Nação e narração: identidade, história e memória em Pepetela

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Saraiva, Marília Maia
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPB
Texto Completo: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/3280
Resumo: A literatura angolana carrega consigo as marcas de uma diversidade linguística, étnica e cultural, devido, sobretudo, a uma conturbada e complexa formação histórica de sua “nação”. A extensa duração do período colonial e a crueldade de uma guerra civil deixaram o país permeado por cisões, desacertos e diversidades culturais. Reconhecer-se em um meio determinado pelas misturas se tornou um grande desafio para os sujeitos existentes nessa nação. Sujeitos esses que encontraram na palavra a arma de combate mais eficiente para a construção de sua identidade, o elemento capaz de mobilizar a sociedade para um objetivo comum: o reconhecimento de uma identidade nacional. Em consonância com esses apontamentos, o corpus desta pesquisa é o romance A gloriosa família: o tempo dos flamengos, do escritor angolano Pepetela, que narra um fato específico da história de Angola: a ocupação holandesa, representada pela Companhia das Índias Ocidentais, em Luanda, durante sete anos, de 1643 a 1646. Os conflitos giram em torno da família Van Dum, composta por Baltazar Van Dum (holandês), D. Inocência (angolana) e seus onze filhos (três deles filhos de escravas). O narrador apresenta-se como o escravo do senhor Van Dum e, como se não bastasse à própria condição que o condena, é um escravo mudo, analfabeto e sem nome próprio, que, mesmo sendo um personagem, não desenvolve uma participação efetiva na narrativa. Ao mostrar os fatos históricos por meio da ótica do colonizado, o escravo vive uma dualidade ao longo do romance, pois, enquanto personagem, não passa de um ser coisificado, porém, na função de narrador, assume a postura de um ser pensante, dominante e consciente da sua condição miserável na ficção e na história. A presente pesquisa analisa a construção da narrativa observando as relações estabelecidas entre a ficção, história, memória e identidade. Para tanto, a dissertação será dividida em três capítulos: o primeiro discorre sobre as informações históricas e estilísticas da obra citada, enfocando o gênero romance, seus elementos e especificidades da literatura africana com base nas ideias apresentadas por Rita Chaves e Bakhtin. O segundo capítulo analisa a formação do narrador a partir da discussão teórica sobre história e memória, proposta por Jacques Le Goff, Antoine Compagnon, Walter Benjamin, Antonio Candido. O terceiro capítulo direciona a análise para o estudo da identidade cultural na formação de toda a narrativa, ou seja, em sua completude, utiliza como fundamento teórico Stuart Hall, Castells e Glissant. Ao término do estudo, espera-se associar o referencial crítico apontado pela pesquisa à narrativa em destaque de modo que a teoria possa auxiliar o entendimento do objeto literário.
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spelling Nação e narração: identidade, história e memória em Pepetela1. Literatura africana. 2. História da Angola. 3. Romance. 4. NarraçãoCIENCIAS SOCIAIS APLICADASA literatura angolana carrega consigo as marcas de uma diversidade linguística, étnica e cultural, devido, sobretudo, a uma conturbada e complexa formação histórica de sua “nação”. A extensa duração do período colonial e a crueldade de uma guerra civil deixaram o país permeado por cisões, desacertos e diversidades culturais. Reconhecer-se em um meio determinado pelas misturas se tornou um grande desafio para os sujeitos existentes nessa nação. Sujeitos esses que encontraram na palavra a arma de combate mais eficiente para a construção de sua identidade, o elemento capaz de mobilizar a sociedade para um objetivo comum: o reconhecimento de uma identidade nacional. Em consonância com esses apontamentos, o corpus desta pesquisa é o romance A gloriosa família: o tempo dos flamengos, do escritor angolano Pepetela, que narra um fato específico da história de Angola: a ocupação holandesa, representada pela Companhia das Índias Ocidentais, em Luanda, durante sete anos, de 1643 a 1646. Os conflitos giram em torno da família Van Dum, composta por Baltazar Van Dum (holandês), D. Inocência (angolana) e seus onze filhos (três deles filhos de escravas). O narrador apresenta-se como o escravo do senhor Van Dum e, como se não bastasse à própria condição que o condena, é um escravo mudo, analfabeto e sem nome próprio, que, mesmo sendo um personagem, não desenvolve uma participação efetiva na narrativa. Ao mostrar os fatos históricos por meio da ótica do colonizado, o escravo vive uma dualidade ao longo do romance, pois, enquanto personagem, não passa de um ser coisificado, porém, na função de narrador, assume a postura de um ser pensante, dominante e consciente da sua condição miserável na ficção e na história. A presente pesquisa analisa a construção da narrativa observando as relações estabelecidas entre a ficção, história, memória e identidade. Para tanto, a dissertação será dividida em três capítulos: o primeiro discorre sobre as informações históricas e estilísticas da obra citada, enfocando o gênero romance, seus elementos e especificidades da literatura africana com base nas ideias apresentadas por Rita Chaves e Bakhtin. O segundo capítulo analisa a formação do narrador a partir da discussão teórica sobre história e memória, proposta por Jacques Le Goff, Antoine Compagnon, Walter Benjamin, Antonio Candido. O terceiro capítulo direciona a análise para o estudo da identidade cultural na formação de toda a narrativa, ou seja, em sua completude, utiliza como fundamento teórico Stuart Hall, Castells e Glissant. Ao término do estudo, espera-se associar o referencial crítico apontado pela pesquisa à narrativa em destaque de modo que a teoria possa auxiliar o entendimento do objeto literário.The Angolan literature carries within itself, the marks of an ethnical, cultural and linguistic diversity, owing, mostly, to its disturbed and complex historical background. The long duration of the colonial period and the cruelty of a civil war let the country full of separations, uncertainties and cultural diversities. Identifying within a place determined by mixtures has become a huge challenger for the subjects who exist in this nation. Such subjects has met in the word the most powerful weapon to fight for building their identities, the element which is able to take society the common objective: the recognition of a national identity. In accordance with these points, the corpus of this research is the novel “A gloriosa Família: o tempo dos Flamengos” by the Angolan writer Pepetela which narrates specific fact of the Angolan history: the Dutch occupation, represented by the company of the West Indies in Luanda for seven years, from 1643 to 1647. The conflicts took place about the family Van Dum, which was made up of Baltazar Van Dum (Dutch), D. Inocência (Angolan) and his eleven children (three of them were slaves‟ children). The narrator is characterized as Mister Van Dum‟s slave and, as it all of this was not enough, he was a mute, illiterate and nameless slave and, even being a character in the novel, he does not take part effectively in the plot. When unveiling the historical facts from the point of view of the colonist, the slave then starts to play a dual role during the novel, because while he is a character, he is but a thing being, however, in his role as a narrator, he takes up the position of a thinking person, aware of his miserable condition in the plot and in the story. The current research analyzes the narrative construction, observing the established relations among fiction, history, memory and identity. In order to do so, this work was divided three chapters: the first one is about the stylistic and historical information of the work, focusing on the novel as genre, its elements and specificities in African Literature grounded on Rita Chaves and Bakhtin. The second chapter analyzes the narrator‟s background based on theoretical discussion about history and memory, proposed by Jacques Le Goff, Antoine Compagnon, Walter Benjamin, Antonio Candido. The third chapter guides the analyses towards the study of cultural identity in the development of all the narrative, in other words, in its completion. It is grounded on Stuart Hall, Castells and Glissant. At the end of this work, we hope to relate to theoretical used in the research with the narrative at issue so that the theory may help understand the literary phenomenon.Universidade Estadual da ParaíbaPró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PRPGPBrasilUEPBPrograma de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade - PPGLIBezerra, Rosilda AlvesSaraiva, Marília Maia2019-04-09T16:51:38Z2012-09-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfSaraiva, Marília Maia. Nação e narração: identidade, história e memória em Pepetela. 2012. 92f. 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