SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Serra, Ordep
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Caderno CRH
Texto Completo: https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18760
Resumo: Em 1945, prefaciando uma obra de Lins e Silva, Gilberto Freyre lembrava o projeto de controle psiquiátrico dos terreiros, coisa que o “espírito humanitário” de Nina Rodrigues concebeu como alternativa à brutalidade das intervenções policiais, da repressão direta a esses centros de culto de religiões afrobrasileiras. Nina não o conseguiu implantar, mas – lembra ainda Gilberto Freyre –, este projeto de monitoramento das religiões negras por psiquiatras e etnólogos mais tarde veio a ser realizado com um êxito que o ilustre prefaciador acentua: Ulysses Pernambucano o pôs em prática em Recife; em Salvador, diz Freyre ainda, executaramno “técnicos capazes”, arregimentados pelo major Juracy Magalhães – que então governava a Bahia como interventor. Segundo o autor de Casa Grande e Senzala, essa iniciativa de Ulysses Pernambucano e dos peritos baianos veio a ser “uma das intervenções mais felizes da ciência e da técnica antropológica, orientada por uma psiquiatria social, na vida de uma comunidade brasileira”. PALAVRAS-CHAVE: candomblé, Museu Estácio de Lima, etnopsiquiatria, racismo, coleções afro-brasileiras.ON PSYCHIATRY, CANDOMBLE AND MUSEUMS Ordep Serra In 1945, on the foreword of a work by Lins e Silva, Gilberto Freyre recalled the project of lembrava o projeto psychiatric control of candomble temples, “terreiros”, something conceived by Nina Rodrigues’s “humanitarian spirit” as an alternative to the brutality of police interventions, direct repressions to these cult centers of African-Brazilian religions. Nina could not make it work, but – as Gilberto Freyre recalls – this project of monitoring black religions by psychiatrists and ethnologists came into being later with a success the illustrious foreword author points out: Ulysses Pernambucano put it in practice in Recife; in Salvador, says yet Freire, it was executed by “capable technicians” recruited by major Juracy Magalhães – that governed Bahia at the time as an interventor. According to the author of Casa Grande e Senzala, this initiative of Ulysses Pernambucano and Bahian experts became “one of the happiest interventions of anthropological science and technique, oriented by a social psychiatrist, in the life of a Brazilian comunity”. KEYWORDS: candomblé, Estácio de Lima Museum, ethnopsychiatry, racism, African-Brazilian collections.A PROPOS DE LA PSYCHIATRIE, DU CANDOMBLÉ ET DES MUSÉES Ordep Serra En 1945, dans la préface d’une oeuvre de Lins et Silva, Gilberto Freyre nous rappelait que le projet de contrôle psychiatrique des terreiros (lieux de culte du candomblé), avait été conçu selon “l’esprit humanitaire” de Nina Rodrigues comme une alternative à la brutalité des interventions de police et de la répression directe envers ces centres de culte des religions afro-brésiliennes. Nina Rodrigues n’a pas réussi à l’implanter, mais – nous rappelle encore Gilberto Freyre –, ce projet d’accompagnement des religions noires par des psychiatres et des ethnologues a été réalisé plus tard avec un succès que notre illustre auteur de la préface accentue: Ulysses Pernambucano l’a mis en oeuvre à Recife; à Salvador, nous dit encore Freyre, ceux qui l’ont exécuté étaient des “techniciens capables” enrégimentés par le major Juracy Magalhães qui à l’époque gouvernait Bahia en qualité d’intervenant. Selon l’auteur de Casa Grande e Senzala, cette initiative d’ Ulysses Pernambucano et des experts bahianais est devenue “l’une des interventions les plus heureuses de la science et de la technique anthropologique, accompagnée par une psychiatrie sociale, dans la vie d’une communauté brésilienne”. MOTS-CLÉS: Candomblé, Musée Estácio de Lima, ethnopsychiatrie, racisme, collections afro-brésiliennes.Publicação Online do Caderno CRH no Scielo: http://www.scielo.br/ccrh Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br
id UFBA-7_49525fd90e2de4bc8f0c15f3f431a0ff
oai_identifier_str oai:ojs.periodicos.ufba.br:article/18760
network_acronym_str UFBA-7
network_name_str Caderno CRH
repository_id_str
spelling SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUScandombléMuseu Estácio de Limaetnopsiquiatriaracismocoleções afro-brasileiras.Em 1945, prefaciando uma obra de Lins e Silva, Gilberto Freyre lembrava o projeto de controle psiquiátrico dos terreiros, coisa que o “espírito humanitário” de Nina Rodrigues concebeu como alternativa à brutalidade das intervenções policiais, da repressão direta a esses centros de culto de religiões afrobrasileiras. Nina não o conseguiu implantar, mas – lembra ainda Gilberto Freyre –, este projeto de monitoramento das religiões negras por psiquiatras e etnólogos mais tarde veio a ser realizado com um êxito que o ilustre prefaciador acentua: Ulysses Pernambucano o pôs em prática em Recife; em Salvador, diz Freyre ainda, executaramno “técnicos capazes”, arregimentados pelo major Juracy Magalhães – que então governava a Bahia como interventor. Segundo o autor de Casa Grande e Senzala, essa iniciativa de Ulysses Pernambucano e dos peritos baianos veio a ser “uma das intervenções mais felizes da ciência e da técnica antropológica, orientada por uma psiquiatria social, na vida de uma comunidade brasileira”. PALAVRAS-CHAVE: candomblé, Museu Estácio de Lima, etnopsiquiatria, racismo, coleções afro-brasileiras.ON PSYCHIATRY, CANDOMBLE AND MUSEUMS Ordep Serra In 1945, on the foreword of a work by Lins e Silva, Gilberto Freyre recalled the project of lembrava o projeto psychiatric control of candomble temples, “terreiros”, something conceived by Nina Rodrigues’s “humanitarian spirit” as an alternative to the brutality of police interventions, direct repressions to these cult centers of African-Brazilian religions. Nina could not make it work, but – as Gilberto Freyre recalls – this project of monitoring black religions by psychiatrists and ethnologists came into being later with a success the illustrious foreword author points out: Ulysses Pernambucano put it in practice in Recife; in Salvador, says yet Freire, it was executed by “capable technicians” recruited by major Juracy Magalhães – that governed Bahia at the time as an interventor. According to the author of Casa Grande e Senzala, this initiative of Ulysses Pernambucano and Bahian experts became “one of the happiest interventions of anthropological science and technique, oriented by a social psychiatrist, in the life of a Brazilian comunity”. KEYWORDS: candomblé, Estácio de Lima Museum, ethnopsychiatry, racism, African-Brazilian collections.A PROPOS DE LA PSYCHIATRIE, DU CANDOMBLÉ ET DES MUSÉES Ordep Serra En 1945, dans la préface d’une oeuvre de Lins et Silva, Gilberto Freyre nous rappelait que le projet de contrôle psychiatrique des terreiros (lieux de culte du candomblé), avait été conçu selon “l’esprit humanitaire” de Nina Rodrigues comme une alternative à la brutalité des interventions de police et de la répression directe envers ces centres de culte des religions afro-brésiliennes. Nina Rodrigues n’a pas réussi à l’implanter, mais – nous rappelle encore Gilberto Freyre –, ce projet d’accompagnement des religions noires par des psychiatres et des ethnologues a été réalisé plus tard avec un succès que notre illustre auteur de la préface accentue: Ulysses Pernambucano l’a mis en oeuvre à Recife; à Salvador, nous dit encore Freyre, ceux qui l’ont exécuté étaient des “techniciens capables” enrégimentés par le major Juracy Magalhães qui à l’époque gouvernait Bahia en qualité d’intervenant. Selon l’auteur de Casa Grande e Senzala, cette initiative d’ Ulysses Pernambucano et des experts bahianais est devenue “l’une des interventions les plus heureuses de la science et de la technique anthropologique, accompagnée par une psychiatrie sociale, dans la vie d’une communauté brésilienne”. MOTS-CLÉS: Candomblé, Musée Estácio de Lima, ethnopsychiatrie, racisme, collections afro-brésiliennes.Publicação Online do Caderno CRH no Scielo: http://www.scielo.br/ccrh Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.brUniversidade Federal da Bahia2006-11-23info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion"Avaliado pelos pares"application/pdfhttps://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/1876010.9771/ccrh.v19i47.18760Caderno CRH; v. 19 n. 47 (2006): DOSSIÊ: Violência, Criminalidade e Justiça - Coord. Eduardo Paes-Machado (Org.)1983-82390103-4979reponame:Caderno CRHinstname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)instacron:UFBAporhttps://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18760/12132Serra, Ordepinfo:eu-repo/semantics/openAccess2017-08-07T14:31:43Zoai:ojs.periodicos.ufba.br:article/18760Revistahttps://portalseer.ufba.br/index.php/crh/about/editorialPolicies#custom-0PUBhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.phprevcrh@ufba.br||revcrh@ufba.br1983-82390103-4979opendoar:2017-08-07T14:31:43Caderno CRH - Universidade Federal da Bahia (UFBA)false
dc.title.none.fl_str_mv SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
title SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
spellingShingle SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
Serra, Ordep
candomblé
Museu Estácio de Lima
etnopsiquiatria
racismo
coleções afro-brasileiras.
title_short SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
title_full SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
title_fullStr SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
title_full_unstemmed SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
title_sort SOBRE PSIQUIATRIA, CANDOMBLÉ E MUSEUS
author Serra, Ordep
author_facet Serra, Ordep
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Serra, Ordep
dc.subject.por.fl_str_mv candomblé
Museu Estácio de Lima
etnopsiquiatria
racismo
coleções afro-brasileiras.
topic candomblé
Museu Estácio de Lima
etnopsiquiatria
racismo
coleções afro-brasileiras.
description Em 1945, prefaciando uma obra de Lins e Silva, Gilberto Freyre lembrava o projeto de controle psiquiátrico dos terreiros, coisa que o “espírito humanitário” de Nina Rodrigues concebeu como alternativa à brutalidade das intervenções policiais, da repressão direta a esses centros de culto de religiões afrobrasileiras. Nina não o conseguiu implantar, mas – lembra ainda Gilberto Freyre –, este projeto de monitoramento das religiões negras por psiquiatras e etnólogos mais tarde veio a ser realizado com um êxito que o ilustre prefaciador acentua: Ulysses Pernambucano o pôs em prática em Recife; em Salvador, diz Freyre ainda, executaramno “técnicos capazes”, arregimentados pelo major Juracy Magalhães – que então governava a Bahia como interventor. Segundo o autor de Casa Grande e Senzala, essa iniciativa de Ulysses Pernambucano e dos peritos baianos veio a ser “uma das intervenções mais felizes da ciência e da técnica antropológica, orientada por uma psiquiatria social, na vida de uma comunidade brasileira”. PALAVRAS-CHAVE: candomblé, Museu Estácio de Lima, etnopsiquiatria, racismo, coleções afro-brasileiras.ON PSYCHIATRY, CANDOMBLE AND MUSEUMS Ordep Serra In 1945, on the foreword of a work by Lins e Silva, Gilberto Freyre recalled the project of lembrava o projeto psychiatric control of candomble temples, “terreiros”, something conceived by Nina Rodrigues’s “humanitarian spirit” as an alternative to the brutality of police interventions, direct repressions to these cult centers of African-Brazilian religions. Nina could not make it work, but – as Gilberto Freyre recalls – this project of monitoring black religions by psychiatrists and ethnologists came into being later with a success the illustrious foreword author points out: Ulysses Pernambucano put it in practice in Recife; in Salvador, says yet Freire, it was executed by “capable technicians” recruited by major Juracy Magalhães – that governed Bahia at the time as an interventor. According to the author of Casa Grande e Senzala, this initiative of Ulysses Pernambucano and Bahian experts became “one of the happiest interventions of anthropological science and technique, oriented by a social psychiatrist, in the life of a Brazilian comunity”. KEYWORDS: candomblé, Estácio de Lima Museum, ethnopsychiatry, racism, African-Brazilian collections.A PROPOS DE LA PSYCHIATRIE, DU CANDOMBLÉ ET DES MUSÉES Ordep Serra En 1945, dans la préface d’une oeuvre de Lins et Silva, Gilberto Freyre nous rappelait que le projet de contrôle psychiatrique des terreiros (lieux de culte du candomblé), avait été conçu selon “l’esprit humanitaire” de Nina Rodrigues comme une alternative à la brutalité des interventions de police et de la répression directe envers ces centres de culte des religions afro-brésiliennes. Nina Rodrigues n’a pas réussi à l’implanter, mais – nous rappelle encore Gilberto Freyre –, ce projet d’accompagnement des religions noires par des psychiatres et des ethnologues a été réalisé plus tard avec un succès que notre illustre auteur de la préface accentue: Ulysses Pernambucano l’a mis en oeuvre à Recife; à Salvador, nous dit encore Freyre, ceux qui l’ont exécuté étaient des “techniciens capables” enrégimentés par le major Juracy Magalhães qui à l’époque gouvernait Bahia en qualité d’intervenant. Selon l’auteur de Casa Grande e Senzala, cette initiative d’ Ulysses Pernambucano et des experts bahianais est devenue “l’une des interventions les plus heureuses de la science et de la technique anthropologique, accompagnée par une psychiatrie sociale, dans la vie d’une communauté brésilienne”. MOTS-CLÉS: Candomblé, Musée Estácio de Lima, ethnopsychiatrie, racisme, collections afro-brésiliennes.Publicação Online do Caderno CRH no Scielo: http://www.scielo.br/ccrh Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br
publishDate 2006
dc.date.none.fl_str_mv 2006-11-23
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
"Avaliado pelos pares"
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18760
10.9771/ccrh.v19i47.18760
url https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18760
identifier_str_mv 10.9771/ccrh.v19i47.18760
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/18760/12132
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal da Bahia
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal da Bahia
dc.source.none.fl_str_mv Caderno CRH; v. 19 n. 47 (2006): DOSSIÊ: Violência, Criminalidade e Justiça - Coord. Eduardo Paes-Machado (Org.)
1983-8239
0103-4979
reponame:Caderno CRH
instname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)
instacron:UFBA
instname_str Universidade Federal da Bahia (UFBA)
instacron_str UFBA
institution UFBA
reponame_str Caderno CRH
collection Caderno CRH
repository.name.fl_str_mv Caderno CRH - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
repository.mail.fl_str_mv revcrh@ufba.br||revcrh@ufba.br
_version_ 1799699052171886592