O papel da escola no processo de construção de gênero em pessoas trans
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFBA |
Texto Completo: | https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37342 |
Resumo: | O presente estudo empreendeu uma investigação sobre a maneira em que se dá a construção do gênero em pessoas pessoas trans a partir da sua vivência no contexto escolar. Para este estudo utilizamos como bases teóricas a Psicologia Semiótico-Cultural, a Teoria do Self Dialógico e a Teoria Queer pois, cada um ao seu modo, nos ajudaram a compreender a relação entre desenvolvimento da identidade de gênero e a escola. Entendemos que este é um tema de fundamental importância para as populações trans, considerando o nível de violência transfóbica sofrida por estas pessoas em uma sociedade organizada a partir da cisnormatividade. Para este trabalho, utilizamos como base o método qualitativo, no qual empreendemos entrevistas na modalidade online, com questionários semi-estruturados, utilizando também as técnicas do Mapa escolar e do Photovoice. Foram entrevistadas quatro pessoas trans entre vinte e um e vinte e nove anos, residentes em cidades brasileiras. A partir destas entrevistas, fizemos uma análise das narrativas para compreender de que modo as práticas da instituição escolar se relacionaram, em cada caso, com a construção da identidade de gênero. Como resultado, encontramos um ambiente escolar extremamente hostil em relação ao desenvolvimento de identidades trans, o que impossibilitou que os participantes fizessem a transição enquanto frequentavam a escola e criou um bloqueio semiótico sobre a transgeneridade, de modo a impedir ou atrasar o desenvolvimento da identidade de gênero des participantes. O único participante que conseguiu realizar sua transição de gênero ainda no ensino médio, relata ter sofrido inúmeras violências transfóbicas que quase o expulsaram do espaço escolar. Considerando que a legislação brasileira está baseada no paradigma da educação inclusiva, concluímos que a escola não tem cumprido seu papel de incluir todas as pessoas no processo de socialização e aprendizadem e proporcionar um desenvolvimento integral para seus alunos. Por isso, propusemos o conceito de cultura coletiva escolar, que seria uma dinâmica semiótica entres os atores escolares, criando valores e práticas internos ao contexto escolar. Além de orientar o ambiente escolar para um campo semiótico específico, que pode ser mais acolhedor ou mais preconceituoso, as narrativas que compõem a cultura coletiva escolar são internalizadas peles estudantes, passando a constituir seus posicionametos de eu e seu sistema de self, gerando impacto em seus desenvolvimentos. Para atuar nesta dinâmica e transformá-la positivamente, as escolas precisam empreender ações massivas e prolongadas. Neste sentido, para combater a transfobia e a cisheternormatividade nas escolas, se fazem necessárias legislações específicas, políticas públicas e ações práticas para garantir que pessoas trans possam existir com dignidade dentro do espaço escolar. |
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2023-07-12T17:23:43Z2023-07-12T17:23:43Z2023-07-03https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37342O presente estudo empreendeu uma investigação sobre a maneira em que se dá a construção do gênero em pessoas pessoas trans a partir da sua vivência no contexto escolar. Para este estudo utilizamos como bases teóricas a Psicologia Semiótico-Cultural, a Teoria do Self Dialógico e a Teoria Queer pois, cada um ao seu modo, nos ajudaram a compreender a relação entre desenvolvimento da identidade de gênero e a escola. Entendemos que este é um tema de fundamental importância para as populações trans, considerando o nível de violência transfóbica sofrida por estas pessoas em uma sociedade organizada a partir da cisnormatividade. Para este trabalho, utilizamos como base o método qualitativo, no qual empreendemos entrevistas na modalidade online, com questionários semi-estruturados, utilizando também as técnicas do Mapa escolar e do Photovoice. Foram entrevistadas quatro pessoas trans entre vinte e um e vinte e nove anos, residentes em cidades brasileiras. A partir destas entrevistas, fizemos uma análise das narrativas para compreender de que modo as práticas da instituição escolar se relacionaram, em cada caso, com a construção da identidade de gênero. Como resultado, encontramos um ambiente escolar extremamente hostil em relação ao desenvolvimento de identidades trans, o que impossibilitou que os participantes fizessem a transição enquanto frequentavam a escola e criou um bloqueio semiótico sobre a transgeneridade, de modo a impedir ou atrasar o desenvolvimento da identidade de gênero des participantes. O único participante que conseguiu realizar sua transição de gênero ainda no ensino médio, relata ter sofrido inúmeras violências transfóbicas que quase o expulsaram do espaço escolar. Considerando que a legislação brasileira está baseada no paradigma da educação inclusiva, concluímos que a escola não tem cumprido seu papel de incluir todas as pessoas no processo de socialização e aprendizadem e proporcionar um desenvolvimento integral para seus alunos. Por isso, propusemos o conceito de cultura coletiva escolar, que seria uma dinâmica semiótica entres os atores escolares, criando valores e práticas internos ao contexto escolar. Além de orientar o ambiente escolar para um campo semiótico específico, que pode ser mais acolhedor ou mais preconceituoso, as narrativas que compõem a cultura coletiva escolar são internalizadas peles estudantes, passando a constituir seus posicionametos de eu e seu sistema de self, gerando impacto em seus desenvolvimentos. Para atuar nesta dinâmica e transformá-la positivamente, as escolas precisam empreender ações massivas e prolongadas. Neste sentido, para combater a transfobia e a cisheternormatividade nas escolas, se fazem necessárias legislações específicas, políticas públicas e ações práticas para garantir que pessoas trans possam existir com dignidade dentro do espaço escolar.The present study undertook an investigation into the way in which gender is constructed in transgender people based on their experience in the school context. For this study, we used Semiotic-Cultural Psychology, Dialogical Self Theory and Queer Theory as theoretical bases because, each in their own way, they helped us to understand the relationship between the development of gender identity and school. We understand that this is an issue of fundamental importance for trans populations, considering the level of transphobic violence suffered by these people in a society organized on the basis of cisnormativity. For this work, we used the qualitative method as a basis, in which we conducted open interviews in the online modality, with semi-structured questionnaires, also using the School Map and Photovoice techniques. Four transgender people between twenty-one and twenty-nine years old, residing in Brazilian cities, were interviewed. Based on these interviews, we conducted an analysis of the narratives to understand how the school's practices were related, in each case, to the construction of gender identity. As a result, we found an extremely hostile school environment towards the development of trans identities, which made it impossible for participants to transition while attending school and created a semiotic block on transgenderism in order to prevent or delay the development of gender identity. of the participants. The only participant who managed to make his gender transition while still in high school, reports having suffered numerous transphobic violence that almost expelled him from the school space. Considering that Brazilian legislation is based on the inclusive education paradigm, we conclude that the school has not fulfilled its role of including all people in the socialization and learning process and providing integral development for its students. Therefore, we proposed the concept of collective school culture, which describes the semiotic dynamics between school actors, creating values and practices internal to the school context. In addition to guiding the school environment towards a specific semiotic field, which can be more welcoming or more prejudiced, the narratives that make up the collective school culture are internalized by the students, starting to constitute their I-positions and their system of self, generating an impact on its developments. To act in this dynamic and transform it positively, schools need to undertake massive and prolonged actions. In this sense, to combat transphobia and cisheternormativity in schools, specific legislation, public policies and practical actions are needed to ensure that trans people can exist with dignity within the school space.Submitted by Cristiana Dias (criskaipper@hotmail.com) on 2023-07-12T13:26:37Z No. of bitstreams: 2 license_rdf: 811 bytes, checksum: e39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34 (MD5) Cristiana Kaipper Tese Doutorado.pdf: 2864134 bytes, checksum: 9893c1b570235dd25d027c262df17d94 (MD5)Approved for entry into archive by Isaac Viana da Cunha Araújo (isaac.cunha@ufba.br) on 2023-07-12T17:23:43Z (GMT) No. of bitstreams: 2 license_rdf: 811 bytes, checksum: e39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34 (MD5) Cristiana Kaipper Tese Doutorado.pdf: 2864134 bytes, checksum: 9893c1b570235dd25d027c262df17d94 (MD5)Made available in DSpace on 2023-07-12T17:23:43Z (GMT). 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O presente estudo empreendeu uma investigação sobre a maneira em que se dá a construção do gênero em pessoas pessoas trans a partir da sua vivência no contexto escolar. Para este estudo utilizamos como bases teóricas a Psicologia Semiótico-Cultural, a Teoria do Self Dialógico e a Teoria Queer pois, cada um ao seu modo, nos ajudaram a compreender a relação entre desenvolvimento da identidade de gênero e a escola. Entendemos que este é um tema de fundamental importância para as populações trans, considerando o nível de violência transfóbica sofrida por estas pessoas em uma sociedade organizada a partir da cisnormatividade. Para este trabalho, utilizamos como base o método qualitativo, no qual empreendemos entrevistas na modalidade online, com questionários semi-estruturados, utilizando também as técnicas do Mapa escolar e do Photovoice. Foram entrevistadas quatro pessoas trans entre vinte e um e vinte e nove anos, residentes em cidades brasileiras. A partir destas entrevistas, fizemos uma análise das narrativas para compreender de que modo as práticas da instituição escolar se relacionaram, em cada caso, com a construção da identidade de gênero. Como resultado, encontramos um ambiente escolar extremamente hostil em relação ao desenvolvimento de identidades trans, o que impossibilitou que os participantes fizessem a transição enquanto frequentavam a escola e criou um bloqueio semiótico sobre a transgeneridade, de modo a impedir ou atrasar o desenvolvimento da identidade de gênero des participantes. O único participante que conseguiu realizar sua transição de gênero ainda no ensino médio, relata ter sofrido inúmeras violências transfóbicas que quase o expulsaram do espaço escolar. Considerando que a legislação brasileira está baseada no paradigma da educação inclusiva, concluímos que a escola não tem cumprido seu papel de incluir todas as pessoas no processo de socialização e aprendizadem e proporcionar um desenvolvimento integral para seus alunos. Por isso, propusemos o conceito de cultura coletiva escolar, que seria uma dinâmica semiótica entres os atores escolares, criando valores e práticas internos ao contexto escolar. Além de orientar o ambiente escolar para um campo semiótico específico, que pode ser mais acolhedor ou mais preconceituoso, as narrativas que compõem a cultura coletiva escolar são internalizadas peles estudantes, passando a constituir seus posicionametos de eu e seu sistema de self, gerando impacto em seus desenvolvimentos. Para atuar nesta dinâmica e transformá-la positivamente, as escolas precisam empreender ações massivas e prolongadas. Neste sentido, para combater a transfobia e a cisheternormatividade nas escolas, se fazem necessárias legislações específicas, políticas públicas e ações práticas para garantir que pessoas trans possam existir com dignidade dentro do espaço escolar. |
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