Ludwik Fleck e a historiografia da ciência: diagnóstico de um estilo de pensamento segundo as ciênciasda vida

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marcia Maria Martins Parreiras
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/VCSA-6XTGF7
Resumo: A partir da análise dos principais artigos filosóficos do médico emicrobiologista polonês Ludwik Fleck e, mais especificamente, de sua principal obra, o livro Emergência e Desenvolvimento de um Fato Científico, 1935, além de investigações das particularidades do contexto em que viveu, pretende-se compreender a gênese e o desenvolvimento de suas idéias, e, em particular, discutir de que maneira sua formação no campo das Ciências da Vida interferiu sobre seu pensamentofilosófico. Além disso, é nosso objetivo estabelecer uma comparação entre a proposta de Fleck e a elaborada por Thomas Kuhn, já que os conceitos de estilo de pensamento, pensamento coletivo e pré-idéias, bem como os pressupostos fleckianos fundamentados em um entendimento evolucionário do desenvolvimento científico, parecem oferecer alternativas aos problemas encontrados pelas premissas kuhnianas de revolução científica, paradigma e incomensurabilidade. Em termos gerais, esse estudo levou-nos à compreensão de que Fleck, ao desenvolver seus trabalhos filosóficos, foi influenciado pelo ambiente interdisciplinar de sua cidade natal, Lvóv, e, ainda, pelo Círculo de Viena, num sentido de oposição, e pela Escola Polonesa de Filosofia e Medicina, num sentido de acordo. Fleck, porém, ampliou as análises desenvolvidas pela Escola Polonesa para o conhecimento em geral, sistematizando suas reflexões e propondo a chamada Epistemologia Comparativa. Concernente à formação de Fleck no campo das Ciências da Vida, ele, por assumir uma perspectiva holística em relação aofenômeno patológico e, ainda, o entendimento de que as teorias na microbiologia e na imunologia tendiam a alterar-se ao longo do tempo, desenvolveu uma teoria epistemológica tendo como ponto de vista esses pressupostos, ou seja, uma oposição ao reducionismo e à idéia de verdade imutável/fixa dos conceitos científicos. Além disso, a formação biológica de Fleck permitiu que ele desenvolvesse um olhar evolutivo sobre o desenvolvimento da ciência. Assim, seus conceitos impregnam-se de um caráter mais flexível, maleável, contrariamente ao conceito hermético kuhniano de paradigma. Além disso, a idéia de incomensurabilidade de Kuhn, que pressupõe a ausência decomunicação entre tradições distintas, bem como sua associação com a noção de revolução científica, parecem não se apresentar muito pertinentes quando se analisam diversos eventos da história da ciência, tanto do campo da medicina e biologia, quanto da física e da química. A teoria de Fleck, por ser mais plástica, maleável, parece adequar-se melhor aos eventos históricos, na medida em que o conceito de estilo de pensamento não assume um caráter hermético por completo, mas é somente ligeiramente rígido, permitindo tanto um desenvolvimento vertical do referido campo do desenvolvimento, quanto a possibilidade de sua transformação substancial. Contudo, não há ruptura, mas uma alteração gradual das teorias ao longo do tempo. Além disso, oconceito de pré-idéias fleckiano mostra tal continuidade do conhecimento, de maneira que toda estrutura de sua teoria opõe-se por completo aos problemáticos conceitos kuhnianos de paradigma, revolução científica e incomensurabilidade, constituindo-se por esse motivo, em uma proposta bastante pertinente para a historiografia da ciência, apresentando soluções onde Kuhn, apesar de reiterados esforços, parece não alcançar sucesso.
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