Estudo sobre a produção habitacional e as mudanças nos preços de moradias em Belo Horizonte entre 2009 e 2022

• Autor(a) principal: Ícaro Neri Pereira de Souza
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/69044; http://orcid.org/0000-0002-8198-5416
• topic: ITBI; Belo Horizonte; gentrificação; reestruturação urbana; SIG; mercado imobiliário; Planejamento urbano – Belo Horizonte (MG); Imposto sobre transmissão de bens imóveis – Belo Horizonte (MG); Mercado imobiliário – Belo Horizonte (MG); Gentrificação – Belo Horizonte (MG); Sistemas de informação geográfica

A partir de reflexões críticas sobre as dinâmicas de acumulação de capital, este estudo aborda as relações entre a produção da moradia, do espaço e os movimentos de classes sociais em Belo Horizonte. A construção deste trabalho partiu da conjunção de duas abordagens do pensamento geográfico: uma crítica marxiana, com o intuito de refletir sobre as principais características da produção da moradia, do espaço e da cidade no Brasil (por sua vez, um país inserido de modo periférico e dependente no capitalismo global, sendo extremamente desigual) e das suas especificidades em Belo Horizonte; e, a partir de análises de dados, do uso de SIG's e de softwares estatísticos, um enfoque cartográfico e teorético-quantitativo que permitiu constatações de natureza empírica. Foram analisados processos como os padrões espaciais e mercadológicos da produção de moradias, a formação de vetores imobiliários e a ocorrência de fenômenos socioespaciais associados a essas mudanças de preços de moradias e de movimentos de classes sociais na cidade. A metodologia contou com a espacialização e tratamento de dados de mais de 240 mil transações de apartamentos e 40 mil transações de casas em Belo Horizonte, obtidos a partir da tabulação de dados feita pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) sobre o pagamento do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). A análise dos dados incluiu a confecção de gráficos, tabelas e mapas para descrever e mapear os padrões de transações verificados. Também foram realizadas análises de dependência e associação espacial e de cluster para identificar os padrões socioespaciais de transações existentes na cidade. Os resultados revelaram um forte aumento de preços de moradias nos primeiros anos considerados no estudo, seguido por uma estagnação geral, com grandes perdas frente à inflação. Relacionadas à dinâmica econômica nacional, estes movimentos revelaram o forte papel da liquidez nas mudanças de preços praticados. Em relação aos aspectos espaciais, a pesquisa mapeou o padrão de autossegregação espacial relacionado aos preços por metro quadrado e do acesso às moradias em si, bem como a formação de eixos pericentrais com preços médios de moradias mais elevados do que nas áreas periféricas da cidade, sendo estes vetores pericentrais ocupados principalmente por indivíduos e famílias de classes médias. Esses eixos expandiram-se sobre áreas anteriormente empobrecidas, como a regional Barreiro, e também com a ocupação de grandes “vazios urbanos” com moradias dedicadas a populações de rendas médias a altas. Com esses apontamentos, refletimos sobre o movimento da taxa de lucro no espaço urbano belo-horizontino, sobre a natureza do processo de estruturação/reestruturação urbana e dos processos de gentrificação na cidade. Belo Horizonte, na nossa visão, consolidou e expandiu ainda mais a principal natureza da sua produção desde a sua criação: a expulsão da pobreza para periferias cada vez mais longínquas a partir da geração e expansão de diferenciações socioespaciais.