Da alegria e da angústia de diluir fronteiras: o Sertão de Guimarães Rosa e as narrativas de formação nacional.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: DEMETRIO, Everton.
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG
Texto Completo: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/2531
Resumo: O inter-relacionamento entre literatura e história ganha força quando da passagem do século XX para o XXI, tendo o debate sobre as possibilidades de aproximação destas disciplinas adquirido fôlego e centralidade; a maneira de fazer ciência, típica do século XIX com sua ânsia pelo método e pela verdade absoluta, esfacela-se em função do surgimento de novas abordagens do real, que levam em consideração a interface com outras áreas do conhecimento com vistas a abordagens que permitam acessos variados ao real. Narrativa entre outras, a história singulariza-se, no entanto, pela relação especifica que mantém com a verdade, pois ela tem, de fato, a pretensão de remeter a um passado que realmente existiu. O que pode então, a partir daí, diferenciar o enredo histórico e o enredo romanesco? Para horror daqueles que concebem a ciência como lugar de certezas, este texto reflete sobre as tensões que envolvem a narrativa histórica e a sedução eterna do exercício da criação literária sobre aqueles que lapidam a escrita da história. E como tal, escrita da história e criação literária cruzam-se neste, partilhando das veredas imagéticas de João Guimarães Rosa. As estórias do autor mineiro têm como um de seus elementos narrativos de maior destaque a presença do espaço. É a partir dessa perspectiva presente nas narrativas que se pretende analisar a obra, enfocando a ambivalência entre os espaços urbano e rural (sertão), e sua importância para a construção da leitura da obra enquanto narrativa sobre a formação do Brasil. Para esta leitura serão privilegiados os aspectos sociais e históricos que a obra apresenta, não só os do romance como também os do ato de sua escritura. A presença do espaço no romance, principalmente em sua relação de ambivalência entre o urbano e o rural, pode indicar que as travessias dos personagens rosianos pelo sertão configuram uma espécie de retrato do Brasil, no processo de sua formação e constituição nacional. A partir das narrativas destacadas – dois contos do livro Sagarana (1946) e duas passagens pontuais do romance Grande Sertão: Veredas (1956) –, procederemos a uma leitura comparativa no sentido de perceber como a narrativa rosiana estabelece, consciente ou inconscientemente, paralelos com o chamado “pensamento social brasileiro”, assumindo algumas de suas representações características quando da enunciação de valores a respeito do sertão e sua gente; o sertão como metáfora da nação no percurso de estabelecimento dos valores modernos em solo pátrio. Em todo caso, tanto em Sagarana quanto em Grande Sertão: Veredas muitos aspectos da representação do espaço e seus personagens se afastam, o que não implica dizer que isso ocorre unilateralmente, pois, noutras questões – ou em uma questão fundamental – as narrativas se tocam, gravitam sobre um mesmo eixo: tratam do Brasil. A obra de Guimarães Rosa desenha um movimento que articula, em maior ou menor grau, a realidade geográfica e humana do sertão com os grandes temas do debate sobre a nação. A representação do Brasil estaria na passagem entre os caracteres do espaço sertanejo e o imaginário sobre a formação da comunidade concebida como nacional.
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Narrativa entre outras, a história singulariza-se, no entanto, pela relação especifica que mantém com a verdade, pois ela tem, de fato, a pretensão de remeter a um passado que realmente existiu. O que pode então, a partir daí, diferenciar o enredo histórico e o enredo romanesco? Para horror daqueles que concebem a ciência como lugar de certezas, este texto reflete sobre as tensões que envolvem a narrativa histórica e a sedução eterna do exercício da criação literária sobre aqueles que lapidam a escrita da história. E como tal, escrita da história e criação literária cruzam-se neste, partilhando das veredas imagéticas de João Guimarães Rosa. As estórias do autor mineiro têm como um de seus elementos narrativos de maior destaque a presença do espaço. É a partir dessa perspectiva presente nas narrativas que se pretende analisar a obra, enfocando a ambivalência entre os espaços urbano e rural (sertão), e sua importância para a construção da leitura da obra enquanto narrativa sobre a formação do Brasil. Para esta leitura serão privilegiados os aspectos sociais e históricos que a obra apresenta, não só os do romance como também os do ato de sua escritura. A presença do espaço no romance, principalmente em sua relação de ambivalência entre o urbano e o rural, pode indicar que as travessias dos personagens rosianos pelo sertão configuram uma espécie de retrato do Brasil, no processo de sua formação e constituição nacional. A partir das narrativas destacadas – dois contos do livro Sagarana (1946) e duas passagens pontuais do romance Grande Sertão: Veredas (1956) –, procederemos a uma leitura comparativa no sentido de perceber como a narrativa rosiana estabelece, consciente ou inconscientemente, paralelos com o chamado “pensamento social brasileiro”, assumindo algumas de suas representações características quando da enunciação de valores a respeito do sertão e sua gente; o sertão como metáfora da nação no percurso de estabelecimento dos valores modernos em solo pátrio. Em todo caso, tanto em Sagarana quanto em Grande Sertão: Veredas muitos aspectos da representação do espaço e seus personagens se afastam, o que não implica dizer que isso ocorre unilateralmente, pois, noutras questões – ou em uma questão fundamental – as narrativas se tocam, gravitam sobre um mesmo eixo: tratam do Brasil. A obra de Guimarães Rosa desenha um movimento que articula, em maior ou menor grau, a realidade geográfica e humana do sertão com os grandes temas do debate sobre a nação. A representação do Brasil estaria na passagem entre os caracteres do espaço sertanejo e o imaginário sobre a formação da comunidade concebida como nacional.The interrelationship between literature and history gain strength in the wake of the twentieth century to century, with discussion on the possibilities of bringing these disciplines acquired breath and centrality, and the way we do science, typical of the nineteenth century with his lust for method and the absolute truth, crumbles due to the emergence of new approaches to real-which take into consideration the interface with other areas of knowledge in order to access various approaches to the real. Narrative among others, the story distinguishes itself, however, specifies the relationship it has with the truth, as she has, in fact, the claim to refer to a past that actually existed. What then can, thereafter, to differentiate the plot historical novel and the plot? To the horror of those who conceive science as a place of certainty, this text reflects on the tensions surrounding the historical narrative and the eternal lure of the exercise of creative writing about those who lapidam the writing of history. As such, literary history and literary creation in this cross, sharing the paths imagery of João Guimarães Rosa. The author's stories have mining as one of its narrative elements more prominent presence in space. It is from this perspective present in the narratives I propose to analyze the work, focusing on the ambivalence between the urban and rural spaces (interior), and its importance to the construction work while reading the narrative about the formation of Brazil. For this reading will be privileged social and historical aspects that the book presents not only the novel as well as the act of his writing. The presence of space in the novel, especially in your relationship ambivalence between urban and rural, may indicate that the crossings of the hinterland rosianos characters make up a kind of portrait of Brazil, in the process of its formation and the national constitution. From the narratives deployed - two tales from the book Sagarana (1946) and two passages of the novel Great point Hinterland: Footpaths (1956) - proceed to a comparative reading in order to understand how the narrative establishes Rosa, consciously or unconsciously, with parallel the so-called "Brazilian social thought," assuming some of its characteristics when representations of the enunciation of values about the wilderness and its people, the wilderness as a metaphor of the nation on course of establishment of modern values on home soil. In any case, as in both Sagarana Grande Sertão: Veredas many aspects of the representation of space and its characters move away, which does not imply that this occurs unilaterally, as in other issues - or a fundamental issue - the narratives touch , revolve about an axis: deal with Brazil. The work of Rosa draws a movement that articulates to a greater or lesser degree, the human and geographical reality of the interior with the great issues of the debate over the nation. Representation of Brazil would be the passage of space between characters and imaginary backcountry on the formation of community conceived as national.Universidade Federal de Campina GrandeBrasilCentro de Humanidades - CHPÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIAUFCGLIMA, Marinalva Vilar de.LIMA,M.V.http://lattes.cnpq.br/1606519856715259OLIVEIRA, Iranilson Buriti de.ANDRADE, Débora El-Jaick.AGUIAR, José Otávio.ARAÚJO, Orlando Luiz de.DEMETRIO, Everton.2012-022019-01-16T15:52:58Z2019-01-162019-01-16T15:52:58Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesishttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/2531DEMETRIO, Everton. Da alegria e da angústia de diluir fronteiras: o Sertão de Guimarães Rosa e as narrativas de formação nacional. 140f. 2012. (Dissertação de Mestrado em História), Programa de Pós-graduação em História, Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande - Paraíba - Brasil, 2012. 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