RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gomes, Guilherme Augusto da Silva
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Communitas
Texto Completo: https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir a construção de personagens não-hegemônicas na obra Nossos ossos, de Marcelino Freire (2013). À luz de Butler (2000) e Bauman (1998), a presente análise apresenta de que modo o narrador-personagem, Heleno de Gusmão, enquanto póstumo, utiliza construções sociais estereotipadas a respeito da personagem travesti, Estrela, e dos michês com os quais ele se relaciona na trama, dando a ver discursos que objetificam esses sujeitos. Discute-se de que forma o narrador se constrói em função de uma hegemonia social – branco, rico e cisgênero – para atrair o leitor em função de seu ponto de vista sobre os outros. Ainda a respeito de Estrela, observa-se que Heleno deslegitima a existência de Estrela e sua possibilidade de construir seu corpo e produzir-se feminina, além de tratá-la como perigosa e mercenária. Sobre os “michês”, nomenclatura escolhida pela voz narrativa, Heleno separa o que possui seu afeto, chamando-o de boy, dos demais que são estereotipados: o índio, como vetor de doença sexualmente transmissível (HIV); o malandro, como usurpador de seu dinheiro; e o negro como paradoxo de seu poder econômico atrelado a sua branquitude. Conclui-se que o narrador se aproxima dos ideais hegemônicos da cultura ocidental judaico-cristã, branca e abastada como forma de valorizar a sua vida e seu esforço em erguer-se frente às dificuldades impostas aos sujeitos homoeróticos, gerando seu desprezo em relação aos “estranhos”.
id UFAC-2_ce8ea373532c1aab5a1cabe212ffe603
oai_identifier_str oai:ojs.pkp.sfu.ca:article/4393
network_acronym_str UFAC-2
network_name_str Communitas
repository_id_str
spelling RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIREtravestimichêshomoerotismoNossos ossosMarcelino FreireEste artigo tem por objetivo discutir a construção de personagens não-hegemônicas na obra Nossos ossos, de Marcelino Freire (2013). À luz de Butler (2000) e Bauman (1998), a presente análise apresenta de que modo o narrador-personagem, Heleno de Gusmão, enquanto póstumo, utiliza construções sociais estereotipadas a respeito da personagem travesti, Estrela, e dos michês com os quais ele se relaciona na trama, dando a ver discursos que objetificam esses sujeitos. Discute-se de que forma o narrador se constrói em função de uma hegemonia social – branco, rico e cisgênero – para atrair o leitor em função de seu ponto de vista sobre os outros. Ainda a respeito de Estrela, observa-se que Heleno deslegitima a existência de Estrela e sua possibilidade de construir seu corpo e produzir-se feminina, além de tratá-la como perigosa e mercenária. Sobre os “michês”, nomenclatura escolhida pela voz narrativa, Heleno separa o que possui seu afeto, chamando-o de boy, dos demais que são estereotipados: o índio, como vetor de doença sexualmente transmissível (HIV); o malandro, como usurpador de seu dinheiro; e o negro como paradoxo de seu poder econômico atrelado a sua branquitude. Conclui-se que o narrador se aproxima dos ideais hegemônicos da cultura ocidental judaico-cristã, branca e abastada como forma de valorizar a sua vida e seu esforço em erguer-se frente às dificuldades impostas aos sujeitos homoeróticos, gerando seu desprezo em relação aos “estranhos”.This article has as objective to discuss the construction of non-hegemonic characters in the work Nossos Ossos, by Marcelino Freire (2013). In the light of Butler (2000) and Bauman (1998), this analysis presents how the first person narrator, Heleno de Gusmão, as a posthumous person, uses stereotyped social constructions regarding the transvestite character, Estrela, and the michês (male prostitutes)  with whom he engage in the plot, showing discourses that objectify these subjects. It is discussed how the narrator build himself up in terms of a social hegemony - white, rich and cisgender - to attract the reader according to his point of view about others. Still regarding Estrela, it is observed that Heleno delegitimizes Estrela's existence and her possibility of building her body up and producing herself as a woman, in addition to treating her as dangerous and mercenary. Regarding “michês”, a nomenclature chosen by the narrative voice, Heleno separates the one who has his affection, calling him boy, from the others who are stereotyped: the indian, as a sexually transmitted disease vector (HIV/SIDA); the rascal, as usurper of his money; and the black as a paradox of his economic power linked to his whiteness. It is concluded that the narrator approaches the hegemonic ideals of the wealthy, white, western Judeo-Christian culture, as a way of valuing his life and his effort to rise up in the face of the difficulties imposed to the homoerotic subjects, generating his contempt for the “outsiders”.Este artículo tiene como objetivo discutir la construcción de personajes no hegemónicos en la obra Nuestros huesos, de Marcelino Freire (2013). Al mirar Butler (2000) y Bauman (1998), presenta cómo el personaje narrador, Heleno de Gusmão, como personaje póstumo, utiliza de construcciones sociales estereotipadas sobre el personaje travesti, Estrela, y los “michés” con los que se relaciona en la trama, presentando discursos que objetivan estos temas. Discute cómo se construye el narrador en términos de una hegemonía social --blanco, rico y cisgénero-- para atraer al lector según su punto de vista sobre los demás. Todavía, respecto a Estrela, deslegitima su existencia y su posibilidad de construir su cuerpo y producirse femenina, además de tratarla como peligrosa y mercenaria. En cuanto a “michés”, nomenclatura elegida por la voz narrativa, separa lo que tiene afecto, llamándolo niño, de los otros estereotipados: el indio, como vector de enfermedades de transmisión sexual (VIH); el bribón, usurpador de su dinero; y el negro como paradoja de su poder económico ligado a su blancura. Se concluye que el narrador se acerca a los ideales hegemónicos de la cultura judeocristiana occidental, blanca y acomodada como una forma de valorar su vida y su esfuerzo por levantarse frente a las dificultades impuestas a los sujetos “homoeróticos”, generando su desprecio por los demás "extraños".Editora da Universidade Federal do Acre - EDUFAC2020-12-15info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393Communitas; v. 4 n. 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-106Communitas; Vol. 4 No. 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-106Revista Communitas; ##issue.vol## 4 ##issue.no## 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-1062526-5970reponame:Communitasinstname:Universidade Federal do Acre (UFAC)instacron:UFACporhttps://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393/2622Copyright (c) 2020 Communitasinfo:eu-repo/semantics/openAccessGomes, Guilherme Augusto da Silva2021-01-12T19:30:39Zoai:ojs.pkp.sfu.ca:article/4393Revistahttps://periodicos.ufac.br/revista/index.php/COMMUNITASPUBhttps://periodicos.ufac.br/revista/index.php/COMMUNITAS/oairevistas@ufac.br || rafael.goncalves@ufac.br2526-59702526-5970opendoar:2021-01-12T19:30:39Communitas - Universidade Federal do Acre (UFAC)false
dc.title.none.fl_str_mv RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
title RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
spellingShingle RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
Gomes, Guilherme Augusto da Silva
travesti
michês
homoerotismo
Nossos ossos
Marcelino Freire
title_short RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
title_full RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
title_fullStr RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
title_full_unstemmed RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
title_sort RELAÇÕES PERNICIOSAS:: O USO DOS “ESTRANHOS” EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE
author Gomes, Guilherme Augusto da Silva
author_facet Gomes, Guilherme Augusto da Silva
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Gomes, Guilherme Augusto da Silva
dc.subject.por.fl_str_mv travesti
michês
homoerotismo
Nossos ossos
Marcelino Freire
topic travesti
michês
homoerotismo
Nossos ossos
Marcelino Freire
description Este artigo tem por objetivo discutir a construção de personagens não-hegemônicas na obra Nossos ossos, de Marcelino Freire (2013). À luz de Butler (2000) e Bauman (1998), a presente análise apresenta de que modo o narrador-personagem, Heleno de Gusmão, enquanto póstumo, utiliza construções sociais estereotipadas a respeito da personagem travesti, Estrela, e dos michês com os quais ele se relaciona na trama, dando a ver discursos que objetificam esses sujeitos. Discute-se de que forma o narrador se constrói em função de uma hegemonia social – branco, rico e cisgênero – para atrair o leitor em função de seu ponto de vista sobre os outros. Ainda a respeito de Estrela, observa-se que Heleno deslegitima a existência de Estrela e sua possibilidade de construir seu corpo e produzir-se feminina, além de tratá-la como perigosa e mercenária. Sobre os “michês”, nomenclatura escolhida pela voz narrativa, Heleno separa o que possui seu afeto, chamando-o de boy, dos demais que são estereotipados: o índio, como vetor de doença sexualmente transmissível (HIV); o malandro, como usurpador de seu dinheiro; e o negro como paradoxo de seu poder econômico atrelado a sua branquitude. Conclui-se que o narrador se aproxima dos ideais hegemônicos da cultura ocidental judaico-cristã, branca e abastada como forma de valorizar a sua vida e seu esforço em erguer-se frente às dificuldades impostas aos sujeitos homoeróticos, gerando seu desprezo em relação aos “estranhos”.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020-12-15
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393
url https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/4393/2622
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2020 Communitas
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2020 Communitas
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Editora da Universidade Federal do Acre - EDUFAC
publisher.none.fl_str_mv Editora da Universidade Federal do Acre - EDUFAC
dc.source.none.fl_str_mv Communitas; v. 4 n. 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-106
Communitas; Vol. 4 No. 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-106
Revista Communitas; ##issue.vol## 4 ##issue.no## 8 (2020): DESDOBRAMENTOS: PAISAGENS LITERÁRIAS NO SÉCULO XXI; 93-106
2526-5970
reponame:Communitas
instname:Universidade Federal do Acre (UFAC)
instacron:UFAC
instname_str Universidade Federal do Acre (UFAC)
instacron_str UFAC
institution UFAC
reponame_str Communitas
collection Communitas
repository.name.fl_str_mv Communitas - Universidade Federal do Acre (UFAC)
repository.mail.fl_str_mv revistas@ufac.br || rafael.goncalves@ufac.br
_version_ 1798313223629307904