Repercussão funcional da expressão dos receptores A2A, NK1 e M3 em várias subpopulações celulares no plexo mioentérico do íleo de rato
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2009 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10348/2194 |
Resumo: | O sistema nervoso entérico (SNE) é formado por uma extensa rede neuronal intrínseca que acompanha todo o tracto gastrointestinal e que se organiza em dois grandes plexos nervosos; o plexo submucoso ou de Meissner (mais interno, localizado na submucosa) e o plexo mioentérico ou de Auerbach (mais externo, localizado entre as duas camadas musculares circular e longitudinal). O SNE possui numerosas células gliais e intersticiais de Cajal (ICC), que em conjunto com os neurónios controlam funções essenciais como a motilidade, secreção e fluxo sanguíneo intestinal. A motilidade gastrointestinal é regulada pela libertação de acetilcolina (ACh), de purinas (e.g. ATP, adenosina) e de taquicininas (e.g. Substância P) a partir de neurónios entéricos excitatórios (Furness, 2000). Por outro lado, tanto as células gliais como as intersticiais de Cajal estão envolvidas no metabolismo dos neurotransmissores e são capazes de libertar substâncias neuromoduladoras. O equilíbrio entre a activação de neurónios excitatórios e/ou inibitórios, das células não-neuronais adjacentes e das células efectoras (musculares, glandulares ou vasculares) determina a actividade funcional do intestino em cada momento. Substâncias irritantes como a capsaicina, um composto isolado da malagueta vermelha, favorecem a transmissão neuromuscular devido à libertação maciça de taquicininas e da sua actuação sobre receptores NK1 e NK3 localizados em células neuronais e não-neuronais (Holzer et al., 2007). A injecção neonatal de capsaicina causa a degenerescência das fibras nervosas peptidérgicas (tipo C) por depleção do neurotransmissor e pelo influxo de grandes quantidades de Ca2+, resultando na perda de sensação dolorosa e da contractilidade do músculo liso (Geber et al., 2006). O ATP libertado conjuntamente com a ACh após estimulação nervosa é rapidamente metabolizado em adenosina através de uma cascata de ecto-nucleotidases. Recentemente, foi demonstrado que a adenosina possui uma acção bifásica no plexo mioentérico do íleo de rato. A adenosina actua em receptores inibitórios A1 presentes nos neurónios mioentéricos, taquicinérgicos e colinérgicos (Broad et al., 2002), enquanto a activação dos receptores A2A facilita a libertação de ACh induzida por estimulação eléctrica (Duarte-Araújo et al., 2004). Foi, também, demonstrada a existência de receptores muscarínicos M3 capazes de facilitarem a libertação de ACh indirectamente através do aumento do transporte de adenosina para o meio extracelular, facto que favorece a activação dos receptores facilitatórios A2A (Vieira et al., 2009). Sabendo que os receptores purinérgicos, taquicinérgicos e colinérgicos favorecem a neurotransmissão e a motilidade intestinal, pareceu-nos interessante investigar a interacção funcional destes receptores manipulando a sua actividade por métodos farmacológicos e/ou causando a depleção (> 95%) dos neurónios peptidérgicos através da injecção neonatal de capsaicina (RTC) em preparações de plexo mioentérico - músculo longitudinal (PM-ML) do íleo de rato. Para o esclarecimento dos objectivos propostos utilizaram-se várias metodologias: (1) quantificação da libertação de ACh- [3H] (Duarte-Araújo et al., 2004) e de substância P (por ELISA) induzida por estimulação eléctrica de campo (5 Hz, 1 ms), (2) registos miográficos em resposta à aplicação de antagonistas muscarínicos e taquicinérgicos e (3) ensaios de imunolocalização destes receptores por microscopia confocal usando sondas fluorescentes. Comparando os dois grupos de animais utilizados, ratos controlo (RC) e ratos tratados com capsaicina no período neonatal (RTC), não se observaram diferenças significativas na quantidade de SP extraída das preparações de PM-ML, porém foi possível observar um decréscimo na quantidade de SP libertada após estimulação eléctrica do PM-ML nos animais RTC. Esta redução foi também detectada na presença do agonista selectivo dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM), e do agonista dos receptores muscarínicos M3, oxotremorina (Oxo, 300μM). Observou-se, ainda, uma redução significativa da imunorreactividade para os neuropéptidos, CGRP e SP, no plexo mioentérico do íleo dos RTC comparativamente com o grupo controlo, confirmando a eficácia do tratamento com capsaicina no período neonatal. O agonista dos receptores NK1, [Sar9,Met(O2)11]-Substance P, (s,m-SP, 300nM), causou um pequeno aumento (16±4%, n=4) da libertação de ACh-[3H] a partir do PMML estimulado electricamente. O efeito facilitatório deste análogo da SP foi significativamente potenciado pela activação conjunta dos receptores A2A da adenosina pelo CGS21680C (3nM), i.e. a libertação de ACh-[3H] aumentou para 48±8% (n=4) quando se aplicou s,m-SP (300nM) na presença de CGS21680C (3nM). A potenciação do efeito facilitatório do s,m-SP (300nM) sobre a libertação de ACh-[3H] foi também observada na presença do activador directo da adenilciclase, FSK (3μM, 31±6%, n=4), e do inibidor da desaminase da adenosina, EHNA (50μM, 27±6%, n=5), a enzima que converte a adenosina no seu metabolito inactivo, inosina. De forma análoga, o efeito facilitatório do CGRP (200nM, 19±5%, n=4) sobre a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica só atingiu significado estatístico na presença de CGS21680C(3nM, 25±6%, n=4) ou de forscolina (3μM, 27±4%, n=4). Estes resultados sugerem a existência de um sinergismo entre a actividade excitatória dos neuropéptidos e a activação tónica de receptores A2A acoplados positivamente à via de transdução de sinal dependente da adenilciclase (AC) no controlo da libertação de ACh-[3H] no PM-ML. Através de ensaios de imunofluorescência comprovou-se a existência de receptores A2A da adenosina nas terminações nervosas colinérgicas do plexo mioentérico que exibem imunorreactividade para o transportador vesicular da ACh, VAChT. A densidade de marcação dos receptores A2A da adenosina não parece sofrer alteração nos animais RTC, comparativamente com o grupo controlo. O mesmo não se verificou relativamente à actividade do agonista dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM). Este composto causou um aumento da libertação de ACh-[3H] de 53±10% (n=5) e de apenas 11±7% (n=6) nos animais RC e RTC, respectivamente. No entanto, o efeito facilitatório do CGS21680C (3nM) nos animais RTC foi restabelecido para níveis semelhantes ao controlo (46±17%, n=6) após a aplicação conjunta do agonista A2A e do análogo da SP, s,m-SP (300nM). Estes resultados sugerem que, para além do sinergismo entre os efeitos desencadeados pela activação dos receptores A2A e NK1, a existência de proximidade estrutural entre estes dois tipos de receptores. A imunorreactividade contra os receptores NK1 foi detectada apenas em alguns corpos celulares dos neurónios ganglionares do plexo mioentérico e nas células intersticiais de Cajal intramusculares (ICC-IM, de morfologia fusiforme), mas não nas suas congéneres localizadas junto ao gânglio mioentérico (ICC-MY, de morfologia estrelada), embora ambas apresentem marcação positiva para o anticorpo antivimentina. É interessante realçar que o padrão de marcação dos receptores NK1 varia nos dois grupos de animais estudados. Nos animais controlo, esta marcação encontra-se dispersa pelo citoplasma correspondendo a receptores internalizados (dessensibilizados), enquanto os animais RTC apresentam um padrão de marcação membranar com predomínio de receptores activos. O padrão de distribuição celular dos receptores NK1 correlaciona-se com a abundância ou a depleção do ligando endógeno, SP, nos animais RC ou RTC, respectivamente. Foi demonstrado que os neurónios ganglionares com imunorreactividade para os receptores NK1 também apresentavam marcação para a síntase do NO (NOS, 85%) e para a colina acetiltransferase (ChAT, 15 %) (Lomax et al., 1998). Assim, avaliou-se o papel do NO sobre a libertação de ACh- [3H] a partir do PM-ML do íleo de rato. A manipulação da via do NO, usando o seu precursor, L-arginina (L-arg, 470μM), o dador directo de NO, SIN-1 (10μM) e o inibidor irreversível da NOS, L-NAME (300μM), não alteraram significativamente a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica, demonstrando que os receptores NK1 envolvidos no efeito excitatório da SP no plexo mioentérico não se encontram localizados em neurónios nitrérgicos. Recentemente, foi demonstrado que a activação de receptores muscarínicos do subtipo M3 favorece a libertação de ACh-[3H] no PM-ML do íleo de ratos saudáveis através de uma acção indirecta sobre as terminações nervosas colinérgicas mediada pelo efluxo de adenosina e consequente activação dos receptores pré-juncionais A2A (Vieira et al., 2009). No entanto, neste trabalho mostrou-se que o efeito facilitatório do agonista muscarínico (M3), oxotremorina (300μM, 34±4%, n=3), constatado em animais controlo foi abolido (-3±12%, n=6) após o tratamento com capsaicina no período neonatal. Contrariamente ao sinergismo observado entre os receptores A2A e NK1 (ver acima), a aplicação exógena de s,m-SP (300nM) não conseguiu ultrapassar o bloqueio da resposta muscarínica (M3) (-3±7%, n=4), provavelmente por défice na libertação de adenosina endógena a partir de células que expressam este receptor. O efeito facilitatório da oxotremorina (300μM) não sofreu alteração significativa na presença do antagonista selectivo dos receptores NK1, L732138 (20nM, 28±9%, n=4). Registos miográficos realizados em preparações de PM-ML do íleo mostraram que o efeito do antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M3, J104129 (6nM), não alterou o efeito contracturante da oxotremorina nos animais RTC, contrariamente ao que foi descrito para animais controlo (ver Vieira et al., 2009). Também o bloqueio dos receptores NK1 com L732138 (20nM) não alterou significativamente (P>0.05) o efeito da oxotremorina nos dois grupos de animais, sugerindo a inexistência de interacções NK1-M3 na transmissão mioneural no PM-ML. Estes resultados sugerem que o efeito directo da oxotremorina sobre as fibras musculares lisas é independente do seu efeito neuromodulador, sendo este último mediado pela activação de receptores M3 e consequente libertação de adenosina que activa receptores A2A. Usando técnicas de imunofluorescência, mostrou-se que os receptores muscarínicos M3 estão localizados predominantemente nas células intersticiais de Cajal (positivas para a vimentina), tanto ao nível ganglionar (ICC-MY) como a nível intramuscular (ICC-IM). No entanto, a densidade de marcação destes receptores está significativamente diminuída nos animais RTC, nomeadamente no que respeita à marcação dos receptores M3 nas ICC-IMs. Estes resultados contrastam com o padrão de marcação dos receptores NK1 neste grupo de animais, onde se observa um aumento da imunorreactividade destes receptores associado à sua distribuição membranar. Em conclusão, os resultados obtidos confirmam a existência de um sinergismo na actuação dos receptores A2A e NK1 na regulação da libertação de ACh a partir das terminações nervosas mioentéricas. Os receptores NK1 parecem estar co-localizados com os receptores muscarínicos M3 nas ICC-IM, que se encontram justapostas entre as terminações nervosas colinérgicas (marcadas com VAChT) e/ou peptidérgicas (reactivas para a SP) e as fibras musculares lisas – sinapse tripartida. Nos animais RTC, observaram-se alterações estruturais e funcionais no plexo mioentérico do íleo de rato, das quais se destacam: (1) a redução da densidade e da função neuromoduladora dos receptores M3 das ICC-IM, mas não das ICC-MY, (2) a translocação dos receptores NK1 do citoplasma para a membrana das células para compensar a depleção do seu ligando endógeno, a SP, e (3) o défice na actividade tónica dos receptores facilitatórios A2A da adenosina. A redução da facilitação da libertação de ACh devida aos receptores A2A nos animais RTC correlaciona-se com baixos níveis endógenos do nucleósido resultantes da perda de receptores M3 e/ou com a redução do teor tecidular em taquicininas (e.g. SP) e, consequente, perda do efeito sinérgico A2A e NK1. A razão da perda selectiva de receptores muscarínicos M3 das ICC-IM nos animais RTC pressupõe uma relação entre os neuropéptidos e a expressão de receptores muscarínicos nessas células que carece de comprovação experimental. |
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Repercussão funcional da expressão dos receptores A2A, NK1 e M3 em várias subpopulações celulares no plexo mioentérico do íleo de ratoO sistema nervoso entérico (SNE) é formado por uma extensa rede neuronal intrínseca que acompanha todo o tracto gastrointestinal e que se organiza em dois grandes plexos nervosos; o plexo submucoso ou de Meissner (mais interno, localizado na submucosa) e o plexo mioentérico ou de Auerbach (mais externo, localizado entre as duas camadas musculares circular e longitudinal). O SNE possui numerosas células gliais e intersticiais de Cajal (ICC), que em conjunto com os neurónios controlam funções essenciais como a motilidade, secreção e fluxo sanguíneo intestinal. A motilidade gastrointestinal é regulada pela libertação de acetilcolina (ACh), de purinas (e.g. ATP, adenosina) e de taquicininas (e.g. Substância P) a partir de neurónios entéricos excitatórios (Furness, 2000). Por outro lado, tanto as células gliais como as intersticiais de Cajal estão envolvidas no metabolismo dos neurotransmissores e são capazes de libertar substâncias neuromoduladoras. O equilíbrio entre a activação de neurónios excitatórios e/ou inibitórios, das células não-neuronais adjacentes e das células efectoras (musculares, glandulares ou vasculares) determina a actividade funcional do intestino em cada momento. Substâncias irritantes como a capsaicina, um composto isolado da malagueta vermelha, favorecem a transmissão neuromuscular devido à libertação maciça de taquicininas e da sua actuação sobre receptores NK1 e NK3 localizados em células neuronais e não-neuronais (Holzer et al., 2007). A injecção neonatal de capsaicina causa a degenerescência das fibras nervosas peptidérgicas (tipo C) por depleção do neurotransmissor e pelo influxo de grandes quantidades de Ca2+, resultando na perda de sensação dolorosa e da contractilidade do músculo liso (Geber et al., 2006). O ATP libertado conjuntamente com a ACh após estimulação nervosa é rapidamente metabolizado em adenosina através de uma cascata de ecto-nucleotidases. Recentemente, foi demonstrado que a adenosina possui uma acção bifásica no plexo mioentérico do íleo de rato. A adenosina actua em receptores inibitórios A1 presentes nos neurónios mioentéricos, taquicinérgicos e colinérgicos (Broad et al., 2002), enquanto a activação dos receptores A2A facilita a libertação de ACh induzida por estimulação eléctrica (Duarte-Araújo et al., 2004). Foi, também, demonstrada a existência de receptores muscarínicos M3 capazes de facilitarem a libertação de ACh indirectamente através do aumento do transporte de adenosina para o meio extracelular, facto que favorece a activação dos receptores facilitatórios A2A (Vieira et al., 2009). Sabendo que os receptores purinérgicos, taquicinérgicos e colinérgicos favorecem a neurotransmissão e a motilidade intestinal, pareceu-nos interessante investigar a interacção funcional destes receptores manipulando a sua actividade por métodos farmacológicos e/ou causando a depleção (> 95%) dos neurónios peptidérgicos através da injecção neonatal de capsaicina (RTC) em preparações de plexo mioentérico - músculo longitudinal (PM-ML) do íleo de rato. Para o esclarecimento dos objectivos propostos utilizaram-se várias metodologias: (1) quantificação da libertação de ACh- [3H] (Duarte-Araújo et al., 2004) e de substância P (por ELISA) induzida por estimulação eléctrica de campo (5 Hz, 1 ms), (2) registos miográficos em resposta à aplicação de antagonistas muscarínicos e taquicinérgicos e (3) ensaios de imunolocalização destes receptores por microscopia confocal usando sondas fluorescentes. Comparando os dois grupos de animais utilizados, ratos controlo (RC) e ratos tratados com capsaicina no período neonatal (RTC), não se observaram diferenças significativas na quantidade de SP extraída das preparações de PM-ML, porém foi possível observar um decréscimo na quantidade de SP libertada após estimulação eléctrica do PM-ML nos animais RTC. Esta redução foi também detectada na presença do agonista selectivo dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM), e do agonista dos receptores muscarínicos M3, oxotremorina (Oxo, 300μM). Observou-se, ainda, uma redução significativa da imunorreactividade para os neuropéptidos, CGRP e SP, no plexo mioentérico do íleo dos RTC comparativamente com o grupo controlo, confirmando a eficácia do tratamento com capsaicina no período neonatal. O agonista dos receptores NK1, [Sar9,Met(O2)11]-Substance P, (s,m-SP, 300nM), causou um pequeno aumento (16±4%, n=4) da libertação de ACh-[3H] a partir do PMML estimulado electricamente. O efeito facilitatório deste análogo da SP foi significativamente potenciado pela activação conjunta dos receptores A2A da adenosina pelo CGS21680C (3nM), i.e. a libertação de ACh-[3H] aumentou para 48±8% (n=4) quando se aplicou s,m-SP (300nM) na presença de CGS21680C (3nM). A potenciação do efeito facilitatório do s,m-SP (300nM) sobre a libertação de ACh-[3H] foi também observada na presença do activador directo da adenilciclase, FSK (3μM, 31±6%, n=4), e do inibidor da desaminase da adenosina, EHNA (50μM, 27±6%, n=5), a enzima que converte a adenosina no seu metabolito inactivo, inosina. De forma análoga, o efeito facilitatório do CGRP (200nM, 19±5%, n=4) sobre a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica só atingiu significado estatístico na presença de CGS21680C(3nM, 25±6%, n=4) ou de forscolina (3μM, 27±4%, n=4). Estes resultados sugerem a existência de um sinergismo entre a actividade excitatória dos neuropéptidos e a activação tónica de receptores A2A acoplados positivamente à via de transdução de sinal dependente da adenilciclase (AC) no controlo da libertação de ACh-[3H] no PM-ML. Através de ensaios de imunofluorescência comprovou-se a existência de receptores A2A da adenosina nas terminações nervosas colinérgicas do plexo mioentérico que exibem imunorreactividade para o transportador vesicular da ACh, VAChT. A densidade de marcação dos receptores A2A da adenosina não parece sofrer alteração nos animais RTC, comparativamente com o grupo controlo. O mesmo não se verificou relativamente à actividade do agonista dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM). Este composto causou um aumento da libertação de ACh-[3H] de 53±10% (n=5) e de apenas 11±7% (n=6) nos animais RC e RTC, respectivamente. No entanto, o efeito facilitatório do CGS21680C (3nM) nos animais RTC foi restabelecido para níveis semelhantes ao controlo (46±17%, n=6) após a aplicação conjunta do agonista A2A e do análogo da SP, s,m-SP (300nM). Estes resultados sugerem que, para além do sinergismo entre os efeitos desencadeados pela activação dos receptores A2A e NK1, a existência de proximidade estrutural entre estes dois tipos de receptores. A imunorreactividade contra os receptores NK1 foi detectada apenas em alguns corpos celulares dos neurónios ganglionares do plexo mioentérico e nas células intersticiais de Cajal intramusculares (ICC-IM, de morfologia fusiforme), mas não nas suas congéneres localizadas junto ao gânglio mioentérico (ICC-MY, de morfologia estrelada), embora ambas apresentem marcação positiva para o anticorpo antivimentina. É interessante realçar que o padrão de marcação dos receptores NK1 varia nos dois grupos de animais estudados. Nos animais controlo, esta marcação encontra-se dispersa pelo citoplasma correspondendo a receptores internalizados (dessensibilizados), enquanto os animais RTC apresentam um padrão de marcação membranar com predomínio de receptores activos. O padrão de distribuição celular dos receptores NK1 correlaciona-se com a abundância ou a depleção do ligando endógeno, SP, nos animais RC ou RTC, respectivamente. Foi demonstrado que os neurónios ganglionares com imunorreactividade para os receptores NK1 também apresentavam marcação para a síntase do NO (NOS, 85%) e para a colina acetiltransferase (ChAT, 15 %) (Lomax et al., 1998). Assim, avaliou-se o papel do NO sobre a libertação de ACh- [3H] a partir do PM-ML do íleo de rato. A manipulação da via do NO, usando o seu precursor, L-arginina (L-arg, 470μM), o dador directo de NO, SIN-1 (10μM) e o inibidor irreversível da NOS, L-NAME (300μM), não alteraram significativamente a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica, demonstrando que os receptores NK1 envolvidos no efeito excitatório da SP no plexo mioentérico não se encontram localizados em neurónios nitrérgicos. Recentemente, foi demonstrado que a activação de receptores muscarínicos do subtipo M3 favorece a libertação de ACh-[3H] no PM-ML do íleo de ratos saudáveis através de uma acção indirecta sobre as terminações nervosas colinérgicas mediada pelo efluxo de adenosina e consequente activação dos receptores pré-juncionais A2A (Vieira et al., 2009). No entanto, neste trabalho mostrou-se que o efeito facilitatório do agonista muscarínico (M3), oxotremorina (300μM, 34±4%, n=3), constatado em animais controlo foi abolido (-3±12%, n=6) após o tratamento com capsaicina no período neonatal. Contrariamente ao sinergismo observado entre os receptores A2A e NK1 (ver acima), a aplicação exógena de s,m-SP (300nM) não conseguiu ultrapassar o bloqueio da resposta muscarínica (M3) (-3±7%, n=4), provavelmente por défice na libertação de adenosina endógena a partir de células que expressam este receptor. O efeito facilitatório da oxotremorina (300μM) não sofreu alteração significativa na presença do antagonista selectivo dos receptores NK1, L732138 (20nM, 28±9%, n=4). Registos miográficos realizados em preparações de PM-ML do íleo mostraram que o efeito do antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M3, J104129 (6nM), não alterou o efeito contracturante da oxotremorina nos animais RTC, contrariamente ao que foi descrito para animais controlo (ver Vieira et al., 2009). Também o bloqueio dos receptores NK1 com L732138 (20nM) não alterou significativamente (P>0.05) o efeito da oxotremorina nos dois grupos de animais, sugerindo a inexistência de interacções NK1-M3 na transmissão mioneural no PM-ML. Estes resultados sugerem que o efeito directo da oxotremorina sobre as fibras musculares lisas é independente do seu efeito neuromodulador, sendo este último mediado pela activação de receptores M3 e consequente libertação de adenosina que activa receptores A2A. Usando técnicas de imunofluorescência, mostrou-se que os receptores muscarínicos M3 estão localizados predominantemente nas células intersticiais de Cajal (positivas para a vimentina), tanto ao nível ganglionar (ICC-MY) como a nível intramuscular (ICC-IM). No entanto, a densidade de marcação destes receptores está significativamente diminuída nos animais RTC, nomeadamente no que respeita à marcação dos receptores M3 nas ICC-IMs. Estes resultados contrastam com o padrão de marcação dos receptores NK1 neste grupo de animais, onde se observa um aumento da imunorreactividade destes receptores associado à sua distribuição membranar. Em conclusão, os resultados obtidos confirmam a existência de um sinergismo na actuação dos receptores A2A e NK1 na regulação da libertação de ACh a partir das terminações nervosas mioentéricas. Os receptores NK1 parecem estar co-localizados com os receptores muscarínicos M3 nas ICC-IM, que se encontram justapostas entre as terminações nervosas colinérgicas (marcadas com VAChT) e/ou peptidérgicas (reactivas para a SP) e as fibras musculares lisas – sinapse tripartida. Nos animais RTC, observaram-se alterações estruturais e funcionais no plexo mioentérico do íleo de rato, das quais se destacam: (1) a redução da densidade e da função neuromoduladora dos receptores M3 das ICC-IM, mas não das ICC-MY, (2) a translocação dos receptores NK1 do citoplasma para a membrana das células para compensar a depleção do seu ligando endógeno, a SP, e (3) o défice na actividade tónica dos receptores facilitatórios A2A da adenosina. A redução da facilitação da libertação de ACh devida aos receptores A2A nos animais RTC correlaciona-se com baixos níveis endógenos do nucleósido resultantes da perda de receptores M3 e/ou com a redução do teor tecidular em taquicininas (e.g. SP) e, consequente, perda do efeito sinérgico A2A e NK1. A razão da perda selectiva de receptores muscarínicos M3 das ICC-IM nos animais RTC pressupõe uma relação entre os neuropéptidos e a expressão de receptores muscarínicos nessas células que carece de comprovação experimental.The enteric nervous system (ENS) is formed by an extensive neural intrinsic network distributed within the wall of the gastrointestinal tract, which is organized in two large nerve plexuses; the submucosal or Meissner plexus (localized in the submucosa) and the myenteric or Auerbach plexus (localized between the longitudinal and circular muscle layers). The ENS also has a vast number of glial and interstitial cells of Cajal (ICC), which together with neurons control gastrointestinal activities such as motility, secretion and blood flow. Gastrointestinal motility relies on the release of acetylcholine (ACh), tachykinins (e.g. substance P) and purines (e.g. ATP) from excitatory enteric neurons (Furness, 2000). On the other hand, both glial cells and ICC are involved in the metabolism of neurotransmitters and are capable releasing neuromodulators substances. The equilibrium between activation of excitatory and/or inhibitory neurons, non-neuronal cells and effector cells (muscle, glandular or vascular cells) determine moment-to-moment the physiological activity of the gastrointestinal tract. ATP, released together with ACh from stimulated cholinergic nerve fibres, is rapidly metabolized into adenosine through a cascade of ecto-nucleotidases (Duarte- Araújo et al., 2009). Adenosine acting on inhibitory adenosine A1 receptors expressed on both cholinergic and tachykinergic myenteric neurons decreases synaptic transmission in the ENS (Broad et al., 2002). Besides acting on A1 receptors localized extrajunctionally, endogenous adenosine generated at the synaptic level activates preferentially A2A receptors, which facilitate the release of ACh caused by electric stimulation of cholinergic enteric neurons (Duarte-Araújo et al., 2004). Due to the putative interactions between facilitatory purinergic, tachykinergic and cholinergic receptors in the ENS, we thought it was interesting to investigate whether these receptors interact at a pre-synapic, post-synaptic and/or non-synaptic levels to control neurotransmitters release and intestinal motility. Functional interactions between these receptors were tested by manipulating their activities pharmacologically using selective receptor agonists and antagonists and/or by testing their effects in preparations of longitudinal muscle – myenteric plexus (LM-MP) of the ileum of rats treated with capsaicin, a pungent compound isolated of the red hot chili pepper (Holzer et al., 2007). Neonatal capsaicin treatment causes peptidergic C-fibers degeneration (>95%) in experimental animals due to massif Ca2+ inflow through TRPV1 receptors yielding to depletion of neurotransmitter reserves, which justifies the loss of pain sensation and smooth muscle contraction (Geber et al., 2006). In this study, we measured the release of both [3H]-ACh (by liquid scintillation spectrometry, Duarte-Araújo et al., 2004) and Substance P (SP, by ELISA) triggered by electric field stimulation (5 Hz, 1 ms) to address nerve activity. We also perfomed myographic recordings induced by of the application of muscarinic M3 and tachykinergic NK1 receptor agonists, to evaluate the post-junctional component receptors interaction. Imunolocalization studies using confocal microscopy were also done, in order to investigate the pattern of distribution of these receptors within the myenteric plexus of the ileum of control and neonatal capsaicin-treated rats. Comparing the two groups of animals used, control rats (C) and neonatal capsaicin-treated rats (CAP), we did not observe significant differences in the total amount of SP extracted from the LM-MP preparations. In spite of this, we could observe a significant (P<0.05) reduction in the amount of SP released after stimulating the LM-MP preparation from CAP rats. This reduction was not modified upon activating adenosine A2A (with CGS21680C, 3nM) or muscarinic M3 (with Oxo 300μM) receptors. Nevertheless, CAP preparations exhibit decreased imunorreactivity against neuropeptides, CGRP e SP, thus confirming that neonatal treatment with capsaicin caused a significant depletion of peptidergic fibres in the rat myenteric plexus. The selective NK1 receptor agonist, [Sar9,Met(O2)11]-Substance P, (s,m-SP, 300nM), caused a small increase (16±4%, n=4) on [3H]-ACh release from the stimulated LM-MP. Facilitation of [3H]-ACh release by the SP analogue was significantly (P<0.05) enhanced upon activating adenosine A2A receptors with CGS21680C (3nM), i.e., [3H]-ACh release increased to 48±8% (n=4) when we applied s,m-SP (300nM) in the presence of the CGS21680C (3nM). Similar effects were also observed in the presence of the adenylcyclase activator, forskolin (FSK, 3μM, 31±6%, n=4), and of the adenosine deaminase inhibitor, EHNA (50μM, 27±6%, n=5), the enzyme that converts adenosine into its inactive metabolite, inosine. Likewise, the facilitatory effect of CGRP (200nM, 19±5%, n=4) on evoked [3H]-ACh release only reached significance in the presence of CGS21680C (3nM, 25±6%, n=4) or FSK (3μM, 27±4, n=4). Data suggest that synergism may occur between neuropeptide receptors and adenosine A2A receptors in order to facilitate the release of [3H]-ACh from stimulated myenteric nerve terminals, an effect that might depend on the activation of the adenylcylcalse transducing system. Using confocal microscopy, we demonstrated that adenosine A2A receptors are localized predominantly to cholinergic nerve terminals of the rat myenteric plexus, which exhibit imunorreactivity to the vesicular ACh transporter, VAChT. Interestingly, adenosine A2A receptor immunorreactivity was not significantly (P<0.05) altered in CAP rats, as compared to controls. This contrasts with the functional differences detected in the two animal groups. The adenosine A2A receptor agonist, CGS21680C (3nM) increased the evoked [3H]-ACh release by 53±10% (n=5) in control rats, but only by 11±7% (n=6) in CAP animals. The facilitatory effect of CGS21680C (3nM) observed in CAP animals was restored to control levels (46±17%, n=6) after pretreatment of the preparations with the SP analogue, s,m-SP (300nM). These results suggest that synergism between A2A and NK1 receptors might depend on a structural proximity between these two receptor types on cholinergic nerve terminals. Imunorreactivity against NK1 receptors predominates in intramuscular interstitial cells of Cajal (IM-ICC, exhibiting a fusiform morphology), but not in their counterparts localized near the myenteric ganglia (MY-ICC, exhibiting a stellate morphology), although both groups of cells exhibit positive labeling to vimentin. It is worth noting that the pattern of NK1 receptor cell labeling varies in both groups of animals. In control animals, NK1 receptor immunorreacivity is dispersed throughout the cytoplasm corresponding to the internalized (downregulated) receptors; this contrasts with the findings observed in CAP animals where NK1 receptor immunorreacivity in concentrated in cell membranes, indicating a predominance of active receptors. The pattern of cellular distribution of NK1 receptors may be correlated with the abundance or depletion of their endogenous ligand, SP, in control and capsaicin-treated rats, respectively. From co-localization studies, we found that IM-ICC positive to NK1 receptors are in close contact with both cholinergic (VAChT positive) and peptidergic (SP positive) nerve terminals; data showed that labeling of NK1 receptors is inversely correlated with SP immunorreactivity in CAP animals. A small number of neuronal cell bodies in the myenteric ganglia are also endowed with NK1 receptors. It was demonstrated that ganglionic neurons showing imunorreactivity against NK1 receptors are also positive to NO sintase (NOS, 85%) and to choline acetyltransferase (ChAT, 15%) (Lomax et al., 1998). Therefore, we evaluated the role of NO on evoked [3H]-ACh release from the LM-MP of the rat ileum. Manipulation of the NO pathway, using either the NOS substrate, L-arginine (L-Arg, 470μM), the NO donor, SIN-1 (10μM), or the irreversible inhibitor of NOS, L-NAME (300μM), all failed to change the release of [3H]-ACh triggered by electric field stimulation, suggesting that the NK1 receptors localized in nitrergic neurons are not involved in the excitatory effect of SP in cholinergic synaptic transmission in the myenteric plexus. Recently, it was demonstrated that muscarinic M3 receptors activation facilitate [3H]-ACh release from the LM-MP of the ileum of healthy rats through an indirect action mediated by adenosine outflow from cells and consequent activation of A2A prejunctional receptors (Vieira et al., 2009). The facilitatory effect of oxotremorine (300μM, 34±4%, n=3) was not modified upon the blockade of NK1 receptors with L732138 (20nM, 28±9%, n=4). Using CAP rats, we now showed that the muscarinic M3 facilitation caused by oxotremorine (300μM) in control animals, was abolish (-3±12%, n=6). Blockade of muscarinic M3 facilitation of transmitter release in CAP rats was not overcome in the presence of the NK1 receptor agonist, s,m-SP (300nM), applied together with oxotremorine (300μM, -3±7%, n=4), in contrast with that observed when the SP analogue was co-applied with the A2A receptor agonist, CGS21680C, in the same experimental conditions (see above). To explain these findings, it was hypothesized that in CAP rats (1) the activity / number of muscarinic M3 receptors is decreased (see below), and/or (2) the muscarinic M3 receptor-induced endogenous adenosine production is somehow impaired (Marques et al., 2009). Myographic recordings performed in LM-MP preparations of the rat ileum, showed that selective blockade of muscarinic M3 receptors with J104129 (6nM) failed to attenuate the contractile responses of oxotremorine (3nM, 10nM, 100nM, 1μM, 10μM and 100μM) in CAP animals, while J104129 (6nM) significantly (P<0.05) shifted to the right the concentration-response curve of oxotremorine in control animals (see Vieira et al., 2009). These results indicate that oxotremorine-induced contractions elicited by oxotremorine on LM-MP preparations isolated from CAP animals may be due to a distinct muscarinic (M2) receptor subtype mediating smooth muscle contractions in control rats; this is in keeping with the findings obtained using the M3 knock-out mice (Takeuchi et al., 2005). As observed in the [3H]-ACh release experiments, selective blockade of NK1 receptors with L732138 (20nM) did not significantly (P>0.05) change the contractile effect of oxotremorine in both animal groups, thus supporting the absence of significant interactions between NK1 and M3 in LM-MP preparations. These results also indicate that the direct effect of oxotremorine on smooth muscle fibers may be independent from its facilitatory action on cholinergic nerve terminals, the latter being indirectly mediated by adenosine outflow leading to A2A receptors activation. Using confocal microscopy, we showed that muscarinic M3 receptors are located predominantly in interstitial cells of Cajal that are immunorreactive against vimentin, namely those found both at ganglionic level (MY-ICC, stellate morphology) as well as at intramuscular level (IM-ICC, fusiform morphology). Interestingly, labeling of M3 receptors on IM-ICC is significantly (P<0.05) decreased in CAP animals. These results are positively correlated with the decrease in SP immunorreativity observed in CAP rats, while contrasting with the pattern of NK1 receptor labeling co-expressed in this group of animals, which exhibits increased intensity predominantly addressing the cell membrane. In conclusion, these results demonstrate the existence of synergism between NK1 and A2A receptors modulating ACh release from stimulated myenteric nerve terminals. NK1 receptors seems to be co-localized with M3 muscarinic receptors on IM-ICC, which are intimately interposed between cholinergic (positive VAChT) and/or tachykinergic (positive to SP) nerve terminals and smooth muscle fibers forming a tripartite synapse. Neonatal capsaicin-treated rats exhibit structural and functional modifications in the myenteric plexus of ileum, These include: (1) a reduction in the expression of muscarinic M3 receptors on IM-ICC, but not on MY-ICC, leading to decreased M3 receptor control of ACh release from stimulated myenteric neurons, (2) the translocation of NK1 receptors from the cytoplasm to cell membranes to compensate for the depletion of their endogenous ligand, SP, and (3) a deficit in the tonic activity of the facilitatory adenosine A2A receptors. Decline of the tonic facilitatory effect of adenosine A2A receptors in CAP animals may be correlated with reduced endogenous levels of the nucleoside resulting from the loss of M3 receptors and/or with the reduction of tissue levels of tachykinins (e.g. SP) and, consequent, loss of synergism between A2A and NK1. The reason for the selective loss of muscarinic M3 receptors from IM-ICC in CAP animals may result from the loss of neuropeptide tonus. The relationship between neuropeptides and the expression of muscarinic M3 receptors in the myenteric plexus needs further experiments.2012-11-21T10:51:55Z2009-01-01T00:00:00Z2009info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10348/2194pormetadata only accessinfo:eu-repo/semantics/openAccessSilva, Isabel Sofia Dias dareponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-02-02T12:30:05Zoai:repositorio.utad.pt:10348/2194Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T02:00:28.954445Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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O sistema nervoso entérico (SNE) é formado por uma extensa rede neuronal intrínseca que acompanha todo o tracto gastrointestinal e que se organiza em dois grandes plexos nervosos; o plexo submucoso ou de Meissner (mais interno, localizado na submucosa) e o plexo mioentérico ou de Auerbach (mais externo, localizado entre as duas camadas musculares circular e longitudinal). O SNE possui numerosas células gliais e intersticiais de Cajal (ICC), que em conjunto com os neurónios controlam funções essenciais como a motilidade, secreção e fluxo sanguíneo intestinal. A motilidade gastrointestinal é regulada pela libertação de acetilcolina (ACh), de purinas (e.g. ATP, adenosina) e de taquicininas (e.g. Substância P) a partir de neurónios entéricos excitatórios (Furness, 2000). Por outro lado, tanto as células gliais como as intersticiais de Cajal estão envolvidas no metabolismo dos neurotransmissores e são capazes de libertar substâncias neuromoduladoras. O equilíbrio entre a activação de neurónios excitatórios e/ou inibitórios, das células não-neuronais adjacentes e das células efectoras (musculares, glandulares ou vasculares) determina a actividade funcional do intestino em cada momento. Substâncias irritantes como a capsaicina, um composto isolado da malagueta vermelha, favorecem a transmissão neuromuscular devido à libertação maciça de taquicininas e da sua actuação sobre receptores NK1 e NK3 localizados em células neuronais e não-neuronais (Holzer et al., 2007). A injecção neonatal de capsaicina causa a degenerescência das fibras nervosas peptidérgicas (tipo C) por depleção do neurotransmissor e pelo influxo de grandes quantidades de Ca2+, resultando na perda de sensação dolorosa e da contractilidade do músculo liso (Geber et al., 2006). O ATP libertado conjuntamente com a ACh após estimulação nervosa é rapidamente metabolizado em adenosina através de uma cascata de ecto-nucleotidases. Recentemente, foi demonstrado que a adenosina possui uma acção bifásica no plexo mioentérico do íleo de rato. A adenosina actua em receptores inibitórios A1 presentes nos neurónios mioentéricos, taquicinérgicos e colinérgicos (Broad et al., 2002), enquanto a activação dos receptores A2A facilita a libertação de ACh induzida por estimulação eléctrica (Duarte-Araújo et al., 2004). Foi, também, demonstrada a existência de receptores muscarínicos M3 capazes de facilitarem a libertação de ACh indirectamente através do aumento do transporte de adenosina para o meio extracelular, facto que favorece a activação dos receptores facilitatórios A2A (Vieira et al., 2009). Sabendo que os receptores purinérgicos, taquicinérgicos e colinérgicos favorecem a neurotransmissão e a motilidade intestinal, pareceu-nos interessante investigar a interacção funcional destes receptores manipulando a sua actividade por métodos farmacológicos e/ou causando a depleção (> 95%) dos neurónios peptidérgicos através da injecção neonatal de capsaicina (RTC) em preparações de plexo mioentérico - músculo longitudinal (PM-ML) do íleo de rato. Para o esclarecimento dos objectivos propostos utilizaram-se várias metodologias: (1) quantificação da libertação de ACh- [3H] (Duarte-Araújo et al., 2004) e de substância P (por ELISA) induzida por estimulação eléctrica de campo (5 Hz, 1 ms), (2) registos miográficos em resposta à aplicação de antagonistas muscarínicos e taquicinérgicos e (3) ensaios de imunolocalização destes receptores por microscopia confocal usando sondas fluorescentes. Comparando os dois grupos de animais utilizados, ratos controlo (RC) e ratos tratados com capsaicina no período neonatal (RTC), não se observaram diferenças significativas na quantidade de SP extraída das preparações de PM-ML, porém foi possível observar um decréscimo na quantidade de SP libertada após estimulação eléctrica do PM-ML nos animais RTC. Esta redução foi também detectada na presença do agonista selectivo dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM), e do agonista dos receptores muscarínicos M3, oxotremorina (Oxo, 300μM). Observou-se, ainda, uma redução significativa da imunorreactividade para os neuropéptidos, CGRP e SP, no plexo mioentérico do íleo dos RTC comparativamente com o grupo controlo, confirmando a eficácia do tratamento com capsaicina no período neonatal. O agonista dos receptores NK1, [Sar9,Met(O2)11]-Substance P, (s,m-SP, 300nM), causou um pequeno aumento (16±4%, n=4) da libertação de ACh-[3H] a partir do PMML estimulado electricamente. O efeito facilitatório deste análogo da SP foi significativamente potenciado pela activação conjunta dos receptores A2A da adenosina pelo CGS21680C (3nM), i.e. a libertação de ACh-[3H] aumentou para 48±8% (n=4) quando se aplicou s,m-SP (300nM) na presença de CGS21680C (3nM). A potenciação do efeito facilitatório do s,m-SP (300nM) sobre a libertação de ACh-[3H] foi também observada na presença do activador directo da adenilciclase, FSK (3μM, 31±6%, n=4), e do inibidor da desaminase da adenosina, EHNA (50μM, 27±6%, n=5), a enzima que converte a adenosina no seu metabolito inactivo, inosina. De forma análoga, o efeito facilitatório do CGRP (200nM, 19±5%, n=4) sobre a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica só atingiu significado estatístico na presença de CGS21680C(3nM, 25±6%, n=4) ou de forscolina (3μM, 27±4%, n=4). Estes resultados sugerem a existência de um sinergismo entre a actividade excitatória dos neuropéptidos e a activação tónica de receptores A2A acoplados positivamente à via de transdução de sinal dependente da adenilciclase (AC) no controlo da libertação de ACh-[3H] no PM-ML. Através de ensaios de imunofluorescência comprovou-se a existência de receptores A2A da adenosina nas terminações nervosas colinérgicas do plexo mioentérico que exibem imunorreactividade para o transportador vesicular da ACh, VAChT. A densidade de marcação dos receptores A2A da adenosina não parece sofrer alteração nos animais RTC, comparativamente com o grupo controlo. O mesmo não se verificou relativamente à actividade do agonista dos receptores A2A da adenosina, CGS21680C (3nM). Este composto causou um aumento da libertação de ACh-[3H] de 53±10% (n=5) e de apenas 11±7% (n=6) nos animais RC e RTC, respectivamente. No entanto, o efeito facilitatório do CGS21680C (3nM) nos animais RTC foi restabelecido para níveis semelhantes ao controlo (46±17%, n=6) após a aplicação conjunta do agonista A2A e do análogo da SP, s,m-SP (300nM). Estes resultados sugerem que, para além do sinergismo entre os efeitos desencadeados pela activação dos receptores A2A e NK1, a existência de proximidade estrutural entre estes dois tipos de receptores. A imunorreactividade contra os receptores NK1 foi detectada apenas em alguns corpos celulares dos neurónios ganglionares do plexo mioentérico e nas células intersticiais de Cajal intramusculares (ICC-IM, de morfologia fusiforme), mas não nas suas congéneres localizadas junto ao gânglio mioentérico (ICC-MY, de morfologia estrelada), embora ambas apresentem marcação positiva para o anticorpo antivimentina. É interessante realçar que o padrão de marcação dos receptores NK1 varia nos dois grupos de animais estudados. Nos animais controlo, esta marcação encontra-se dispersa pelo citoplasma correspondendo a receptores internalizados (dessensibilizados), enquanto os animais RTC apresentam um padrão de marcação membranar com predomínio de receptores activos. O padrão de distribuição celular dos receptores NK1 correlaciona-se com a abundância ou a depleção do ligando endógeno, SP, nos animais RC ou RTC, respectivamente. Foi demonstrado que os neurónios ganglionares com imunorreactividade para os receptores NK1 também apresentavam marcação para a síntase do NO (NOS, 85%) e para a colina acetiltransferase (ChAT, 15 %) (Lomax et al., 1998). Assim, avaliou-se o papel do NO sobre a libertação de ACh- [3H] a partir do PM-ML do íleo de rato. A manipulação da via do NO, usando o seu precursor, L-arginina (L-arg, 470μM), o dador directo de NO, SIN-1 (10μM) e o inibidor irreversível da NOS, L-NAME (300μM), não alteraram significativamente a libertação de ACh-[3H] induzida por estimulação eléctrica, demonstrando que os receptores NK1 envolvidos no efeito excitatório da SP no plexo mioentérico não se encontram localizados em neurónios nitrérgicos. Recentemente, foi demonstrado que a activação de receptores muscarínicos do subtipo M3 favorece a libertação de ACh-[3H] no PM-ML do íleo de ratos saudáveis através de uma acção indirecta sobre as terminações nervosas colinérgicas mediada pelo efluxo de adenosina e consequente activação dos receptores pré-juncionais A2A (Vieira et al., 2009). No entanto, neste trabalho mostrou-se que o efeito facilitatório do agonista muscarínico (M3), oxotremorina (300μM, 34±4%, n=3), constatado em animais controlo foi abolido (-3±12%, n=6) após o tratamento com capsaicina no período neonatal. Contrariamente ao sinergismo observado entre os receptores A2A e NK1 (ver acima), a aplicação exógena de s,m-SP (300nM) não conseguiu ultrapassar o bloqueio da resposta muscarínica (M3) (-3±7%, n=4), provavelmente por défice na libertação de adenosina endógena a partir de células que expressam este receptor. O efeito facilitatório da oxotremorina (300μM) não sofreu alteração significativa na presença do antagonista selectivo dos receptores NK1, L732138 (20nM, 28±9%, n=4). Registos miográficos realizados em preparações de PM-ML do íleo mostraram que o efeito do antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M3, J104129 (6nM), não alterou o efeito contracturante da oxotremorina nos animais RTC, contrariamente ao que foi descrito para animais controlo (ver Vieira et al., 2009). Também o bloqueio dos receptores NK1 com L732138 (20nM) não alterou significativamente (P>0.05) o efeito da oxotremorina nos dois grupos de animais, sugerindo a inexistência de interacções NK1-M3 na transmissão mioneural no PM-ML. Estes resultados sugerem que o efeito directo da oxotremorina sobre as fibras musculares lisas é independente do seu efeito neuromodulador, sendo este último mediado pela activação de receptores M3 e consequente libertação de adenosina que activa receptores A2A. Usando técnicas de imunofluorescência, mostrou-se que os receptores muscarínicos M3 estão localizados predominantemente nas células intersticiais de Cajal (positivas para a vimentina), tanto ao nível ganglionar (ICC-MY) como a nível intramuscular (ICC-IM). No entanto, a densidade de marcação destes receptores está significativamente diminuída nos animais RTC, nomeadamente no que respeita à marcação dos receptores M3 nas ICC-IMs. Estes resultados contrastam com o padrão de marcação dos receptores NK1 neste grupo de animais, onde se observa um aumento da imunorreactividade destes receptores associado à sua distribuição membranar. Em conclusão, os resultados obtidos confirmam a existência de um sinergismo na actuação dos receptores A2A e NK1 na regulação da libertação de ACh a partir das terminações nervosas mioentéricas. Os receptores NK1 parecem estar co-localizados com os receptores muscarínicos M3 nas ICC-IM, que se encontram justapostas entre as terminações nervosas colinérgicas (marcadas com VAChT) e/ou peptidérgicas (reactivas para a SP) e as fibras musculares lisas – sinapse tripartida. Nos animais RTC, observaram-se alterações estruturais e funcionais no plexo mioentérico do íleo de rato, das quais se destacam: (1) a redução da densidade e da função neuromoduladora dos receptores M3 das ICC-IM, mas não das ICC-MY, (2) a translocação dos receptores NK1 do citoplasma para a membrana das células para compensar a depleção do seu ligando endógeno, a SP, e (3) o défice na actividade tónica dos receptores facilitatórios A2A da adenosina. A redução da facilitação da libertação de ACh devida aos receptores A2A nos animais RTC correlaciona-se com baixos níveis endógenos do nucleósido resultantes da perda de receptores M3 e/ou com a redução do teor tecidular em taquicininas (e.g. SP) e, consequente, perda do efeito sinérgico A2A e NK1. A razão da perda selectiva de receptores muscarínicos M3 das ICC-IM nos animais RTC pressupõe uma relação entre os neuropéptidos e a expressão de receptores muscarínicos nessas células que carece de comprovação experimental. |
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