Reconstruindo o cotidiano: ruptura e normalização na trajetória de vítimas de violência sexual

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Gessé de Souza
Data de Publicação: 2007
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/19821
Resumo: Esta pesquisa visou dois objetivos. O primeiro deles foi descrever compreensivamente a experiência da agressão sexual envolvendo mulheres adultas fora do espaço doméstico. O segundo, decorrente do anterior, foi analisar os processos de paralisação e/ou recomposição existencial que podem se constituir. A consecução destes objetivos exigiu a discussão em maior relevo das seguintes temáticas: a temporalidade, o corpo, a culpabilidade e o trauma. As análises são guiadas pela fenomenologia. Em especial, realizou-se uma revisão do conceito de trauma, veiculado em quatro interpretações: a psicanalítica, a psiquiátrica, a auto-terapêutica, difundida nos livros de auto-ajuda, e a do senso comum. Buscou-se apontar os limites de tais perspectivas na compreensão dos chamados “efeitos” da agressão sexual. A descrição detalhada da experiência de 14 (quatorze) mulheres violentadas na cidade de São Salvador – Bahia – e entrevistadas ao longo de três anos (2004-2006), permitiu questionar as concepções usuais do trauma. Pois estas se caracterizam: 1. pela pouca relevância dada à pesquisa dos contextos de interação social após a violência como elementos essenciais da construção de sentidos para a experiência; 2. por apresentarem uma concepção de causalidade linear, ora focada no poder traumático da violência em si mesma, ora destacando as fragilidades psicológicas dos indivíduos afetados. Ao longo da apresentação dos resultados, é definida a noção de construção social do trauma, para se referir às diversas dinâmicas sociais que dificultam ou obstaculizam a retomada do cotidiano após as agressões. Em tais processos, enfatiza-se o lugar da dimensão macrossocial ligada a questões como: a estigmatização, a radicalização do mundo da interioridade; o discurso social culpabilizante e o conseqüente bloqueio do partilhar narrativo de experiências aflitivas. Através da história de vida de três mulheres, tenta-se descrever a complexa dinâmica da normalização que envolve: o engajamento corporal em novos projetos, a construção de sentidos a partir da situação biográfica e a criatividade nas reformulações do cotidiano. This research aimed two goals: first, comprehensively describe the sexual aggression experience involving adult women out of domestic space, and second, resulting from the former, analyze the existential paralysis and/or recomposing processes that may happen in such cases. The accomplishment of both objectives required a discussion that gave emphasis to the subjects as follows: the temporality, the body, the feelings of guilty, and the trauma. The analyses were guided by the phenomenology. Primarily, a review of the trauma concept, broached in four interpretations, was carried out: the psychoanalytical, the psychiatric, the self-therapeutic (mainstream in self-help books), and the common sense. One tried to indicate the limits of such perspectives in an attempt to understand the so-called “sexual aggression effects”. The detailed description of fourteen cases of raped women living in Salvador, Bahia, Brazil, result of interviews carried out for three years (2004-2006), allowed the questioning of the usual concepts of trauma. Such concepts characterize themselves by 1) give little importance to the research of contexts of social interaction after the violence as essential elements to the “making” of senses for the experience and 2) present a linear causality concept sometimes focused on the traumatic power of the violence itself, sometimes emphasizing the psychological weakness of the affected individual. Through the presentation of the results the idea of social construction of the trauma was defined in order to refer to the various social complex dynamics that impair or create obstacles to starting over their routine after the aggression. Under such circumstances, one should think of the macro-social dimension as having a relevant connection with subjects like stigmatization, inner world radicalization, guilty social speech and the consequent blockage of the afflictive experiences narrative sharing. Through three raped women’s stories one tries to describe the complex dynamics of normalization that involves “the bodily” engagement in new existential projects, the “building” of meaningfulness from the biographical situation and the creativity on reformulating the day-by-day.
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Silva, Gessé de Souza
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