Bases epistemológicas para um modelo funcional em Gaia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Nunes Neto, Nei de Freitas
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/15854
Resumo: Gaia é um programa de pesquisa científico, que foi proposto pelo químico inglês James Lovelock, no final da década de 1960, a partir de estudos desenvolvidos por ele para a NASA, com o objetivo de formular métodos para a detecção de vida em outros planetas. O programa de pesquisa foi fortemente rejeitado pela comunidade científica nos primeiros anos de sua história, ao passo que foi recebido com entusiasmo por grupos espiritualistas e ambientalistas. Entretanto, a rejeição da comunidade científica tem sido significativamente reduzida, sobretudo a partir de meados dos anos 1980 e anos 1990. Neste trabalho, temos como objetivo oferecer uma abordagem consistente para as atribuições e explicações funcionais no pograma de pesquisa. Assim, para alcançar o objetivo, realizamos nosso trabalho em duas vertentes. Na primeira, apresentamos uma discussão sobre o surgimento e o desenvolvimento de Gaia enquanto um programa de pesquisa, as questões epistemológicas suscitadas por ele e suas implicações para a compreensão do sistema Terra. Na segunda vertente, discutimos as atribuições e explicações funcionais na filosofia da biologia, com ênfase para duas teorias: a abordagem etiológica selecionista de Larry Wright e a análise funcional de Robert Cummins. Defendemos que as duas teorias são empreitadas distintas e que não devem ser unificadas numa única abordagem sobre as funções. Isto levanos a apoiar a tese do consenso dualista de Godfrey-Smith. Apresentamos também a crítica de Cummins às abordagens etiológicas selecionistas, as quais ele rotulou de neo-teleologia. Apesar de algumas das críticas de Cummins localizarem corretamente falhas naquela abordagem, outras críticas perdem de vista pontos importantes das abordagens etiológicas de função, que não podem ser deixadas de lado. A partir das críticas de ambos os lados do debate filosófico, a compreensão sobre função na biologia, é sobremaneira enriquecida. Em seguida, a partir das discussões anteriores, nos voltamos especificamente para as atribuições e explicações funcionais em Gaia, construindo uma síntese dos argumentos apresentados nas duas vertentes do trabalho. Buscamos uma solução para a questão teórica investigada a partir da perspectiva sobre as funções de Cummins. Para este filósofo, função é uma capacidade de um ítem à qual recorremos para compreender a realização de uma capacidade do sistema que o contém. Após discutir questões como decomposição e localização em sistemas complexos e em Gaia, aplicamos a teoria de Cummins sobre as funções a um subsistema de Gaia, o sistema proposto pela hipótese CLAW, que interliga algas oceânicas, compostos voláteis de enxofre, nuvens sobre os oceanos e o clima global. O resultado de tal aplicação é um modelo funcional do sistema, onde as capacidades dos componentes são tratadas como as funções destes e explicam, juntamente com a organização do sistema, a realização da capacidade sistêmica em questão, a saber, a produção de nuvens sobre os oceanos. O modelo proposto permite concluir que a análise funcional de Cummins fornece um quadro teórico consistente para a construção de explicações funcionais consistentes em Gaia e pode contribuir também para a superação do problema das explicações teleológicas no programa de pesquisa. Por fim, consideramos as implicações de Gaia para o ensino de ciências, especialmente o de biologia, na medida em que ela já está presente nos livros didáticos de biologia do ensino médio. Além disso, Gaia pode ser uma interessante via de inserção de história e filosofia da ciência no ensino de ciências, assim como pode contribuir para a abordagem de temas ambientais.
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Assim, para alcançar o objetivo, realizamos nosso trabalho em duas vertentes. Na primeira, apresentamos uma discussão sobre o surgimento e o desenvolvimento de Gaia enquanto um programa de pesquisa, as questões epistemológicas suscitadas por ele e suas implicações para a compreensão do sistema Terra. Na segunda vertente, discutimos as atribuições e explicações funcionais na filosofia da biologia, com ênfase para duas teorias: a abordagem etiológica selecionista de Larry Wright e a análise funcional de Robert Cummins. Defendemos que as duas teorias são empreitadas distintas e que não devem ser unificadas numa única abordagem sobre as funções. Isto levanos a apoiar a tese do consenso dualista de Godfrey-Smith. Apresentamos também a crítica de Cummins às abordagens etiológicas selecionistas, as quais ele rotulou de neo-teleologia. Apesar de algumas das críticas de Cummins localizarem corretamente falhas naquela abordagem, outras críticas perdem de vista pontos importantes das abordagens etiológicas de função, que não podem ser deixadas de lado. A partir das críticas de ambos os lados do debate filosófico, a compreensão sobre função na biologia, é sobremaneira enriquecida. Em seguida, a partir das discussões anteriores, nos voltamos especificamente para as atribuições e explicações funcionais em Gaia, construindo uma síntese dos argumentos apresentados nas duas vertentes do trabalho. Buscamos uma solução para a questão teórica investigada a partir da perspectiva sobre as funções de Cummins. Para este filósofo, função é uma capacidade de um ítem à qual recorremos para compreender a realização de uma capacidade do sistema que o contém. Após discutir questões como decomposição e localização em sistemas complexos e em Gaia, aplicamos a teoria de Cummins sobre as funções a um subsistema de Gaia, o sistema proposto pela hipótese CLAW, que interliga algas oceânicas, compostos voláteis de enxofre, nuvens sobre os oceanos e o clima global. O resultado de tal aplicação é um modelo funcional do sistema, onde as capacidades dos componentes são tratadas como as funções destes e explicam, juntamente com a organização do sistema, a realização da capacidade sistêmica em questão, a saber, a produção de nuvens sobre os oceanos. O modelo proposto permite concluir que a análise funcional de Cummins fornece um quadro teórico consistente para a construção de explicações funcionais consistentes em Gaia e pode contribuir também para a superação do problema das explicações teleológicas no programa de pesquisa. Por fim, consideramos as implicações de Gaia para o ensino de ciências, especialmente o de biologia, na medida em que ela já está presente nos livros didáticos de biologia do ensino médio. Além disso, Gaia pode ser uma interessante via de inserção de história e filosofia da ciência no ensino de ciências, assim como pode contribuir para a abordagem de temas ambientais.Submitted by Edileide Reis (leyde-landy@hotmail.com) on 2014-09-09T12:52:18Z No. of bitstreams: 1 Nei Freitas Nunes Neto.pdf: 1548297 bytes, checksum: d2a73a187d3959051872d9f5a0509926 (MD5)Approved for entry into archive by Fatima Cleômenis Botelho Maria (botelho@ufba.br) on 2014-09-09T13:08:16Z (GMT) No. of bitstreams: 1 Nei Freitas Nunes Neto.pdf: 1548297 bytes, checksum: d2a73a187d3959051872d9f5a0509926 (MD5)Made available in DSpace on 2014-09-09T13:08:16Z (GMT). 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