Ver um texto como literário: uma abordagem wittgensteiniana sobre aspectualidade e significação do conceito de literatura

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Aguiar, Mateus Santos
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36785
Resumo: O presente trabalho investiga, à luz das noções de notar um aspecto e suas correlatas (ver- como e representação), encontradas na filosofia de Ludwig Wittgenstein, em que sentido o fenômeno de ver um texto como literário – isto é, notar o aspecto literário do conjunto textual – pode esclarecer os modos como significamos o conceito de literatura. Pretende-se com isso demonstrar que a significação desse conceito, quando encarada em termos wittgensteinianos, decorre não de meras qualidades intrínsecas ao texto literário, mas de atitudes possíveis que se adotam diante dele em circunstâncias específicas de interações entre autor, leitor, intenções etc. Tais atitudes revelam uma abertura a diversos usos possíveis do conceito, ancorados em nossa forma de vida e distantes, portanto, de uma perspectiva essencialista. A investigação divide-se em três partes. Na primeira, destacamos brevemente, como ponto de partida, a desconfiança de alguns autores da filosofia da literatura contemporânea quanto à possibilidade de se definir com precisão a arte literária. Esboçamos, na seção seguinte, uma exposição geral do método filosófico wittgensteiniano conforme desenvolvido nas Investigações Filosóficas, o que se faz com amparo nos comentários de Arley Moreno à referida obra. A última parte, por sua vez, tem por escopo aplicar o método descrito à questão central. Sugere-se então que, se há vários modos de se ler um texto de literatura, nem todos eles propriamente literários, uma maneira de interpretar o fenômeno da apreensão literária é pelo movimento de notar um aspecto, segundo o qual, a partir de uma atitude específica frente ao texto, captura-se o seu aspecto propriamente literário, e assim ele passa a ser visto – e consequentemente lido – como literatura. O que se verifica aí é a quebra da Imagem essencialista segundo a qual o conceito de literatura representaria uma entidade ou conjunto de entidades dotadas de qualidades intrínsecas imediatamente dadas à apreensão e dispostas numa definição. Ao dissolver essa visão, demonstrando outros usos possíveis para o conceito sob análise, amplia-se potencialmente o escopo da sua significação, donde se verifica, efetivamente, a sua aspectualidade. Por fim, como exemplo dessa abertura, apresentamos em linhas gerais a concepção de Peter Lamarque sobre a arte literária como prática, reforçando a hipótese de que literatura seja um conceito aspectual.
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Na primeira, destacamos brevemente, como ponto de partida, a desconfiança de alguns autores da filosofia da literatura contemporânea quanto à possibilidade de se definir com precisão a arte literária. Esboçamos, na seção seguinte, uma exposição geral do método filosófico wittgensteiniano conforme desenvolvido nas Investigações Filosóficas, o que se faz com amparo nos comentários de Arley Moreno à referida obra. A última parte, por sua vez, tem por escopo aplicar o método descrito à questão central. Sugere-se então que, se há vários modos de se ler um texto de literatura, nem todos eles propriamente literários, uma maneira de interpretar o fenômeno da apreensão literária é pelo movimento de notar um aspecto, segundo o qual, a partir de uma atitude específica frente ao texto, captura-se o seu aspecto propriamente literário, e assim ele passa a ser visto – e consequentemente lido – como literatura. O que se verifica aí é a quebra da Imagem essencialista segundo a qual o conceito de literatura representaria uma entidade ou conjunto de entidades dotadas de qualidades intrínsecas imediatamente dadas à apreensão e dispostas numa definição. Ao dissolver essa visão, demonstrando outros usos possíveis para o conceito sob análise, amplia-se potencialmente o escopo da sua significação, donde se verifica, efetivamente, a sua aspectualidade. Por fim, como exemplo dessa abertura, apresentamos em linhas gerais a concepção de Peter Lamarque sobre a arte literária como prática, reforçando a hipótese de que literatura seja um conceito aspectual.This work investigates, in the light of the notions of noticing an aspect and its correlatives (seeing-as and representation), found in Ludwig Wittgenstein's philosophy, in what sense the phenomenon of seeing a text as literary - that is, noticing the literary aspect of the textual ensemble - can clarify the ways we mean the concept of literature. We intend to show that the meaning of this concept, when viewed in Wittgensteinian terms, derives not from mere intrinsic qualities of the literary text, but from possible attitudes that one adopts towards it in specific circumstances of interactions between author, reader, intentions etc. Such attitudes reveal an openness to diverse possible uses of the concept, anchored in our way of life and, therefore, far from an essentialist perspective. The research is divided into three parts. In the first, we briefly highlight, as a starting point, the distrust of some authors in the contemporary philosophy of literature regarding the possibility of defining literary art precisely. In the next section we outline a general exposition of Wittgenstein's philosophical method as developed in the Philosophical Investigations, which is done with the support of Arley Moreno's comments on the mentioned work. The last part, in turn, has the purpose of applying the described method to the central question. It is suggested that, if there are several ways to read a literary text, not all of them literary, one way to interpret the phenomenon of literary apprehension is through the movement of noticing an aspect, according to which, from a specific attitude in front of the text, its literary aspect is captured, and thus it comes to be seen - and consequently read - as literature. What we see here is the breakdown of the essentialist Image according to which the concept literature represents an entity or set of entities endowed with intrinsic qualities immediately given to apprehension and arranged in a definition. By dissolving this vision, demonstrating other possible uses for the concept under analysis, the scope of its meaning is broadened, and its aspectuality is effectively verified. Finally, as an example of this opening, we present Peter Lamarque's conception of literary art as practice, reinforcing the hypothesis that literature is an aspectual concept.Submitted by Colegiado Filosofia (colsofia@ufba.br) on 2023-03-28T16:34:15Z No. of bitstreams: 1 TCC-Mateus_Santos_Aguiar.pdf: 1496425 bytes, checksum: 937f4b1d5c1245b85756036def28d5f9 (MD5)Approved for entry into archive by Isaac Viana da Cunha Araújo (isaac.cunha@ufba.br) on 2023-03-30T10:08:10Z (GMT) No. of bitstreams: 1 TCC-Mateus_Santos_Aguiar.pdf: 1496425 bytes, checksum: 937f4b1d5c1245b85756036def28d5f9 (MD5)Made available in DSpace on 2023-03-30T10:08:10Z (GMT). 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