Milton Santos, intérprete do Brasil: uma contribuição geográfica ao estudo da realidade brasileira

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Machado, Thiago Adriano
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/28306
Resumo: A obra acadêmica de Milton Santos (1926-2001) possui grande relevância na geografia brasileira e latinoamericana, tal como nas ciências humanas em geral. Contudo, poucas análises buscaram discutir o seu lugar no pensamento social brasileiro e as especificidades da sua interpretação geográfica do Brasil. A presente tese pretende, portanto, contribuir com esse debate da relação da geografia com o pensamento social a partir da análise dos trabalhos em que Milton Santos tratou sobre o Brasil, utilizando-se de artigos científicos, livros, artigos de opinião e entrevistas, mas centrando-se em quatro principais obras: “O Espaço Dividido” (1975), “O Espaço do Cidadão” (1987), “A Urbanização Brasileira” (1993) e “O Brasil” (2001). O desafio metodológico de lidar com a história intelectual nos sugere como alternativa o recurso à “abordagem contextual”, a exemplo das proposições de Vicent Berdoulay, integrando os elementos cognitivos e contextuais, mas também recorrendo à ideia de “campo científico”, conforme Pierre Bourdieu, como forma de compreender a relação de Milton Santos com o pensamento social brasileiro. A sua interpretação geográfica do Brasil articula, desse modo, três principais conceitos desenvolvidos na sua teoria social crítica do espaço, o “território usado”, a “formação socioespacial” e o “meio geográfico”. Parte do pressuposto de que o espaço geográfico se dá pelo conjunto indissociável de um sistema de objeto e um sistema de ações, privilegiando na sua análise os usos que os atores atribuem ao território. Desse modo, a construção de uma interpretação geográfica do país é aqui ancorada nos efeitos das modernizações sobre os usos do território, mas também na incorporação dessas modernizações no próprio território por meio da expansão daquilo que Milton Santos chama de “meio técnico-científico-informacional”. Este processo fornece as bases para a principal formulação miltoniana sobre o Brasil, consolidada na sua proposta de regionalização chamada “Os Quatro Brasis”, na qual as regiões Sul e Sudeste do país são reunidas naquilo que o autor chama de “Região Concentrada” - espaço de modernização generalizada -, em torno do qual gravitam as demais regiões - espaços de modernização seletiva. A proposta de regionalização é aqui tratada como a forma propriamente geográfica de interpretar a realidade, integrando elementos cognitivos e objetivos, e que dialoga com as demais contribuições do autor, resumidas nas ideias do Brasil como “país subdesenvolvido industrializado” e como “espaço nacional da economia internacional”. Em ambas proposições, a análise é centrada na forma de inserção da economia brasileira na divisão internacional do trabalho e no modo em que esta dinâmica produz seus efeitos no território nacional. Dessa forma, a formação socioespacial do Brasil é compreendida a partir da primazia do Estado antes da nação, o qual, em aliança com setores do capital monopolista, é veículo de processos de modernização que favorecem amplas assimetrias territoriais, especialmente no campo da cidadania.
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A presente tese pretende, portanto, contribuir com esse debate da relação da geografia com o pensamento social a partir da análise dos trabalhos em que Milton Santos tratou sobre o Brasil, utilizando-se de artigos científicos, livros, artigos de opinião e entrevistas, mas centrando-se em quatro principais obras: “O Espaço Dividido” (1975), “O Espaço do Cidadão” (1987), “A Urbanização Brasileira” (1993) e “O Brasil” (2001). O desafio metodológico de lidar com a história intelectual nos sugere como alternativa o recurso à “abordagem contextual”, a exemplo das proposições de Vicent Berdoulay, integrando os elementos cognitivos e contextuais, mas também recorrendo à ideia de “campo científico”, conforme Pierre Bourdieu, como forma de compreender a relação de Milton Santos com o pensamento social brasileiro. A sua interpretação geográfica do Brasil articula, desse modo, três principais conceitos desenvolvidos na sua teoria social crítica do espaço, o “território usado”, a “formação socioespacial” e o “meio geográfico”. Parte do pressuposto de que o espaço geográfico se dá pelo conjunto indissociável de um sistema de objeto e um sistema de ações, privilegiando na sua análise os usos que os atores atribuem ao território. Desse modo, a construção de uma interpretação geográfica do país é aqui ancorada nos efeitos das modernizações sobre os usos do território, mas também na incorporação dessas modernizações no próprio território por meio da expansão daquilo que Milton Santos chama de “meio técnico-científico-informacional”. Este processo fornece as bases para a principal formulação miltoniana sobre o Brasil, consolidada na sua proposta de regionalização chamada “Os Quatro Brasis”, na qual as regiões Sul e Sudeste do país são reunidas naquilo que o autor chama de “Região Concentrada” - espaço de modernização generalizada -, em torno do qual gravitam as demais regiões - espaços de modernização seletiva. A proposta de regionalização é aqui tratada como a forma propriamente geográfica de interpretar a realidade, integrando elementos cognitivos e objetivos, e que dialoga com as demais contribuições do autor, resumidas nas ideias do Brasil como “país subdesenvolvido industrializado” e como “espaço nacional da economia internacional”. Em ambas proposições, a análise é centrada na forma de inserção da economia brasileira na divisão internacional do trabalho e no modo em que esta dinâmica produz seus efeitos no território nacional. Dessa forma, a formação socioespacial do Brasil é compreendida a partir da primazia do Estado antes da nação, o qual, em aliança com setores do capital monopolista, é veículo de processos de modernização que favorecem amplas assimetrias territoriais, especialmente no campo da cidadania.Milton Santos' academic work (1926-2001) has great relevance in Brazilian and Latin American geography, as well as in the human sciences in general. However, few analyzes have sought to discuss its place in Brazilian social thought and the specifics of its geographical interpretation of Brazil. Therefore, the present thesis intends to contribute to this debate about the relationship between geography and social thought from the analysis of the works in which Milton Santos dealt with Brazil, using scientific articles, books, opinion articles and interviews, but focusing on four main works: “The Shared Space” (1975), “The Citizen's Space” (1987), “The Brazilian Urbanization” (1993) and “The Brazil” (2001). The methodological challenge of dealing with intellectual history suggests as an alternative the use of the “contextual approach”, following Vicent Berdoulay's propositions, integrating the cognitive and contextual elements, but also resorting to the idea of “scientific field”, by Pierre Bourdieu, as a way of understanding Milton Santos' relationship with Brazilian social thought. His geographical interpretation of Brazil thus articulates three main concepts developed in his critical social theory of space, the “used territory”, the “socio-spatial formation” and the “geographical milieu”. It starts from the assumption that the geographic space is given by the inseparable set of a system of objects and a system of actions, privileging in its analysis the uses that the actors attribute to the territory. Thus, the construction of a geographical interpretation of the country is anchored here in the effects of modernizations on the uses of the territory, but also in the incorporation of these modernizations in the territory itself through the expansion of what Milton Santos calls “technical-scientific-informational milieu”. " This process provides the basis for the main Miltonian formulation of Brazil, consolidated in its regionalization proposal called “The Four Brazils”, in which the South and Southeast regions of the country are brought together in what the author calls the “Concentrated Region” - space of generalized modernization - around which the other regions gravitate - spaces of selective modernization. The proposal of regionalization is treated here as the proper geographical way of interpreting reality, integrating cognitive and objective elements, and which dialogues with the author's other contributions, summarized in ideas of Brazil as an “industrialized underdeveloped country” and as a “national space of international economy". In both propositions, the analysis is centered on the insertion of the Brazilian economy in the international division of labor and the way in which this dynamic produces its effects in the national territory. Thus, the socio-spatial formation of Brazil is understood from the primacy of the state before the nation, which, in alliance with sectors of monopoly capital, is a vehicle of modernization processes that favor broad territorial asymmetries, especially in the field of citizenship.251 p.Moreira, RuyBarbosa, Jorge LuizOliveira, Márcio Piñon deMachado, Mônica SampaioBiteti, Mariane de OliveiraMachado, Thiago Adriano2023-03-23T14:52:35Z2023-03-23T14:52:35Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfMACHADO, Thiago Adriano. Milton Santos, intérprete do Brasil: uma contribuição geográfica ao estudo da realidade brasileira. 2019. 251 f. 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