Os modos como vamos nos tornando mulheres negras e educadoras antirracistas: narrativas de formação para pensar a educação das relações raciais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Macambira, Leidiane dos Santos Aguiar
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/23907
Resumo: Será que uma professora negra que não se reconhece como tal pode ter atuação efetiva para uma educação antirracista? O esforço empreendido aqui concentra-se no campo da Educação, especificamente inspirado nos estudos dos cotidianos e tendo como referência a formação de professoras. Tal esforço tem como preocupação os modos como as mulheres negras vivem suas trajetórias. A pesquisa pretendeu enfrentar a seguinte questão: como (diferentes) mulheres têm forjado seus processos de tornarem-se negras e como têm atuado nas lutas antirracistas? Esse problema surgiu de uma experiência singular, que foi o fato de ter me percebido negra apenas na vida adulta. Nesse processo, percebi que estava submetida a uma espécie de “cegueira”, que não me permitia reconhecer minhas próprias origens. Como se deu essa minha formação para que eu chegasse a negar a minha negritude e ainda tentar por diversas formas – estéticas, religiosas, culturais e comportamentais – parecer-me com uma mulher branca? No enfrentamento dessas e de outras questões, busquei ouvir narrativas de formação de mulheres negras e intelectuais de diferentes campos – educação, arte, jornalismo, religião – a fim de conhecer como se tornaram negras e suas táticas de sobrevivência em um mundo de supremacia patriarcal e branca. As conversas com as mulheres da pesquisa aconteceram em encontros ao vivo ou remotos, por videochamadas. Além disso, acompanhei produções artísticas, científicas e literárias de outras mulheres que atravessaram esse processo, como Neusa Santos Souza, Lélia Gonzalez e Rosana Paulino, entre outras. O encontro com todo esse material demandou elaborar outras formas de narrar a pesquisa. Inspirada no conceito de biografema de Roland Barthes (1984), fui tecendo outras narrativas a partir do encontro com as histórias e produções com as quais me encontrara. Logo, o que está exposto neste trabalho não é a descrição literal das histórias ouvidas, mas sim uma composição feita por fragmentos dos acontecimentos selecionados que tem a pretensão de dar a ver um corpo social que problematiza experiências vividas por muitas mulheres negras brasileiras. A tese é composta por três fragmentos. Em um deles, eu problematizo as tensões teórico-metodológicas com as quais me deparo, dentre elas o fato de que sou pesquisadora e pesquisada ao mesmo tempo, por exemplo; depois, a partir do conceito imagens de controle, de Patrícia Hill Collins, realizo um estudo sobre algumas imagens que povoam o nosso imaginário educando o modo como olhamos a nós mesmas, como somos olhadas e como essas imagens influem em nossa formação, tentando conduzir as nossas vidas, funcionando como uma espécie de biografia coletiva predeterminada para nós antes mesmo de nascermos. Finalmente, no terceiro fragmento, apresento, em forma de biografemas, as táticas de sobrevivência às biografias coletivas forjadas a partir do encontro com as narrativas ouvidas. Nas considerações provisórias reflito sobre as questões demandadas nesta jornada, apontando possíveis caminhos para pensar a educação das relações raciais. Espero que este trabalho contribua para pensarmos a formação de professoras negras (mas não só) para que elas, ao se reconhecerem negras, engajem-se na luta por uma educação antirracista.
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Nesse processo, percebi que estava submetida a uma espécie de “cegueira”, que não me permitia reconhecer minhas próprias origens. Como se deu essa minha formação para que eu chegasse a negar a minha negritude e ainda tentar por diversas formas – estéticas, religiosas, culturais e comportamentais – parecer-me com uma mulher branca? No enfrentamento dessas e de outras questões, busquei ouvir narrativas de formação de mulheres negras e intelectuais de diferentes campos – educação, arte, jornalismo, religião – a fim de conhecer como se tornaram negras e suas táticas de sobrevivência em um mundo de supremacia patriarcal e branca. As conversas com as mulheres da pesquisa aconteceram em encontros ao vivo ou remotos, por videochamadas. Além disso, acompanhei produções artísticas, científicas e literárias de outras mulheres que atravessaram esse processo, como Neusa Santos Souza, Lélia Gonzalez e Rosana Paulino, entre outras. O encontro com todo esse material demandou elaborar outras formas de narrar a pesquisa. Inspirada no conceito de biografema de Roland Barthes (1984), fui tecendo outras narrativas a partir do encontro com as histórias e produções com as quais me encontrara. Logo, o que está exposto neste trabalho não é a descrição literal das histórias ouvidas, mas sim uma composição feita por fragmentos dos acontecimentos selecionados que tem a pretensão de dar a ver um corpo social que problematiza experiências vividas por muitas mulheres negras brasileiras. A tese é composta por três fragmentos. Em um deles, eu problematizo as tensões teórico-metodológicas com as quais me deparo, dentre elas o fato de que sou pesquisadora e pesquisada ao mesmo tempo, por exemplo; depois, a partir do conceito imagens de controle, de Patrícia Hill Collins, realizo um estudo sobre algumas imagens que povoam o nosso imaginário educando o modo como olhamos a nós mesmas, como somos olhadas e como essas imagens influem em nossa formação, tentando conduzir as nossas vidas, funcionando como uma espécie de biografia coletiva predeterminada para nós antes mesmo de nascermos. Finalmente, no terceiro fragmento, apresento, em forma de biografemas, as táticas de sobrevivência às biografias coletivas forjadas a partir do encontro com as narrativas ouvidas. Nas considerações provisórias reflito sobre as questões demandadas nesta jornada, apontando possíveis caminhos para pensar a educação das relações raciais. Espero que este trabalho contribua para pensarmos a formação de professoras negras (mas não só) para que elas, ao se reconhecerem negras, engajem-se na luta por uma educação antirracista.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorIs it possible for a black teacher who does not recognize herself as being black to have an effective role for an anti-racist education? The effort undertaken here focuses on the field of Education, specifically inspired by daily life studies, and having female teacher training as reference. Such effort is concerned with the ways in which black women live their trajectories. The research intended to face the following question: how (different) women have been forging themselves as black and how have they been acting against racism? This question emerges from my personal experience, which was the fact that I realized I was black only in adulthood. In this process, I realized that I was subjected to a kind of "blindness" that did not allow me to recognize my heritage. How did I come to deny myself and still try in many ways – aesthetic, religious, cultural and behavioral ways – to look like a white woman? Confronting these and other questions, I listen to formation narratives of black women and intellectuals from different fields –education, arts, journalism, religion – to know how they manage their process of becoming black and survival tactics used by them in a world of patriarchal and white supremacy. The interviews were done through scheduled local meetings and web conferences. In addition, I followed the artistic, scientific, and literary productions of other women who went through this process, such as Neusa Santos Souza, Lélia Gonzalez, Rosana Paulino, among others. The encounter with all this material demanded other ways to narrate the research. Inspired by Roland Barthes’ biographeme concept (1984), I was weaving other narratives from the encounter with the stories and productions offered. Therefore, what is exposed is not literally the heard stories themselves, but rather a composition made of fragments of the selected events, which have the pretension of showing a social body that problematizes experiences lived by many Brazilian black women. The biographems are produced from my formation narrative and the event that made me start this research. From three fragments, I problematize the theoretical and methodological tensions faced, such as the fact that I am the researcher and the researched at the same time; then, considering Patricia Hill Collins' images of control concept, I conduct a study on some images that pollute our imagination, educating the way we look at ourselves and how we are looked at, and how these images contribute to our formation, trying to conduct our lives, functioning as a collective biography, shared by all of us; finally, I present, as biographems, survival tactics to the collective biographies forged from the encounter with the heard narratives. In the provisional considerations, I reflect on the questions demanded in this journey, pointing out possible ways to think about an education sensitive to race relations. I hope that this work contributes to think about black teachers training (above all, but not only) so they, by recognizing themselves as black women, engage in the fight for an anti- racist education.138f.NiteróiPereira, José ValterOliveira, Iolanda deRibetto, Anelice AstridSilva, Joselina daPassos, Mailsa CarlaPérez, Carmen Lúcia VidalMacambira, Leidiane dos Santos Aguiar2021-12-15T15:02:09Z2021-12-15T15:02:09Z2021info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfMACAMBIRA, Leidiane dos Santos Aguiar. Os modos como vamos nos tornando mulheres negras e educadoras antirracistas: narrativas de formação para pensar a educação das relações raciais. 2021. 138f. Tese (Doutorado em Educação)- Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.http://app.uff.br/riuff/handle/1/23907Aluno de DoutoradoCC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2021-12-15T15:02:13Zoai:app.uff.br:1/23907Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:45:05.015601Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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