Escolarização da leitura no ensino primário de Minas Gerais (1906-1930)

• Autor(a) principal: Karina Klinke
• Data de Publicação: 2003
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/NSCS-5T6F6P
• topic: Leitura; Biblioteca infantil; Ensino superior ; Leitura Educação ; Educação Historia Minas Gerais ; Sala de aula

O trabalho tem como objetivo compreender o lugar que a leitura ocupou nas três primeiras décadas do ensino graduado em Minas Gerais: de que modo as formas de ler foram gestadas dentro do projeto pedagógico deste modelo de ensino, como se produziu uma cultura escolar do gosto pela leitura e de que forma este processo de escolarização atendeu, ou não, às finalidades maiores da educação. Na pesquisa foram utilizadas como principais fontes textos oficiais prescritivos de como e de o quê deveria ser lido na escola graduada: discursos políticos, leis, ordens, decretos, instruções, circulares, os programas, os métodos, os exercícios etc. Nos relatórios de inspeção e direção e alguns depoimentos de professoras, de alunos e alunas, existentes na Revista do Ensino, foram encontradas nuances sobre como e o quê se lia, de fato, nas escolas primárias mineiras. Os prefácios dos livros de leitura adotados apontaram os acordos e desacordos do campo editorial. As fontes coletadas foram sendo cruzadas ao longo da pesquisa, a partir de determinadas categorias, algumas das quais definidas a priori (como a de geração) e outras emergentes do contato com o próprio material empírico ou com a bibliografia sobre o tema (como as de escola graduada e escola de um único mestre, espaço e tempo, método da palavra e da sentença, leitura mecânica e corrente, oral e silenciosa, livros para crianças). Os estudos sobre história cultural, da leitura e das disciplinas escolares, as discussões em torno da biblioteca escolar, as pesquisas que se detêm no ensino graduado, na escolarização de saberes, os métodos de ensino, a literatura infantil e os trabalhos referentes à relação entre leitura oral e silenciosa nortearam, teórica e metodologicamente, a investigação. O trabalho está dividido em duas partes. Na primeira, composta de dois capítulos, é enfocada a implantação do ensino graduado no Estado de Minas Gerais a partir, principalmente, da análise das determinações oficiais de como ele deveria se estruturar: a busca de uma uniformidade do ensino para todo o Estado, a conformação dos espaços criados para a leitura nos Grupos Escolares e a organização do tempo de ler na escola. Na segunda parte da tese, composta de três capítulos, busca-se conhecer os conflitos internos construídos principalmente no campo educacional, com alguns apontamentos sobre o campo editorial, sobre o quê e como se lia no ensino graduado, através da análise das mudanças e das continuidades do processo de escolarização da leitura e da escrita, das representações de leitura para crianças, de como este modelo escolar construiu seus próprios tipos de ensino da leitura e as habilidades da leitura corrente e de como se buscou atingir as finalidades educacionais, ou seja, porquê a leitura ser escolarizada desta forma. A pesquisa mostra que para atender às finalidades maiores da educação neste período proporcionar uma educação integral de um maior número de crianças, para que toda a população fosse civilizada a fim de se conquistar uma unidade nacional, que encaminhasse o País para o progresso e a modernidade o ensino simultâneo da leitura com a escrita assumiu a função social de preparar as crianças para serem leitoras de bons livros, ou seja, aqueles considerados como capazes de moralizar e instruir, em um primeiro momento, e também divertir e recrear, em um segundo momento. Identificam-se, desta forma, as convergências e divergências do processo de escolarização da leitura e da escrita e como essas influenciaram a produção e distribuição de livros para crianças, ao mesmo tempo em que esta produção influenciou as prescrições de leitura, criando-se cânones de leitura escolar.