Reprodução ex situ de truta-de-rio (Salmo trutta L.) em Portugal: monitorização de stocks de origem selvagem em cativeiro
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10198/26608 |
Resumo: | A truta-de-rio (Salmo trutta, L.) é uma espécie emblemática dos rios de montanha do norte e centro de Portugal, com interesse crescente para a pesca recreativa. A gestão sustentável da espécie contempla, perante as ameaças atuais (e.g., poluição da água, fragmentação e degradação de habitats, introdução de espécies exóticas, pesca ilegal e sobrepesca e alterações climáticas), a necessidade de preservar a identidade dos stocks selvagens e garantir a fruição dos serviços ecossistémicos associados, na procura do equilíbrio entre a conservação e a exploração dos recursos. Por tal motivo, em ambientes oligotróficos de baixa produtividade piscícola, como é o caso da maioria dos rios de aptidão salmonícola de Portugal, é comum recorrer a repovoamentos e largadas, no sentido de fomentar a atividade lúdica da pesca sem, contudo, exaurir os recursos piscícolas selvagens. Neste enquadramento, pretendeu-se com o presente estudo contribuir para a conservação e gestão de stocks de truta- de-rio em Portugal, em particular através da reprodução em cativeiro de stocks de truta-de-rio selvagem, capturados em diferentes rios/bacias hidrográficas (i.e., Côa, Baceiro/Sabor, Beça/Olo, Paiva, Vez, Neiva, Cávado e Mouro/Sucastro) de acordo com diversidade genética e a estratégia definida pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. Assim, no verão de 2021 foram capturados ou reforçados stocks nativos de truta-de-rio nos Postos Aquícolas de Castrelos (Bragança) e do Torno (Amarante), onde se procedeu à monitorização da aclimatação e da sua performance em cativeiro. Recorreu-se à incorporação de novas metodologias na aclimatação dos animais selvagens pela naturalização dos tanques (e.g., criação de refúgios, telas de ensombramento, adição de substrato natural e macrófitos) e o fornecimento duma dieta mista (i.e., alimento artificial - farinha de peixe e natural, caso de invertebrados e pequenos peixes), para além da coabitação com animais domésticos capazes de acelerar o processo de adaptação ao cativeiro. Todos os animais domésticos e frações dos animais selvagens foram marcados com PIT-tags para uma monitorização individualizada da performance (e.g. crescimento e condição corporal). Foi avaliada a performance dos peixes capturados através de modelos de crescimento e estabelecidos os parâmetros da função de von Bertalanffy e as relações peso-comprimento para todos os stocks. Os resultados obtidos mostraram uma razoável a boa adaptação dos peixes selvagens ao cativeiro, desde as fases iniciais mais críticas, tendo o crescimento sido praticamente isométrico (i.e., b = 3) para a maioria das populações. No que respeita à condição corporal, foram encontradas diferenças significativas (P < 0,05) entre populações, sendo que as populações do rio Beça apresentaram a melhor condição corporal no momento da captura, comparativamente com a população do rio Baceiro/Sabor que apresentou a pior condição física. De salientar que a mortalidade em todo o processo de captura, transporte e aclimatação na fase inicial no cativeiro, foi sempre inferior a 10%. No inverno foi feita a reprodução ex-situ de stocks domésticos (ainda existentes nos Postos Aquícolas) e selvagens, através da desova de fêmeas e machos maturos. Foram também estudadas as características de reprodução ex-situ, nomeadamente a época de desova, a fecundidade total e relativa, a dimensão do ovo e o índice gonadosomático e relacionados com o peso corporal das fêmeas. A desova iniciou-se em meados de dezembro e terminou no final de janeiro, completando um total de 434 dias-grau, desde a fertilização até à eclosão dos alevins. Foram encontradas diferenças altamente significativas (P < 0,001) entre os stocks domésticos e selvagens, para todas as variáveis biométricas e os traits reprodutivos usados. Tais diferenças estão fortemente relacionadas com o tempo de residência e aclimatação ao cativeiro dos diferentes stocks (e.g., stocks domésticos (> 5 anos) e alguns selvagens recentemente adaptados (< 3 anos)). Uma vez que os repovoamentos são ainda hoje a técnica de gestão de pescas mais usada pelas Zonas de Pesca Lúdica de Portugal, a reprodução ex-situ das espécies nativas mais procuradas afigura-se essencial, no sentido de fornecer animais saudáveis e geneticamente adequados para a libertação no meio selvagem. Por outro lado, as ameaças a que estão sujeitas espécies e populações justificam a manutenção de pools génicos em cativeiro. Por fim, tendo em conta que muitos rios de montanha pertencem a áreas protegidas/ classificadas, é ainda fundamental a definição de medidas específicas de conservação orientadas para a mitigação de impactes negativos e para a preservação dos valores naturais. |
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Reprodução ex situ de truta-de-rio (Salmo trutta L.) em Portugal: monitorização de stocks de origem selvagem em cativeiroTruta-de-rioPool génicoAclimataçãoReproduçãoGestãoDomínio/Área Científica::Ciências Agrárias::Ciência Animal e dos LaticíniosA truta-de-rio (Salmo trutta, L.) é uma espécie emblemática dos rios de montanha do norte e centro de Portugal, com interesse crescente para a pesca recreativa. A gestão sustentável da espécie contempla, perante as ameaças atuais (e.g., poluição da água, fragmentação e degradação de habitats, introdução de espécies exóticas, pesca ilegal e sobrepesca e alterações climáticas), a necessidade de preservar a identidade dos stocks selvagens e garantir a fruição dos serviços ecossistémicos associados, na procura do equilíbrio entre a conservação e a exploração dos recursos. Por tal motivo, em ambientes oligotróficos de baixa produtividade piscícola, como é o caso da maioria dos rios de aptidão salmonícola de Portugal, é comum recorrer a repovoamentos e largadas, no sentido de fomentar a atividade lúdica da pesca sem, contudo, exaurir os recursos piscícolas selvagens. Neste enquadramento, pretendeu-se com o presente estudo contribuir para a conservação e gestão de stocks de truta- de-rio em Portugal, em particular através da reprodução em cativeiro de stocks de truta-de-rio selvagem, capturados em diferentes rios/bacias hidrográficas (i.e., Côa, Baceiro/Sabor, Beça/Olo, Paiva, Vez, Neiva, Cávado e Mouro/Sucastro) de acordo com diversidade genética e a estratégia definida pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. Assim, no verão de 2021 foram capturados ou reforçados stocks nativos de truta-de-rio nos Postos Aquícolas de Castrelos (Bragança) e do Torno (Amarante), onde se procedeu à monitorização da aclimatação e da sua performance em cativeiro. Recorreu-se à incorporação de novas metodologias na aclimatação dos animais selvagens pela naturalização dos tanques (e.g., criação de refúgios, telas de ensombramento, adição de substrato natural e macrófitos) e o fornecimento duma dieta mista (i.e., alimento artificial - farinha de peixe e natural, caso de invertebrados e pequenos peixes), para além da coabitação com animais domésticos capazes de acelerar o processo de adaptação ao cativeiro. Todos os animais domésticos e frações dos animais selvagens foram marcados com PIT-tags para uma monitorização individualizada da performance (e.g. crescimento e condição corporal). Foi avaliada a performance dos peixes capturados através de modelos de crescimento e estabelecidos os parâmetros da função de von Bertalanffy e as relações peso-comprimento para todos os stocks. Os resultados obtidos mostraram uma razoável a boa adaptação dos peixes selvagens ao cativeiro, desde as fases iniciais mais críticas, tendo o crescimento sido praticamente isométrico (i.e., b = 3) para a maioria das populações. No que respeita à condição corporal, foram encontradas diferenças significativas (P < 0,05) entre populações, sendo que as populações do rio Beça apresentaram a melhor condição corporal no momento da captura, comparativamente com a população do rio Baceiro/Sabor que apresentou a pior condição física. De salientar que a mortalidade em todo o processo de captura, transporte e aclimatação na fase inicial no cativeiro, foi sempre inferior a 10%. No inverno foi feita a reprodução ex-situ de stocks domésticos (ainda existentes nos Postos Aquícolas) e selvagens, através da desova de fêmeas e machos maturos. Foram também estudadas as características de reprodução ex-situ, nomeadamente a época de desova, a fecundidade total e relativa, a dimensão do ovo e o índice gonadosomático e relacionados com o peso corporal das fêmeas. A desova iniciou-se em meados de dezembro e terminou no final de janeiro, completando um total de 434 dias-grau, desde a fertilização até à eclosão dos alevins. Foram encontradas diferenças altamente significativas (P < 0,001) entre os stocks domésticos e selvagens, para todas as variáveis biométricas e os traits reprodutivos usados. Tais diferenças estão fortemente relacionadas com o tempo de residência e aclimatação ao cativeiro dos diferentes stocks (e.g., stocks domésticos (> 5 anos) e alguns selvagens recentemente adaptados (< 3 anos)). Uma vez que os repovoamentos são ainda hoje a técnica de gestão de pescas mais usada pelas Zonas de Pesca Lúdica de Portugal, a reprodução ex-situ das espécies nativas mais procuradas afigura-se essencial, no sentido de fornecer animais saudáveis e geneticamente adequados para a libertação no meio selvagem. Por outro lado, as ameaças a que estão sujeitas espécies e populações justificam a manutenção de pools génicos em cativeiro. Por fim, tendo em conta que muitos rios de montanha pertencem a áreas protegidas/ classificadas, é ainda fundamental a definição de medidas específicas de conservação orientadas para a mitigação de impactes negativos e para a preservação dos valores naturais.The brown trout (Salmo trutta, L.) is an emblematic species of the mountain rivers of northern and central Portugal, with growing interest for recreational fishing. The sustainable management of the species includes, taking into consideration the current threats (e.g., water pollution, fragmentation and degradation of habitats, introduction of exotic species, illegal fishing and overfishing and climate change), the need to preserve the identity of wild stocks and guarantee the enjoyment of associated ecosystem services, in order to promote a balance between conservation and exploitation of resources. For this reason, in oligotrophic environments with low fish productivity, as is the case of most salmonid rivers in Portugal, it is common the use of stocking operations to encourage recreational fishing in a sustainable way. In this context, the present study was intended to contribute to the conservation and management of brown trout populations in Portugal, through captive breeding of wild brown trout stocks, captured in different rivers/basins (i.e., Côa, Baceiro/Sabor, Beça/Olo, Paiva, Vez, Neiva, Cávado and Mouro/Sucastro) according to genetic diversity and the strategy defined by the Institute for the Conservation of Nature and Forests of Portugal. Thus, in the summer of 2021, native brown trout stocks were captured or reinforced at the Castrelos (Bragança) and Torno (Amarante) Fishfarms, where acclimatization and performance in captivity were monitored. New methodologies were used in the acclimatization of wild animals by the naturalization of the cement tanks (e.g., creation of refuges, shading screens, addition of natural substrate and macrophytes) and the provision of a mixed diet (i.e., artificial food - fishmeal and natural, in the case of invertebrates and small fish), in addition to cohabitation with domestic animals capable of accelerating the process of adaptation to captivity. All domestic animals and wild animal fractions were tagged with PIT tags for individualized monitoring of performance (e.g., growth and body condition). The performance of the captured fish was evaluated through growth models and the parameters of the von Bertalanffy function and the weight-length relationships were established for all stocks. The results obtained showed a reasonable to good adaptation of wild fish to captivity, from the most critical initial stages, with growth being practically isometric (i.e., b = 3) for most populations. Regarding to body condition, significant differences (P < 0.05) were found between stocks, ranging from the Beça river presenting the best body condition to the Baceiro/Sabor river that presented the worst body condition at the time of capture. It should be noted that the mortality along the process of capture, transport, and acclimatization in the initial phase in captivity was always less than 10%. In winter, ex-situ reproduction of domestic (still existing in both Fishfarms) and wild stocks was carried out, through the spawning of mature females and males. Ex-situ reproduction characteristics were also studied, namely spawning season, total and relative fecundity, egg size and gonadosomatic index and related to female body weight. Spawning began in mid-December and ended in late January, completing a total of 434 degree-days, from fertilization to hatching. Highly significant differences (P < 0.001) were found between domestic and wild stocks, for all biometric variables and the reproductive traits used. Such differences are closely related to the residence time and acclimatization to captivity of different stocks (e.g., domestic stocks (> 5 years) and some recently adapted wild stocks (< 3 years)). Since stocking is still the most used fisheries management technique in exploited- regulated fishing zones, the ex-situ reproduction is essential to provide healthy and genetically suitable animals for the release in the wild environments. On the other hand, the threats to which species and populations are subject justify the maintenance of gene pools in captivity. Finally, considering that many mountain rivers belong to protected/classified areas, it is still essential to define specific conservation measures aimed at mitigating negative impacts and preserving natural values.Esta tese foi suportada pelo Projeto POSEUR-03-2215-FC-000096 “Conservação e Gestão orientadas para o Mexilhão-do-Rio (Margaritifera margaritifera”. Coordenação Geral: QUERCUS - Associação Nacional para a conservação da Natureza (Concurso público Internacional n.o 01/2018, Ref.a CP01-MARG-QUERCUS/2018). Coordenação técnico-científica: Centro de Investigação de Montanha- IPB. Outras Entidades participantes (consórcio externo): FCiências, Ciências da Universidade de Lisboa; ICETA/ CIBIO-InBio; U. Minho, Freshwater Lda, BIOTA Lda, U. Aveiro.Teixeira, AmilcarBiblioteca Digital do IPBAlmeida, Tito Emanuel Félix2023-01-20T14:36:33Z20222022-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10198/26608TID:203184432porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-21T10:59:21Zoai:bibliotecadigital.ipb.pt:10198/26608Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T23:17:04.934486Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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