Loucura e sociedade: a trajetória da psiquiatria no Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rodrigues, Clara Martins
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/16831
Resumo: O presente trabalho se propõe a estudar e evidenciar as violações aos direitos humanos, que se fizeram historicamente presentes no exercício da Psiquiatria, especialmente no espaço asilar, ou seja, nas internações psiquiátricas.Tendo em vista esse objetivo, foi feita uma revisão histórica do conceito de Loucura, que o estudo mostrou ter nascido em um período específico, na Europa. Fundamentados sobretudo no pensamento do Filósofo e Historiador francês Michel Foucault, procuramos também entender quando e sob que circunstâncias surge a necessidade e a conveniência da internação dos chamados loucos. Esse caminho nos levou a tematizar o surgimento da própria Psiquiatria, enquanto disciplina teórica, sob a influência do trabalho de Philippe Pinel e de seu discípulo Jean-Étienne Esquirol. Tornou-se evidente o quanto a Psiquiatria e o processo de reclusão de pessoas consideradas, de algum modo, mentalmente incapazes de decidir sobre a sua própria vida, se ajustaram e atenderam às expectativas dominantes de ordem, segregação, limpeza e segurança. Essa constatação nos levou a colocar em questão o Poder, que, mais uma vez fundamentados em Foucault, pudemos compreender que se explicita e se exerce enquanto uma relação, em contínua interrelação com as práticas discursivas, com o saber. Saber-poder, enfraquecimento do louco, tornando-o objeto de tutela por não ser capaz de dirigir sua própria existência, devendo ser corrigido, normalizado, mostraram-se entidades inseparáveis. Caminhamos, então, no sentido de explicitar como esse movimento ocorreu no Brasil, desde o nascimento do primeiro asilo para doentes mentais, no Rio de Janeiro, passando pelos meados dos anos de 1950, quando surgem os primeiros psicofármacos, comprovadamente eficazes, até o final dos anos 1970, quando se iniciou a Reforma Psiquiátrica. Durante todo esse tempo, foi nítidas toda sorte de infrações aos direitos humanos, tentativas de sujeições de corpos e de vontades, disfarçadas de tratamentos e protegidas pela pretensa neutralidade da ciência. O momento posterior – a Reforma Psiquiátrica – foi também objeto de atenção do nosso texto, em um esforço de tornar visíveis os embates que se fizeram presentes, as múltiplas mudanças que foram necessárias, tanto no campo macropolítico, como no nível molecular. Terminamos o nosso texto, trazendo como caso a ser analisado, a experiência trágica, ocorrida no Hospital Colônia de Barbacena, um fato em nossa história que merece ser relembrado como um alerta para o presente e para o futuro.
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Esse caminho nos levou a tematizar o surgimento da própria Psiquiatria, enquanto disciplina teórica, sob a influência do trabalho de Philippe Pinel e de seu discípulo Jean-Étienne Esquirol. Tornou-se evidente o quanto a Psiquiatria e o processo de reclusão de pessoas consideradas, de algum modo, mentalmente incapazes de decidir sobre a sua própria vida, se ajustaram e atenderam às expectativas dominantes de ordem, segregação, limpeza e segurança. Essa constatação nos levou a colocar em questão o Poder, que, mais uma vez fundamentados em Foucault, pudemos compreender que se explicita e se exerce enquanto uma relação, em contínua interrelação com as práticas discursivas, com o saber. Saber-poder, enfraquecimento do louco, tornando-o objeto de tutela por não ser capaz de dirigir sua própria existência, devendo ser corrigido, normalizado, mostraram-se entidades inseparáveis. Caminhamos, então, no sentido de explicitar como esse movimento ocorreu no Brasil, desde o nascimento do primeiro asilo para doentes mentais, no Rio de Janeiro, passando pelos meados dos anos de 1950, quando surgem os primeiros psicofármacos, comprovadamente eficazes, até o final dos anos 1970, quando se iniciou a Reforma Psiquiátrica. Durante todo esse tempo, foi nítidas toda sorte de infrações aos direitos humanos, tentativas de sujeições de corpos e de vontades, disfarçadas de tratamentos e protegidas pela pretensa neutralidade da ciência. O momento posterior – a Reforma Psiquiátrica – foi também objeto de atenção do nosso texto, em um esforço de tornar visíveis os embates que se fizeram presentes, as múltiplas mudanças que foram necessárias, tanto no campo macropolítico, como no nível molecular. Terminamos o nosso texto, trazendo como caso a ser analisado, a experiência trágica, ocorrida no Hospital Colônia de Barbacena, um fato em nossa história que merece ser relembrado como um alerta para o presente e para o futuro.The present work intends to study and give evidence to the human rights violations that have been historically present in the Psychiatry practice, especially in the asylum area, that is, in Psychiatric hospitalizations. In view of this objective, a historical review of the concept of madness was made, which the study showed to have it’s origins in a specific period in Europe. Grounded principally in the thinking of the French Philosopher and Historian Michel Foucault, we also try to understand when and under what circumstances the necessity and convenience of the hospitalization of so-called madmen arises. This path led us to thematize the emergence of Psychiatry itself as a theoretical discipline under the influence of the work of Philippe Pinel and his disciple Jean-Étienne Esquirol. It became clear how much psychiatry and the process of reclusion of persons considered in some way mentally incapable of making their own decisions, adjusted themselves and met the dominant expectations of order, segregation, cleanliness and security. This finding led us to question the Power, which, once again based on Foucault, we could understand that is exercised as a relationship, in continuous interrelation with discursive practices, with knowledge. Know-power, weakening of the madman,making him the object of tutelage for not being able to have direction for his own existence, having to be corrected, normalized, showed themselves inseparable entities. We then went on to explain how this movement occurred in Brazil, from the start of the first asylum for the mentally ill, in Rio de Janeiro, going through the mid1950s, when the first psychopharmacological drugs proved to be effective until the end Of the 1970s, when Psychiatric Reform began. Throughout this time, all sorts of human rights violations took place, attempts at subjection of bodies and wills, disguised as treatments and protected by the alleged neutrality of science, have been clear. The later moment - the Psychiatric Reform - was also the subject of our text, in an effort to make visible the clashes that were present, the multiple changes that were necessary, both in the macropolitical field and at the molecular level. We end our text, bringing as a case to be analyzed the tragic experience, which occurred in the Psychiatric Hospital of Barbacena, a fact in our history that deserves to be remembered as an alert for the future.88 f.Universidade Federal FluminenseNiteróiMattar, Cristine MonteiroFragale Filho, RobertoLobão, RonaldoMartins, Laércio MeloRodrigues, Clara Martins2021-02-05T04:57:58Z2021-02-05T04:57:58Z2017info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisapplication/pdfRODRIGUES, Clara Martins. Loucura e sociedade: a trajetória da psiquiatria no Brasil. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2017.https://app.uff.br/riuff/handle/1/16831Aluno de Graduaçãohttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-06-14T17:45:50Zoai:app.uff.br:1/16831Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:48:59.795257Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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