Pode instalar a escola em qualquer lugar do Brasil, desde que seja em Viçosa: o processo de escolha da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, Minas Gerais (1920-1926)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Coelho, Dayana Debossan
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/33847
Resumo: A educação agrícola funcionou como vetor do desenvolvimento regional mineiro na Primeira República. Embora a Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) de Minas Gerais tenha se constituído num espaço de exercício do poder estadual, ela nasce a partir de políticas territoriais vinculadas à criação das escolas superiores agrícolas no país. Resultante da política agrária adotada a nível federal, a discussão a respeito do ensino superior agrícola conquistou visibilidade nas primeiras décadas republicanas em relação às narrativas do Congresso mineiro, as quais preconizavam a necessidade de modernização do território, de progresso da população e de desenvolvimento econômico. Almeja-se com esta tese analisar os filtros que, no plano ideológico, balizaram a escolha da cidade-sede que abrigaria a Escola: lugar saudável; abundância de água, terrenos suficientes; proximidade de uma pequena cidade; distância do centro da população; altitude. A comissão encarregada de delimitar a zona geográfica da Escola, chefiada por Peter Henry Rolfs e composta por importantes membros da elite rural e intelectual mineira, a saber: Arduíno Bolivar; Álvaro Astolfo da Silveira; e Mario Monteiro Machado impôs estudos técnicos preliminares das cidades examinadas, Ponte Nova, Ubá, Visconde do Rio Branco e Viçosa. Tal medida atendia à indispensabilidade de conhecimento científico sobre o lugar mais adequado ao recebimento da futura Escola, no entanto consistia também numa estratégia para escamotear os conflitos regionais ou entre as fracções da classe dominante agrária – até porque nas fontes pesquisadas (jornal A Cidade, documentos institucionais da ESAV, Anais da Assembleia e Mensagens do Congresso mineiros) não há qualquer menção à disputa entre as cidades. Nesse ínterim, fica latente a seguinte questão: que grupo seria preterido ou beneficiado com a proximidade ou a distância da Escola? Esta, no plano das narrativas, representaria um novo centro econômico, e sua localização poderia significar a vitória de um dos setores das fracções da classe agrária dominante. Outro elemento iluminador levado em consideração pela comissão no julgamento do melhor local para a implantação da ESAV foi o “sentimento geral de comunidade”. Acreditamos que quando o projeto da Escola foi lançado em 1920, as lideranças políticas mineiras tomaram posse da ideia, a fortaleceram e pleitearam este dispositivo para seus territórios. Através da análise do discurso da “gestação” da ESAV constatamos que na escolha do município que sediaria o estabelecimento de ensino superior agrícola, o critério político assumiu nítida centralidade em detrimento do critério técnico, apesar deste ter sido veementemente defendido nos enunciados discursivos. Concluímos que a Escola teve, pois, como finalidade selar a união entre modernização do território e regionalismo, em torno do projeto “vencedor” das fracções da classe dominante agrária viçosense.
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Resultante da política agrária adotada a nível federal, a discussão a respeito do ensino superior agrícola conquistou visibilidade nas primeiras décadas republicanas em relação às narrativas do Congresso mineiro, as quais preconizavam a necessidade de modernização do território, de progresso da população e de desenvolvimento econômico. Almeja-se com esta tese analisar os filtros que, no plano ideológico, balizaram a escolha da cidade-sede que abrigaria a Escola: lugar saudável; abundância de água, terrenos suficientes; proximidade de uma pequena cidade; distância do centro da população; altitude. A comissão encarregada de delimitar a zona geográfica da Escola, chefiada por Peter Henry Rolfs e composta por importantes membros da elite rural e intelectual mineira, a saber: Arduíno Bolivar; Álvaro Astolfo da Silveira; e Mario Monteiro Machado impôs estudos técnicos preliminares das cidades examinadas, Ponte Nova, Ubá, Visconde do Rio Branco e Viçosa. Tal medida atendia à indispensabilidade de conhecimento científico sobre o lugar mais adequado ao recebimento da futura Escola, no entanto consistia também numa estratégia para escamotear os conflitos regionais ou entre as fracções da classe dominante agrária – até porque nas fontes pesquisadas (jornal A Cidade, documentos institucionais da ESAV, Anais da Assembleia e Mensagens do Congresso mineiros) não há qualquer menção à disputa entre as cidades. Nesse ínterim, fica latente a seguinte questão: que grupo seria preterido ou beneficiado com a proximidade ou a distância da Escola? Esta, no plano das narrativas, representaria um novo centro econômico, e sua localização poderia significar a vitória de um dos setores das fracções da classe agrária dominante. Outro elemento iluminador levado em consideração pela comissão no julgamento do melhor local para a implantação da ESAV foi o “sentimento geral de comunidade”. Acreditamos que quando o projeto da Escola foi lançado em 1920, as lideranças políticas mineiras tomaram posse da ideia, a fortaleceram e pleitearam este dispositivo para seus territórios. Através da análise do discurso da “gestação” da ESAV constatamos que na escolha do município que sediaria o estabelecimento de ensino superior agrícola, o critério político assumiu nítida centralidade em detrimento do critério técnico, apesar deste ter sido veementemente defendido nos enunciados discursivos. Concluímos que a Escola teve, pois, como finalidade selar a união entre modernização do território e regionalismo, em torno do projeto “vencedor” das fracções da classe dominante agrária viçosense.Agricultural education worked as a vector of regional development in Minas Gerais state in the First Republic period. Although the Higher School of Agriculture and Veterinary (ESAV*) of Minas Gerais has constituted itself in a space of state power exercise, it arises from territorial policies linked to the creation of higher agricultural schools in the country. Resulting from the agrarian policy adopted at the federal level, the discussion concerning agricultural higher education gained visibility in the first republican decades in relation to the narratives of the Congress of Minas Gerais, which advocated the need for territory modernization, population progress and economic development. The aim of this doctorate dissertation is to analyze the filters which, on an ideological level, guided the choice of the host city that would house the School: healthy place; abundance of water, enough land; proximity to a small town; distance from the population center; altitude. The commission in charge of delimiting the geographical area of the School, headed by Peter Henry Rolfs and composed of important members of the rural and intellectual elite of Minas Gerais, namely: Arduíno Bolivar; Álvaro Astolfo da Silveira; and Mario Monteiro Machado imposed preliminary technical studies of the examined cities, Ponte Nova, Ubá, Visconde do Rio Branco and Viçosa. Such a measure met the indispensability of scientific knowledge about the most suitable place to receive the future School, however it also consisted of a strategy to conceal regional conflicts or conflicts between fractions of the agrarian ruling class – not least because in the researched sources (newspaper A Cidade, ESAV institutional documents, Annals of the Assembly and Messages from the Congress of Minas Gerais) there is no mention of the dispute between the cities. In the meantime, the following question remains latent: which group would be neglected or benefited from the proximity or distance from the School? This, in terms of narratives, would represent a new economic center, and its location could mean the victory of one of the dominant agrarian class fractional sectors. Another illuminating element taken into consideration by the commission in judging the best location for the ESAV was the “general sense of community”. We believe that when the School project was launched in 1920, the Minas Gerais political leaders took ownership of the idea, strengthened it and claimed this device for their territories. Through the analysis of ESAV's “gestation” discourse, we verified that in choosing the municipality which would host the agricultural higher education establishment, the political criterion assumed a clear centrality to the detriment of the technical criterion, despite this having been vehemently defended in the discursive statements. We conclude that the School had, therefore, the purpose of sealing the union between territory modernization and regionalism, around the “winning” project of the agrarian dominant class fractions of Viçosa. *Brazilian initials330 p.Binsztok, JacobChrysostomo, Maria Isabel de JesusSilva, Lucia Helena Pereira daMachado, Pedro José de OliveiraMaia, Doralice SátyroCoelho, Dayana Debossan2024-08-01T21:09:28Z2024-08-01T21:09:28Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfCOELHO, Dayana Debossan. Pode instalar a escola em qualquer lugar do Brasil, desde que seja em Viçosa: o processo de escolha da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, Minas Gerais (1920-1926). 2023. 330 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, 2023.https://app.uff.br/riuff/handle/1/33847CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2024-08-01T21:09:33Zoai:app.uff.br:1/33847Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:52:45.972693Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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