Psicoses na infancia e escolarização: uma pesquisa colaborativa na rede regular de ensino

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pereira, Caciana Linhares
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Texto Completo: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/5847
Resumo: A presente pesquisa investiga o processo de escolarização de crianças psicóticas no sistema regular de ensino e, especificamente, na sala de aula regular, o que passou a ocorrer no Brasil sobretudo a partir de 2008. Interrogamos quais mudanças podem ser observadas na criança – considerando-se sua relação com a linguagem e com a realidade – a partir de sua entrada na escola. De modo preciso, trata-se de apreender em que medida essas mudanças podem ser creditadas à experiência escolar. A noção de “instituição estourada” aportada por Maud Mannoni nos serve de horizonte ético e político, pois o estouro no nível institucional se dirige contra toda relação de tutela exclusiva. Seu horizonte é a ruptura do isolamento, que se materializa na possibilidade de habitar espaços sociais diferentes, assim como de introduzir entre a criança e o outro, objetos culturais. A escola pode funcionar de forma diferente das instituições totais, que estabelecem com o louco uma relação tutelar exclusiva? Se o espaço que se destina ao louco é o espaço do isolamento, da clausura das instituições totais, a escola pode trabalhar contra a reprodução dessa lógica? A pesquisa articula as proposições psicanalíticas sobre a relação da criança psicótica com a linguagem e com a realidade e as proposições sustentadas pela perspectiva inclusiva, que se volta para as práticas de sala de aula para problematizar o modo como os alunos se relacionam e aprendem. A linguagem se configura como a categoria que, por excelência, permite aos dois campos encontrarem uma base comum para a interlocução proposta. A pesquisa foi realizada em duas escolas, no período de um ano, em colaboração com três professores. As análises permitiram as seguintes formulações gerais: 1- A vida escolar convoca a criança a um ordenamento do tempo e do espaço que promove a substituição de uma relação mais primitiva com os objetos e a entrada em funcionamento de uma relação mediada. Os ritmos que marcam a vida da escola regular introduzem de forma particular - diferente da escola especial - um complexo jogo de presença e ausência que estão na base de toda circulação social. 2- Na sala de aula regular, a criança está em contato com os significantes que organizam o mundo das crianças da sua idade e do seu bairro. A criança é reconhecida, fundamentalmente, como criança. A filiação aos nomes que permitem o reconhecimento da criança na cultura têm predomínio sobre as identificações agenciadas pela doença mental. As brincadeiras, os temas das discussões, os hábitos – todos esses elementos são apresentados à criança como índices de filiação, construindo algum relevo na desertificação de seu mundo. 3- A aquisição da escrita – como submissão às normas de uma forma de escrita – equivale à possibilidade de operar com o gozo do Outro a partir de letras. É da escritura do Outro que se trata na alfabetização de uma criança psicótica. Esta escritura apresenta uma potência inestimável na estabilização das crises que podem advir muito cedo. 4- Quanto à atuação dos professores, observamos a importância da ultrapassagem de um tipo de relação entre os profissionais baseada na oferta de estratégias ou técnicas padronizadas. No trabalho junto aos professores, essa escolha exige a construção de um lugar de enunciação a partir do qual o professor possa formular suas interrogações e trabalhar para respondê-las. 5- Observamos que a atuação do professor do Atendimento Educacional Especializado pode catalisar reflexões junto aos professores e atores que fazem a escola de uma forma geral. Esse professor é também uma figura central para a continuidade dos avanços conquistados por determinada criança, pois desempenha uma função de articulador de situações de colaboração entre os atores da escola.
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Seu horizonte é a ruptura do isolamento, que se materializa na possibilidade de habitar espaços sociais diferentes, assim como de introduzir entre a criança e o outro, objetos culturais. A escola pode funcionar de forma diferente das instituições totais, que estabelecem com o louco uma relação tutelar exclusiva? Se o espaço que se destina ao louco é o espaço do isolamento, da clausura das instituições totais, a escola pode trabalhar contra a reprodução dessa lógica? A pesquisa articula as proposições psicanalíticas sobre a relação da criança psicótica com a linguagem e com a realidade e as proposições sustentadas pela perspectiva inclusiva, que se volta para as práticas de sala de aula para problematizar o modo como os alunos se relacionam e aprendem. A linguagem se configura como a categoria que, por excelência, permite aos dois campos encontrarem uma base comum para a interlocução proposta. A pesquisa foi realizada em duas escolas, no período de um ano, em colaboração com três professores. As análises permitiram as seguintes formulações gerais: 1- A vida escolar convoca a criança a um ordenamento do tempo e do espaço que promove a substituição de uma relação mais primitiva com os objetos e a entrada em funcionamento de uma relação mediada. Os ritmos que marcam a vida da escola regular introduzem de forma particular - diferente da escola especial - um complexo jogo de presença e ausência que estão na base de toda circulação social. 2- Na sala de aula regular, a criança está em contato com os significantes que organizam o mundo das crianças da sua idade e do seu bairro. A criança é reconhecida, fundamentalmente, como criança. A filiação aos nomes que permitem o reconhecimento da criança na cultura têm predomínio sobre as identificações agenciadas pela doença mental. As brincadeiras, os temas das discussões, os hábitos – todos esses elementos são apresentados à criança como índices de filiação, construindo algum relevo na desertificação de seu mundo. 3- A aquisição da escrita – como submissão às normas de uma forma de escrita – equivale à possibilidade de operar com o gozo do Outro a partir de letras. É da escritura do Outro que se trata na alfabetização de uma criança psicótica. Esta escritura apresenta uma potência inestimável na estabilização das crises que podem advir muito cedo. 4- Quanto à atuação dos professores, observamos a importância da ultrapassagem de um tipo de relação entre os profissionais baseada na oferta de estratégias ou técnicas padronizadas. No trabalho junto aos professores, essa escolha exige a construção de um lugar de enunciação a partir do qual o professor possa formular suas interrogações e trabalhar para respondê-las. 5- Observamos que a atuação do professor do Atendimento Educacional Especializado pode catalisar reflexões junto aos professores e atores que fazem a escola de uma forma geral. Esse professor é também uma figura central para a continuidade dos avanços conquistados por determinada criança, pois desempenha uma função de articulador de situações de colaboração entre os atores da escola.Cette recherche examine le processus de scolarisation d’enfants psychotiques dans le système régulier d'éducation, plus précisément en salle de classe régulière, ce qui est arrivé à se produire au Brésil, principalement à partir de 2008. Nous avons interrogé quels changements peuvent être observées chez l’enfant – considérant sa relation à la langue et à la réalité – dès son entrée à l'école. De façon précise, il s’agit de saisir l'étendue à laquelle ces changements peuvent être crédités à l'expérience scolaire. La notion d’ « institution éclatée» employé par Maud Mannoni nous sert horizon éthique et politique car l’éclat au niveau institutionnel est dirigé contre toute relation de tutelle exclusive. Son horizon est la rupture de l'isolation, qui se matérialise dans la possibilité de vivre dans différents espaces sociaux, aussi bien d’introduire entre l'enfant et l’autre des objets culturels. L'école peut fonctionner différemment des institutions totales, qui établissent avec le fou une relation tutélaire exclusive? Si l'espace qui se destine au fou est l'espace de l'isolation, de la claustration des institutions totales, l'école peut travailler contre la reproduction de cette logique ? La recherche articule les propositions psychanalytiques sur la relation de l'enfant psychotique à la langage et à la réalité, et les propositions soutenues par la perspective inclusive, qui se tourne vers les pratiques en salle de classe afin de discuter comment les élèves se rapportent et apprennent. Le language se configure comme la catégorie qui, par excellence, permet aux deux champs de trouver une base commune pour le dialogue proposé. L'enquête a été menée dans deux écoles, pendant la période d'une année, en collaboration avec trois professeurs. Les analyses ont permis les formulations générales suivantes: 1- La vie scolaire convoque l'enfant à une planification du temps et de l'espace qui favorise le remplacement d'une relation plus primitive avec les objets et la mise en place d'une relation de médiation. Les rythmes qui marquent la vie de l'école régulière introduisent de façon particulière - différente de l’école spéciale - un jeu complexe de présence et d'absence qui forment la base de toute circulation sociale. 2- En salle de classe régulière, l'enfant est en contact avec les signifiants qui organisent le monde des enfants de son âge et de son quartier. L'enfant est reconnu principalement comme un enfant. L'affiliation aux noms qui permettent la reconnaissance de l'enfant dans la culture a une prédominance sur les identifications arrangées par la maladie mentale. Les jeux, les thèmes des discussions, les habitudes – tous ces éléments sont présents aux enfants comme des indices de affiliation, construisant un relief sur la désertification de son monde. 3-L'acquisition de l'écriture – comme soumission aux normes d'une forme d'écriture – équivaut à la possibilité d'opérer avec la jouissance de l'Autre à partir des lettres. C’est de l'écriture de l’Autre qui s’occupe l'alphabétisation d’un enfant psychotique. Cette écriture présente un pouvoir inestimable dans la stabilisation des crises qui peuvent venir trop tôt. 4-Quant à la performance des professeurs, nous constatons l'importance du dépassement d’un type de relation entre les professionnels base sur l’offre des stratégies ou des techniques normalisées. Au travail avec les professeurs, ce choix exige la construction d'un lieu d'énonciation dont le professeur puisse formuler ses questions et travailler pour y répondre. 5-nous avons constaté que la performance du professeur de l’Education Spécialisée peut catalyser des réflexions auprès des professeurs et des acteurs qui font l'école en général. Ce professeur est également une figure centrale pour la continuité des progrès accomplis par un enfant donné, parce qu'il joue un rôle d'articulateur des situations de collaboration entre les acteurs de l'école.http://www.teses.ufc.brFigueiredo, Rita Vieira dePereira, Caciana Linhares2013-09-23T15:55:50Z2013-09-23T15:55:50Z2012info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfPEREIRA, Caciana Linhares. Psicoses na infância e escolarização: uma pesquisa colaborativa na rede regular de ensino. 2012. 319f. 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