Contradições entre o público, o privado e o comum: lutas pelo direito à praia contra processos de privatização em Angra dos Reis, RJ

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ribeiro, Irene Chada
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/29148
Resumo: O processo de constituição do espaço da orla marítima em Angra dos Reis é permeado por tensões que evidenciam as contradições que perpassam os conceitos de público e privado. Tendo como objeto de análise o processo de privatização das praias e as lutas pela reapropriação desses espaços, a presente investigação tem como propósito fundamental problematizar a desigual produção social do espaço em Angra dos Reis na perspectiva do comum. Nesse contexto, a pesquisa identifica na retórica da vocação turística da cidade as brechas para produção do espaço de Angra dos Reis como mercadoria em detrimento do bem estar comum. Ao mesmo tempo em que, sob o verniz do discurso do desenvolvimento e do progresso, a chegada de empreendimentos industriais produziu um crescimento desordenado num contexto de progressivo aumento das desigualdades e da violência. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa que investe no difícil binômio investigar e resistir e, nesse sentido, insere-se na perspectiva de uma pesquisa-ação, onde a pesquisadora guarda estreita relação com os eventos que narra. Desse modo, partindo de um levantamento histórico que mobiliza acervo jornalístico, depoimentos, fontes oficiais e registros fotográficos a pesquisa busca identificar os sujeitos e as estratégias de dominação e de resistência na luta pelo direito à praia. Teoricamente, a pesquisa se articula em torno do conceito de produção do comum e das transformações que atravessam as noções de público e privado. Henri Lefebvre, Hannah Arendt e Richard Sennett amparam as reflexões que apostam nas possibilidades da noção de comum fornecer as bases para a superação das contradições próprias dos debates centrados nas esferas público e privada. A compreensão partilhada na investigação é que o comum se oferece como meio de reapropriação social das condições de existência, buscando se apropriar de volta do nosso tempo, do direito à natureza, da nossa autonomia e da potência do agir junto. Colocando o direito de apropriação social e de uso coletivo acima do direito de propriedade, o comum se mostra como “princípio político” para refletir sobre a relação social com a praia. Na perspectiva do comum, são as práticas sociais, os usos e as relações que se estabelecem que determinam a tipificação do espaço. Dito de outro modo, nenhum espaço é comum a priori, mas torna-se a partir das práticas e lutas que se travam em torno dele. Assim, na recuperação histórica da trajetória da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ) memórias oficiais e afetivas se entrelaçam oferecendo um panorama das ações, reinvindicações e resistências que pontuam as lutas contra a privatização do direito às praias (em Angra dos Reis). Por fim, fazendo justiça à dimensão performativa do conceito, o presente trabalho apresenta uma experiência concreta que ajuda a problematizar e, enfim, colocar em uso os conceitos abordados na pesquisa. Relatos da campanha Praias Livres Mentes Abertas dão materialidade aos conceitos e colocam em evidência a sobreposição de aspectos legais, sociais e afetivos que concorre para as lutas de reapropriação dos espaços. Nessa experiência o ato de pesquisar e resistir novamente se encontram demonstrando a potência e as limitações de ambas as atividades, tão necessárias quanto desafiadoras.
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Ao mesmo tempo em que, sob o verniz do discurso do desenvolvimento e do progresso, a chegada de empreendimentos industriais produziu um crescimento desordenado num contexto de progressivo aumento das desigualdades e da violência. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa que investe no difícil binômio investigar e resistir e, nesse sentido, insere-se na perspectiva de uma pesquisa-ação, onde a pesquisadora guarda estreita relação com os eventos que narra. Desse modo, partindo de um levantamento histórico que mobiliza acervo jornalístico, depoimentos, fontes oficiais e registros fotográficos a pesquisa busca identificar os sujeitos e as estratégias de dominação e de resistência na luta pelo direito à praia. Teoricamente, a pesquisa se articula em torno do conceito de produção do comum e das transformações que atravessam as noções de público e privado. 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Nessa experiência o ato de pesquisar e resistir novamente se encontram demonstrando a potência e as limitações de ambas as atividades, tão necessárias quanto desafiadoras.El proceso de constitución del espacio de borde marítimo en Angra dos Reis es permeado por tensiones que evidencian las contradicciones que atraviesan los conceptos de público y privado. Teniendo como objetivo de análisis el proceso de privatización de las playas y las luchas por la re-apropiación de esos espacios, la presente investigación tiene como propósito fundamental problematizar la desigual producción social del espacio en Angra dos Reis en la perspectiva del común. En este contexto, la investigación identifica en la retórica de la vocación turística de la ciudad las brechas para la producción del espacio de Angra dos Reis como mercadería en perjuicio del bienestar común. Al mismo tiempo en que, bajo el discurso del desarrollo y el progreso, la llegada de emprendimientos industriales desencadeno un crecimiento desordenado en un contexto del progresivo aumento de las desigualdades y de la violencia. En términos metodológicos, se trata de una investigación expuesta a la difícil dualidad de investigar y resistir. En este sentido encaja en una perspectiva de investigación-acción, donde la investigadora mantiene una estrecha relación con los eventos que narra. Comenzando por un levantamiento histórico que moviliza una recopilación periodística, testimonios, fuentes oficiales y registros fotográficos la investigación busca identificar a los sujetos y las estrategias de dominación y de resistencia en la lucha por el derecho a playa. Teóricamente, la investigación articula en torno al concepto de producción de común y de las transformaciones que atraviesan las nociones de público y privado. Henri Lefebvre, Hannah Arendt e Richard Sennett amparan las reflexiones que apuestan por las posibilidades de noción de común fortalecer las bases para la superación de las contradicciones propias de debates centrados en las esferas públicas y privadas. La comprensión compartida en la investigación es que el común se ofrece como medio de re-apropiación social de las condiciones de existencia, buscando apropiarse nuevamente de nuestro tiempo, del derecho a la naturaleza, de nuestra autonomía y de la potencia de actuar juntos. Colocando el derecho de apropiación social y de uso colectivo por encima del derecho de propiedad, lo común se muestra como principio político para reflejar la relación social con la playa. En la perspectiva de lo común, son las prácticas sociales, los usos y las relaciones que se establecen las que determinan la tipificación del espacio. Dicho de otro modo, ningún espacio es común a priori, pero surge a partir de las luchas que suceden en torno a él. Así, la recuperación histórica de la trayectoria de la Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ) memorias oficiales y afectivas se entrelazan ofreciendo un panorama de las acciones, reivindicaciones y resistencias que establecen las luchas contra la privatización del derecho a las playas (en Angra dos Reis). Como conclusión, el presente trabajo presenta una experiencia concreta que ayuda a problematizar y colocar en práctica los conceptos abordados en la investigación. Relatos de la campaña Praias Livres Mentes Abertas dan materialidad a los conceptos y colocan en evidencia la sobreposición de aspectos legales, sociales y afectivos que convoca para las luchas de reapropiación de los espacios. En esta experiencia el acto de investigar y resistir nuevamente se encuentra demostrando la potencialidades y limitaciones de ambas actividades, tan necesarias como desafiantes.177 p.Cruz, Valter do CarmoMartins, Flavia Elaine da SilvaGuimarães, Virgínia TottiRibeiro, Irene Chada2023-06-19T14:32:22Z2023-06-19T14:32:22Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfRIBEIRO, Irene Chada. Contradições entre o público, o privado e o comum: lutas pelo direito à praia contra processos de privatização em Angra dos Reis, RJ. 2017. 177 f. 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