Espacialidades dos CIEPs fluminenses: contribuições para a geografia da educação
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | http://app.uff.br/riuff/handle/1/24750 |
Resumo: | Durante os anos de 1980, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, governador e vice- governador do estado do Rio de Janeiro, respectivamente, prometeram realizar uma revolução educacional. Em sua proposta estava a construção de mais de 500 Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPs, popularmente conhecidos como Brizolões. Os CIEPs foram projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e ofereciam ensino de tempo integral para crianças e Educação de Jovens e Adultos em período noturno, somando-se mil educandos. Além disso, contavam com serviços médicos e odontológicos, refeições, prática de esportes, animação cultural, etc. A presente pesquisa buscou refletir sobre a espacialidade desse modelo de escola que até hoje marca as paisagens fluminenses, articulando a escala local, com a escala da cidade e do país, a fim de contribuir teórica e metodologicamente para uma Geografia da Educação. Para isso, foram resgatados registros da origem dos CIEPs, discursos veiculados na mídia da época e atuais, denotando que os CIEPs continuam sustentados no imaginário popular, sendo instrumentalizados politicamente até hoje. Além disso, foram entrevistadas professoras que trabalham em uma dessas unidades escolares para compreender, a partir de suas enunciações espaciais em entrevistas semiestruturadas e mapas vivenciais, o espaço vivido deste CIEP. Os resultados das análises dos dados oficiais apontaram para uma retomada da lógica dos Grupos Escolares, com vias a resgatar o prestígio da escola pública a partir da monumentalidade dos seus prédios e localização destacada na paisagem. As entrevistas apresentaram um espaço escolar cada vez mais compartimentado, gradeado e limitante, condicionado a lógicas adultas, em contraste ao projeto original, que previa o livre fluxo de crianças pelos diversos ambientes, além do fechamento das tradicionais meias-paredes. Estas transformações foram acompanhadas por uma severa reformulação curricular, voltado cada vez mais para um ensino tradicional restrito às quatro paredes da sala de aula, além do encerramento da oferta dos demais serviços públicos que o CIEP reunia. Percebeu-se que o prédio original e o projeto educacional eram, juntos, em relação dialética, o CIEP. Separar um do outro significaria abandonar necessariamente o projeto dos CIEPs, como foi desejado pelas forças políticas oposicionistas. Tal projeto não poderia ocorrer no prédio com um ensino tradicional, tampouco seu modelo de ensino poderia ser ofertado em outra construção que não aquela de Niemeyer. Para compreender a Geografia da Educação dos CIEPs, é preciso compreendê-lo como uma unidade entre forma e conteúdo, entre seu prédio, o currículo e as vivências que formam o espaço escolar. |
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Espacialidades dos CIEPs fluminenses: contribuições para a geografia da educaçãoGeografia da EducaçãoEspaço EscolarCIEPCentro Integrado de Educação PúblicaEspaçoGeografiaRio de JaneiroGeography of EducationSchool SpaceCIEPDurante os anos de 1980, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, governador e vice- governador do estado do Rio de Janeiro, respectivamente, prometeram realizar uma revolução educacional. Em sua proposta estava a construção de mais de 500 Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPs, popularmente conhecidos como Brizolões. Os CIEPs foram projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e ofereciam ensino de tempo integral para crianças e Educação de Jovens e Adultos em período noturno, somando-se mil educandos. Além disso, contavam com serviços médicos e odontológicos, refeições, prática de esportes, animação cultural, etc. A presente pesquisa buscou refletir sobre a espacialidade desse modelo de escola que até hoje marca as paisagens fluminenses, articulando a escala local, com a escala da cidade e do país, a fim de contribuir teórica e metodologicamente para uma Geografia da Educação. Para isso, foram resgatados registros da origem dos CIEPs, discursos veiculados na mídia da época e atuais, denotando que os CIEPs continuam sustentados no imaginário popular, sendo instrumentalizados politicamente até hoje. Além disso, foram entrevistadas professoras que trabalham em uma dessas unidades escolares para compreender, a partir de suas enunciações espaciais em entrevistas semiestruturadas e mapas vivenciais, o espaço vivido deste CIEP. Os resultados das análises dos dados oficiais apontaram para uma retomada da lógica dos Grupos Escolares, com vias a resgatar o prestígio da escola pública a partir da monumentalidade dos seus prédios e localização destacada na paisagem. As entrevistas apresentaram um espaço escolar cada vez mais compartimentado, gradeado e limitante, condicionado a lógicas adultas, em contraste ao projeto original, que previa o livre fluxo de crianças pelos diversos ambientes, além do fechamento das tradicionais meias-paredes. Estas transformações foram acompanhadas por uma severa reformulação curricular, voltado cada vez mais para um ensino tradicional restrito às quatro paredes da sala de aula, além do encerramento da oferta dos demais serviços públicos que o CIEP reunia. Percebeu-se que o prédio original e o projeto educacional eram, juntos, em relação dialética, o CIEP. Separar um do outro significaria abandonar necessariamente o projeto dos CIEPs, como foi desejado pelas forças políticas oposicionistas. Tal projeto não poderia ocorrer no prédio com um ensino tradicional, tampouco seu modelo de ensino poderia ser ofertado em outra construção que não aquela de Niemeyer. Para compreender a Geografia da Educação dos CIEPs, é preciso compreendê-lo como uma unidade entre forma e conteúdo, entre seu prédio, o currículo e as vivências que formam o espaço escolar.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorDuring the 1980s, Leonel Brizola and Darcy Ribeiro, governor and deputy governor of the state of Rio de Janeiro, respectively, promised to implement an educational revolution. In their proposal, there was the construction of more than 500 Integrated Centers of Public Education, the CIEPs, popularly known as Brizolões. The CIEPs were designed by the architect Oscar Niemeyer and they offered full-time education for children and Youth and Adults Education at night, for a total of 1,000 students. In addition, they provided medical and dental services, meals, sports practice, cultural entertainment, etc. The present research seeks to reflect on the spatiality of this school model which until today marks the landscapes of the state of Rio de Janeiro, articulating the local scale with the scale of the city and the country in order to contribute theoretically and methodologically to a Geography of Education. To achieve this, there were rescued records of the origin of the CIEPs, speeches broadcast in the media of the time and the current one, indicating that the CIEPs continue to be sustained in the popular imagination, being politically instrumentalized until today. Besides, there were interviewed teachers who work in one of these school units so to understand, from their spatial enunciations in semi-structured interviews and experiential maps, the living space of this CIEP. The results of the analysis of the official data pointed to a resumption of the logic of the School Groups, with a view to rescuing the prestige of the public school from the monumentality of its buildings and its location highlighted in the landscape. The interviews showed an increasingly fragmented, caged and limiting school space, conditioned to adult logics, in contrast to the original project, which envisaged the free flow of children through the different environments, in addition to the closing of the traditional half- walls. These transformations were accompanied by a severe curricular reformulation, increasingly focused on traditional teaching restricted to the four walls of the classroom, added to the closing of the offer of other public services that CIEP brought together. It was noticed that the original building and the educational project were, together, in a dialectical relationship, the CIEP. Separating one from the other would necessarily mean abandoning the project of the CIEPs, as it was desired by the opposition political forces. Such project could not take place in a building with traditional teaching, nor could its teaching model be offered in a building other than that of Niemeyer.To understand the Geography of Education of the CIEPs, it is necessary to understand it as a unit between form and content, between its building, the curriculum and the experiences that constitute the school space.210pLopes, Jader Janer MoreiraBezerra, Amélia Cristina AlvesMello, Marisol Barenco deNascimento, Anelise Monteiro doValentim, Silvia HelenaPereira, Luiz MiguelFaria, Victor Carvalho Loback de2022-03-17T10:59:58Z2022-03-17T10:59:58Z2022info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfFARIA, Victor Carvalho Loback de. Espacialidades dos CIEPs fluminenses: contribuições para a geografia da educação. 2022. 210 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação, Niterói, 2022.http://app.uff.br/riuff/handle/1/24750CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-03-17T11:00:03Zoai:app.uff.br:1/24750Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:48:49.363156Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false |
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