Ubuntu: educação, alteridade e relações étnico-raciais.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: OLIVEIRA, Ariosvalber de Souza.
Data de Publicação: 2016
Outros Autores: NEPOMUCENO, Cristiane Maria., SIQUEIRA, Elisabeth Barros Nascimento., ARANHA, Gervácio Batista., FREITAS, Gisleandra Barros de., LEITÃO, João Marcos da Silva., ARAÚJO, Joelma Maria Bento de., MONTENEGRO, José Benjamim., MELO, Josemir Camilo de., SOUSA JÚNIOR, José Pereira de., DOMINGOS, Luís Tomás., REIS, Maria Aparecida dos., SILVA, Moisés Alves da., FARIAS, Paulo Sérgio Cunha., ROCHA, Solange Pereira da., RAMOS, Viviane Kate Pereira.
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG
Texto Completo: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/32813
Resumo: Esta coletânea se conigura como um espaço valioso de integração entre movimento social e universidade. Trata-se de uma obra capitaneada pelo Movimento Negro de Campina Grande em parceria com acadêmicos de universidades públicas e pesquisadores da temática. De certo modo, este trabalho dialoga com o curso de especialização em Educação para as Relações Étnico-Raciais, da Universidade Federal de Campina Grande, posto que alguns dos autores desta obra encontram-se ou já estiveram vinculados a esse relevante espaço acadêmico. “s determinações e orientações para o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena trouxeram uma série de desaios para os proissionais da educação no ”rasil, especialmente, no que se refere as questões voltadas para as relações étnico-raciais. “pós a implantação das Leis 10.639/03 e 11645/08, aumentou o interesse pela aludida temática e, dessa forma, ampliaram-se as publicações de livros, bem como estudos e núcleos de pesquisa em torno dela. No entanto, o ensino direcionado para as relações étnicoraciais está longe de ser satisfatório. Este ponto é um dos grandes entraves no tocante a essas leis, tendo em vista que já se passaram alguns anos de sua implementação e, ainda hoje, o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena realiza-se de forma pontual e supericial. Também é comum que as imagens e representações reportadas sobre o assunto mantenham certa reprodução de estereótipos em relação a esses grupos étnicos. Muitas vezes, tais questões são reforçadas e disseminadas pela mídia e, até mesmo, em sala de aula, tornando-se um constante desaio abordá-las e redimensioná-las no ambiente escolar. Sendo assim, este espaço de relexão foi pensado carinhosamente como subsídio didático para proissionais da educação básica, estudantes de cursos de licenciaturas e demais interessados no assunto. Os artigos aqui apresentados buscam contribuir para a construção de um processo educacional pautado nas relações étnico-raciais. Vale ressaltar que este livro vem à tona em um delicado período da história do ”rasil, marcado por fortes tensões sociais e plena ascensão de forças conservadoras, que compelem duros golpes ao processo democrático. Não obstante, o cenário de violência e desrespeito à dignidade humana do povo brasileiro faz-se presente há décadas no país. Nesse panorama, justificamos nossa escolha quanto à utilização do conceito filosófico africano "Ubuntu" como título e fio condutor dos nossos textos. Esta perspectiva pode ser compreendida como a percepção de que só existimos através do contato com o outro, na medida em que "uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas". Logo, Ubuntu renova a necessidade de (re)pensarmos nossa relação com o outro e de sentirmos que somos afetados quando nossos semelhantes são ofendidos e humilhados. Estão presentes aqui textos que apresentam múltiplas perspectivas, entretanto, a relexão em torno do processo de ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena perpassa todos eles. No primeiro artigo, o historiador Gervácio Batista “ranha estabelece reflexões em torno do escritor Lima Barreto e da literatura afrodescendente no Brasil. O referido autor demonstra, a partir da análise de um romance e um conto de Barreto, traços do "racismo à brasileira", além da crítica do renomado autor quanto a essa questão. Assim sendo, Aranha demonstra como esse importante ficcionista pode ser lido enquanto um dos precursores dessa manifestação literária e utilizado por leitores e pesquisadores interessados pela temática. “ poesia afro-brasileira também foi contemplada por meio do artigo dos autores Ariosvalber de Souza Oliveira e Moisés Alves da Silva. Ao analisar alguns poemas de Conceição Evaristo e de Oliveira Silveira, os autores refletem sobre a poética negra e estabelecem os usos dela em sala de aula como uma possibilidade didática, atendendo as indicações preconizadas pela Lei 10.639/03. Na esteira das discussões em torno do mundo virtual, a pesquisadora Maria “parecida dos Reis apresenta reflexões sobre os usos da internet e das tecnologias digitais pelos jovens na atualidade e demonstra que redes sociais, como o Facebook, podem se tornar grandes aliadas no processo de uma educação para as relações étnico-raciais. Por sua vez, os historiadores Viviane Kate Pereira e João Marcos Leitão analisam interessantes aspectos sobre o fascinante site Índio Educa, demonstrando como esse espaço virtual de aprendizagem pode ser uma importante fonte de pesquisa para o educador elaborar atividades didáticas e desenvolver metodologias relativas à história e à cultura dos povos indígenas no ”rasil. “inda em relação à temática indígena, a partir de uma experiência didática em torno da morte e dos rituais fúnebres dos povos Tapuias, a historiadora Elisabeth Barros Nascimento Siqueira traz algumas ponderações acerca da possibilidade de se abordar um tema tão delicado como esse no espaço escolar. Logo em seguida, o geógrafo Paulo Sérgio Cunha Farias nos brinda com uma série de relexões em torno de como algumas formulações produzidas pela Cartograia e pela Ciência Geográica contribuíram para a construção de um olhar negativo e preconceituoso da Europa, no que concerne à África e aos seus habitantes. Tais elaborações simbólicas hierarquizadoras serviram para afirmar a supremacia geopolítica de nações europeias em diferentes momentos da história. Já o historiador Ariosvalber de Souza Oliveira, em defesa da importância de se estudar pensadores negros pouco conhecidos, estabeleceu uma análise sobre a trajetória de vida e as contribuições do intelectual brasileiro Manuel Querino no debate acerca do papel do negro e da mestiçagem no processo de formação histórica do ”rasil. “s historiadoras Solange Pereira da Rocha e Gisleandra ”arros de Freitas apresentam trajetórias de vida de mulheres negras livres, na Paraíba oitocentista, e sugerem ao inal do texto uma proposta de atividade didática que pode ser desenvolvida no espaço da sala de aula em atenção à Lei 10.639/03, a partir de uma leitura dessas personagens históricas. O estudo realizado pelo historiador Josemir Camilo problematiza os conceitos de "negro" e de "quilombola", demonstrando como estes termos foram construídos por meio de valores que se ressignificaram com o passar do tempo. Desse modo, estabelece os interesses e as disputas que sedimentam a continuidade e descontinuidade da semântica dos discursos. Por sua vez, o historiador José Benjamim Montenegro analisa o conto "Bocatorta", de Monteiro Lobato, indicando traços de racismo nessa narrativa e demonstrando que o aludido escritor, tão importante para a literatura infanto-juvenil brasileira, era adepto de teorias raciais e eugenistas do seu tempo. No artigo seguinte, a socióloga Cristiane Nepomuceno traz observações pontuais sobre traços de resistência e de memória das culturas africanas nas manifestações dos maracatus e, também, indica algumas características e diferenças presentes nas várias formas dos maracatus e como estes podem servir para reletir sobre as relações étnico-raciais. No tocante à religiosidade, o antropólogo e sociólogo moçambicano Luís Tomás Domingos nos leva a conhecer aspectos das complexidades em torno de um dos mais controversos orixás, Exu. Ao estabelecer um profícuo estudo, subsidiado em uma diversa bibliografia temática, o autor busca promover uma melhor compreensão das religiões afro-brasileiras e de suas inluências africanas. E, por im, os historiadores José Pereira de Souza Junior e Joelma Maria ”ento de “raújo elaboraram um artigo em torno de peris biográicos da escritora Carolina Maria de Jesus e da artista Tia Ciata que, mesmo diante de uma sociedade marcada pelo machismo e racismo, se destacaram na história e na cultura brasileira. Acreditamos que esta coletânea vem contribuir no processo de uma educação inclusiva e emancipadora, visto que o indígena e o negro não podem continuar sendo identificados e ensinados meramente como o "outro". Na nossa perspectiva, estes são parte integrante de nós mesmos, das nossas vidas, parte constitutiva de nossa formação histórica e cultural, pois herdamos esta história e ela está presente no nosso dia a dia, no que fomos e somos enquanto indivíduos e sociedade.
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Trata-se de uma obra capitaneada pelo Movimento Negro de Campina Grande em parceria com acadêmicos de universidades públicas e pesquisadores da temática. De certo modo, este trabalho dialoga com o curso de especialização em Educação para as Relações Étnico-Raciais, da Universidade Federal de Campina Grande, posto que alguns dos autores desta obra encontram-se ou já estiveram vinculados a esse relevante espaço acadêmico. “s determinações e orientações para o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena trouxeram uma série de desaios para os proissionais da educação no ”rasil, especialmente, no que se refere as questões voltadas para as relações étnico-raciais. “pós a implantação das Leis 10.639/03 e 11645/08, aumentou o interesse pela aludida temática e, dessa forma, ampliaram-se as publicações de livros, bem como estudos e núcleos de pesquisa em torno dela. No entanto, o ensino direcionado para as relações étnicoraciais está longe de ser satisfatório. Este ponto é um dos grandes entraves no tocante a essas leis, tendo em vista que já se passaram alguns anos de sua implementação e, ainda hoje, o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena realiza-se de forma pontual e supericial. Também é comum que as imagens e representações reportadas sobre o assunto mantenham certa reprodução de estereótipos em relação a esses grupos étnicos. Muitas vezes, tais questões são reforçadas e disseminadas pela mídia e, até mesmo, em sala de aula, tornando-se um constante desaio abordá-las e redimensioná-las no ambiente escolar. Sendo assim, este espaço de relexão foi pensado carinhosamente como subsídio didático para proissionais da educação básica, estudantes de cursos de licenciaturas e demais interessados no assunto. Os artigos aqui apresentados buscam contribuir para a construção de um processo educacional pautado nas relações étnico-raciais. Vale ressaltar que este livro vem à tona em um delicado período da história do ”rasil, marcado por fortes tensões sociais e plena ascensão de forças conservadoras, que compelem duros golpes ao processo democrático. Não obstante, o cenário de violência e desrespeito à dignidade humana do povo brasileiro faz-se presente há décadas no país. Nesse panorama, justificamos nossa escolha quanto à utilização do conceito filosófico africano "Ubuntu" como título e fio condutor dos nossos textos. Esta perspectiva pode ser compreendida como a percepção de que só existimos através do contato com o outro, na medida em que "uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas". Logo, Ubuntu renova a necessidade de (re)pensarmos nossa relação com o outro e de sentirmos que somos afetados quando nossos semelhantes são ofendidos e humilhados. Estão presentes aqui textos que apresentam múltiplas perspectivas, entretanto, a relexão em torno do processo de ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena perpassa todos eles. No primeiro artigo, o historiador Gervácio Batista “ranha estabelece reflexões em torno do escritor Lima Barreto e da literatura afrodescendente no Brasil. O referido autor demonstra, a partir da análise de um romance e um conto de Barreto, traços do "racismo à brasileira", além da crítica do renomado autor quanto a essa questão. Assim sendo, Aranha demonstra como esse importante ficcionista pode ser lido enquanto um dos precursores dessa manifestação literária e utilizado por leitores e pesquisadores interessados pela temática. “ poesia afro-brasileira também foi contemplada por meio do artigo dos autores Ariosvalber de Souza Oliveira e Moisés Alves da Silva. Ao analisar alguns poemas de Conceição Evaristo e de Oliveira Silveira, os autores refletem sobre a poética negra e estabelecem os usos dela em sala de aula como uma possibilidade didática, atendendo as indicações preconizadas pela Lei 10.639/03. Na esteira das discussões em torno do mundo virtual, a pesquisadora Maria “parecida dos Reis apresenta reflexões sobre os usos da internet e das tecnologias digitais pelos jovens na atualidade e demonstra que redes sociais, como o Facebook, podem se tornar grandes aliadas no processo de uma educação para as relações étnico-raciais. Por sua vez, os historiadores Viviane Kate Pereira e João Marcos Leitão analisam interessantes aspectos sobre o fascinante site Índio Educa, demonstrando como esse espaço virtual de aprendizagem pode ser uma importante fonte de pesquisa para o educador elaborar atividades didáticas e desenvolver metodologias relativas à história e à cultura dos povos indígenas no ”rasil. “inda em relação à temática indígena, a partir de uma experiência didática em torno da morte e dos rituais fúnebres dos povos Tapuias, a historiadora Elisabeth Barros Nascimento Siqueira traz algumas ponderações acerca da possibilidade de se abordar um tema tão delicado como esse no espaço escolar. Logo em seguida, o geógrafo Paulo Sérgio Cunha Farias nos brinda com uma série de relexões em torno de como algumas formulações produzidas pela Cartograia e pela Ciência Geográica contribuíram para a construção de um olhar negativo e preconceituoso da Europa, no que concerne à África e aos seus habitantes. 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O estudo realizado pelo historiador Josemir Camilo problematiza os conceitos de "negro" e de "quilombola", demonstrando como estes termos foram construídos por meio de valores que se ressignificaram com o passar do tempo. Desse modo, estabelece os interesses e as disputas que sedimentam a continuidade e descontinuidade da semântica dos discursos. Por sua vez, o historiador José Benjamim Montenegro analisa o conto "Bocatorta", de Monteiro Lobato, indicando traços de racismo nessa narrativa e demonstrando que o aludido escritor, tão importante para a literatura infanto-juvenil brasileira, era adepto de teorias raciais e eugenistas do seu tempo. No artigo seguinte, a socióloga Cristiane Nepomuceno traz observações pontuais sobre traços de resistência e de memória das culturas africanas nas manifestações dos maracatus e, também, indica algumas características e diferenças presentes nas várias formas dos maracatus e como estes podem servir para reletir sobre as relações étnico-raciais. No tocante à religiosidade, o antropólogo e sociólogo moçambicano Luís Tomás Domingos nos leva a conhecer aspectos das complexidades em torno de um dos mais controversos orixás, Exu. Ao estabelecer um profícuo estudo, subsidiado em uma diversa bibliografia temática, o autor busca promover uma melhor compreensão das religiões afro-brasileiras e de suas inluências africanas. E, por im, os historiadores José Pereira de Souza Junior e Joelma Maria ”ento de “raújo elaboraram um artigo em torno de peris biográicos da escritora Carolina Maria de Jesus e da artista Tia Ciata que, mesmo diante de uma sociedade marcada pelo machismo e racismo, se destacaram na história e na cultura brasileira. Acreditamos que esta coletânea vem contribuir no processo de uma educação inclusiva e emancipadora, visto que o indígena e o negro não podem continuar sendo identificados e ensinados meramente como o "outro". Na nossa perspectiva, estes são parte integrante de nós mesmos, das nossas vidas, parte constitutiva de nossa formação histórica e cultural, pois herdamos esta história e ela está presente no nosso dia a dia, no que fomos e somos enquanto indivíduos e sociedade.Universidade Federal de Campina GrandeBrasilUFCG20162023-11-13T19:24:28Z2023-11-132023-11-13T19:24:28Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bookhttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/32813OLIVEIRA, Ariosvalber de Souza; REIS, Maria Aparecida dos; SILVA, Moisés Alves da; ARANHA, Gervácio Batista (organizadores). Ubuntu: educação, alteridade e relações étnico-raciais. João Pessoa - PB: Editora do CCTA, 2016. ISBN: 978-85-67818-71-9. 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Índio na contemporaneidade
Resistência online - índios
Ritual fúnebre indígena - Tapuias
África - violência simbólica
Teorias geográficas
Representações cartográficas
Mulheres negras livres - Paraíba oitocentista
Paraíba oitocentista
Negro
Quilombola negro
Maracatu - tradição e memória africana
Cosmovisão africana
Èsu-Elegbara
Mulheres negras em movimento
Cultura indígena
Tapuias - indígenas
Cultural studies
Ubuntu
Ethnic-racial relations
Education and culture
Ubuntu
Afro-Brazilian poetry
African descent and literature
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África - violência simbólica
Teorias geográficas
Representações cartográficas
Mulheres negras livres - Paraíba oitocentista
Paraíba oitocentista
Negro
Quilombola negro
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No entanto, o ensino direcionado para as relações étnicoraciais está longe de ser satisfatório. Este ponto é um dos grandes entraves no tocante a essas leis, tendo em vista que já se passaram alguns anos de sua implementação e, ainda hoje, o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena realiza-se de forma pontual e supericial. Também é comum que as imagens e representações reportadas sobre o assunto mantenham certa reprodução de estereótipos em relação a esses grupos étnicos. Muitas vezes, tais questões são reforçadas e disseminadas pela mídia e, até mesmo, em sala de aula, tornando-se um constante desaio abordá-las e redimensioná-las no ambiente escolar. Sendo assim, este espaço de relexão foi pensado carinhosamente como subsídio didático para proissionais da educação básica, estudantes de cursos de licenciaturas e demais interessados no assunto. Os artigos aqui apresentados buscam contribuir para a construção de um processo educacional pautado nas relações étnico-raciais. Vale ressaltar que este livro vem à tona em um delicado período da história do ”rasil, marcado por fortes tensões sociais e plena ascensão de forças conservadoras, que compelem duros golpes ao processo democrático. Não obstante, o cenário de violência e desrespeito à dignidade humana do povo brasileiro faz-se presente há décadas no país. Nesse panorama, justificamos nossa escolha quanto à utilização do conceito filosófico africano "Ubuntu" como título e fio condutor dos nossos textos. Esta perspectiva pode ser compreendida como a percepção de que só existimos através do contato com o outro, na medida em que "uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas". Logo, Ubuntu renova a necessidade de (re)pensarmos nossa relação com o outro e de sentirmos que somos afetados quando nossos semelhantes são ofendidos e humilhados. Estão presentes aqui textos que apresentam múltiplas perspectivas, entretanto, a relexão em torno do processo de ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena perpassa todos eles. No primeiro artigo, o historiador Gervácio Batista “ranha estabelece reflexões em torno do escritor Lima Barreto e da literatura afrodescendente no Brasil. O referido autor demonstra, a partir da análise de um romance e um conto de Barreto, traços do "racismo à brasileira", além da crítica do renomado autor quanto a essa questão. Assim sendo, Aranha demonstra como esse importante ficcionista pode ser lido enquanto um dos precursores dessa manifestação literária e utilizado por leitores e pesquisadores interessados pela temática. “ poesia afro-brasileira também foi contemplada por meio do artigo dos autores Ariosvalber de Souza Oliveira e Moisés Alves da Silva. 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Tais elaborações simbólicas hierarquizadoras serviram para afirmar a supremacia geopolítica de nações europeias em diferentes momentos da história. Já o historiador Ariosvalber de Souza Oliveira, em defesa da importância de se estudar pensadores negros pouco conhecidos, estabeleceu uma análise sobre a trajetória de vida e as contribuições do intelectual brasileiro Manuel Querino no debate acerca do papel do negro e da mestiçagem no processo de formação histórica do ”rasil. “s historiadoras Solange Pereira da Rocha e Gisleandra ”arros de Freitas apresentam trajetórias de vida de mulheres negras livres, na Paraíba oitocentista, e sugerem ao inal do texto uma proposta de atividade didática que pode ser desenvolvida no espaço da sala de aula em atenção à Lei 10.639/03, a partir de uma leitura dessas personagens históricas. O estudo realizado pelo historiador Josemir Camilo problematiza os conceitos de "negro" e de "quilombola", demonstrando como estes termos foram construídos por meio de valores que se ressignificaram com o passar do tempo. Desse modo, estabelece os interesses e as disputas que sedimentam a continuidade e descontinuidade da semântica dos discursos. Por sua vez, o historiador José Benjamim Montenegro analisa o conto "Bocatorta", de Monteiro Lobato, indicando traços de racismo nessa narrativa e demonstrando que o aludido escritor, tão importante para a literatura infanto-juvenil brasileira, era adepto de teorias raciais e eugenistas do seu tempo. No artigo seguinte, a socióloga Cristiane Nepomuceno traz observações pontuais sobre traços de resistência e de memória das culturas africanas nas manifestações dos maracatus e, também, indica algumas características e diferenças presentes nas várias formas dos maracatus e como estes podem servir para reletir sobre as relações étnico-raciais. No tocante à religiosidade, o antropólogo e sociólogo moçambicano Luís Tomás Domingos nos leva a conhecer aspectos das complexidades em torno de um dos mais controversos orixás, Exu. Ao estabelecer um profícuo estudo, subsidiado em uma diversa bibliografia temática, o autor busca promover uma melhor compreensão das religiões afro-brasileiras e de suas inluências africanas. E, por im, os historiadores José Pereira de Souza Junior e Joelma Maria ”ento de “raújo elaboraram um artigo em torno de peris biográicos da escritora Carolina Maria de Jesus e da artista Tia Ciata que, mesmo diante de uma sociedade marcada pelo machismo e racismo, se destacaram na história e na cultura brasileira. Acreditamos que esta coletânea vem contribuir no processo de uma educação inclusiva e emancipadora, visto que o indígena e o negro não podem continuar sendo identificados e ensinados meramente como o "outro". Na nossa perspectiva, estes são parte integrante de nós mesmos, das nossas vidas, parte constitutiva de nossa formação histórica e cultural, pois herdamos esta história e ela está presente no nosso dia a dia, no que fomos e somos enquanto indivíduos e sociedade.
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OLIVEIRA, Ariosvalber de Souza; REIS, Maria Aparecida dos; SILVA, Moisés Alves da; ARANHA, Gervácio Batista (organizadores). Ubuntu: educação, alteridade e relações étnico-raciais. João Pessoa - PB: Editora do CCTA, 2016. ISBN: 978-85-67818-71-9. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/32813
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