser aí uma experiência fundamental à maneira da desrrazão na Histoire de la folie? A remanescer uma qualquer forma de verdade extra-discursiva na arqueologia, ela não pode nunca ser validada num terreno epistemológico, mas apenas no da experiência literária de dissolução do sujeito. É na disjunção entre esses dois pólos de articulação do pensamento do primeiro Foucault que se encontra a chave de compreensão desta obra.Ce travail prend comme référence le livre Naissance de la clinique: Une archéologie du regard médical, publié par Michel Foucault pour la première fois en 1963, en assumant l’objectif de renverser le statut presque-marginal qu’il occupe dans le corpus de Foucault. Nous chercherons à mesurer le lieu intermédiaire de Naissance de la clinique entre la recherche autour de la médecine mentale effectuée dans Histoire de la folie à l’âge classique et l’analytique de la finitude proposée par Les mots et les choses, mais nous voulons surtout marquer sa spécificité, en relevant non seulement son importance programmatique pour Les mots et les choses mais aussi le caractère embryonnaire des thèses y énoncées pour les études postérieures de Foucault autour du pouvoir-résistance ou de la biopolitique. L’archéologie du regard médical que Foucault se propose de faire dans Naissance de la clinique repose sur la thèse centrale selon laquelle la mort est l’a priori historique du passage à la modernité scientifique de la médecine, en suivant la rupture anatomo-clinique de la fin du XVIIIe siècle et l’intégration de la mort dans la pratique et dans le discours d’une médecine qui la découvre également comme le fondement ontologique de la vie et de la maladie. Afin de discuter la préséance de la mort sur la vie, nous recourrons aux concepts de l’être-vers-la-mort de Heidegger et de la pulsion de mort de Freud. Cependant, nous nous inclinerons à affirmer une indistinction fondamentale entre vie et mort, en nous appuyant sur une lecture de la pensée de Bataille et sur sa forte présence dans Naissance de la clinique. Quel genre d’expérience a le regard médical de la mort? Est-ce que ce regard correspond à un sujet? La réponse à ces questions est décisive pour parvenir à comprendre l´état du Foucault archéologue, à ce moment-là, vis-à-vis de ses influences et des adversaires qu’il essaye de combattre, spécialement la phénoménologie. Peut la mort constituer une expérience fondamentale tel que la déraison dans l’Histoire de la folie? En restant une notion de vérité extra-discursive dans l’archéologie, elle ne peut jamais être validée dans un domaine épistémologique, mais seulement dans le contexte de l’expérience littéraire de dissolution du sujet. C’est à partir de la disjonction entre ces deux pôles d’articulation de la pensée du premier Foucault que nous pouvons retrouver la clé de compréhension de cette oeuvre.Nabais, NunoCorreia, Carlos JoãoRepositório da Universidade de LisboaCosta, Mariana de Soveral Gomes da2018-04-09T13:38:08Z2018-02-152018-03-142018-02-15T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/32662TID:201880180porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:27:05Zoai:repositorio.ul.pt:10451/32662Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:47:54.633244Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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