Células Natural Killer Endometriais: Uma Caraterização por Citometria de Fluxo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Chambel, Alexandra Prioste
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/11500
Resumo: As células do sistema imune presentes no endométrio parecem desempenhar um papel importante no processo de implantação e manutenção da gravidez. Neste ambiente imune uterino, as células NK parecem ser a população linfocitária prevalente. Estas células NK uterinas distinguem-se das células NK que circulam na periferia pelo seu fenótipo caraterístico CD56bright, apresentando uma menor capacidade citotóxica, uma maior capacidade de produção de citocinas e a expressão de um conjunto de recetores com capacidade para reconhecer moléculas expressas pelas células do trofoblasto. Porém, mulheres que sofrem de perdas gestacionais recorrentes parecem ter diferentes perfis imunes locais. Existindo a necessidade de uma caraterização mais detalhada dos linfócitos presentes no endométrio, este estudo teve como objetivo primário a validação de uma estratégia detalhada de caracterização das populações de células NK e T em biópsias uterinas, através da análise multiparamétrica de imunofenotipagem por citometria de fluxo. Como objetivos secundários, pretendeu-se ainda estudar a possibilidade de implementar esta estratégia em mulheres com história de perdas gestacionais recorrentes de causa idiopática (PGRi) e identificar eventuais alterações no perfil imune, que se correlacionem com as diferentes características demográficas e obstétricas destas mulheres. Foram assim recrutadas mulheres com PGRi, nas quais foi efetuada uma biópsia endometrial com o sistema Pipelle®, entre os dias 7 e 10 após o pico de LH. Estas amostras foram depois divididas em replicados, processados em paralelo e analisados num citómetro de fluxo BD FACS Canto II. Para obter contagens absolutas de linfócitos endometriais foi utilizada uma estratégia de plataforma única com tubos BD TrucountTM e, para a caraterização das populações linfocitárias T e NK, foi de seguida utilizado um painel de anticorpos monoclonais, que incluía: CD3, CD8, CD16, CD45, CD56, CD57, NKp30, NKp44, NKp46, NKG2D, 2B4 e PD-1. Os resultados obtidos no estudo da reprodutibilidade da estratégia de contagens absolutas com tubos BD TrucountTM demonstraram um coeficiente de variação médio de 7,61%. Estas amostras apontam para uma concentração de linfócitos uterinos entre 12,95 – 80,66 linfócitos/µL por centímetro de amostra em Pipelle. Através da análise imunofenotípica foram também identificadas as populações de linfócitos T, T CD8+, NK e NK CD56bright. A percentagem destas populações em relação ao total de linfócitos apresentou um coeficiente de variação médio abaixo dos 15% entre replicados. A análise mais detalhada das populações linfocitárias NK e T CD8+ permitiu identificar também boa reprodutibilidade (coeficientes de variação entre replicados inferiores a 14%) para a expressão de PD-1 e 2B4 em linfócitos T CD8+ e para a expressão de NKp46 e 2B4 em células NK. Por outro lado, a imunofenotipagem permitiu identificar que, no grupo de mulheres recrutadas, a população endometrial mais prevalente eram os linfócitos T (34,75 – 76,88%), e dentro destes os linfócitos T CD8+ (39,33 – 67,81%). Quando se consideram as subpopulações de células T separadas, no entanto, as células NK são o compartimento mais prevalente na maioria das amostras. Nos linfócitos T CD8 observaram-se níveis de expressão de 2B4 e PD-1 entre 78,20 – 97,00% e 49,75 – 89,35%, respetivamente. As células NK evidenciaram ainda níveis de expressão de NKp46 e 2B4 entre 31,60 – 69,65% e 95,90 – 99,95%, respetivamente. Foi ainda possível identificar uma correlação positiva entre a percentagem de células NK CD56bright NKp46+ e o número de partos de termo e gestações anteriores, uma associação que se pretende explorar em estudos futuros. Finalmente, verificou-se também uma correlação positiva entre a percentagem de linfócitos T CD4+ uterinos e o IMC das mulheres estudadas, uma observação que deverá igualmente considerar-se em estudos futuros, reconhecendo até as crescentes interações que têm vindo a ser descritas entre o estado nutricional e as respostas imunes e inflamatórias. A principal conclusão a retirar deste estudo é a aplicabilidade da citometria de fluxo na abordagem imunofenotípica de amostras endometriais. De facto, esta metodologia permite abordar com a reprodutibilidade necessária a quantificação celular, mas, sobretudo, permite uma caraterização multiparamétrica aprofundada dos perfis imunes uterinos. Esta técnica poderá assim assumir-se como uma ferramenta muito relevante a aplicar em contexto clínico no seguimento e tratamento de mulheres que sofrem de PGRi.
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Existindo a necessidade de uma caraterização mais detalhada dos linfócitos presentes no endométrio, este estudo teve como objetivo primário a validação de uma estratégia detalhada de caracterização das populações de células NK e T em biópsias uterinas, através da análise multiparamétrica de imunofenotipagem por citometria de fluxo. Como objetivos secundários, pretendeu-se ainda estudar a possibilidade de implementar esta estratégia em mulheres com história de perdas gestacionais recorrentes de causa idiopática (PGRi) e identificar eventuais alterações no perfil imune, que se correlacionem com as diferentes características demográficas e obstétricas destas mulheres. Foram assim recrutadas mulheres com PGRi, nas quais foi efetuada uma biópsia endometrial com o sistema Pipelle®, entre os dias 7 e 10 após o pico de LH. Estas amostras foram depois divididas em replicados, processados em paralelo e analisados num citómetro de fluxo BD FACS Canto II. Para obter contagens absolutas de linfócitos endometriais foi utilizada uma estratégia de plataforma única com tubos BD TrucountTM e, para a caraterização das populações linfocitárias T e NK, foi de seguida utilizado um painel de anticorpos monoclonais, que incluía: CD3, CD8, CD16, CD45, CD56, CD57, NKp30, NKp44, NKp46, NKG2D, 2B4 e PD-1. Os resultados obtidos no estudo da reprodutibilidade da estratégia de contagens absolutas com tubos BD TrucountTM demonstraram um coeficiente de variação médio de 7,61%. Estas amostras apontam para uma concentração de linfócitos uterinos entre 12,95 – 80,66 linfócitos/µL por centímetro de amostra em Pipelle. Através da análise imunofenotípica foram também identificadas as populações de linfócitos T, T CD8+, NK e NK CD56bright. A percentagem destas populações em relação ao total de linfócitos apresentou um coeficiente de variação médio abaixo dos 15% entre replicados. A análise mais detalhada das populações linfocitárias NK e T CD8+ permitiu identificar também boa reprodutibilidade (coeficientes de variação entre replicados inferiores a 14%) para a expressão de PD-1 e 2B4 em linfócitos T CD8+ e para a expressão de NKp46 e 2B4 em células NK. Por outro lado, a imunofenotipagem permitiu identificar que, no grupo de mulheres recrutadas, a população endometrial mais prevalente eram os linfócitos T (34,75 – 76,88%), e dentro destes os linfócitos T CD8+ (39,33 – 67,81%). Quando se consideram as subpopulações de células T separadas, no entanto, as células NK são o compartimento mais prevalente na maioria das amostras. Nos linfócitos T CD8 observaram-se níveis de expressão de 2B4 e PD-1 entre 78,20 – 97,00% e 49,75 – 89,35%, respetivamente. As células NK evidenciaram ainda níveis de expressão de NKp46 e 2B4 entre 31,60 – 69,65% e 95,90 – 99,95%, respetivamente. Foi ainda possível identificar uma correlação positiva entre a percentagem de células NK CD56bright NKp46+ e o número de partos de termo e gestações anteriores, uma associação que se pretende explorar em estudos futuros. Finalmente, verificou-se também uma correlação positiva entre a percentagem de linfócitos T CD4+ uterinos e o IMC das mulheres estudadas, uma observação que deverá igualmente considerar-se em estudos futuros, reconhecendo até as crescentes interações que têm vindo a ser descritas entre o estado nutricional e as respostas imunes e inflamatórias. A principal conclusão a retirar deste estudo é a aplicabilidade da citometria de fluxo na abordagem imunofenotípica de amostras endometriais. De facto, esta metodologia permite abordar com a reprodutibilidade necessária a quantificação celular, mas, sobretudo, permite uma caraterização multiparamétrica aprofundada dos perfis imunes uterinos. Esta técnica poderá assim assumir-se como uma ferramenta muito relevante a aplicar em contexto clínico no seguimento e tratamento de mulheres que sofrem de PGRi.The cells from the immune system present in the endometrium appear to have an important role in the implantation process and the maintenance of pregnancy. In this uterine immune environment, NK cells appear to be the prevalent immune population. These uterine NK cells are different from the NK cells that circulate in the periphery by their characteristic phenotype CD56bright, lower cytotoxic capacity, higher production of cytokines and the expression of a set of receptors that recognize molecules expressed by trophoblastic cells. However, women suffering from recurrent pregnancy loss seem to have different local immune profiles. Recognizing the need for a more detailed characterization of the lymphocytes present in the endometrium, this study aimed to validate a detailed strategy for the characterization of immune populations of NK and T cells in uterine biopsies using a multiparametric analysis of immunophenotyping by flow cytometry. Secondary objectives were the possibility to implement this strategy in women suffering from idiopathic recurrent pregnancy loss and to identify possible alterations in the immune profile that correlate with the demographic and obstetric characteristics of these women. Women with idiopathic recurrent pregnancy loss were recruited, and a single endometrial biopsy was collected from each participant with the Pipelle® system, between days 7 and 10 after the LH peak. These samples were then divided in replicates, processed in parallel and analysed in a BD FACS Canto II flow cytometer. To obtain absolute counts of endometrial lymphocytes a single platform strategy was used with BD TrucountTM tubes and, for the characterization of the immune populations of T and NK cells, the panel of monoclonal antibodies used afterwards included: CD3, CD8, CD16, CD45, CD56, CD57, NKp30, NKp44, NKp46, NKG2D, 2B4 e PD-1. The results obtained in the reproducibility study for the absolute counts’ strategy with BD TrucountTM tubes revealed a mean coefficient of variation of 7,61%. These samples showed values of total lymphocytes between entre 12,95 – 80,66 lymphocytes/µL per centimetre of Pipelle sample. In the immunophenotypic analysis, the immune populations of T, T CD8+, NK and NK CD56bright cells were identified. The percentages of these populations in total lymphocytes revealed a mean coefficient of variation below 15% between replicates. The more detailed analysis of the T and NK populations showed also good reproducibility (CV < 14% between replicates) for the expression of PD-1 and 2B4 in CD8+ T cells, and for the expression of NKp46 and 2B4 in NK cells. Additionally, immunophenotyping identified T lymphocytes as the more prevalent immune population in the endometrium (34,75 – 76,88%), and within these, CD8+ T cells (39,33 – 67,81%). When considering the T cell subsets separated, however, NK cells were the more prevalent compartment in most samples. CD8+ T lymphocytes had levels of PD-1 and 2B4 expression around 49,75 – 89,35% and 78,20 – 97,00%, respectively. NK cells also showed levels of NKp46 and 2B4 expression around 31,60 – 69,65% and 95,90 – 99,95%, respectively. Furthermore, a positive correlation was identified between the percentage of CD56bright NKp46+ NK cells and the number of previous term deliveries and gestations, an association we intend to explore in future studies. Finally, a positive correlation between the percentage of CD4+ T lymphocytes and body mass index was also observed in these women, an observation that should be considered in future studies, also considering that increasing interactions have been recognized between the nutritional status and immune and inflammatory responses. The main conclusion to be drawn from this study is the applicability of flow cytometry in the immunophenotypic approach of endometrial samples. In fact, this methodology allows the assessment of cell quantification with the necessary reproducibility, but above all, it allows for an in-depth multiparametric characterization of the uterine immune profiles. This technique can thus become a very relevant tool to be applied in the clinical context for the follow-up and treatment of women suffering from idiopathic recurrent pregnancy loss.Borrego, Luís Miguel NabaisBarata, Luís Manuel TabordaMartins, Catarina GregórioLima, JorgeuBibliorumChambel, Alexandra Prioste2023-01-28T01:30:21Z2021-03-112021-02-022021-03-11T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/11500TID:202832341porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:54:00Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/11500Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:51:16.628347Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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