Trabalhador-estudante de graduação: utopias e contradições

• Autor(a) principal: Galleão, Antonio Miranda
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNISANTOS
• Texto Completo: https://tede.unisantos.br/handle/tede/5781
• topic: CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO; trabalhador-estudante; educação superior; educação emancipatória; utopia; worker-students; higher education; emancipatory education; utopia; tTrabajador-estudiante; educación superior; educación emancipadora; utopía

O objeto de investigação desta tese é o estudante de graduação que concilia o estudo com mais de 20 horas semanais de trabalho, nesta pesquisa denominado trabalhadorestudante. Considerando como pressuposto teórico que a formação na educação superior requer tempo de estudo além daquele dedicado às aulas, e identificando que a motivação principal da maioria desses estudantes está relacionada com a carreira profissional, a tese procura, como objetivo principal, compreender como a restrição de tempo de dedicação aos estudos de trabalhadores-estudantes é considerada nos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI) de instituições de ensino superior brasileiras (IES), e como essa restrição pode impactar a formação profissional desses estudantes. Para alcançar esse objetivo, duas são as questões de pesquisa: (a) como as IES consideram, em seus PDI, a restrição de tempo de dedicação ao estudo de trabalhadores-estudantes? (b) como as IES consideram, em seus PDI, a articulação entre o mundo do trabalho e a educação superior que oferecem a seus trabalhadoresestudantes? Está fundamentada epistemologicamente nos princípios da Teoria Crítica, descritos por Nobre, na perspectiva de uma educação emancipatória, conforme Freire, e de seu vínculo com a utopia. Metodologicamente, adota as categorias contradição e historicidade para elaborar um estudo teórico bibliográfico, uma análise crítica dos microdados do ENADE dos anos 2014 a 2018 para traçar um mapa representativo dos trabalhadores-estudantes, e uma pesquisa documental de 120 PDI. Os dados foram analisados segundo a Hermenêutica-Dialética (Minayo) e a Análise de Conteúdo (Bardin). Os resultados apontam para um sistema de educação superior que se deixa influenciar mais pelas diretrizes de organismos multilaterais do que com as finalidades da educação superior explicitadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. Apontam, também, para utopias que, alimentadas pelas possibilidades de acesso decorrentes de políticas públicas e de iniciativas de IES privadas, movem trabalhadores-estudantes para a educação superior. Assim, apesar das contradições e das sérias questões presentes no sistema de educação superior brasileiro, conquistas aconteceram nas últimas décadas. Trabalhadores-estudantes passaram a se reconhecerem portadores do direito de ser e de estar na educação superior, sentiram-se capazes, conseguiram e puderam alcançar melhores condições de vida. Mas, se avanços não podem ser ignorados, também não é possível ignorar o poder de convencimento da ideologia vigente que, estruturalmente, cria obstáculos a avanços emancipatórios. Fortes são os indícios de que utopias aqui identificadas não encontram respaldo nos PDI das IES da amostra considerada, fato que reforça a tese de que a conclusão de um curso de graduação alcançada por trabalhadoresestudantes tende a resultar apenas em benefícios residuais se comparados àqueles que efetivamente a educação superior poderia oferecer, mas que, por outro lado, não podem ser desconsiderados, pois trazem contribuição importante para a melhoria de suas condições de vida. Em assim sendo, faz-se necessário manter viva a chama da utopia por uma educação superior emancipatória, pública e gratuita, como direito de todos.