Tragicidade dialética na poética de Antero de Quental

• Autor(a) principal: Souza, Ayanne Larissa Almeida de
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPB
• Texto Completo: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/3638
• topic: Análise literária; Literatura portuguesa; Trágico; Poesia portuguesa; Limites da linguagem; LETRAS::LITERATURA BRASILEIRA

O presente trabalho se insere no âmbito dos estudos em torno da interface Literatura e Filosofia, concentrando-se na análise e interpretação das duas principais obras poéticas de Antero de Quental, Odes Modernas e o Livro dos Sonetos. Objetiva-se compreender o trágico em sua poesia, tomando como aporte teórico a sociologia de Raymond Williams, no que diz respeito ao conceito de estrutura de sentimento, incorporando também contributos teóricos de outros autores, como G. W. F. Hegel e Ludwig Wittgenstein, no que diz respeito aos aspectos da linguagem; K. W. F. Solger, sobre a impossibilidade de manifestação imanente da Ideia no seio do sistema hegeliano; Plotino, sobre os limites da linguagem racional humana para expressar o absoluto e Søren Kierkegaard, no que concerne à consciência desesperada; e a hermenêutica de Fredric Jameson, que entende a literatura enquanto forma simbólica das relações sociais evidentes. A análise considera o aspecto trágico enquanto um sentir cujas características, para além de uma experiência particular, dizem respeito à presença de elementos comuns a diversas obras de arte num mesmo período histórico. A problemática em questão envolve um dilema, expresso em nível semântico-discursivo, que se apresenta como tensão entre pensamento e os limites de sua expressão numa estética realista, mundo e linguagem, e que se traduz, na poesia anteriana, em uma incapacidade do poeta para encontrar uma linguagem capaz de satisfazê-lo enquanto um meio de expressão do Ideal, uma forma mediante a qual o poeta pudesse manifestar conceitualmente as experiências imediatas com o mundo fenomênico, absolutizando-as. A análise e interpretação de estratos semântico-discursivos da poesia anteriana, destacadamente imagens criadas pelo poeta por meio de metáforas, deixam entrever uma dialética entre Ideia e manifestação da Ideia no plano da configuração estética do realismo. A tese defendida nesta pesquisa é a de que, entre as duas produções literárias do poeta, há um movimento dialético que se constitui como uma dialética trágica. O sentir trágico anteriano se revela diante dos limites de uma concepção de linguagem da estética realista. Os ideais e valores do eu lírico se apresentam incompatíveis com a realidade e inexeqüível no mundo concreto fora de sua consciência, haja vista que o absoluto, o ilimitado em si mesmo, não é passível de ser enformado dentro dos limites da linguagem do realismo.