Modos e meios de ler a literatura infantil e juvenil contemporânea.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: TAVARES, Márcia.
Data de Publicação: 2021
Outros Autores: SEGABINAZI, Daniela Maria., SOUZA, Renata Junqueira de., FERREIRA, Anália Adriana da Silva., BRANDÃO, Claudia Leite., ALMEIDA, Sherry Morgana Justino de., OLIVEIRA, Maria Anória de Jesus., BISPO, Girlene Santos Amor Divino., ALMEIDA, Aline Barbosa de., GALDINO, Karoline Nóbrega de Almeida., NEVES, Ana Lúcia Maria de Souza., WANDERLEY, Naelza de Araújo., GOMES, Rodolfo V. Rodrigues., LIMA, Joaes Cabral de., PARINELLI, Joseany Lunguinho Gomes., BALSAN, Silvana Ferreira de Souza., VITAL, Egberto Guilhermo Lima., MIRANDA, Lucas Emanoel Vilarinho.
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG
Texto Completo: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/29622
Resumo: O percurso da literatura infantil e juvenil em nosso país é registrado por Lajolo e Zilberman (1991) a partir da implantação da Imprensa Régia em 1808 com o surgimento de uma editoração nacional, embora ainda de forma descontinuada, descaracterizando o que seria uma produção brasileira para esses leitores. Segundo as autoras, em meados do século XIX, o modelo econômico industrializado e a imposição do modo de vida urbano vão consolidar a escola e exigir livros de leitura mais adequados. Comumente, as obras eram traduções e adaptações dos clássicos estrangeiros, destacavam- se os livros de mensagens patrióticas, ufanistas, históricas, antologias folclóricas e temáticas. Essa produção trazia consigo, principalmente, modelos de um Brasil moderno, de uma língua nacional e de imagens que reforçassem o nacionalismo na literatura infantil. Esse panorama segue, sem grandes modificações, até a edição de A menina do Narizinho Arrebitado (1921), de Monteiro Lobato. Temos então uma possibilidade de resolução dos problemas dentro do universo infantil, estimulado pela fantasia e pela ação aventureira. O molde de entrelaçar ficção e realidade dentro da própria fantasia ficcional conduz a uma literatura infantil menos presa aos projetos moralizantes. Mas não sem mostrar uma ideologia seja de defesa do Brasil ou de certos padrões de comportamento. A elaboração da literatura infantil brasileira, especificamente da narrativa, segue nos anos entre 1920 e 1945 uma escalada no aumento de obras, volume de edições e interesse das editoras. Ao lado dessa afirmação do mercado, permanece a produção de Lobato como solução de inventividade para as narrativas infantis com novidades de linguagem, intertextualidade, metalinguagem e outros recursos. Entre as décadas de 1960 e 1970, mediante a trajetória de urbanização da sociedade e pelo aumento de bons autores e obras, a tendência contestadora de Lobato se intensiica e é retomada em outros veios, enveredando pela temática da cidade, focalizando o personagem criança e dando voz a esse ser infantil através da representação de seus conflitos e das suas soluções. Nesse grupo de autores, identificam-se as intenções de reinvenções do conto de fadas; alusões à marginalização e à pobreza comuns nas décadas de 1980. Nos anos de 1990, o campo de discussões alargou-se indo desde a ampliação do espaço dado à voz do leitor, configurada na pressuposição que se estabelece na narrativa juvenil contemporânea no cenário da literatura brasileira até a exploração de temas pautados nas novas tecnologias, de cunho ecológico, e dando voz aos indivíduos antes menos representados ou com representações preconceituosas, como na literatura indígena e afro-brasileira que se tornaram mais presentes nos catálogos e nas premiações. Se considerarmos, dentro desse percurso histórico, desde o fim da década de 1970, a literatura infantil e juvenil brasileira atravessou um extraordinário desenvolvimento para adequar-se às características de um público que passou também por diversas mudanças. Nesse luxo, chegamos às primeiras duas décadas do século XXI colhendo as transformações quer sejam nos estilos narrativos, quer sejam nas materialidades e multimodalidades que cercam o livro como objeto cultural, é a partir desse contexto que colocamos as discussões em foco. Em um primeiro conjunto de textos, Dos modos de ler: o livro e suas materialidade, encontramos discussões sobre as diversas realizações do livro infantil e juvenil. Em “A imagem no livro ilustrado: leitura e classificações”, temos as considerações de Anália Adriana da Silva Ferreira e Márcia Tavares sobre a imagem e os lugares que esta ocupa no livro infantil, especificamente nos casos do livro de poesia. Reiterando essa perspectiva de leitura da ilustração do livro infantil, Renata Junqueira de Souza e Claudia Leite Brandão nos apresentam, em “Programa Nacional Biblioteca da Escola e primeira infância: breves reflexões sobre o livro de imagem”, um recorte sobre a presença desses livros no acervo do PNBE. O caminho da ilustração nacional tão cheia de inventividade vem em seguida no texto de Sherry Morgana Justino de Almeida, “Ziraldo & Monteiro Lobato: um diálogo sobre ilustração na literatura brasileira”, em que pontua os traços iniciais dessa memória ainda nos primeiros livros do percurso da nossa literatura infantil. Compondo essa primeira parte do livro, temos quatros textos que trazem veios bastante atuais para as investigações sobre literaturas de representação de identidades destinadas ao jovem leitor. Em “Protagonismos negros d’Áfricas à diáspora: Mandela, Biko e Jamela”, Anória de Jesus Oliveira e Girlene Santos Amor Divino Bispo buscam identiicar em que consiste a visão de África em um dos livros da série Jamela, de autoria do professor de artes gráicas, ilustrador e escritor sul-africano, Niki Daly. Mandela, Biko e Jamela, esta última, uma narrativa a nos levar ao espaço social sul-africano após o apartheid. “O romance juvenil Decifrando Ângelo de Luís Dill: um olhar, múltiplas vozes”, de Aline Barbosa de Almeida, nos mostra as tendências contemporâneas de narração no romance juvenil de Luís Dill, através da análise da maneira inusitada de construção do texto literário, nos fazendo pensar e questionar o que é a estrutura da narrativa, especificamente, do romance juvenil. Segundo a autora, na contemporaneidade, o que entendemos por estrutura da narrativa toma uma nova dimensão, pois as novas mídias (redes sociais, TV, filmes, séries, etc.) interferem diretamente na estrutura do texto. Em “Morte e interculturalidade em O problema do pato”, Maria Valéria Rezende, Karoline Nóbrega de Almeida Galdino e Ana Lúcia Maria de Souza Neves trazem uma reflexão cuidadosa sobre o tema da morte a partir de uma abordagem intercultural, desvendando no texto os pontos de vista de crianças de diferentes culturas sobre a referida temática, e despertando no leitor o conhecimento e o respeito às diferenças de maneira lúdica e instigante. Por fim, a literatura popular é contemplada na perspicaz leitura de Naelza de Souza Wanderley em um estudo comparativo que contempla os aspectos plásticos e narrativos em diversas versões de um mesmo texto, em “Alguns ‘passeios’ do pavão misterioso: a literatura e o dom de recontar”. Em um segundo conjunto de textos, Dos meios de leitura: os leitores e seus espaços, os capítulos se concentram em relatos de recepção e projetos de leitura nos níveis da educação básica. Em “As aventuras de Bambolina: projeto de leitura que une família e escola”, Daniela Maria Segabinazi, Joaes Cabral de Lima e Joseany Lunguinho G. Perinelli nos conduzem aos encontros com Bambolina em uma sequência de primorosa formação de leitores concentrada no livro de imagem. Em seguida, temos o texto “Um embusteiro: Pedro Malasartes entra na escola espalhando cultura popular”, que traz a cultura popular em uma experiência relatada por Renata Junqueira de Souza e Silvana Ferreira de Souza Balsan. As narrativas gráficas estão presentes nas discussões sobre práticas de leitura em “Histórias em Quadrinhos: reflexões acerca da prática de leitura”, de autoria de Daniela Maria Segabinazi e Rodolfo V. Rodrigues Gomes. As novas formas de ler o literário estão em “Literatura infantil e juvenil na tela: papel da escola na era digital?”, de Lucas Emanoel Vilarinho Miranda, em que o autor discute, a partir dos resultados de uma investigação com estudantes do ensino fundamental, os caminhos que podem nortear a atuação da escola no atual contexto quanto à sua responsabilidade em oferecer aos alunos o contato com a literatura infantil e juvenil digital na contemporaneidade. Fechando as discussões, temos “O clássico e a literatura de massas na formação do leitor literário na escola”, de Egberto Guillermo Lima Vital e Márcia Tavares, que investigam a recepção dos contos de Guimarães Rosa e J. K. Rowling em contexto de ensino médio. A experiência traz importantes conclusões para a formação desse jovem leitor, afasta os possíveis preconceitos dos leitores com o clássico e dos professores com a literatura de massa, além disso, demonstra como é possível afinar a criticidade do jovem leitor quando trazemos para a discussão uma metodologia comparativa.
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Programme national de bibliothèque scolaire
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Roman jeunesse
Maria Valéria Rezende - oeuvre Le problème du canard
Famille et école - Projet de lecture
Formation de lecteur littéraire à l'école
Littérature jeunesse dans les médias numériques
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Entre as décadas de 1960 e 1970, mediante a trajetória de urbanização da sociedade e pelo aumento de bons autores e obras, a tendência contestadora de Lobato se intensiica e é retomada em outros veios, enveredando pela temática da cidade, focalizando o personagem criança e dando voz a esse ser infantil através da representação de seus conflitos e das suas soluções. Nesse grupo de autores, identificam-se as intenções de reinvenções do conto de fadas; alusões à marginalização e à pobreza comuns nas décadas de 1980. Nos anos de 1990, o campo de discussões alargou-se indo desde a ampliação do espaço dado à voz do leitor, configurada na pressuposição que se estabelece na narrativa juvenil contemporânea no cenário da literatura brasileira até a exploração de temas pautados nas novas tecnologias, de cunho ecológico, e dando voz aos indivíduos antes menos representados ou com representações preconceituosas, como na literatura indígena e afro-brasileira que se tornaram mais presentes nos catálogos e nas premiações. Se considerarmos, dentro desse percurso histórico, desde o fim da década de 1970, a literatura infantil e juvenil brasileira atravessou um extraordinário desenvolvimento para adequar-se às características de um público que passou também por diversas mudanças. Nesse luxo, chegamos às primeiras duas décadas do século XXI colhendo as transformações quer sejam nos estilos narrativos, quer sejam nas materialidades e multimodalidades que cercam o livro como objeto cultural, é a partir desse contexto que colocamos as discussões em foco. Em um primeiro conjunto de textos, Dos modos de ler: o livro e suas materialidade, encontramos discussões sobre as diversas realizações do livro infantil e juvenil. Em “A imagem no livro ilustrado: leitura e classificações”, temos as considerações de Anália Adriana da Silva Ferreira e Márcia Tavares sobre a imagem e os lugares que esta ocupa no livro infantil, especificamente nos casos do livro de poesia. Reiterando essa perspectiva de leitura da ilustração do livro infantil, Renata Junqueira de Souza e Claudia Leite Brandão nos apresentam, em “Programa Nacional Biblioteca da Escola e primeira infância: breves reflexões sobre o livro de imagem”, um recorte sobre a presença desses livros no acervo do PNBE. O caminho da ilustração nacional tão cheia de inventividade vem em seguida no texto de Sherry Morgana Justino de Almeida, “Ziraldo & Monteiro Lobato: um diálogo sobre ilustração na literatura brasileira”, em que pontua os traços iniciais dessa memória ainda nos primeiros livros do percurso da nossa literatura infantil. Compondo essa primeira parte do livro, temos quatros textos que trazem veios bastante atuais para as investigações sobre literaturas de representação de identidades destinadas ao jovem leitor. Em “Protagonismos negros d’Áfricas à diáspora: Mandela, Biko e Jamela”, Anória de Jesus Oliveira e Girlene Santos Amor Divino Bispo buscam identiicar em que consiste a visão de África em um dos livros da série Jamela, de autoria do professor de artes gráicas, ilustrador e escritor sul-africano, Niki Daly. Mandela, Biko e Jamela, esta última, uma narrativa a nos levar ao espaço social sul-africano após o apartheid. “O romance juvenil Decifrando Ângelo de Luís Dill: um olhar, múltiplas vozes”, de Aline Barbosa de Almeida, nos mostra as tendências contemporâneas de narração no romance juvenil de Luís Dill, através da análise da maneira inusitada de construção do texto literário, nos fazendo pensar e questionar o que é a estrutura da narrativa, especificamente, do romance juvenil. Segundo a autora, na contemporaneidade, o que entendemos por estrutura da narrativa toma uma nova dimensão, pois as novas mídias (redes sociais, TV, filmes, séries, etc.) interferem diretamente na estrutura do texto. Em “Morte e interculturalidade em O problema do pato”, Maria Valéria Rezende, Karoline Nóbrega de Almeida Galdino e Ana Lúcia Maria de Souza Neves trazem uma reflexão cuidadosa sobre o tema da morte a partir de uma abordagem intercultural, desvendando no texto os pontos de vista de crianças de diferentes culturas sobre a referida temática, e despertando no leitor o conhecimento e o respeito às diferenças de maneira lúdica e instigante. Por fim, a literatura popular é contemplada na perspicaz leitura de Naelza de Souza Wanderley em um estudo comparativo que contempla os aspectos plásticos e narrativos em diversas versões de um mesmo texto, em “Alguns ‘passeios’ do pavão misterioso: a literatura e o dom de recontar”. Em um segundo conjunto de textos, Dos meios de leitura: os leitores e seus espaços, os capítulos se concentram em relatos de recepção e projetos de leitura nos níveis da educação básica. Em “As aventuras de Bambolina: projeto de leitura que une família e escola”, Daniela Maria Segabinazi, Joaes Cabral de Lima e Joseany Lunguinho G. Perinelli nos conduzem aos encontros com Bambolina em uma sequência de primorosa formação de leitores concentrada no livro de imagem. Em seguida, temos o texto “Um embusteiro: Pedro Malasartes entra na escola espalhando cultura popular”, que traz a cultura popular em uma experiência relatada por Renata Junqueira de Souza e Silvana Ferreira de Souza Balsan. As narrativas gráficas estão presentes nas discussões sobre práticas de leitura em “Histórias em Quadrinhos: reflexões acerca da prática de leitura”, de autoria de Daniela Maria Segabinazi e Rodolfo V. Rodrigues Gomes. As novas formas de ler o literário estão em “Literatura infantil e juvenil na tela: papel da escola na era digital?”, de Lucas Emanoel Vilarinho Miranda, em que o autor discute, a partir dos resultados de uma investigação com estudantes do ensino fundamental, os caminhos que podem nortear a atuação da escola no atual contexto quanto à sua responsabilidade em oferecer aos alunos o contato com a literatura infantil e juvenil digital na contemporaneidade. Fechando as discussões, temos “O clássico e a literatura de massas na formação do leitor literário na escola”, de Egberto Guillermo Lima Vital e Márcia Tavares, que investigam a recepção dos contos de Guimarães Rosa e J. K. Rowling em contexto de ensino médio. A experiência traz importantes conclusões para a formação desse jovem leitor, afasta os possíveis preconceitos dos leitores com o clássico e dos professores com a literatura de massa, além disso, demonstra como é possível afinar a criticidade do jovem leitor quando trazemos para a discussão uma metodologia comparativa.
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