O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Alice Oliveira Rezende
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AU3L4W
Resumo: A presente dissertação objetiva investigar alguns aspectos da constituição subjetiva, a partir de nossa hipótese, baseada na perspectiva lacaniana, da aquisição da criança pela linguagem. Procuramos esclarecer determinadas nuances da clínica de crianças em risco de subjetivação, denominada genericamente por psicopatologias graves da infância. Ao nos aproximarmos dos processos que engendram as emissões falantes do infans, cernimos os primeiros modos de testemunhar seu afetamento pela linguagem. Pesquisamos na obra de Freud sua concepção quanto às gênesis da relação entre o neonato e a linguagem. Constatamos, então, que o pai da psicanálise nos permitiria supor que, embora submerso no campo simbólico, o infans não dispõe inicialmente de um aparelho psíquico que lhe possibilite discretizar, articular e registrar as unidades da língua em conformidade com à língua partilhada. Ao considerarmos, com Lacan, que a linguagem é inoculada pelo Outro primordial, perscrutamos os momentos lógicos de gozo, angústia e desejo atravessados pela criança desde a relação transitivista até os momentos de extração dos objetos pulsionais (objetos a: oral, anal, olhar e voz). Alinhavamos, ainda, o espectro de incidência da falta de satisfação, constitutivo do sujeito: privação (real), frustração (imaginário) e castração (simbólico). Supomos, então, que, primeiramente, o sujeito seria apreendido por um bloco sonoro privilegiado singularmente pormeio de uma fruição de gozo, sem operar ainda nenhuma função de comunicação. A este modo de funcionamento inaugural, Freud designou como prazer do nonsense, no qual a assonância prepondera. Trata-se da primeira intervenção da linguagem estabelecida por Lacan no termo lalíngua, puro nonsense. Como equívoco original, lalíngua repercutirá em todas as formas do dizer, configurando o mal entendido estrutural entre os falantes. Ademais, a noção de holófrase foi utilizada por Lacan, para designar os empilhamentos significantes congelados, isto é, não discretizados. Lalíngua e holófrase abarcam modos de verbalizar das crianças que, a despeito de ainda situarem-se externamente ao discurso, atestam modos de ressonância da linguagem no corpo. Furando ou comprimindo a cadeia significante, ambas as vocalizações revelam uma extensão simbólica em que o sujeito pode transitar. Por fim, pondera-se que ao reconhecermos, em nossas operações clínicas, as bordas e as franjas que testemunham a ressonância da linguagem no sujeito, o objeto voz está em jogo. Encontraríamos, assim, modalizações passíveis de desdobrar alguma distância entre linguagem e sujeito, afastamento indispensável para que o sujeito possa mediar, com a linguagem, a orientação de seu desejo.
id UFMG_046d74c5fd80f748ae5fca788b911ab9
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-AU3L4W
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Angela Maria Resende VorcaroMarcia Maria Rosa VieiraAriana LuceroAlice Oliveira Rezende2019-08-10T19:06:43Z2019-08-10T19:06:43Z2017-02-23http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AU3L4WA presente dissertação objetiva investigar alguns aspectos da constituição subjetiva, a partir de nossa hipótese, baseada na perspectiva lacaniana, da aquisição da criança pela linguagem. Procuramos esclarecer determinadas nuances da clínica de crianças em risco de subjetivação, denominada genericamente por psicopatologias graves da infância. Ao nos aproximarmos dos processos que engendram as emissões falantes do infans, cernimos os primeiros modos de testemunhar seu afetamento pela linguagem. Pesquisamos na obra de Freud sua concepção quanto às gênesis da relação entre o neonato e a linguagem. Constatamos, então, que o pai da psicanálise nos permitiria supor que, embora submerso no campo simbólico, o infans não dispõe inicialmente de um aparelho psíquico que lhe possibilite discretizar, articular e registrar as unidades da língua em conformidade com à língua partilhada. Ao considerarmos, com Lacan, que a linguagem é inoculada pelo Outro primordial, perscrutamos os momentos lógicos de gozo, angústia e desejo atravessados pela criança desde a relação transitivista até os momentos de extração dos objetos pulsionais (objetos a: oral, anal, olhar e voz). Alinhavamos, ainda, o espectro de incidência da falta de satisfação, constitutivo do sujeito: privação (real), frustração (imaginário) e castração (simbólico). Supomos, então, que, primeiramente, o sujeito seria apreendido por um bloco sonoro privilegiado singularmente pormeio de uma fruição de gozo, sem operar ainda nenhuma função de comunicação. A este modo de funcionamento inaugural, Freud designou como prazer do nonsense, no qual a assonância prepondera. Trata-se da primeira intervenção da linguagem estabelecida por Lacan no termo lalíngua, puro nonsense. Como equívoco original, lalíngua repercutirá em todas as formas do dizer, configurando o mal entendido estrutural entre os falantes. Ademais, a noção de holófrase foi utilizada por Lacan, para designar os empilhamentos significantes congelados, isto é, não discretizados. Lalíngua e holófrase abarcam modos de verbalizar das crianças que, a despeito de ainda situarem-se externamente ao discurso, atestam modos de ressonância da linguagem no corpo. Furando ou comprimindo a cadeia significante, ambas as vocalizações revelam uma extensão simbólica em que o sujeito pode transitar. Por fim, pondera-se que ao reconhecermos, em nossas operações clínicas, as bordas e as franjas que testemunham a ressonância da linguagem no sujeito, o objeto voz está em jogo. Encontraríamos, assim, modalizações passíveis de desdobrar alguma distância entre linguagem e sujeito, afastamento indispensável para que o sujeito possa mediar, com a linguagem, a orientação de seu desejo.Abstract: The present dissertation aims to investigate some aspects of the subjective constitution from our hypothesis, based on the Lacanian perspective, of the acquisition of the child by language. We intended to clarify certain nuances of the clinic with children at subjectivation risk, generically named as severe infantile psychopathologies. By approaching the processes that engender the infans speech emissions, we discerned the first modes of testifying hers/his affectation by language. We searched for Freuds conception regarding the genesis of the relation between the neonate and language. We then verified that the father of psychoanalysis would allow us to suppose that, albeit submersed in the symbolic field, the infans does not initially dispose of a mental apparatus that would enable her/him to discretize, articulate and register the unities of language in conformity to the shared language. Inconsidering, with Lacan, that language is inoculated by the primordial Other, we perscrutated the logical moments of jouissance, angst and desire traversed by the child, from the transitivistic relation to the moments of extraction of the instinctual objects (objects a: oral, anal, gaze and voice). Still, we basted the specter of incidence of the lack of satisfaction constitutive of the subject: deprivation (real), frustration (imaginary) and castration (symbolic). We then supposed that, firstly, the subject would be apprehended by a sonorous block, privileged solely through a jouissance fruition, still without any communication function. Freud designated this inaugural functioning mode as pleasure of the nonsense, in which the assonance preponderates. It is the first intervention of language, established by Lacan through the term lalangue, pure nonsense. As original equivoque, lalangue will reverberate in all forms of saying, setting up the structural misunderstanding between thespeaking beings. Furthermore, the notion of holophrase was used by Lacan to designate the frozen signifiers stackings, that is, non-discretized signifiers. Lalangue and holophrase embrace childrens ways of verbalizing, which, despite still being located externally to speech, attest modes of language resonance in the body. Piercing or compressing the signifier chain, both these vocalizations reveal the symbolic extension in which the subject can transit. Lastly, one ponders that, by recognizing in our clinical operations the edges and fringes that testify the resonance of language in the subject, the object voice is at stake. We would, thus, find modalizations susceptible of unfolding some distance between language and subject, which is indispensable for the subject to be able to mediate, through language, the orientation of hers/his desire.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGPsicopatologia infantilCrianças LinguagemPsicologiaConstituição do sujeitoHolófraseNonsenseOutroLalínguaPsicopatologias graves da infânciaObjeto a vozO vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfânciainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALo_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdfapplication/pdf14530180https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AU3L4W/1/o_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdfc30cc6006225bf0ccbe15d5d588e253bMD51TEXTo_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdf.txto_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdf.txtExtracted texttext/plain456343https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AU3L4W/2/o_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdf.txt1361135ee10c3d19dab27d86e00716fdMD521843/BUOS-AU3L4W2019-11-14 06:18:34.937oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-AU3L4WRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T09:18:34Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
title O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
spellingShingle O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
Alice Oliveira Rezende
Constituição do sujeito
Holófrase
Nonsense
Outro
Lalíngua
Psicopatologias graves da infância
Objeto a voz
Psicopatologia infantil
Crianças Linguagem
Psicologia
title_short O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
title_full O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
title_fullStr O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
title_full_unstemmed O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
title_sort O vir-a-ser sujeito: questões preliminares ao estudo das graves psicopatologias dainfância
author Alice Oliveira Rezende
author_facet Alice Oliveira Rezende
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Angela Maria Resende Vorcaro
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Marcia Maria Rosa Vieira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Ariana Lucero
dc.contributor.author.fl_str_mv Alice Oliveira Rezende
contributor_str_mv Angela Maria Resende Vorcaro
Marcia Maria Rosa Vieira
Ariana Lucero
dc.subject.por.fl_str_mv Constituição do sujeito
Holófrase
Nonsense
Outro
Lalíngua
Psicopatologias graves da infância
Objeto a voz
topic Constituição do sujeito
Holófrase
Nonsense
Outro
Lalíngua
Psicopatologias graves da infância
Objeto a voz
Psicopatologia infantil
Crianças Linguagem
Psicologia
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Psicopatologia infantil
Crianças Linguagem
Psicologia
description A presente dissertação objetiva investigar alguns aspectos da constituição subjetiva, a partir de nossa hipótese, baseada na perspectiva lacaniana, da aquisição da criança pela linguagem. Procuramos esclarecer determinadas nuances da clínica de crianças em risco de subjetivação, denominada genericamente por psicopatologias graves da infância. Ao nos aproximarmos dos processos que engendram as emissões falantes do infans, cernimos os primeiros modos de testemunhar seu afetamento pela linguagem. Pesquisamos na obra de Freud sua concepção quanto às gênesis da relação entre o neonato e a linguagem. Constatamos, então, que o pai da psicanálise nos permitiria supor que, embora submerso no campo simbólico, o infans não dispõe inicialmente de um aparelho psíquico que lhe possibilite discretizar, articular e registrar as unidades da língua em conformidade com à língua partilhada. Ao considerarmos, com Lacan, que a linguagem é inoculada pelo Outro primordial, perscrutamos os momentos lógicos de gozo, angústia e desejo atravessados pela criança desde a relação transitivista até os momentos de extração dos objetos pulsionais (objetos a: oral, anal, olhar e voz). Alinhavamos, ainda, o espectro de incidência da falta de satisfação, constitutivo do sujeito: privação (real), frustração (imaginário) e castração (simbólico). Supomos, então, que, primeiramente, o sujeito seria apreendido por um bloco sonoro privilegiado singularmente pormeio de uma fruição de gozo, sem operar ainda nenhuma função de comunicação. A este modo de funcionamento inaugural, Freud designou como prazer do nonsense, no qual a assonância prepondera. Trata-se da primeira intervenção da linguagem estabelecida por Lacan no termo lalíngua, puro nonsense. Como equívoco original, lalíngua repercutirá em todas as formas do dizer, configurando o mal entendido estrutural entre os falantes. Ademais, a noção de holófrase foi utilizada por Lacan, para designar os empilhamentos significantes congelados, isto é, não discretizados. Lalíngua e holófrase abarcam modos de verbalizar das crianças que, a despeito de ainda situarem-se externamente ao discurso, atestam modos de ressonância da linguagem no corpo. Furando ou comprimindo a cadeia significante, ambas as vocalizações revelam uma extensão simbólica em que o sujeito pode transitar. Por fim, pondera-se que ao reconhecermos, em nossas operações clínicas, as bordas e as franjas que testemunham a ressonância da linguagem no sujeito, o objeto voz está em jogo. Encontraríamos, assim, modalizações passíveis de desdobrar alguma distância entre linguagem e sujeito, afastamento indispensável para que o sujeito possa mediar, com a linguagem, a orientação de seu desejo.
publishDate 2017
dc.date.issued.fl_str_mv 2017-02-23
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-10T19:06:43Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-10T19:06:43Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AU3L4W
url http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AU3L4W
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AU3L4W/1/o_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AU3L4W/2/o_vir_a_ser_sujeito_quest_es_preliminares_ao_estudo_das_graves__psicopatologias_da_inf_ncia__disserta__o_alice_oliveira_rezende__c_pia.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv c30cc6006225bf0ccbe15d5d588e253b
1361135ee10c3d19dab27d86e00716fd
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801676879758884864