O cubo branco fora do cubo branco

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Main Author: Pereira, José Manuel de Magalhães
Publication Date: 2009
Format: Master thesis
Language: por
Source: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Download full: http://hdl.handle.net/10773/1159
Summary: No presente trabalho tenta-se trazer de novo à discussão um leque de questões que, tendo sido levantadas no final da década de sessenta do século XX pelo movimento denominado por Arte conceptual, carecem, passados quarenta anos, de uma resposta. Nesse âmbito, traça-se um mapa possível para que tal tenha sucedido, através de uma breve análise da evolução de paradigma – Modernismo, Pós Modernismo e o devir que desagua na actualidade. Num tempo em que a arte pode ser praticamente tudo, faz todo o sentido que, com maior incidência que nos tempos precedentes, se questione não tanto o que é arte mas qual o seu papel no todo adjacente e, fundamentalmente, que princípios orientadores podem constituir uma praxis basilar para o artista contemporâneo. A prática artística contemporânea deve assumir-se, simultaneamente, como auto consciente, autocrítica e geradora de intrínsecos esboços ontológicos e fenomenológicos potenciadores de uma evolução cognitiva e sensorial (quer a nível pessoal, no seu particular, quer a nível social, no seu sentido mais lato). O cubo branco assumiu-se como arena plenipotenciária onde são esgrimidos os argumentos da arte contemporânea. A questão adjacente é que nesta arena o papel do artista vai sendo gradualmente relegado para um plano de acção quase simbólico. Na fase de pós produção, a obra, forçada a um estado de orfandade, debate-se na brancura silenciosa da galeria e o discurso que profere já não é o discurso do seu criador. É antes um discurso de tendência neutralizante, emanado por curadores, marchands ou outros intermediários – que, amiúde ocupando o lugar da crítica, actuam como tradutores ou aspirantes a co-autores. Esta inocuidade reveste a obra com um fino manto de atemporalidade ficcional que a torna, simultaneamente, um bem perecível como um artigo de moda e algo fora do seu tempo. Neste quadro, configurado por uma discreta mas poderosa mainstream global, que papel pode assumir o artista? No presente trabalho sugere-se a transmutação do lugar e estatuto do artista, com base num trabalho de reflexão que assenta nas premissas herdadas do movimento designado por Arte Conceptual. Dada a consensualidade em torno da ideia de que a arte contemporânea já não está vinculada exclusivamente à produção de “objectos” neste fim da primeira década do século XXI é, porventura, chegado o tempo de reafirmar o artista como consultor – especialmente no campo das artes visuais – reconhecendo-o como especialista multidisciplinar numa área específica do pensamento e acção humanas. A noção de desmaterialização da obra assume aqui uma importância chave, não ao nível do desaparecimento da obra em si, mas da forma como se transmuta ao nível da apresentação do conteúdo. A urgência de repensar o lugar da arte dá lugar, no contexto conjuntural apresentado, à urgência de repensar o lugar do artista. Neste contexto surge o projecto de um livro de artista no qual se tenta dar resposta a algumas das questões levantadas. ABSTRACT: In the present work the author tries to bring to the present day a number of important questions that remain unanswered, primarily raised forty years ago by the Conceptual Art movement. In the process some reasons are given to explain that through a brief analysis of the evolution of paradigm - Modernism, Post Modernism and what has happened till the present day. In a time when art can assume all forms, it makes sense to ask ourselves not so much about the meaning of art but its role in the core of its interactions with society and especially in what concerns what the driven principles of the contemporary artist program should be. Contemporary practices should be self conscious, self critical and dealing with questions raised by ontology and phenomenology. The white cube is the almighty arena where everything about contemporary art is decided. The artist’s role is diminished gradually to a point where his opinion no longer counts. In post production, the work of art is an orphan, struggling against the white walls, in a kind of silence broken only by the speech of curators or dealers – mediators in a process where the translation process is always impregnated with a tendency that sometimes goes as far as co-authorship. In the meantime the artist is settled in the limelight of fame, seduced by wealth, presented as a pop star or just forced to accept cultural confinement rules. At this point he is no longer there, as his presence has been metamorphosed into a ghostly figure. Then the art world is allowed to chew and digest the art work as a condition to extract from it all of its initial charge and thus being able to present it to the world as an innocuous version. In this condition the work is ripped off its time and space and converted into just another tradable commodity that, as any other commodity, is submitted to fashion rules with a perishable expiration date. In this context, shaped by a discrete but powerful global mainstream, what should the role of the contemporary artist be? This paper constitutes an attempt to suggest the re-establishment of the status of the artist through the legacy of the Conceptual Art movement. The author believes that the questions presented by that particular group of artists still remain widely unanswered and constitute a solid ground for a serious theoretical program for upcoming artists. Since nowadays it is broadly accepted that contemporary art existence is no longer bounded to its commodity status, at this moment – one decade after the beginning of the XXI century – the author’s question is slightly different: is the world ready for artist-consultants? In this light, the urgency of rethinking the place of art in social context becomes less important than the urgency of re-thinking the role of the artist as an active part in that same society. In this context the author presents a project of an “artist book” in which he tries to answer some questions raised along the process.
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A prática artística contemporânea deve assumir-se, simultaneamente, como auto consciente, autocrítica e geradora de intrínsecos esboços ontológicos e fenomenológicos potenciadores de uma evolução cognitiva e sensorial (quer a nível pessoal, no seu particular, quer a nível social, no seu sentido mais lato). O cubo branco assumiu-se como arena plenipotenciária onde são esgrimidos os argumentos da arte contemporânea. A questão adjacente é que nesta arena o papel do artista vai sendo gradualmente relegado para um plano de acção quase simbólico. Na fase de pós produção, a obra, forçada a um estado de orfandade, debate-se na brancura silenciosa da galeria e o discurso que profere já não é o discurso do seu criador. É antes um discurso de tendência neutralizante, emanado por curadores, marchands ou outros intermediários – que, amiúde ocupando o lugar da crítica, actuam como tradutores ou aspirantes a co-autores. Esta inocuidade reveste a obra com um fino manto de atemporalidade ficcional que a torna, simultaneamente, um bem perecível como um artigo de moda e algo fora do seu tempo. Neste quadro, configurado por uma discreta mas poderosa mainstream global, que papel pode assumir o artista? No presente trabalho sugere-se a transmutação do lugar e estatuto do artista, com base num trabalho de reflexão que assenta nas premissas herdadas do movimento designado por Arte Conceptual. Dada a consensualidade em torno da ideia de que a arte contemporânea já não está vinculada exclusivamente à produção de “objectos” neste fim da primeira década do século XXI é, porventura, chegado o tempo de reafirmar o artista como consultor – especialmente no campo das artes visuais – reconhecendo-o como especialista multidisciplinar numa área específica do pensamento e acção humanas. A noção de desmaterialização da obra assume aqui uma importância chave, não ao nível do desaparecimento da obra em si, mas da forma como se transmuta ao nível da apresentação do conteúdo. A urgência de repensar o lugar da arte dá lugar, no contexto conjuntural apresentado, à urgência de repensar o lugar do artista. Neste contexto surge o projecto de um livro de artista no qual se tenta dar resposta a algumas das questões levantadas. ABSTRACT: In the present work the author tries to bring to the present day a number of important questions that remain unanswered, primarily raised forty years ago by the Conceptual Art movement. In the process some reasons are given to explain that through a brief analysis of the evolution of paradigm - Modernism, Post Modernism and what has happened till the present day. In a time when art can assume all forms, it makes sense to ask ourselves not so much about the meaning of art but its role in the core of its interactions with society and especially in what concerns what the driven principles of the contemporary artist program should be. Contemporary practices should be self conscious, self critical and dealing with questions raised by ontology and phenomenology. The white cube is the almighty arena where everything about contemporary art is decided. The artist’s role is diminished gradually to a point where his opinion no longer counts. In post production, the work of art is an orphan, struggling against the white walls, in a kind of silence broken only by the speech of curators or dealers – mediators in a process where the translation process is always impregnated with a tendency that sometimes goes as far as co-authorship. In the meantime the artist is settled in the limelight of fame, seduced by wealth, presented as a pop star or just forced to accept cultural confinement rules. At this point he is no longer there, as his presence has been metamorphosed into a ghostly figure. Then the art world is allowed to chew and digest the art work as a condition to extract from it all of its initial charge and thus being able to present it to the world as an innocuous version. In this condition the work is ripped off its time and space and converted into just another tradable commodity that, as any other commodity, is submitted to fashion rules with a perishable expiration date. In this context, shaped by a discrete but powerful global mainstream, what should the role of the contemporary artist be? This paper constitutes an attempt to suggest the re-establishment of the status of the artist through the legacy of the Conceptual Art movement. The author believes that the questions presented by that particular group of artists still remain widely unanswered and constitute a solid ground for a serious theoretical program for upcoming artists. Since nowadays it is broadly accepted that contemporary art existence is no longer bounded to its commodity status, at this moment – one decade after the beginning of the XXI century – the author’s question is slightly different: is the world ready for artist-consultants? In this light, the urgency of rethinking the place of art in social context becomes less important than the urgency of re-thinking the role of the artist as an active part in that same society. In this context the author presents a project of an “artist book” in which he tries to answer some questions raised along the process.Universidade de Aveiro2011-04-19T13:34:10Z2009-01-01T00:00:00Z2009info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10773/1159porPereira, José Manuel de Magalhãesinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-02-22T10:56:41Zoai:ria.ua.pt:10773/1159Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T02:39:54.468327Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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A prática artística contemporânea deve assumir-se, simultaneamente, como auto consciente, autocrítica e geradora de intrínsecos esboços ontológicos e fenomenológicos potenciadores de uma evolução cognitiva e sensorial (quer a nível pessoal, no seu particular, quer a nível social, no seu sentido mais lato). O cubo branco assumiu-se como arena plenipotenciária onde são esgrimidos os argumentos da arte contemporânea. A questão adjacente é que nesta arena o papel do artista vai sendo gradualmente relegado para um plano de acção quase simbólico. Na fase de pós produção, a obra, forçada a um estado de orfandade, debate-se na brancura silenciosa da galeria e o discurso que profere já não é o discurso do seu criador. É antes um discurso de tendência neutralizante, emanado por curadores, marchands ou outros intermediários – que, amiúde ocupando o lugar da crítica, actuam como tradutores ou aspirantes a co-autores. 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A noção de desmaterialização da obra assume aqui uma importância chave, não ao nível do desaparecimento da obra em si, mas da forma como se transmuta ao nível da apresentação do conteúdo. A urgência de repensar o lugar da arte dá lugar, no contexto conjuntural apresentado, à urgência de repensar o lugar do artista. Neste contexto surge o projecto de um livro de artista no qual se tenta dar resposta a algumas das questões levantadas. ABSTRACT: In the present work the author tries to bring to the present day a number of important questions that remain unanswered, primarily raised forty years ago by the Conceptual Art movement. In the process some reasons are given to explain that through a brief analysis of the evolution of paradigm - Modernism, Post Modernism and what has happened till the present day. In a time when art can assume all forms, it makes sense to ask ourselves not so much about the meaning of art but its role in the core of its interactions with society and especially in what concerns what the driven principles of the contemporary artist program should be. Contemporary practices should be self conscious, self critical and dealing with questions raised by ontology and phenomenology. The white cube is the almighty arena where everything about contemporary art is decided. The artist’s role is diminished gradually to a point where his opinion no longer counts. In post production, the work of art is an orphan, struggling against the white walls, in a kind of silence broken only by the speech of curators or dealers – mediators in a process where the translation process is always impregnated with a tendency that sometimes goes as far as co-authorship. In the meantime the artist is settled in the limelight of fame, seduced by wealth, presented as a pop star or just forced to accept cultural confinement rules. At this point he is no longer there, as his presence has been metamorphosed into a ghostly figure. Then the art world is allowed to chew and digest the art work as a condition to extract from it all of its initial charge and thus being able to present it to the world as an innocuous version. In this condition the work is ripped off its time and space and converted into just another tradable commodity that, as any other commodity, is submitted to fashion rules with a perishable expiration date. In this context, shaped by a discrete but powerful global mainstream, what should the role of the contemporary artist be? This paper constitutes an attempt to suggest the re-establishment of the status of the artist through the legacy of the Conceptual Art movement. The author believes that the questions presented by that particular group of artists still remain widely unanswered and constitute a solid ground for a serious theoretical program for upcoming artists. Since nowadays it is broadly accepted that contemporary art existence is no longer bounded to its commodity status, at this moment – one decade after the beginning of the XXI century – the author’s question is slightly different: is the world ready for artist-consultants? In this light, the urgency of rethinking the place of art in social context becomes less important than the urgency of re-thinking the role of the artist as an active part in that same society. In this context the author presents a project of an “artist book” in which he tries to answer some questions raised along the process.
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