“Um jogo de gato e rato”: estudo sobre a vitimização de mulheres por estupro repetido

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Teixeira, Emanuelle Fernandes
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/33798
Resumo: A finalidade dessa pesquisa é compreender o processo de vitimização por estupro repetido, em mulheres no contexto soteropolitano, a partir da análise dos cenários e interações entre vítimas e agressores. O trabalho de campo foi realizado entre 2014 e 2017, através de uma rede de profissionais que prestam atenção a pessoas em situação de violência sexual. A metodologia adotada foi de natureza qualitativa e a coleta dos dados se baseou no roteiro semiestruturado. No total, 20 entrevistas foram realizadas com mulheres expostas repetidamente ao estupro, perpetrado por agressores conhecidos. A maior parte da amostra sofreu a violência há mais de um ano, mas ficaram expostas a longos períodos de vitimização. As interlocutoras eram parentes ou moravam como agregadas no domicílio dos agressores. Nesses cenários domésticos, a casa foi experenciada como um ambiente hostil, sendo, portanto, um espaço onde ocorre a rotinização do aparato predatório do agressor e das estratégias de resistência das vítimas. No âmbito da vitimização primária, o estudo abordou a violência psicológica, a violência física e a violência sexual. A vitimização psicológica foi percebida como uma constante na vida das mulheres, ao contrário da física que teve marcos temporais mais definidos. Os tipos de ameaças realizadas pelos agressores ajudaram a compreender o caráter processual da vitimização psicológica e seus efeitos longitudinais. Assim, a repetição do estupro foi interpretada sob o signo da noção de destino, em que as marcas mais graves não possuem formas físicas, sendo conceituadas como uma “ferida na alma”. Já na vitimização institucional, apareceram situações que apontam a falta de acolhimento das vítimas, envolvendo tanto agentes da segurança pública, quanto profissionais de saúde. Contudo, as interlocutoras identificaram no Serviço Viver um modelo diferenciado no atendimento das vítimas. No âmbito público, os agressores seguiam uma linha de atuação com o objetivo de afastar qualquer suspeita sobre estupro e o êxito dessa estratégia descredibilizava a versão das vítimas. Nesse sentido, o impacto da vitimização terciária foi percebido nas repercussões do estupro na família e em outros círculos sociais das vítimas. Por fim, essa pesquisa considera necessário fortalecer a rede de proteção das vítimas de violência sexual, em especial, do estupro, além de uma melhor integração entre as agências dessa rede e o aperfeiçoamento das metodologias e técnicas de intervenção.
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A maior parte da amostra sofreu a violência há mais de um ano, mas ficaram expostas a longos períodos de vitimização. As interlocutoras eram parentes ou moravam como agregadas no domicílio dos agressores. Nesses cenários domésticos, a casa foi experenciada como um ambiente hostil, sendo, portanto, um espaço onde ocorre a rotinização do aparato predatório do agressor e das estratégias de resistência das vítimas. No âmbito da vitimização primária, o estudo abordou a violência psicológica, a violência física e a violência sexual. A vitimização psicológica foi percebida como uma constante na vida das mulheres, ao contrário da física que teve marcos temporais mais definidos. Os tipos de ameaças realizadas pelos agressores ajudaram a compreender o caráter processual da vitimização psicológica e seus efeitos longitudinais. Assim, a repetição do estupro foi interpretada sob o signo da noção de destino, em que as marcas mais graves não possuem formas físicas, sendo conceituadas como uma “ferida na alma”. Já na vitimização institucional, apareceram situações que apontam a falta de acolhimento das vítimas, envolvendo tanto agentes da segurança pública, quanto profissionais de saúde. Contudo, as interlocutoras identificaram no Serviço Viver um modelo diferenciado no atendimento das vítimas. No âmbito público, os agressores seguiam uma linha de atuação com o objetivo de afastar qualquer suspeita sobre estupro e o êxito dessa estratégia descredibilizava a versão das vítimas. Nesse sentido, o impacto da vitimização terciária foi percebido nas repercussões do estupro na família e em outros círculos sociais das vítimas. Por fim, essa pesquisa considera necessário fortalecer a rede de proteção das vítimas de violência sexual, em especial, do estupro, além de uma melhor integração entre as agências dessa rede e o aperfeiçoamento das metodologias e técnicas de intervenção.The purpose of this research is to comprehend the process of victimization by repeated rape of women in Salvador city’s context, from the analysis of scenarios and interactions between victims and offenders. The fieldwork was conducted between 2014 and 2017, while working with a network of professionals that offer support to people experiencing sexual violence. The methodology adopted was of qualitative nature and the data collection was based on a semistructured interviews. In total, 20 interviews were conducted with women who were victims of repeated cases of rape perpetrated by known offenders. The major part of the sample suffered the violence more than one year prior to the interview, but remained exposed to the threat of violence for long periods of time. The interlocutors were relatives or lived as aggregates in the home of the aggressors. In this domestic scenario, the house was experienced as a hostile environment, a place where a routinisation of the predatory behaviour of the aggressor and of the victim’s resistance strategies. In the scope of primary victimization, the study addressed the psychological, physical and sexual violence. The psychological victimization was perceived as constant in the lives of the women, although the physical violence was more restricted to a specific time. The types of threats put forward by the aggressors helped to understand the procedural character of psychological victimization and its longitudinal effects. Thus, the repetition of the rape was interpreted by the victims under the notion of destiny, where the more serious marks do not have physical shapes, being conceptualised as a "wound in the soul”. With regards to institutional victimisation, there were situations indicating the lack of refuge for victims, from both public security agents and health professionals. However, the interlocutors identified in the “Serviço Viver”, a different model of victim care. In the public scope, the perpetrators pursued a line of action aimed at suppressing any suspicion of rape and the success of this strategy discredited the victim’s version. In this sense, the impact of tertiary victimization was perceived in the repercussions of rape on the family and other social circles of the victims. Finally, this research considers it necessary to strengthen the protection network for victims of sexual violence, especially rape, as well as a better integration between the agencies of this network and the improvement of intervention methodologies and techniques.Submitted by Emanuelle Fernandes Teixeira (lelliteixeira@hotmail.com) on 2021-07-18T19:37:35Z No. of bitstreams: 1 Dissertação Emanuelle.pdf: 1370589 bytes, checksum: 85adb81b23e08feb54688352fae7dbd1 (MD5)Approved for entry into archive by Isaac Viana da Cunha Araújo (isaac.cunha@ufba.br) on 2021-07-26T16:38:30Z (GMT) No. of bitstreams: 1 Dissertação Emanuelle.pdf: 1370589 bytes, checksum: 85adb81b23e08feb54688352fae7dbd1 (MD5)Made available in DSpace on 2021-07-26T16:38:30Z (GMT). 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