Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Goes, Emanuelle Freitas
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29007
Resumo: O racismo reforça as desigualdades sociais e atua de forma interseccional com outras opressões, afetando mulheres negras, pobres e moradoras das periferias urbanas. No Brasil, pesquisas sobre desigualdades sociais em saúde privilegiam determinantes socioeconômicos, não valorizando a dimensão étnico-racial e o racismo como produtores destas desigualdades. No país, são incipientes as investigações que tratam do acesso aos serviços de saúde reprodutiva e que os avaliam, comparando mulheres negras e brancas. Sobre o tema do aborto, a lacuna da produção científica ainda é maior, pois embora as pesquisas apontem como as negras estão mais expostas a práticas inseguras de interrupção da gravidez e ao maior risco de morrer por suas complicações, poucos discutem como o racismo afeta esta experiência reprodutiva. A presente tese busca suprir esta lacuna, investigando o efeito do racismo na produção de condições mais desfavoráveis para as mulheres negras quanto ao contexto da gravidez, à busca por cuidados e ao acesso aos serviços de saúde no momento do abortamento. O presente estudo integra uma investigação mais ampla, a pesquisa GravSus.NE, estudo multicêntrico realizado em Salvador, Recife e São Luís, de corte transversal que entrevistou com mulheres com 18 anos e mais, internadas com quadros deabortamento ou complicações dele decorrentes, independente da sua gravidade e do tipo de aborto(espontâneo ou provocado). Os resultados são apresentados sob a forma de três artigos: no primeiro realizou-se uma análise descritiva do contexto reprodutivo, da gravidez e do aborto das mulheres, comparando pretas, pardas e brancas; o segundo analisa as barreiras individuais enfrentadas pelas mulheres na busca do primeiro atendimento para o cuidado pós-aborto, segundo raça/cor; o terceiro analisa as barreiras institucionais enfrentadas pelas mulheres para acesso à internação hospitalar no pós-abortamento. As mulheres pretas, relativamente às brancas são menos escolarizadas e unidas, estando as pardas em situação intermediária. Também as primeiras informam atitudes mais negativas diante da gravidez, assim como dos seus parceiros e das suas famílias. Relativamente às brancas, mulheres pretas relataram mais o aborto como tendo sido provocado, assim como sua realização mais tardia. Quanto às barreiras pessoais na busca de cuidados para o primeiro atendimento pós-aborto as mulheres pretas e pardas apresentam maiores dificuldades e estão expostas à situação de vulnerabilidades. Comparativamente às brancas, as mulheres pretas citaram como principais barreiras “não ter dinheiro para transporte” e “medo de ser maltratada no serviço”, e as pardas “não ter com quem deixar os filhos”. Mulheres negras, relativamente às brancas chegaram em piores condições de saúde ao hospital e informaram ter enfrentado barreiras institucionais para internação, por todos os motivos analisados. Ter se declarado de cor preta permaneceu associado a estas barreiras, mesmo após ajuste pelos demais fatores investigados. O estudo evidencia que o racismo e suas manifestações atravessam o percurso reprodutivo das mulheres negras com abortamento, estando elas em contextos menos favoráveis à continuidade da gravidez e apresentando maiores dificuldades pessoais na busca de cuidado e finalmente no acesso à atenção hospitalar para efetivação dos cuidados pós-aborto. As reivindicações pela legalização do aborto não podem estar descoladas do enfrentamento do racismo que estrutura a sociedade brasileira, nas suas diversas formas. A luta pelo acesso integral à saúde reprodutiva precisa compor a bandeira de reivindicações do movimento de mulheres e feministas. Pesquisas futuras precisam debruçar-se sobre o efeito do racismo na vida reprodutiva das mulheres negras e nas práticas de saúde, assim como analisar como a interação das discriminações raciais e do estigma do aborto impacta o acesso aos serviços de saúde e a qualidade do cuidado recebido.
id UFBA-2_47779d63ed72ebfc52ed7e0a6ff50be7
oai_identifier_str oai:repositorio.ufba.br:ri/29007
network_acronym_str UFBA-2
network_name_str Repositório Institucional da UFBA
repository_id_str 1932
spelling Goes, Emanuelle FreitasGoes, Emanuelle FreitasAquino, Estela Maria Motta Leão deMenezes, Greice Maria de SouzaSouzas, RaquelRibeiro, Denise de AlmeidaBarbosa, Maria Ines da Silva2019-03-26T18:43:38Z2019-03-262018-01-19http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29007O racismo reforça as desigualdades sociais e atua de forma interseccional com outras opressões, afetando mulheres negras, pobres e moradoras das periferias urbanas. No Brasil, pesquisas sobre desigualdades sociais em saúde privilegiam determinantes socioeconômicos, não valorizando a dimensão étnico-racial e o racismo como produtores destas desigualdades. No país, são incipientes as investigações que tratam do acesso aos serviços de saúde reprodutiva e que os avaliam, comparando mulheres negras e brancas. Sobre o tema do aborto, a lacuna da produção científica ainda é maior, pois embora as pesquisas apontem como as negras estão mais expostas a práticas inseguras de interrupção da gravidez e ao maior risco de morrer por suas complicações, poucos discutem como o racismo afeta esta experiência reprodutiva. A presente tese busca suprir esta lacuna, investigando o efeito do racismo na produção de condições mais desfavoráveis para as mulheres negras quanto ao contexto da gravidez, à busca por cuidados e ao acesso aos serviços de saúde no momento do abortamento. O presente estudo integra uma investigação mais ampla, a pesquisa GravSus.NE, estudo multicêntrico realizado em Salvador, Recife e São Luís, de corte transversal que entrevistou com mulheres com 18 anos e mais, internadas com quadros deabortamento ou complicações dele decorrentes, independente da sua gravidade e do tipo de aborto(espontâneo ou provocado). Os resultados são apresentados sob a forma de três artigos: no primeiro realizou-se uma análise descritiva do contexto reprodutivo, da gravidez e do aborto das mulheres, comparando pretas, pardas e brancas; o segundo analisa as barreiras individuais enfrentadas pelas mulheres na busca do primeiro atendimento para o cuidado pós-aborto, segundo raça/cor; o terceiro analisa as barreiras institucionais enfrentadas pelas mulheres para acesso à internação hospitalar no pós-abortamento. As mulheres pretas, relativamente às brancas são menos escolarizadas e unidas, estando as pardas em situação intermediária. Também as primeiras informam atitudes mais negativas diante da gravidez, assim como dos seus parceiros e das suas famílias. Relativamente às brancas, mulheres pretas relataram mais o aborto como tendo sido provocado, assim como sua realização mais tardia. Quanto às barreiras pessoais na busca de cuidados para o primeiro atendimento pós-aborto as mulheres pretas e pardas apresentam maiores dificuldades e estão expostas à situação de vulnerabilidades. Comparativamente às brancas, as mulheres pretas citaram como principais barreiras “não ter dinheiro para transporte” e “medo de ser maltratada no serviço”, e as pardas “não ter com quem deixar os filhos”. Mulheres negras, relativamente às brancas chegaram em piores condições de saúde ao hospital e informaram ter enfrentado barreiras institucionais para internação, por todos os motivos analisados. Ter se declarado de cor preta permaneceu associado a estas barreiras, mesmo após ajuste pelos demais fatores investigados. O estudo evidencia que o racismo e suas manifestações atravessam o percurso reprodutivo das mulheres negras com abortamento, estando elas em contextos menos favoráveis à continuidade da gravidez e apresentando maiores dificuldades pessoais na busca de cuidado e finalmente no acesso à atenção hospitalar para efetivação dos cuidados pós-aborto. As reivindicações pela legalização do aborto não podem estar descoladas do enfrentamento do racismo que estrutura a sociedade brasileira, nas suas diversas formas. A luta pelo acesso integral à saúde reprodutiva precisa compor a bandeira de reivindicações do movimento de mulheres e feministas. Pesquisas futuras precisam debruçar-se sobre o efeito do racismo na vida reprodutiva das mulheres negras e nas práticas de saúde, assim como analisar como a interação das discriminações raciais e do estigma do aborto impacta o acesso aos serviços de saúde e a qualidade do cuidado recebido.Submitted by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2019-03-26T18:13:23Z No. of bitstreams: 1 TESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdf: 2084092 bytes, checksum: df30a9b5a976f2a85cbb02305b0d5cfa (MD5)Approved for entry into archive by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2019-03-26T18:43:38Z (GMT) No. of bitstreams: 1 TESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdf: 2084092 bytes, checksum: df30a9b5a976f2a85cbb02305b0d5cfa (MD5)Made available in DSpace on 2019-03-26T18:43:38Z (GMT). No. of bitstreams: 1 TESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdf: 2084092 bytes, checksum: df30a9b5a976f2a85cbb02305b0d5cfa (MD5)Saúde ColetivaRacismoAbortoDireitos ReprodutivosiInterseccionalidadesDiscriminaçãoVulnerabilidadesDesigualdadesRacismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis10000-01-01Instituto de Saúde ColetivaPrograma de Pos Graduação em Saúde ColetivaISC-UFBAbrasilinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFBAinstname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)instacron:UFBAORIGINALTESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdfTESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdfapplication/pdf2084092https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/1/TESE%20Emanuelle%20Freitas%20Goes.%202018.pdfdf30a9b5a976f2a85cbb02305b0d5cfaMD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain1383https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/2/license.txt690bb9e0ab0d79c4ae420a800ae539f0MD52TEXTTESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdf.txtTESE Emanuelle Freitas Goes. 2018.pdf.txtExtracted texttext/plain302067https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/3/TESE%20Emanuelle%20Freitas%20Goes.%202018.pdf.txt98921ba89d8637450cc875407106a2eaMD53ri/290072022-07-05 14:04:22.15oai:repositorio.ufba.br:ri/29007VGVybW8gZGUgTGljZW4/P2EsIG4/P28gZXhjbHVzaXZvLCBwYXJhIG8gZGVwPz9zaXRvIG5vIFJlcG9zaXQ/P3JpbyBJbnN0aXR1Y2lvbmFsIGRhIFVGQkEuCgogUGVsbyBwcm9jZXNzbyBkZSBzdWJtaXNzPz9vIGRlIGRvY3VtZW50b3MsIG8gYXV0b3Igb3Ugc2V1IHJlcHJlc2VudGFudGUgbGVnYWwsIGFvIGFjZWl0YXIgCmVzc2UgdGVybW8gZGUgbGljZW4/P2EsIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdD8/cmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgZGEgVW5pdmVyc2lkYWRlIEZlZGVyYWwgZGEgQmFoaWEgCm8gZGlyZWl0byBkZSBtYW50ZXIgdW1hIGM/P3BpYSBlbSBzZXUgcmVwb3NpdD8/cmlvIGNvbSBhIGZpbmFsaWRhZGUsIHByaW1laXJhLCBkZSBwcmVzZXJ2YT8/Pz9vLiAKRXNzZXMgdGVybW9zLCBuPz9vIGV4Y2x1c2l2b3MsIG1hbnQ/P20gb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgYXV0b3IvY29weXJpZ2h0LCBtYXMgZW50ZW5kZSBvIGRvY3VtZW50byAKY29tbyBwYXJ0ZSBkbyBhY2Vydm8gaW50ZWxlY3R1YWwgZGVzc2EgVW5pdmVyc2lkYWRlLgoKIFBhcmEgb3MgZG9jdW1lbnRvcyBwdWJsaWNhZG9zIGNvbSByZXBhc3NlIGRlIGRpcmVpdG9zIGRlIGRpc3RyaWJ1aT8/Pz9vLCBlc3NlIHRlcm1vIGRlIGxpY2VuPz9hIAplbnRlbmRlIHF1ZToKCiBNYW50ZW5kbyBvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgcmVwYXNzYWRvcyBhIHRlcmNlaXJvcywgZW0gY2FzbyBkZSBwdWJsaWNhPz8/P2VzLCBvIHJlcG9zaXQ/P3Jpbwpwb2RlIHJlc3RyaW5naXIgbyBhY2Vzc28gYW8gdGV4dG8gaW50ZWdyYWwsIG1hcyBsaWJlcmEgYXMgaW5mb3JtYT8/Pz9lcyBzb2JyZSBvIGRvY3VtZW50bwooTWV0YWRhZG9zIGVzY3JpdGl2b3MpLgoKIERlc3RhIGZvcm1hLCBhdGVuZGVuZG8gYW9zIGFuc2Vpb3MgZGVzc2EgdW5pdmVyc2lkYWRlIGVtIG1hbnRlciBzdWEgcHJvZHU/Pz8/byBjaWVudD8/ZmljYSBjb20gCmFzIHJlc3RyaT8/Pz9lcyBpbXBvc3RhcyBwZWxvcyBlZGl0b3JlcyBkZSBwZXJpPz9kaWNvcy4KCiBQYXJhIGFzIHB1YmxpY2E/Pz8/ZXMgc2VtIGluaWNpYXRpdmFzIHF1ZSBzZWd1ZW0gYSBwb2w/P3RpY2EgZGUgQWNlc3NvIEFiZXJ0bywgb3MgZGVwPz9zaXRvcyAKY29tcHVscz8/cmlvcyBuZXNzZSByZXBvc2l0Pz9yaW8gbWFudD8/bSBvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgbWFzIG1hbnQ/P20gYWNlc3NvIGlycmVzdHJpdG8gCmFvIG1ldGFkYWRvcyBlIHRleHRvIGNvbXBsZXRvLiBBc3NpbSwgYSBhY2VpdGE/Pz8/byBkZXNzZSB0ZXJtbyBuPz9vIG5lY2Vzc2l0YSBkZSBjb25zZW50aW1lbnRvCiBwb3IgcGFydGUgZGUgYXV0b3Jlcy9kZXRlbnRvcmVzIGRvcyBkaXJlaXRvcywgcG9yIGVzdGFyZW0gZW0gaW5pY2lhdGl2YXMgZGUgYWNlc3NvIGFiZXJ0by4KRepositório InstitucionalPUBhttp://192.188.11.11:8080/oai/requestopendoar:19322022-07-05T17:04:22Repositório Institucional da UFBA - Universidade Federal da Bahia (UFBA)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
title Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
spellingShingle Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
Goes, Emanuelle Freitas
Saúde Coletiva
Racismo
Aborto
Direitos Reprodutivos
iInterseccionalidades
Discriminação
Vulnerabilidades
Desigualdades
title_short Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
title_full Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
title_fullStr Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
title_full_unstemmed Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
title_sort Racismo, aborto e atenção à saúde: uma perspectiva interseccional.
author Goes, Emanuelle Freitas
author_facet Goes, Emanuelle Freitas
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Goes, Emanuelle Freitas
Goes, Emanuelle Freitas
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Aquino, Estela Maria Motta Leão de
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Menezes, Greice Maria de Souza
Souzas, Raquel
Ribeiro, Denise de Almeida
Barbosa, Maria Ines da Silva
contributor_str_mv Aquino, Estela Maria Motta Leão de
Menezes, Greice Maria de Souza
Souzas, Raquel
Ribeiro, Denise de Almeida
Barbosa, Maria Ines da Silva
dc.subject.cnpq.fl_str_mv Saúde Coletiva
topic Saúde Coletiva
Racismo
Aborto
Direitos Reprodutivos
iInterseccionalidades
Discriminação
Vulnerabilidades
Desigualdades
dc.subject.por.fl_str_mv Racismo
Aborto
Direitos Reprodutivos
iInterseccionalidades
Discriminação
Vulnerabilidades
Desigualdades
description O racismo reforça as desigualdades sociais e atua de forma interseccional com outras opressões, afetando mulheres negras, pobres e moradoras das periferias urbanas. No Brasil, pesquisas sobre desigualdades sociais em saúde privilegiam determinantes socioeconômicos, não valorizando a dimensão étnico-racial e o racismo como produtores destas desigualdades. No país, são incipientes as investigações que tratam do acesso aos serviços de saúde reprodutiva e que os avaliam, comparando mulheres negras e brancas. Sobre o tema do aborto, a lacuna da produção científica ainda é maior, pois embora as pesquisas apontem como as negras estão mais expostas a práticas inseguras de interrupção da gravidez e ao maior risco de morrer por suas complicações, poucos discutem como o racismo afeta esta experiência reprodutiva. A presente tese busca suprir esta lacuna, investigando o efeito do racismo na produção de condições mais desfavoráveis para as mulheres negras quanto ao contexto da gravidez, à busca por cuidados e ao acesso aos serviços de saúde no momento do abortamento. O presente estudo integra uma investigação mais ampla, a pesquisa GravSus.NE, estudo multicêntrico realizado em Salvador, Recife e São Luís, de corte transversal que entrevistou com mulheres com 18 anos e mais, internadas com quadros deabortamento ou complicações dele decorrentes, independente da sua gravidade e do tipo de aborto(espontâneo ou provocado). Os resultados são apresentados sob a forma de três artigos: no primeiro realizou-se uma análise descritiva do contexto reprodutivo, da gravidez e do aborto das mulheres, comparando pretas, pardas e brancas; o segundo analisa as barreiras individuais enfrentadas pelas mulheres na busca do primeiro atendimento para o cuidado pós-aborto, segundo raça/cor; o terceiro analisa as barreiras institucionais enfrentadas pelas mulheres para acesso à internação hospitalar no pós-abortamento. As mulheres pretas, relativamente às brancas são menos escolarizadas e unidas, estando as pardas em situação intermediária. Também as primeiras informam atitudes mais negativas diante da gravidez, assim como dos seus parceiros e das suas famílias. Relativamente às brancas, mulheres pretas relataram mais o aborto como tendo sido provocado, assim como sua realização mais tardia. Quanto às barreiras pessoais na busca de cuidados para o primeiro atendimento pós-aborto as mulheres pretas e pardas apresentam maiores dificuldades e estão expostas à situação de vulnerabilidades. Comparativamente às brancas, as mulheres pretas citaram como principais barreiras “não ter dinheiro para transporte” e “medo de ser maltratada no serviço”, e as pardas “não ter com quem deixar os filhos”. Mulheres negras, relativamente às brancas chegaram em piores condições de saúde ao hospital e informaram ter enfrentado barreiras institucionais para internação, por todos os motivos analisados. Ter se declarado de cor preta permaneceu associado a estas barreiras, mesmo após ajuste pelos demais fatores investigados. O estudo evidencia que o racismo e suas manifestações atravessam o percurso reprodutivo das mulheres negras com abortamento, estando elas em contextos menos favoráveis à continuidade da gravidez e apresentando maiores dificuldades pessoais na busca de cuidado e finalmente no acesso à atenção hospitalar para efetivação dos cuidados pós-aborto. As reivindicações pela legalização do aborto não podem estar descoladas do enfrentamento do racismo que estrutura a sociedade brasileira, nas suas diversas formas. A luta pelo acesso integral à saúde reprodutiva precisa compor a bandeira de reivindicações do movimento de mulheres e feministas. Pesquisas futuras precisam debruçar-se sobre o efeito do racismo na vida reprodutiva das mulheres negras e nas práticas de saúde, assim como analisar como a interação das discriminações raciais e do estigma do aborto impacta o acesso aos serviços de saúde e a qualidade do cuidado recebido.
publishDate 2018
dc.date.submitted.none.fl_str_mv 2018-01-19
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-03-26T18:43:38Z
dc.date.issued.fl_str_mv 2019-03-26
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29007
url http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29007
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Instituto de Saúde Coletiva
dc.publisher.program.fl_str_mv Programa de Pos Graduação em Saúde Coletiva
dc.publisher.initials.fl_str_mv ISC-UFBA
dc.publisher.country.fl_str_mv brasil
publisher.none.fl_str_mv Instituto de Saúde Coletiva
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFBA
instname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)
instacron:UFBA
instname_str Universidade Federal da Bahia (UFBA)
instacron_str UFBA
institution UFBA
reponame_str Repositório Institucional da UFBA
collection Repositório Institucional da UFBA
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/1/TESE%20Emanuelle%20Freitas%20Goes.%202018.pdf
https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/2/license.txt
https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29007/3/TESE%20Emanuelle%20Freitas%20Goes.%202018.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv df30a9b5a976f2a85cbb02305b0d5cfa
690bb9e0ab0d79c4ae420a800ae539f0
98921ba89d8637450cc875407106a2ea
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFBA - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801502675348488192