A cólera em Lisboa (1833 e 1855/56): emergência do poder médico e combate à epidemia no Hospital de São José e enfermarias auxiliares
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/34849 |
Resumo: | O século XIX português é um período conturbado no campo político e epidémico. Politicamente, assistimos à transição do Antigo Regime para o Liberalismo, mas também a várias revoltas e governos de pouca duração e à instabilidade daí resultante. Paralelamente, tal como outros Estados europeus, enfrentavam-se epidemias de qualidades e durações diferentes. Face a isto, encontramos os médicos, atores que participam em ambos os campos, contudo com papéis diferentes ao longo deste século. Neste trabalho pretendemos analisar a emergência e gradual afirmação do poder médico com base nas duas epidemias de cólera que atingiram Lisboa (1833 e 1855/56) e o seu combate no Hospital de São José. Nestes dois momentos contemplamos não só as diferenças políticas destes dois períodos (de guerra civil à paz regeneradora, resistência do Antigo Regime e consolidação do Liberalismo, da caridade à assistência pública), como também estados diferentes da medicina e do poder médico. Na primeira vaga de cólera, os médicos ainda estavam “reféns” de antigas estruturas, incapazes de confrontar o poder político, refletindo-se numa inabilidade em domar a hecatombe e numa elevada taxa de mortalidade. Apesar de parte desta incapacidade ser resultado de uma medicina que ainda não detinha todos os instrumentos necessários para enfrentar a epidemia, também se deve às particularidades da guerra civil e ao governo miguelista, impossibilitando a tomada de medidas de prevenção e, depois, tratamento. No segundo momento, assistimos a processos de organização diferentes. Para além de um clima político mais permissivo e colaborativo, também os médicos já não se encontravam tão submissos ao poder político, pelo contrário, utilizando essa esfera como forma de elevar os seus interesses e de afirmar a sua importância na sociedade. Um reflexo disto é a comparativamente diminuta mortalidade provocada pela epidemia de cólera de 1855/56. Porém, o mais significativo são as formas encontradas para a combater, manifestas na liberdade com que as decisões são tomadas em espaço hospitalar, restritas quase exclusivamente pelo erário régio. Aliás, para o final do século já existem análises que procuram demonstrar como o poder médico não só existe, como já se encontrava consolidado e moldava a sociedade. No entanto, não parecem surgir análises que analisem os médicos no início do oitocentos, isto é, como se interpretam, como veem os outros, que processos permitiram a sua ascensão e que métodos utilizaram para atingir esse estado. Assim, com este trabalho tentamos dar resposta a essa ausência, partindo das duas primeiras vagas da epidemia de cólera em Lisboa e do Hospital de São José enquanto principal instituição médica da capital para revelar os processos que levaram e permitiram à consolidação deste tipo de poder. |
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A cólera em Lisboa (1833 e 1855/56): emergência do poder médico e combate à epidemia no Hospital de São José e enfermarias auxiliaresLisboaPoder médicoCóleraEpidemiasHistória da medicinaEpidemicsCholeraMedical powerHistory of medicineLisbonDomínio/Área Científica::Humanidades::História e ArqueologiaO século XIX português é um período conturbado no campo político e epidémico. Politicamente, assistimos à transição do Antigo Regime para o Liberalismo, mas também a várias revoltas e governos de pouca duração e à instabilidade daí resultante. Paralelamente, tal como outros Estados europeus, enfrentavam-se epidemias de qualidades e durações diferentes. Face a isto, encontramos os médicos, atores que participam em ambos os campos, contudo com papéis diferentes ao longo deste século. Neste trabalho pretendemos analisar a emergência e gradual afirmação do poder médico com base nas duas epidemias de cólera que atingiram Lisboa (1833 e 1855/56) e o seu combate no Hospital de São José. Nestes dois momentos contemplamos não só as diferenças políticas destes dois períodos (de guerra civil à paz regeneradora, resistência do Antigo Regime e consolidação do Liberalismo, da caridade à assistência pública), como também estados diferentes da medicina e do poder médico. Na primeira vaga de cólera, os médicos ainda estavam “reféns” de antigas estruturas, incapazes de confrontar o poder político, refletindo-se numa inabilidade em domar a hecatombe e numa elevada taxa de mortalidade. Apesar de parte desta incapacidade ser resultado de uma medicina que ainda não detinha todos os instrumentos necessários para enfrentar a epidemia, também se deve às particularidades da guerra civil e ao governo miguelista, impossibilitando a tomada de medidas de prevenção e, depois, tratamento. No segundo momento, assistimos a processos de organização diferentes. Para além de um clima político mais permissivo e colaborativo, também os médicos já não se encontravam tão submissos ao poder político, pelo contrário, utilizando essa esfera como forma de elevar os seus interesses e de afirmar a sua importância na sociedade. Um reflexo disto é a comparativamente diminuta mortalidade provocada pela epidemia de cólera de 1855/56. Porém, o mais significativo são as formas encontradas para a combater, manifestas na liberdade com que as decisões são tomadas em espaço hospitalar, restritas quase exclusivamente pelo erário régio. Aliás, para o final do século já existem análises que procuram demonstrar como o poder médico não só existe, como já se encontrava consolidado e moldava a sociedade. No entanto, não parecem surgir análises que analisem os médicos no início do oitocentos, isto é, como se interpretam, como veem os outros, que processos permitiram a sua ascensão e que métodos utilizaram para atingir esse estado. Assim, com este trabalho tentamos dar resposta a essa ausência, partindo das duas primeiras vagas da epidemia de cólera em Lisboa e do Hospital de São José enquanto principal instituição médica da capital para revelar os processos que levaram e permitiram à consolidação deste tipo de poder.The Portuguese nineteenth century is a difficult period both in terms of political struggles and epidemical matters. Politically, braced with a transition from the Ancién Regime to liberalism, but also many revolts and short-lived governments, resulting in further turmoil. Similarly, like many other European States, we were also plagued with various epidemics. In this scenario we find doctors, actors that played in both fields, however, with changing roles over this period. In this dissertation, we try to analyse the rise and gradual assertion of medical power, based on the two cholera epidemics that hit Lisbon (1833 and 1855/56) and what was done by the Hospital of São José to control these epidemics. Both these moments have their share of political differences (from civil war to the peace of the “Regeneração”, resistance of the Ancién Regime and consolidation of Liberalism, from assistance by charity to public assistance), but also different states of medicine and medical power. During the first cholera epidemic, doctors were held “hostage” of old power structures, unable to face politic power, resulting in failure to tame this disaster and the following high mortality. Even if part of this incapability was due to insufficient medical knowledge on how to treat this disease, the problems raised with the ongoing civil war and the government of King Miguel also contributed, namely due to limiting preventive measures and treatment. The second wave presents us with a different scenario. Besides a much more permissive and collaborative political climate, doctors were no longer as chained by the political sphere, on the contrary, they managed to use it to further their desires and solidify their place in society. Not only does this result in comparatively lower mortality, but likewise in the formal mechanisms established inside the hospital and other supplementary infirmaries. As such, decisions inside these spaces were taken with great liberty, almost always only restricted by the kingdom’s treasury. Interestingly, for the end of the nineteenth century there are some works that try to demonstrate how not only does medical power exist, but also that it is consolidated and moulded society. Although, there don’t seem to be any research done on how it came to be. That is, how do doctors see themselves as a profession, how they see others, which structures allowed their rise and what means were used reach such place. As such, with this paper we try to answer to this, limiting our analysis to the time when cholera epidemics hit Lisbon and from the Hospital of São José as the main medical institution fighting against it, to study and reveal how and what processes contributed and led to the consolidation of medical power.Alves, Daniel RibeiroNeves, José ViegasRUNPita, André Filipe Samora2018-04-19T09:16:31Z2018-03-162017-12-192018-03-16T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/34849TID:201889056porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:19:05Zoai:run.unl.pt:10362/34849Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:30:12.964730Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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