"Num pequeno recanto do Brasil": Vulnerabilidades em saúde e "doença dos nervos" em mulheres do Sertão paraibano

• Autor(a) principal: Souza, Josinaldo Furtado de
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPB
• Texto Completo: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/3958
• topic: Doença dos nervos; Transtorno Mental Comum; Vulnerabilidade; Saúde mental; Nerve disease; Common Mental Disorder; Women; Vulnerability; Rural city; CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA

O Transtorno Mental Comum (TMC), nomeado de “doença dos nervos” nas classes populares, refere-se a um sofrimento que apresenta queixas somáticas, depressivas e ansiosas, que geralmente está associada as classes mais empobrecidas, principalmente entre as mulheres, em virtude das precárias condições de vida, que podem ser agravadas em contextos rurais. Considerando tal realidade, indagamos: Qual a prevalência de TMC em mulheres residentes em contexto rural no Sertão paraibano? A partir de suas histórias de vida, que elementos individuais, sociais e programáticos colaboraram para a vulnerabilidade a doença dos nervos? Nesse sentido, o estudo teve como objetivo geral investigar a prevalência de Transtorno Mental Comum (TMC) e vulnerabilidades em saúde de mulheres residentes em cidade rural do sertão paraibano. Tratou-se de dois estudos empíricos, um de natureza qualitativa e outro quantitativa. No estudo de cunho quantitativo, objetivou-se analisar a prevalência de Transtorno Mental Comum (TMC) e sua associação com as variáveis sociodemográficas, estilo de vida e cuidados em saúde mental em mulheres residentes em uma cidade rural do sertão paraibano. Participaram 210 mulheres com idades entre 20 e 89 anos (M=47,45; DP=17,25), residentes na cidade de Bom Jesus, Paraíba. A prevalência de TMC foi de 35,7%, sendo os sintomas mais frequentes relacionados ao humor depressivo/ansioso e queixas somáticas. A presença de TMC esteve associada a variáveis como baixa escolaridade (χ2(gl)= 13,18(3); p = 0,004); profissão (donas de casa) (χ2(gl)= 11,53(5); p = 0,042); estado civil (casadas/morando junto) (χ2(gl)= 9,35(3); p = 0,025); não realização de atividades físicas (χ2(gl)= 8,59(2); p=0,014); ser vítima de violência (χ2(gl)= 17,37(1); p<0,001). Se reconhecer enquanto doente dos nervos, ouvir comentários de vizinhos sobre sofrer com tal condição, o uso de psicotrópicos, e consultas com psicólogos e psiquiatras também foram estatisticamente associados aos TMC. O estudo qualitativo cujo objetivo foi analisar os elementos (individuais, sociais e programáticos) de vulnerabilidade à doença dos nervos, a partir das histórias de vida, de mulheres do Sertão da Paraíba, teve a participação de 12 mulheres, com idades entre 28 e 63 anos. Para a coleta de dados, utilizou-se a entrevista semiestruturada, a partir do método História de vida. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo, proposta por Bardin. A partir das entrevistas, elencou-se 05 categorias e 22 subcategorias, que foram compostas por 295 recortes das falas, e retrataram os elementos e situações que contribuíam para maior vulnerabilidade a doença dos nervos, como desigualdade de gênero, violência, cuidado com os filhos, dentre outros, e os modos de enfrentamento. Os sintomas somáticos foram descritos em todas as falas, e a principal estratégia utilizada foi o uso de medicações psicotrópicas. A partir destes resultados, é possível concluir que as mulheres da cidade rural analisada vivenciam constantemente elementos e situações que as suscetibilizam a este adoecimento.