O corpo e o espaço na cotidianidade da dor: o apelo dos lugares

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carvalho, Caê Garcia
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36036
Resumo: Nossa investigação se debruça sobre indivíduos com dores crônicas, sob o quadro de duas enfermidades, a artrite reumatoide e a fibromialgia: a primeira se afigura como uma afecção de base físico-orgânica, enquanto a segunda não apresenta em sua etiologia qualquer substrato orgânico e seu diagnóstico se dá simplesmente por exclusão de outras doenças, uma vez que não há exame clínico que possa apontar a prevalência da fibromialgia. Nesta afecção, como compreender a dor? Para nós ela é a significação existencial do “sem sentido do mundo”; e qual seria o destaque de um estudo geográfico da presente questão? Devemos dizer que, para compreender essa dor invisível, recorremos aos escritos freudianos, quando o sintoma emerge a partir das dinâmicas psíquicas inconscientes. Porém, a absolutização da dor tomando o corpo inteiro nos indica ainda algo mais: ela nos revela um aborto do desejo de ser – a nulificação do corpo pela dor reluz à nulificação pelo desejo de ser no mundo e esta é a ideia do “sem sentido do mundo”. É precisamente nesta esfera que uma análise geográfica se torna pertinente. Partimos da mútua constituição que impera entre sujeito e lugar, de sua cumplicidade de ser, como assinala Dardel. Mostraremos como o ser se articula em seu íntimo com o espaço, como esta relação entre sujeito e lugar baliza nosso modo de ser. A nossa tese é que se a dor crônica (principalmente nos casos de fibromialgia) é um minar da relação do ser no mundo e, ao mesmo tempo, o fruto do aborto do mundo pelo indivíduo anulado em seu desejo de ser, o experienciar tal ou qual lugar pode se constituir como ponto de báscula para um reenlace da relação entre sujeito e mundo. Se o espaço emerge como um elemento que se coaduna em nossa subjetividade na esteira da geograficidade – seguindo o fundamento fenomenológico da Geografia Humanista – a criação de novas experiências de mundo a partir dos lugares pode alcançar o âmago do ser, quero dizer, o desejo de ser, reascendê-lo. Na análise de nossos casos empíricos veremos o ser se recuperar das lamúrias da cronicidade da dor pelo lugar. De fato, é surpreendente.
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spelling 2022-09-20T13:20:39Z2022-09-20T13:20:39Z2021-08-25CARVALHO, Caê Garcia. O corpo e o espaço na cotidianidade da dor: o apelo dos lugares. 2021. 334 f. Tese (Doutorado em Geografia) Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Ba, 2021.https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36036Nossa investigação se debruça sobre indivíduos com dores crônicas, sob o quadro de duas enfermidades, a artrite reumatoide e a fibromialgia: a primeira se afigura como uma afecção de base físico-orgânica, enquanto a segunda não apresenta em sua etiologia qualquer substrato orgânico e seu diagnóstico se dá simplesmente por exclusão de outras doenças, uma vez que não há exame clínico que possa apontar a prevalência da fibromialgia. Nesta afecção, como compreender a dor? Para nós ela é a significação existencial do “sem sentido do mundo”; e qual seria o destaque de um estudo geográfico da presente questão? Devemos dizer que, para compreender essa dor invisível, recorremos aos escritos freudianos, quando o sintoma emerge a partir das dinâmicas psíquicas inconscientes. Porém, a absolutização da dor tomando o corpo inteiro nos indica ainda algo mais: ela nos revela um aborto do desejo de ser – a nulificação do corpo pela dor reluz à nulificação pelo desejo de ser no mundo e esta é a ideia do “sem sentido do mundo”. É precisamente nesta esfera que uma análise geográfica se torna pertinente. Partimos da mútua constituição que impera entre sujeito e lugar, de sua cumplicidade de ser, como assinala Dardel. Mostraremos como o ser se articula em seu íntimo com o espaço, como esta relação entre sujeito e lugar baliza nosso modo de ser. A nossa tese é que se a dor crônica (principalmente nos casos de fibromialgia) é um minar da relação do ser no mundo e, ao mesmo tempo, o fruto do aborto do mundo pelo indivíduo anulado em seu desejo de ser, o experienciar tal ou qual lugar pode se constituir como ponto de báscula para um reenlace da relação entre sujeito e mundo. Se o espaço emerge como um elemento que se coaduna em nossa subjetividade na esteira da geograficidade – seguindo o fundamento fenomenológico da Geografia Humanista – a criação de novas experiências de mundo a partir dos lugares pode alcançar o âmago do ser, quero dizer, o desejo de ser, reascendê-lo. Na análise de nossos casos empíricos veremos o ser se recuperar das lamúrias da cronicidade da dor pelo lugar. De fato, é surpreendente.Our investigation focuses on individuals with chronic pain, under the framework of two diseases, rheumatoid arthritis and fibromyalgia: the first appears as an affection of physical-organic basis, while the second does not present in its etiology any organic substrate and its diagnosis is given simply by exclusion of other diseases, since there is no clinical examination that can point out the prevalence of fibromyalgia. In this disease, how to understand pain? For us it is the existential meaning of the "meaninglessness of the world". We must say that, to understand this invisible pain, we resort to Freudian writings, when the symptom emerges from unconscious psychic dynamics. However, the absolutization of pain taking over the whole body indicates something else: it reveals to us an abortion of the desire to be - the nullification of the body by pain glares at the nullification by the desire to be in the world, and this is the idea of the "meaninglessness of the world." It is precisely in this sphere that a geographical analysis becomes pertinent. We start from the mutual constitution that prevails between subject and place, from their complicity of being, as Dardel points out. We will show how being articulates itself in its innermost with space, how this relationship between subject and place marks our way of being. Our thesis is that if chronic pain (especially in cases of fibromyalgia) is an undermining of the relation of being in the world and, at the same time, the fruit of the abortion of the world by the individual annulled in his desire to be, the experience of such or such a place can constitute a bascule point for a re-linking of the relation between subject and world. If space emerges as an element that coexists in our subjectivity in the wake of geography – following the phenomenological foundation of Humanistic Geography – the creation of new experiences of the world from places can reach the core of being, I mean, the desire to be, rekindling it. In the analysis of our empirical cases we will see the being recovering from the laments of the chronicity of pain for place. Indeed, it is surprising.Submitted by Pós-graduação em geografia (pggeogr@ufba.br) on 2022-09-02T12:31:35Z No. of bitstreams: 1 Versao_Tese_Cae_pdf.pdf: 2227385 bytes, checksum: 3fbea81b3fd2ad30bc8276bf8a78185a (MD5)Approved for entry into archive by Solange Rocha (soluny@gmail.com) on 2022-09-20T13:20:39Z (GMT) No. of bitstreams: 1 Versao_Tese_Cae_pdf.pdf: 2227385 bytes, checksum: 3fbea81b3fd2ad30bc8276bf8a78185a (MD5)Made available in DSpace on 2022-09-20T13:20:39Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Versao_Tese_Cae_pdf.pdf: 2227385 bytes, checksum: 3fbea81b3fd2ad30bc8276bf8a78185a (MD5) Previous issue date: 2021-08-25porUniversidade Federal da BahiaPrograma de Pós-Graduação em Geografia (POSGEO) UFBABrasilInstituto de GeociênciasChronic Pain - WomenHuman bodyPlaceBeing-in-the-worldDesireHuman geographyPhenomenologyAnguishCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::GEOGRAFIADor crônica - MulheresCorpo humanoLugarSer-no-mundoDesejoGeografia humanaFenomenologiaAngustiaO corpo e o espaço na cotidianidade da dor: o apelo dos lugaresThe body and space in the cotidianity of pain: the appeal of placesinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisSerpa, Angelo Szaniecki Perret0000-0003-4071-6276http://lattes.cnpq.br/3802687148526312Serpa, Angelo Szaniecki Perret0000-0003-4071-6276http://lattes.cnpq.br/3802687148526312Sousa, André Nunes dehttp://lattes.cnpq.br/5844022222095597Holzer, Werther0000-0003-1684-3195http://lattes.cnpq.br/6585328267699491Zonzon, Christine Nicolehttp://lattes.cnpq.br/6457872447853886Almeida, Milena Dórea de0000-0003-3349-8231http://lattes.cnpq.br/14870339394749410000-0003-1112-6680http://lattes.cnpq.br/7234560101345225Carvalho, Caê Garciareponame:Repositório Institucional da UFBAinstname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)instacron:UFBAinfo:eu-repo/semantics/openAccessORIGINALVersao_Tese_Cae_pdf.pdfVersao_Tese_Cae_pdf.pdfapplication/pdf2227385https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/36036/1/Versao_Tese_Cae_pdf.pdf3fbea81b3fd2ad30bc8276bf8a78185aMD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain1715https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/36036/2/license.txt67bf4f75790b0d8d38d8f112a48ad90bMD52TEXTVersao_Tese_Cae_pdf.pdf.txtVersao_Tese_Cae_pdf.pdf.txtExtracted texttext/plain789849https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/36036/3/Versao_Tese_Cae_pdf.pdf.txt6d4670effb9ffb5ee63dfd7c04557769MD53ri/360362022-09-24 02:03:31.642oai:repositorio.ufba.br:ri/36036TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEKCkNvbSBhIGFwcmVzZW50YcOnw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBvIGF1dG9yIG91IHRpdHVsYXIgZG9zIGRpcmVpdG9zIGRlIGF1dG9yIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgbyBkaXJlaXRvIG7Do28tZXhjbHVzaXZvIGRlIHJlcHJvZHV6aXIsICB0cmFkdXppciAoY29uZm9ybWUgZGVmaW5pZG8gYWJhaXhvKSBlL291IGRpc3RyaWJ1aXIgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIG5vIGZvcm1hdG8gaW1wcmVzc28gZS9vdSBlbGV0csO0bmljbyBlIGVtIHF1YWxxdWVyIG1laW8sIGluY2x1aW5kbyBvcyAKZm9ybWF0b3Mgw6F1ZGlvIGUvb3UgdsOtZGVvLgoKTyBhdXRvciBvdSB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvciBjb25jb3JkYSBxdWUgbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBwYXJhIHF1YWxxdWVyIG1laW8gZS9vdSBmb3JtYXRvIHBhcmEgZmlucyBkZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLCBwb2RlbmRvIG1hbnRlciBtYWlzIGRlIHVtYSBjw7NwaWEgIHBhcmEgZmlucyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBiYWNrdXAgZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLgoKTyBhdXRvciBvdSB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvciBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgZGUgbmluZ3XDqW0uCgpDYXNvIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBjb250ZW5oYSBtYXRlcmlhbCBxdWUgbsOjbyBwb3NzdWkgYSB0aXR1bGFyaWRhZGUgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzLCB2b2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBvYnRldmUgYSBwZXJtaXNzw6NvIGlycmVzdHJpdGEgZG8gZGV0ZW50b3IgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIHBhcmEgY29uY2VkZXIgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIG9zIGRpcmVpdG9zIGFwcmVzZW50YWRvcyBuZXN0YSBsaWNlbsOnYSBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGRlIHByb3ByaWVkYWRlIGRlIHRlcmNlaXJvcyBlc3TDoSBjbGFyYW1lbnRlIGlkZW50aWZpY2FkbyBlIHJlY29uaGVjaWRvIG5vIHRleHRvIG91IG5vIGNvbnRlw7pkbyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28gb3JhIGRlcG9zaXRhZGEuCgpDQVNPIEEgUFVCTElDQcOHw4NPIE9SQSBERVBPU0lUQURBICBSRVNVTFRFIERFIFVNIFBBVFJPQ8ONTklPIE9VIEFQT0lPIERFIFVNQSAgQUfDik5DSUEgREUgRk9NRU5UTyBPVSBPVVRSTyAKT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08sIENPTU8gVEFNQsOJTSBBUyBERU1BSVMgT0JSSUdBw4fDlUVTIApFWElHSURBUyBQT1IgQ09OVFJBVE8gT1UgQUNPUkRPLgoKTyBSZXBvc2l0w7NyaW8gc2UgY29tcHJvbWV0ZSBhIGlkZW50aWZpY2FyLCBjbGFyYW1lbnRlLCBvIHNldSBub21lIChzKSBvdSBvKHMpIG5vbWUocykgZG8ocykgZGV0ZW50b3IoZXMpIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28gZSBuw6NvIGZhcsOhIHF1YWxxdWVyIGFsdGVyYcOnw6NvLCBhbMOpbSBkYXF1ZWxhcyBjb25jZWRpZGFzIHBvciBlc3RhIGxpY2Vuw6dhLgo=Repositório InstitucionalPUBhttp://192.188.11.11:8080/oai/requestopendoar:19322022-09-24T05:03:31Repositório Institucional da UFBA - Universidade Federal da Bahia (UFBA)false
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