Sotaques e sintaxes: acentuando o falar caboclo nas religiões afro-brasileiras

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santos, Mauricio dos
Data de Publicação: 2020
Outros Autores: Hoshino, Thiago de Azevedo Pinheiro
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Afro-Ásia (Online)
Texto Completo: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/35680
Resumo: Os caboclos são espíritos e encantados afro-ameríndios que podem se manifestar por muitas formas nas religiões de matriz africana. Em comum têm a capacidade (nem sempre compartilhada por outras divindades, como os orixás) de falar. Mais do que uma capacidade, trata-se de uma habilidade codificada por meio da qual exercem sua agência sobre o mundo e sobre seus adeptos. Dentre os registros linguísticos mais notórios dos caboclos está o “sotaque”, categoria nativa que nomeia uma situação de desafio em forma de bravata que estabelece um diálogo, uma alternância entre (en)cantadores. Considerado como disputa, mais do que briga, o sotaque sempre dramatiza um conflito como alegoria e abre a possibilidade de encenar, de inovar, de versejar e de construir contextualmente sobre o texto da tradição. Por sua vez, essa enunciação depende sempre da materialidade de um “cavalo” que a vocalize, dando “passagem” ao sujeito oculto pelo racismo estrutural, epistêmico e cotidiano. O presente artigo toma as noções êmicas de “sotaque” e de “cavalo-de-santo” como conceitos rentáveis para projetar as tensões e atravessamentos da linguagem do candomblé, em cuja dinâmica o português é enredado com usos, sentidos e acentos e assentos afro-atlânticos, fazendo dele “pretoguês”, uma língua em modo de simbiose ou, como os autores defendem, uma “sintaxe cabocla”.Palavras-chave: religiões afro-brasileiras | caboclo | sotaque | Língua de santo | Pretoguês Abstract:Caboclos are Afro-Amerindian spirits that manifest in various ways in the African matrix religions of Brazil. They have the ability to speak (not always shared by other divinities of the cult, like Orixás). More than an ability, speaking in this case constitutes a codified mode of agency over the world, the people, and specially their believers. Among the most well-known  Caboclo linguistic registers is the sotaque (literally “accent”, but in this context more akin to “sneer”). Sotaque is a native category referring to situations in which one entity challenges another, in a swaggering way, resulting in a competitive dialogue between them. Considered a dispute, not a fight, a sotaque generally dramatizes conflicts in an allegorical way, opening up possibilities for performing, innovating, versifying, providing contexts for building on traditional texts. In turn, such enunciation depends on the materiality of the cavalo (“horse”) that verbalizes it, “clearing the path” for subjects hidden by structural, epistemic and quotidian racism. This paper draws from emic notions of sotaque and cavalo de santo as fruitful concepts for projecting the tensions that are part of the language of Candomblé, in which the use of Portuguese is coupled with Afro-Atlantic usages, meanings, and accents, in what could be termed “pretoguês“: a language of symbiosis, or, as the authors suggest, a “caboclo syntax”.Keywords:afro-brazilian Religions | caboclo | sotaque | Língua de santo | Pretoguês  
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