Docodrama: narrativa, memória e identidade no cinema moçambicano.
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2009 |
Tipo de documento: | Artigo de conferência |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG |
Texto Completo: | http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/34694 |
Resumo: | Em “O narrador…”, Walter Benjamin (1987), dentre tantas outras coisas suscitadas, sugere que as incapacidades ou dificuldades em lidar com as narrativas no sentido antigo de uma preservação coletiva e da ―arte de contá-las de novo‖, se explicam pelas intervenções das reprodutibilidades, da rapidez, das maquinarias. Pois, o processo de assimilação do que é interior à narrativa (como o conselho, a sabedoria) exige uma percepção outra de tempo e de espaço, algo que a modernidade estaria prejudicando substancialmente. Suas reflexões sobre um mundo dominado pela técnica que sobrepõe ao homem e que, por isso, faz surgir uma “nova forma de miséria” possibilita comparações com outras realidades exteriores à Europa da primeira metade do século XX. A tradição oral é uma forte característica de várias sociedades africanas, algo que a globalização e os sintomas inerentes a ela tendem a minar, como rezam inúmeros teóricos. São nas memórias presentes na oralidade de inúmeras comunidades, inclusive, que tornam possível uma história africana nos moldes ocidentais, por meio do trabalho de pesquisadores em entrevistas e catalogações das bibliotecas ambulantes – peculiares aos griots, depositários de uma narrativa complexa, signos de outras noções de tempo e espaço, escorregadias ao ocidente. Talvez seja justamente esta força da experiência vinculada aos homens, presente na tradição oral africana de que fala o novo cinema feito em Moçambique. Na esteira de Benjamin (1997: 198), “a experiência que passa de pessoa em pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores” e, entre as narrativas consagradas, as melhores ―são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos‖. Assim, o docodrama, opção estético-narrativa na feitura dos filmes, descrito pela cineasta moçambicana Isabel de Noronha (2009), como a mistura da ficção com uma história contada no seio de uma comunidade, assume um importante papel na produção cinematográfica atual moçambicana, pois este estilo afirma - por meio das narrativas cinematográficas - traços da identidade local emaranhadas ao processo de feitura das imagens, num belo trânsito entre história oral e memórias e, nesta perspectiva, criando, com a potência da narração, o que Olgária Matos (2001: 15) chama de “espaços de liberdade”, uma vez entendida a narrativa como força hermenêutica e transformadora. Neste trabalho, pretendo discutir como o docodrama coloca os processos de “narrativização” num lugar central da comunicação social, questionando os limites entre a realidade e a ficção. |
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