Desarquivar: uma etnografia contra o repositório racial
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | http://app.uff.br/riuff/handle/1/25182 |
Resumo: | Esta pesquisa tem como objetivo discutir a situação racial a partir da construção de dois processos criminais caracterizados como o “caso Rafael Braga”. É, antes de tudo, uma pesquisa parcial e posicionada. Por isso, tem como pressuposto um conhecimento produzido de maneira corporificada e engajada. Isso é: levo em consideração as consequências concretas do meu lugar a partir de onde acesso essa realidade específica, tanto do ponto de vista das minhas posições sociais, quanto no sentido das minhas opções políticas e epistemológicas. Nesse aspecto, os conhecimentos produzidos e organizados por movimentos sociais negros são centrais na construção do conhecimento que exponho. Por isso, levo a sério os argumentos da existência de um genocídio antinegro no Brasil, pensando principalmente sua relação com o alto número de pessoas negras criminalizadas e com a desigualdade numérica entre brancos e negros nas prisões brasileiras. A partir disso, analiso os aspectos raciais da construção da verdade jurídica. Especificamente, parto da observação dos processos criminais movidos pelo Estado contra o jovem negro Rafael Braga Vieira. O único condenado pelos protestos que tomaram as ruas do Brasil em 2013. Assim sendo, elaboro uma classificação dos materiais do caso: arquivos raciais. Para isso, realizo primeiramente uma pesquisa em arquivos burocrático-estatais, enfatizando a questão racial através das práticas burocráticas antinegras, colocando em evidência a precariedade do Estado em sua atuação contra pessoas negras. Após a condenação em primeira instância a situação de Rafael Braga Vieira torna-se pública. Um amplo engajamento pela liberdade é construído ao redor dele. Notícias, reportagens, imagens, vídeos, textos e postagens em redes sociais passam a povoar o imaginário que vai se constituindo. Nesse sentido, compreendo os desdobramentos desse caso em relação a sua exposição pública, a construção das várias imagens sobre Rafael Braga e a politização da situação. Atento-me, principalmente, em duas dessas imagens manipuladas por agentes em posições opostas. Agentes estatais e ativistas de direitos humanos. Considero que essas imagens produzidas, embora antagônicas, são complementares na construção de corpos racializados: a vítima passiva e o criminoso incorrigível. O pêndulo racial que essas imagens formam é o aparato discursivo a partir do qual Rafael Braga é fixado. |
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Por isso, levo a sério os argumentos da existência de um genocídio antinegro no Brasil, pensando principalmente sua relação com o alto número de pessoas negras criminalizadas e com a desigualdade numérica entre brancos e negros nas prisões brasileiras. A partir disso, analiso os aspectos raciais da construção da verdade jurídica. Especificamente, parto da observação dos processos criminais movidos pelo Estado contra o jovem negro Rafael Braga Vieira. O único condenado pelos protestos que tomaram as ruas do Brasil em 2013. Assim sendo, elaboro uma classificação dos materiais do caso: arquivos raciais. Para isso, realizo primeiramente uma pesquisa em arquivos burocrático-estatais, enfatizando a questão racial através das práticas burocráticas antinegras, colocando em evidência a precariedade do Estado em sua atuação contra pessoas negras. Após a condenação em primeira instância a situação de Rafael Braga Vieira torna-se pública. Um amplo engajamento pela liberdade é construído ao redor dele. Notícias, reportagens, imagens, vídeos, textos e postagens em redes sociais passam a povoar o imaginário que vai se constituindo. Nesse sentido, compreendo os desdobramentos desse caso em relação a sua exposição pública, a construção das várias imagens sobre Rafael Braga e a politização da situação. Atento-me, principalmente, em duas dessas imagens manipuladas por agentes em posições opostas. Agentes estatais e ativistas de direitos humanos. Considero que essas imagens produzidas, embora antagônicas, são complementares na construção de corpos racializados: a vítima passiva e o criminoso incorrigível. O pêndulo racial que essas imagens formam é o aparato discursivo a partir do qual Rafael Braga é fixado.Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de JaneiroThis research aims to discuss the racial situation from the construction of two criminal cases characterized as the "Rafael Braga case". It is first and foremost a partial and positioned search. Therefore, it is based on knowledge produced in an embodied and engaged manner. That is: I take into account the concrete consequences of my place from where I access this specific reality, both from the standpoint of my social positions, and in the sense of my political and epistemological choices. In this respect, the knowledge produced and organized by black social movements is central to the construction of the knowledge I expose. Therefore, I take seriously the arguments of the existence of an anti-black genocide in Brazil, thinking mainly about its relationship with the high number of black people criminalized and the numerical inequality between whites and blacks in Brazilian prisons. From this I analyze the racial aspects of the construction of legal truth. Specifically, I start from the observation of the criminal lawsuits filed by the state against young black Rafael Braga Vieira. The only one condemned by the protests that took to the streets of Brazil in 2013. Thus, I make a classification of the case materials: racial archives. To this end, I first carry out a research in bureaucratic-state archives, emphasizing the racial issue through anti-black bureaucratic practices, highlighting the state's precariousness in its action against black people. After the condemnation at first instance the situation of Rafael Braga Vieira becomes public. A broad commitment to freedom is built around his. News, reports, images, videos, texts and posts on social networks come to populate the imaginary that is constituting itself. In this sense, I understand the consequences of this case in relation to its public exposition, the construction of the various images about Rafael Braga and the politicization of the situation. I focus mainly on two of these images manipulated by agents in opposite positions. State agents and human rights activists. I consider that these images, although antagonistic, are complementary in the construction of racialized bodies: the passive victim and the incorrigible criminal. The racial pendulum these images form is the discursive apparatus from which Rafael Braga is fixed.249 p.Barbosa, Antonio Carlos RafaelBrandão, Isaac Palma2022-06-13T15:45:09Z2022-06-13T15:45:09Z2019info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfBRANDÃO, Isaac Palma. Desarquivar: uma etnografia contra o repositório racial. 2019. 249 f. Dissertação. 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