Corolários das perdas: um teatro para tempos alegres (repressão e resistências nas peças de Hilda Hilst)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rodrigues, Tatiana Franca
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFJF
Texto Completo: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/1956
Resumo: As oito peças que compõem o Teatro Completo de Hilda Hilst foram escritas durante a década de 1960, mais precisamente entre 1967 e 1969, e configuram uma experiência estética que a autora não tornou a repetir em nenhum outro momento de seu trabalho poético. Sem dúvida, a opção pelo teatro é resposta política ao contexto da época, pois, tanto o cenário posterior à Segunda Guerra Mundial quanto a Ditadura Militar brasileira caracterizaram um quadro de coerção das subjetividades que, por promover um processo alienatório das consciências na sociedade, passou a suscitar uma atitude de engajamento nas artes. Não obstante, o teatro hilstiano pouco se aproxima ao tipo de engajamento artístico difundido no Brasil de então; ao contrário dos CPC e teatro de arena, para citar apenas dois exemplos, a dicção essencialmente lírica de Hilst jamais buscou a clareza didática ou os modelos explicitamente brechtianos, como em todo o seu trabalho literário, o teatro é, antes, uma reflexão sobre a medida da palavra, ou melhor, sobre que tipo de palavra é possível em arte num contexto de exceção – e, por isso mesmo, não se torna datado. O teatro de Hilda Hilst, ao mapear o contexto social em que estava inserido, promove uma leitura do estatuto do humano, buscando avaliar-lhe as potencialidades, no sentido nietzschiano mesmo, e questionar o projeto iluminista de homem ao mesmo tempo em que duvida de uma certa perspectiva metafísica: em Hilst, a razão é insuficiente para pensar o mundo da mesma forma que o é a fé; a imagem de Deus, reincidente em várias peças, é metáfora para pensar o vazio do querer humano e a perda de sua de sensibilidade crítica que sustentam o mesmo fascismo de que são vítimas. Não se trata, contudo, de uma visão distópica de mundo em Hilst, mas de uma “utopia possível”, entendendo o próprio ato de escrita enquanto forma de resistência ao processo de reificação e barbárie e, portanto, ato de engajamento, o que, por si só, já significa a esperança transformadora que mantém o trabalho hilstiano com teatro atual tanto como experiência de linguagem quanto abordagem do humano.
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Sem dúvida, a opção pelo teatro é resposta política ao contexto da época, pois, tanto o cenário posterior à Segunda Guerra Mundial quanto a Ditadura Militar brasileira caracterizaram um quadro de coerção das subjetividades que, por promover um processo alienatório das consciências na sociedade, passou a suscitar uma atitude de engajamento nas artes. Não obstante, o teatro hilstiano pouco se aproxima ao tipo de engajamento artístico difundido no Brasil de então; ao contrário dos CPC e teatro de arena, para citar apenas dois exemplos, a dicção essencialmente lírica de Hilst jamais buscou a clareza didática ou os modelos explicitamente brechtianos, como em todo o seu trabalho literário, o teatro é, antes, uma reflexão sobre a medida da palavra, ou melhor, sobre que tipo de palavra é possível em arte num contexto de exceção – e, por isso mesmo, não se torna datado. O teatro de Hilda Hilst, ao mapear o contexto social em que estava inserido, promove uma leitura do estatuto do humano, buscando avaliar-lhe as potencialidades, no sentido nietzschiano mesmo, e questionar o projeto iluminista de homem ao mesmo tempo em que duvida de uma certa perspectiva metafísica: em Hilst, a razão é insuficiente para pensar o mundo da mesma forma que o é a fé; a imagem de Deus, reincidente em várias peças, é metáfora para pensar o vazio do querer humano e a perda de sua de sensibilidade crítica que sustentam o mesmo fascismo de que são vítimas. Não se trata, contudo, de uma visão distópica de mundo em Hilst, mas de uma “utopia possível”, entendendo o próprio ato de escrita enquanto forma de resistência ao processo de reificação e barbárie e, portanto, ato de engajamento, o que, por si só, já significa a esperança transformadora que mantém o trabalho hilstiano com teatro atual tanto como experiência de linguagem quanto abordagem do humano.The eight plays that compose the Complete Theater of Hilda Hilst had been written during the 60's, more precisely between 1967 and 1969, and configure an aesthetic experience that the author did not repeat at any other moment of her poetical work. Beyond doubt, the choice for theater is a political response to the context of that time since, not only the later scenery of the World War II, but also the Brazilian Military Dictatorship had characterized a picture of coercion of the subjectiveness that by promoting a process of alienation in society, began to suscitate an attitude of engagement in arts. Despite this, the Hilstian theater is not like the kind of engagement which was disseminated in Brazil at that time; in contrast to the CPC and arena theater, just to mention two examples, the essentially lyric diction of Hilst never looked for the intelligibility of didatics or the explicitly Brechtian patterns. As in all her literary work, the theater is a reflection about the dimension of the word, or to be more accurate, about which kind of word is possible in art on a context of exception- and, therefore, it does not become outdated. When the theater of Hilda Hilst delineates the social context where it was inserted, it promotes a reading of the human being statute in order to evaluate its potentialities, in the Nietzschian sense, and questioning the iluminist project of a man who at the same time doubts of a certain metaphysical perspective: in Hilst, the reason is insufficient to think the world the same way that faith does; the image of God, recidivist in many parts, is a metaphor to think the emptiness of the human desire and the loss of its critical sensitivity that supports the same fascism that they are victims. However, it is not about a dystopic view of the world in Hilst, but it is about a “possible utopia”, understanding the proper act of writing as a way of resistance to the reification process and barbarity and, therefore, the act of engagement that, by itself, already means the transforming hope that keeps the Hilstian work with current theater as experience of language and the human being approach.CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorporUniversidade Federal de Juiz de ForaPrograma de Pós-graduação em Letras: Estudos LiteráriosUFJFBrasilFaculdade de LetrasCNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LETRASHilda HilstTeatro políticoLiteratura contemporâneaAnos 60UtopiaPolitical theater,Contemporary literatureThe sixties (60's)UtopiaCorolários das perdas: um teatro para tempos alegres (repressão e resistências nas peças de Hilda Hilst)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFJFinstname:Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)instacron:UFJFTHUMBNAILtatianafrancarodrigues.pdf.jpgtatianafrancarodrigues.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1180https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/1956/4/tatianafrancarodrigues.pdf.jpg54b7d4c870f782ec184036f7a9b628e1MD54ORIGINALtatianafrancarodrigues.pdftatianafrancarodrigues.pdfapplication/pdf670330https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/1956/1/tatianafrancarodrigues.pdfcaf7d689334c0aa4263e162bf14e4d63MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81866https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/1956/2/license.txt43cd690d6a359e86c1fe3d5b7cba0c9bMD52TEXTtatianafrancarodrigues.pdf.txttatianafrancarodrigues.pdf.txtExtracted texttext/plain198058https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/1956/3/tatianafrancarodrigues.pdf.txt60278c65c7182cc960cc60693df36f0aMD53ufjf/19562019-11-07 11:51:09.901oai:hermes.cpd.ufjf.br:ufjf/1956TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEKCkNvbSBhIGFwcmVzZW50YcOnw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCB2b2PDqiAobyBhdXRvciAoZXMpIG91IG8gdGl0dWxhciBkb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgYXV0b3IpIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIApJbnN0aXR1Y2lvbmFsIG8gZGlyZWl0byBuw6NvLWV4Y2x1c2l2byBkZSByZXByb2R1emlyLCAgdHJhZHV6aXIgKGNvbmZvcm1lIGRlZmluaWRvIGFiYWl4byksIGUvb3UgZGlzdHJpYnVpciBhIApzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIHBvciB0b2RvIG8gbXVuZG8gbm8gZm9ybWF0byBpbXByZXNzbyBlIGVsZXRyw7RuaWNvIGUgZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIApmb3JtYXRvcyDDoXVkaW8gb3UgdsOtZGVvLgoKVm9jw6ogY29uY29yZGEgcXVlIG8gRGVwb3NpdGEgcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBwYXJhIHF1YWxxdWVyIG1laW8gb3UgZm9ybWF0byAKcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBvIERlcG9zaXRhIHBvZGUgbWFudGVyIG1haXMgZGUgdW1hIGPDs3BpYSBkZSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIHBhcmEgZmlucyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBiYWNrLXVwIAplIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgdm9jw6ogdGVtIG8gcG9kZXIgZGUgY29uY2VkZXIgb3MgZGlyZWl0b3MgY29udGlkb3MgbmVzdGEgbGljZW7Dp2EuIApWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgCmRlIG5pbmd1w6ltLgoKQ2FzbyBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gY29udGVuaGEgbWF0ZXJpYWwgcXVlIHZvY8OqIG7Do28gcG9zc3VpIGEgdGl0dWxhcmlkYWRlIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgdm9jw6ogZGVjbGFyYSBxdWUgCm9idGV2ZSBhIHBlcm1pc3PDo28gaXJyZXN0cml0YSBkbyBkZXRlbnRvciBkb3MgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgcGFyYSBjb25jZWRlciBhbyBEZXBvc2l0YSBvcyBkaXJlaXRvcyBhcHJlc2VudGFkb3MgCm5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGRlIHByb3ByaWVkYWRlIGRlIHRlcmNlaXJvcyBlc3TDoSBjbGFyYW1lbnRlIGlkZW50aWZpY2FkbyBlIHJlY29uaGVjaWRvIG5vIHRleHRvIApvdSBubyBjb250ZcO6ZG8gZGEgcHVibGljYcOnw6NvIG9yYSBkZXBvc2l0YWRhLgoKQ0FTTyBBIFBVQkxJQ0HDh8ODTyBPUkEgREVQT1NJVEFEQSBURU5IQSBTSURPIFJFU1VMVEFETyBERSBVTSBQQVRST0PDjU5JTyBPVSBBUE9JTyBERSBVTUEgQUfDik5DSUEgREUgRk9NRU5UTyBPVSBPVVRSTyAKT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08gQ09NTyBUQU1Cw4lNIEFTIERFTUFJUyBPQlJJR0HDh8OVRVMgCkVYSUdJREFTIFBPUiBDT05UUkFUTyBPVSBBQ09SRE8uCgpPIERlcG9zaXRhIHNlIGNvbXByb21ldGUgYSBpZGVudGlmaWNhciBjbGFyYW1lbnRlIG8gc2V1IG5vbWUgKHMpIG91IG8ocykgbm9tZShzKSBkbyhzKSBkZXRlbnRvcihlcykgZG9zIGRpcmVpdG9zIAphdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28sIGUgbsOjbyBmYXLDoSBxdWFscXVlciBhbHRlcmHDp8OjbywgYWzDqW0gZGFxdWVsYXMgY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KRepositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufjf.br/oai/requestopendoar:2019-11-07T13:51:09Repositório Institucional da UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)false
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