Espaço e as práticas do cuidado de si, na relação saúde/doença do corpo das travestis e mulheres transexuais em Curitiba e Ponta Grossa, Paraná

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Braga, Ramon de Oliveira Bieco
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPG
Texto Completo: http://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/3098
Resumo: Esta pesquisa possui a questão central de ‘como o espaço compõe as práticas do cuidado de si, na relação saúde e doença de travestis e mulheres transexuais nas cidades de Curitiba e Ponta Grossa?’. Da questão central, ramificaram-se três subquestões: ‘como é o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais?’, ‘como ocorre o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde?’, ‘como se estruturam as práticas realizadas do cuidado de si na relação saúde/doença?’. Operacionalmente, mediante a técnica de amostragem Snowball, foram entrevistadas 20 pessoas que se auto identificaram como travestis e mulheres transexuais. Elas foram acessadas mediante contato prévio com as Organizações Não Governamentais (ONG) Transgrupo Marcela Prado (Curitiba/PR) e Grupo Renascer (Ponta Grossa/PR). Para a coleta de dados, realizou-se entrevistas com base em um roteiro de entrevista semiestruturado. As transcrições das entrevistas realizadas foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo (BARDIN, [1977] 2016), que possibilitou sistematizar as entrevistas em 720 evocações, resultando em 15 espacialidades discursivas e 30 categorias discursivas. As espacialidades discursivas foram agrupadas em ‘corpo’ (39%), ‘saúde’ (26%), ‘casa’ (10%), ‘cidade’ (10%), ‘trabalho’ (4%), ‘educação formal’ (4%), ‘ONG’ (3%) e outras espacialidades (4%). Os resultados obtidos demonstram que o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais é conturbado, sendo que elas constantemente experienciam espacialmente a travestifobia e a transfobia nos espaços públicos e privados como, por exemplo, na casa dos familiares, nos espaços escolares, de trabalho e na cidade. Quando adoecem fisicamente e/ou psicologicamente, elas buscam realizar o cuidado de si nos espaços formais de saúde. Porém, não são bem recebidas pelos(as) profissionais de saúde que reproduzem o discurso heteronormativo, desqualificando o corpo delas e interditando o acesso e/ou permanência dos espaços formais de saúde. A interdição desses espaços ocorre com base no desrespeito ao nome social, na abordagem inadequada dos seus corpos e na negligência do atendimento médico. Assim sendo, elas (re)produzem estratégias que se constituem como práticas sociais no cuidado de si, externas aos espaços formais de saúde. Diante do contexto apresentado nesta pesquisa, o corpo das travestis e mulheres transexuais é reconhecido como um espaço, que deve ser cuidado por elas ou por amigas(os) que as auxiliam no cuidado de si. As práticas que centralizam o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais se constituem sob duas perspectivas: a estética e o biológico. Em relação a estética, foi verificado o consumo dos hormônios e as intervenções cirúrgicas com as ‘bombadeiras’. No cuidado biológico, as travestis e mulheres transexuais relataram que praticam o cuidado de si priorizando uma alimentação saudável, práticas de exercícios físicos, regulando as horas de sono, bem como pesquisam na internet e/ou perguntam para alguns(mas) amigos(as) sugestões de chás, pomadas, massagens, etc., para aliviar as dores ou algum mal estar patológico. Portanto, sugere-se que as Portarias, que garantem o adequado atendimento as travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde, virem leis, assim como se torna imperativo elaborar políticas públicas que assegurem a cidadania das travestis e mulheres transexuais na sociedade.
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Espaço e as práticas do cuidado de si, na relação saúde/doença do corpo das travestis e mulheres transexuais em Curitiba e Ponta Grossa, Paraná. 2020. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2020http://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/3098Esta pesquisa possui a questão central de ‘como o espaço compõe as práticas do cuidado de si, na relação saúde e doença de travestis e mulheres transexuais nas cidades de Curitiba e Ponta Grossa?’. Da questão central, ramificaram-se três subquestões: ‘como é o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais?’, ‘como ocorre o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde?’, ‘como se estruturam as práticas realizadas do cuidado de si na relação saúde/doença?’. Operacionalmente, mediante a técnica de amostragem Snowball, foram entrevistadas 20 pessoas que se auto identificaram como travestis e mulheres transexuais. Elas foram acessadas mediante contato prévio com as Organizações Não Governamentais (ONG) Transgrupo Marcela Prado (Curitiba/PR) e Grupo Renascer (Ponta Grossa/PR). Para a coleta de dados, realizou-se entrevistas com base em um roteiro de entrevista semiestruturado. As transcrições das entrevistas realizadas foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo (BARDIN, [1977] 2016), que possibilitou sistematizar as entrevistas em 720 evocações, resultando em 15 espacialidades discursivas e 30 categorias discursivas. As espacialidades discursivas foram agrupadas em ‘corpo’ (39%), ‘saúde’ (26%), ‘casa’ (10%), ‘cidade’ (10%), ‘trabalho’ (4%), ‘educação formal’ (4%), ‘ONG’ (3%) e outras espacialidades (4%). Os resultados obtidos demonstram que o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais é conturbado, sendo que elas constantemente experienciam espacialmente a travestifobia e a transfobia nos espaços públicos e privados como, por exemplo, na casa dos familiares, nos espaços escolares, de trabalho e na cidade. Quando adoecem fisicamente e/ou psicologicamente, elas buscam realizar o cuidado de si nos espaços formais de saúde. Porém, não são bem recebidas pelos(as) profissionais de saúde que reproduzem o discurso heteronormativo, desqualificando o corpo delas e interditando o acesso e/ou permanência dos espaços formais de saúde. A interdição desses espaços ocorre com base no desrespeito ao nome social, na abordagem inadequada dos seus corpos e na negligência do atendimento médico. Assim sendo, elas (re)produzem estratégias que se constituem como práticas sociais no cuidado de si, externas aos espaços formais de saúde. Diante do contexto apresentado nesta pesquisa, o corpo das travestis e mulheres transexuais é reconhecido como um espaço, que deve ser cuidado por elas ou por amigas(os) que as auxiliam no cuidado de si. As práticas que centralizam o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais se constituem sob duas perspectivas: a estética e o biológico. Em relação a estética, foi verificado o consumo dos hormônios e as intervenções cirúrgicas com as ‘bombadeiras’. No cuidado biológico, as travestis e mulheres transexuais relataram que praticam o cuidado de si priorizando uma alimentação saudável, práticas de exercícios físicos, regulando as horas de sono, bem como pesquisam na internet e/ou perguntam para alguns(mas) amigos(as) sugestões de chás, pomadas, massagens, etc., para aliviar as dores ou algum mal estar patológico. Portanto, sugere-se que as Portarias, que garantem o adequado atendimento as travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde, virem leis, assim como se torna imperativo elaborar políticas públicas que assegurem a cidadania das travestis e mulheres transexuais na sociedade.This research has the central question of 'how does space compose self-care practices in the relationship between health and disease of transvestites and transsexual women in the cities of Curitiba and Ponta Grossa?'. From the central question, three sub-questions were branched out: 'how is the process of self-identification of transvestites and transsexual women?', 'how does the care of the body of transvestites and transsexual women occur in formal health spaces?', 'how are the practices performed of self-care in the health/disease relationship structured?'. Operationally, using the Snowball sampling technique, 20 people were interviewed who identified themselves as transvestites and transsexual women. They were accessed through previous contact with the Non-Governmental Organizations (NGO) Transgroup Marcela Prado (Curitiba/PR) and Renascer Group (Ponta Grossa/PR). For data collection, interviews were conducted based on a semi-structured interview script. The transcripts of the interviews were analyzed by the content analysis technique (BARDIN, [1977] 2016), which made it possible to systematize the interviews in 720 evocations, resulting in 15 discursive spatialities and 30 discursive categories. Discursive spatialities were grouped into 'body' (39%), 'health' (26%), 'home' (10%), 'city' (10%), 'work' (4%), 'formal education' (4%), 'ONG' (3%) and other spatialities (4%). The results obtained show that the process of self-identification of transvestites and transsexual women is troubled, and they constantly experience transvestiphobia and transphobia spatially in public and private spaces, such as in the family home, in school spaces, at work and in the city. When they become physically and/or psychologically ill, they seek to perform self-care in formal health spaces. However, they are not well received by health professionals who reproduce the heteronormative discourse, disqualifying their bodies and prohibiting access and/or permanence of formal health spaces. The interdiction of these spaces occurs based on disrespect for the social name, inadequate approach to their bodies and neglect of medical care. Thus, they (re)produce strategies that constitute social practices in self-care, external to formal health spaces. Given the context presented in this research, the body of transvestites and transsexual women is recognized as a space, which should be cared for by them or by friends who help them in the care of themselves. The practices that centralize the care of the body of transvestites and transsexual women are constituted from two perspectives: aesthetics and biological. In relation to aesthetics, the consumption of hormones and surgical interventions with 'pumpers' were verified. In biological care, transvestites and transsexual women reported that they practice self-care by prioritizing healthy eating, physical exercise practices, regulating sleep hours, as well as searching the Internet and/or asking some friends suggestions for teas, ointments, massages, etc., to relieve pain or some pathological malaise. Therefore, it is suggested that the Ordinances, which guarantee adequate care for transvestites and transsexual women in formal health spaces, come to laws, as well as it becomes imperative to develop public policies that ensure the citizenship of transvestites and transsexual women in society.Submitted by Angela Maria de Oliveira (amolivei@uepg.br) on 2020-06-03T14:02:22Z No. of bitstreams: 2 license_rdf: 811 bytes, checksum: e39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34 (MD5) Ramon de Oliveira Bieco Braga.pdf: 6187067 bytes, checksum: e41628b661c3478c57c8387b2aa2f451 (MD5)Made available in DSpace on 2020-06-03T14:02:22Z (GMT). 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description Esta pesquisa possui a questão central de ‘como o espaço compõe as práticas do cuidado de si, na relação saúde e doença de travestis e mulheres transexuais nas cidades de Curitiba e Ponta Grossa?’. Da questão central, ramificaram-se três subquestões: ‘como é o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais?’, ‘como ocorre o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde?’, ‘como se estruturam as práticas realizadas do cuidado de si na relação saúde/doença?’. Operacionalmente, mediante a técnica de amostragem Snowball, foram entrevistadas 20 pessoas que se auto identificaram como travestis e mulheres transexuais. Elas foram acessadas mediante contato prévio com as Organizações Não Governamentais (ONG) Transgrupo Marcela Prado (Curitiba/PR) e Grupo Renascer (Ponta Grossa/PR). Para a coleta de dados, realizou-se entrevistas com base em um roteiro de entrevista semiestruturado. As transcrições das entrevistas realizadas foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo (BARDIN, [1977] 2016), que possibilitou sistematizar as entrevistas em 720 evocações, resultando em 15 espacialidades discursivas e 30 categorias discursivas. As espacialidades discursivas foram agrupadas em ‘corpo’ (39%), ‘saúde’ (26%), ‘casa’ (10%), ‘cidade’ (10%), ‘trabalho’ (4%), ‘educação formal’ (4%), ‘ONG’ (3%) e outras espacialidades (4%). Os resultados obtidos demonstram que o processo de autoidentificação das travestis e mulheres transexuais é conturbado, sendo que elas constantemente experienciam espacialmente a travestifobia e a transfobia nos espaços públicos e privados como, por exemplo, na casa dos familiares, nos espaços escolares, de trabalho e na cidade. Quando adoecem fisicamente e/ou psicologicamente, elas buscam realizar o cuidado de si nos espaços formais de saúde. Porém, não são bem recebidas pelos(as) profissionais de saúde que reproduzem o discurso heteronormativo, desqualificando o corpo delas e interditando o acesso e/ou permanência dos espaços formais de saúde. A interdição desses espaços ocorre com base no desrespeito ao nome social, na abordagem inadequada dos seus corpos e na negligência do atendimento médico. Assim sendo, elas (re)produzem estratégias que se constituem como práticas sociais no cuidado de si, externas aos espaços formais de saúde. Diante do contexto apresentado nesta pesquisa, o corpo das travestis e mulheres transexuais é reconhecido como um espaço, que deve ser cuidado por elas ou por amigas(os) que as auxiliam no cuidado de si. As práticas que centralizam o cuidado do corpo das travestis e mulheres transexuais se constituem sob duas perspectivas: a estética e o biológico. Em relação a estética, foi verificado o consumo dos hormônios e as intervenções cirúrgicas com as ‘bombadeiras’. No cuidado biológico, as travestis e mulheres transexuais relataram que praticam o cuidado de si priorizando uma alimentação saudável, práticas de exercícios físicos, regulando as horas de sono, bem como pesquisam na internet e/ou perguntam para alguns(mas) amigos(as) sugestões de chás, pomadas, massagens, etc., para aliviar as dores ou algum mal estar patológico. Portanto, sugere-se que as Portarias, que garantem o adequado atendimento as travestis e mulheres transexuais nos espaços formais de saúde, virem leis, assim como se torna imperativo elaborar políticas públicas que assegurem a cidadania das travestis e mulheres transexuais na sociedade.
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