Encontros terapêuticos no Terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Oxogum Ladê, Sergipe/Brasil.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gomberg, Estélio
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/27089
Resumo: O presente estudo tem como objetivo principal apreender os usos de recursos terapêuticos utilizados por clientes, adeptos ou não, que freqüentam o único Terreiro de Candomblé de origem ketu, - Ilê Axé Opô Oxogum Ladê -, situado no município de São Cristóvão, distante cerca de 20km da cidade de Aracaju, Estado de Sergipe.O Candomblé pode ser entendido como uma religião de matriz africana cuja re-elaboração em solo brasileiro tem como objetivo principal buscar a integração do indivíduo à da natureza através de um corpus religiosos e de uma visão de mundo que busca no equilíbrio do indivíduo a sua principal função terapêutica.O Candomblé, ao olhar para o indivíduo de uma forma abrangente, possibilita a este que não só venha a cuidar de sua vida material como um todo, como também permite que este venha a compreender os processos que porventura estejam envolvidos no que tange aos aspectos relacionados aos estados da saúde/doença. A noção de saúde e bem estar como um estado a ser alcançado é uma constante nos discursos produzido pelo “povo de santo“. De diferentes maneiras, todos – adeptos ou não – apontam o equilíbrio desejado ou alcançado como um dos principais fatores relacionados à adesão religiosa. Sejam por problemas “espirituais” ou transtornos pessoais como problemas de saúde, no trabalho ou em família, estas foram e são apontados como a principal causa pela procura de uma ajuda religiosa. Além disso, a este também é dada a possibilidade no ato da iniciação, seja parcial ou total de vir a se re-configurar enquanto indivíduo, através de uma intensa rede de solidariedade e parentesco que acabam por envolvê-lo neste momento. Ao adentrar a este sistema religioso terapêutico, o sujeito vai experimentar e se confrontar com uma série de inovações na sua vida cotidiana, ampliando sua percepção sobre as causalidades da doença, que vão repercutir diretamente na consideração da relação existente entre “corpo/mente/orixá”, contribuindo desta maneira para o surgimento de uma nova opção no leque de itinerários terapêuticos disponíveis para os indivíduos. No decorrer deste trabalho foram ouvidos 16 indivíduos, adeptos ou não, além da observação de diversos rituais, que buscavam atuar como um recurso terapêutico que pudessem auxiliar no desvendamento dos processos saúde-doença capazes de levar o indivíduo ao equilíbrio. Assim, consideramos que a compreensão da doença é pautada na intersecção do sujeito e suas interações nos grupos, nas instituições e seus processos culturais, onde pudemos observar que a definição de doença não inclui somente a experiência pessoal do problema de saúde, mas também o significado que o indivíduo confere a ela. Nesse sentido, é significativo apreender as cosmovisões e as estratégias lançadas pelos “Terreiros de Candomblé” em se colocar como uma opção terapêutica na sociedade mais ampla. Isto implica em compreender como este dialoga e disputa uma clientela com o “sistema oficial de saúde”, mesmo que de forma não consciente, assim como perceber suas concepções particulares de significados do corpo, constituindo assim um espaço por excelência de práticas e saberes litúrgicos e religiosos, que ampliam as características fisiológicas inerentes ao ser humano, tal como visto pela biomedicina.
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