A contingência na psicanálise lacaniana: consequências teóricas e clínicas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santos, Daniela Batista
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/39854
Resumo: Lacan, a partir da década de 1970, produz um salto em relação à concepção freudiana do inconsciente – interpretável a partir da produção de sentido – e afirma que o inconsciente é real. Seguindo por uma via que vai além daquela tomada por Freud, no que se refere à interpretação, a psicanálise lacaniana tem como base a equivocidade da língua e a contingência. Para afastar a operação analítica da produção de sentido, Lacan faz um elogio ao equívoco e o posiciona como principal recurso contra o sintoma psíquico. O inconsciente real tem implicações inéditas na clínica psicanalítica a partir do momento em que o sintoma é considerado como um acontecimento de corpo e não mais como uma metáfora que demanda simbolização. Para trabalhar com o inconsciente real, é preciso levar em conta a contingência, pois, sem ela não há escritura. Mas o que seria a contingência para a psicanálise lacaniana? Como podemos localizá- la na teoria e clínica psicanalítica? A contingência para psicanálise é a mesma que para a filosofia? Para responder a essas questões, este trabalho visita conceitos da psicanálise como interpretação equívoca, sintoma como acontecimento de corpo, traumatismo, dizer e inconsciente real, analisando as principais características do último ensino do Lacan para poder destacar a importância e o papel da contingência. Para definir o que é a contingência para psicanálise, a sofística e a ontologia parmenidiana são exploradas e analisa-se termos como epideixis e kairós – traços do discurso do Górgias –, a epideixis se refere ao discurso como performance, transformador e produtor de realidades, e o kairós é o tempo oportuno, uma boa ocasião, um acontecimento e abertura dos possíveis. Um retorno ao poema do Parménides é realizado para analisar como o pai da ontologia exclui a contingência em sua referência ao ser, porém ele é refutado por Górgias que afirma que o ser só existe pelo fato de que é dito. As fórmulas da sexuação são trabalhadas, uma vez que Lacan posiciona a contingência do lado do não-todo fálico, afirmando anos depois que o analista deve ser não-todo. Para entender melhor a lógica do não-todo fálico e o caminho que Lacan traçou para construí-las, visito as modalidades lógicas e os silogismos aristotélicos, traçando um contorno nos detalhes que fazem com que Lacan construa uma lógica inédita para tratar da relação sexual impossível e do inconsciente real. O conceito de repetição é analisado a partir de sua relação com a tychê e o automaton através de um caso clínico. Esse caso é útil para demonstrar como a contingência é importante para a interpretação equívoca e o tratamento psicanalítico. Este trabalho também analisa o uso do termo contingência/contingente em todos os seminários do Lacan. Conclui-se que a contingência é uma escrita da verdade que desempenha um papel crucial para a clínica psicanalítica, tendo influência desde a efetivação da estrutura do sujeito, momento do traumatismo, até o final de análise.
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spelling 2024-08-14T13:58:51Z2024-08-14T13:58:51Z2024-06-06Batista Santos, D. (2024) A contingência na psicanálise lacaniana: consequências teóricas e clínicas. Tese de Doutoramento, Universidade Federal da Bahia e Université Paris 8.https://repositorio.ufba.br/handle/ri/39854Lacan, a partir da década de 1970, produz um salto em relação à concepção freudiana do inconsciente – interpretável a partir da produção de sentido – e afirma que o inconsciente é real. Seguindo por uma via que vai além daquela tomada por Freud, no que se refere à interpretação, a psicanálise lacaniana tem como base a equivocidade da língua e a contingência. Para afastar a operação analítica da produção de sentido, Lacan faz um elogio ao equívoco e o posiciona como principal recurso contra o sintoma psíquico. O inconsciente real tem implicações inéditas na clínica psicanalítica a partir do momento em que o sintoma é considerado como um acontecimento de corpo e não mais como uma metáfora que demanda simbolização. Para trabalhar com o inconsciente real, é preciso levar em conta a contingência, pois, sem ela não há escritura. Mas o que seria a contingência para a psicanálise lacaniana? Como podemos localizá- la na teoria e clínica psicanalítica? A contingência para psicanálise é a mesma que para a filosofia? Para responder a essas questões, este trabalho visita conceitos da psicanálise como interpretação equívoca, sintoma como acontecimento de corpo, traumatismo, dizer e inconsciente real, analisando as principais características do último ensino do Lacan para poder destacar a importância e o papel da contingência. Para definir o que é a contingência para psicanálise, a sofística e a ontologia parmenidiana são exploradas e analisa-se termos como epideixis e kairós – traços do discurso do Górgias –, a epideixis se refere ao discurso como performance, transformador e produtor de realidades, e o kairós é o tempo oportuno, uma boa ocasião, um acontecimento e abertura dos possíveis. Um retorno ao poema do Parménides é realizado para analisar como o pai da ontologia exclui a contingência em sua referência ao ser, porém ele é refutado por Górgias que afirma que o ser só existe pelo fato de que é dito. As fórmulas da sexuação são trabalhadas, uma vez que Lacan posiciona a contingência do lado do não-todo fálico, afirmando anos depois que o analista deve ser não-todo. Para entender melhor a lógica do não-todo fálico e o caminho que Lacan traçou para construí-las, visito as modalidades lógicas e os silogismos aristotélicos, traçando um contorno nos detalhes que fazem com que Lacan construa uma lógica inédita para tratar da relação sexual impossível e do inconsciente real. O conceito de repetição é analisado a partir de sua relação com a tychê e o automaton através de um caso clínico. Esse caso é útil para demonstrar como a contingência é importante para a interpretação equívoca e o tratamento psicanalítico. Este trabalho também analisa o uso do termo contingência/contingente em todos os seminários do Lacan. Conclui-se que a contingência é uma escrita da verdade que desempenha um papel crucial para a clínica psicanalítica, tendo influência desde a efetivação da estrutura do sujeito, momento do traumatismo, até o final de análise.In the 1970s, Lacan departed from the Freudian concept of the unconscious, viewing it as interpretable through the production of meaning, and asserted that the unconscious is real. Unlike Freud, Lacanian psychoanalysis is grounded in the ambiguity of language and contingency. Lacan lauds equivocation as the primary tool against psychic symptoms to distance psychoanalytic operations from the production of meaning. The real unconscious has profound implications in psychoanalytic practice, as symptoms are considered events of the body rather than metaphors requiring symbolization. To engage with the real unconscious, one must consider contingency, as there can be no possible writing. The paper explores concepts of Lacanian psychoanalysis such as equivocal interpretation, symptoms as events of the body, trauma, speech, and the real unconscious, analyzing the main characteristics of Lacan's later teachings to underscore the importance and role of contingency. The paper also examines sophistry and Parmenidean ontology, analyzing terms such as epideixis and kairos—features of Gorgias' discourse. Epideixis refers to speech as a performance that transforms and produces realities, while kairos is the opportune time, a good occasion, an event, and an opening of possibilities. The paper also delves into sexuation formulas, as Lacan positions contingency on the side of the non-phallic not-all, later affirming that the analyst should be non-all. To better understand the logic of the non-phallic not-all and the path Lacan took to construct it, the paper explores logical modalities and Aristotelian syllogisms, outlining the details that allow Lacan to create a new logic to address the impossible sexual relationship and the real unconscious. The concept of repetition is analyzed in its relationship with tychê and the automaton through a clinical case. This case is useful for demonstrating how contingency is important for equivocal interpretation and psychoanalytic treatment. In conclusion, contingency plays a crucial role in psychoanalytic theory and practice, influencing the structure of the subject, trauma, and the end of analysis.FAPESBCAPESporUniversidade Federal da BahiaPrograma de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) UFBABrasilInstituto de PsicologiaPsychoanalysisContingencyAristotleKairosJacques LacanCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIAPsicanáliseContingênciaAristótelesKairósJacques LacanA contingência na psicanálise lacaniana: consequências teóricas e clínicasContingency in lacanian psychoanalysis: theoretical and clinical consequencesDoutoradoinfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionFernandes, Andréa Hortéliohttp://lattes.cnpq.br/8300110783674817Cany, Brunohttps://philosophie.univ-paris8.fr/bruno-canyMarcos, Jean-Pierrehttps://llcp.univ-paris8.fr/jean-pierre-marcos-mcfCany, BrunoMarcos, Jean-PierrePontes, Suely Aireshttp://lattes.cnpq.br/0384837477014785Alfandary, Isabellehttp://www.univ-paris3.fr/alfandary-isabelle-230363.kjspMoretto, Maria Lívia Tourinhohttp://lattes.cnpq.br/9390297676089825Chatelard, Daniela Scheinkmanhttp://lattes.cnpq.br/3630980140600543Fernandes, Andréa Hortéliohttps://orcid.org/0000-0003-4646-3628https://lattes.cnpq.br/5165216472054804Santos, Daniela BatistaAlmeida Filho, N; Coutinho, D. 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description Lacan, a partir da década de 1970, produz um salto em relação à concepção freudiana do inconsciente – interpretável a partir da produção de sentido – e afirma que o inconsciente é real. Seguindo por uma via que vai além daquela tomada por Freud, no que se refere à interpretação, a psicanálise lacaniana tem como base a equivocidade da língua e a contingência. Para afastar a operação analítica da produção de sentido, Lacan faz um elogio ao equívoco e o posiciona como principal recurso contra o sintoma psíquico. O inconsciente real tem implicações inéditas na clínica psicanalítica a partir do momento em que o sintoma é considerado como um acontecimento de corpo e não mais como uma metáfora que demanda simbolização. Para trabalhar com o inconsciente real, é preciso levar em conta a contingência, pois, sem ela não há escritura. Mas o que seria a contingência para a psicanálise lacaniana? Como podemos localizá- la na teoria e clínica psicanalítica? A contingência para psicanálise é a mesma que para a filosofia? Para responder a essas questões, este trabalho visita conceitos da psicanálise como interpretação equívoca, sintoma como acontecimento de corpo, traumatismo, dizer e inconsciente real, analisando as principais características do último ensino do Lacan para poder destacar a importância e o papel da contingência. Para definir o que é a contingência para psicanálise, a sofística e a ontologia parmenidiana são exploradas e analisa-se termos como epideixis e kairós – traços do discurso do Górgias –, a epideixis se refere ao discurso como performance, transformador e produtor de realidades, e o kairós é o tempo oportuno, uma boa ocasião, um acontecimento e abertura dos possíveis. Um retorno ao poema do Parménides é realizado para analisar como o pai da ontologia exclui a contingência em sua referência ao ser, porém ele é refutado por Górgias que afirma que o ser só existe pelo fato de que é dito. As fórmulas da sexuação são trabalhadas, uma vez que Lacan posiciona a contingência do lado do não-todo fálico, afirmando anos depois que o analista deve ser não-todo. Para entender melhor a lógica do não-todo fálico e o caminho que Lacan traçou para construí-las, visito as modalidades lógicas e os silogismos aristotélicos, traçando um contorno nos detalhes que fazem com que Lacan construa uma lógica inédita para tratar da relação sexual impossível e do inconsciente real. O conceito de repetição é analisado a partir de sua relação com a tychê e o automaton através de um caso clínico. Esse caso é útil para demonstrar como a contingência é importante para a interpretação equívoca e o tratamento psicanalítico. Este trabalho também analisa o uso do termo contingência/contingente em todos os seminários do Lacan. Conclui-se que a contingência é uma escrita da verdade que desempenha um papel crucial para a clínica psicanalítica, tendo influência desde a efetivação da estrutura do sujeito, momento do traumatismo, até o final de análise.
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