Mudanças, resistências e composições na justiça juvenil: abordagem comparativa entre Brasil e França
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFMG |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9ZGGCU |
Resumo: | O objetivo desta tese é comparar, diante de um cenário de mudanças legislativas, as respostas institucionais dadas ao adolescente acusado de cometer um crime (ato infracional) no Brasil e na França. Para tanto, foram eleitas as cidades de Belo Horizonte, no Brasil, e Lille, na França. As pesquisas e os estudos sobre a justiça juvenil no Brasil e na França enfatizam, sistematicamente, as grandes transformações que a legislação que regulamenta o campo sociojudiciário da delinquência juvenil sofreu, a partir de 1990, nos dois países. Na França, há um consenso sobre as modificações sofridas pela L´ordonnance 1945 destacando o recrudescimento da penalização dos menores infratores, o abandono das orientações de natureza educativa-protetiva e a aproximação do direito penal juvenil do de adulto. No Brasil, ao contrário, as análises enfatizam os avanços da Lei no. 8.069 de 1990 e a superação, no plano constitucional, do modelo tutelar-repressivo através da expansão das garantias processuais e da noção de sujeito de direitos afeita aos adolescentes infratores. Buscamos, ao longo desta tese, confrontar as novas orientações da legislação com a produção e as práticas das organizações deste campo. O problema geral que guiou nossa investigação, e atravessa a tese, pode ser sintetizado na seguinte proposição: Como as mudanças na legislação referente à justiça juvenil afetaram as práticas, a composição e as relações de força entre organizações e profissionais responsáveis pela gestão e tratamento da delinquência juvenil no Brasil e na França? Partindo do pressuposto de que o campo sociojudiciário é um espaço de disputa, competição e negociação entre profissionais da esfera judiciária e socioeducativa analisamos o percurso histórico legal e penal da gestão da delinquência juvenil, procurando identificar as grandes linhas que marcaram o desenvolvimento e as transformações deste campo, nos dois países. Em seguida, examinamos a produção institucional do campo sociojudiciário da delinquência juvenil face às recentes e profundas mudanças da legislação, através da análise da evolução da contabilidade oficial (estatísticas policiais, judiciais e prisionais) relativa aos menores infratores na França e no Brasil. À luz dessas mudanças, interrogamos sobre o papel desempenhado pelas organizações do campo. E, finalmente, por meio da análise dos discursos e representações presentes nos dossiês judiciários e da observação das práticas, procuramos observar as acomodações, conflitos e disputas entre os profissionais do campo, buscando compreender como o campo sociojudiciário da delinquência juvenil se reconfigura. Concluímos que não vivenciamos o frenesi legislativo experimentado pela França nos últimos vinte anos, cujo impacto nas práticas tratamos de analisar. Entretanto, a história profunda de violência e violação dos direitos humanos, especialmente contra crianças e adolescentes, e a posição periférica e tardia do Brasil na adoção do modelo de intervenção fundado na doutrina da proteção integral, têm contribuído para a manutenção de tratamento punitivo, sem consideração aos direitos dos adolescentes, apesar da adoção do ECA. |
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Joana Domingues VargasFrederico Couto Marinho2019-08-09T14:46:56Z2019-08-09T14:46:56Z2012-03-26http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9ZGGCUO objetivo desta tese é comparar, diante de um cenário de mudanças legislativas, as respostas institucionais dadas ao adolescente acusado de cometer um crime (ato infracional) no Brasil e na França. Para tanto, foram eleitas as cidades de Belo Horizonte, no Brasil, e Lille, na França. As pesquisas e os estudos sobre a justiça juvenil no Brasil e na França enfatizam, sistematicamente, as grandes transformações que a legislação que regulamenta o campo sociojudiciário da delinquência juvenil sofreu, a partir de 1990, nos dois países. Na França, há um consenso sobre as modificações sofridas pela L´ordonnance 1945 destacando o recrudescimento da penalização dos menores infratores, o abandono das orientações de natureza educativa-protetiva e a aproximação do direito penal juvenil do de adulto. No Brasil, ao contrário, as análises enfatizam os avanços da Lei no. 8.069 de 1990 e a superação, no plano constitucional, do modelo tutelar-repressivo através da expansão das garantias processuais e da noção de sujeito de direitos afeita aos adolescentes infratores. Buscamos, ao longo desta tese, confrontar as novas orientações da legislação com a produção e as práticas das organizações deste campo. O problema geral que guiou nossa investigação, e atravessa a tese, pode ser sintetizado na seguinte proposição: Como as mudanças na legislação referente à justiça juvenil afetaram as práticas, a composição e as relações de força entre organizações e profissionais responsáveis pela gestão e tratamento da delinquência juvenil no Brasil e na França? Partindo do pressuposto de que o campo sociojudiciário é um espaço de disputa, competição e negociação entre profissionais da esfera judiciária e socioeducativa analisamos o percurso histórico legal e penal da gestão da delinquência juvenil, procurando identificar as grandes linhas que marcaram o desenvolvimento e as transformações deste campo, nos dois países. Em seguida, examinamos a produção institucional do campo sociojudiciário da delinquência juvenil face às recentes e profundas mudanças da legislação, através da análise da evolução da contabilidade oficial (estatísticas policiais, judiciais e prisionais) relativa aos menores infratores na França e no Brasil. À luz dessas mudanças, interrogamos sobre o papel desempenhado pelas organizações do campo. E, finalmente, por meio da análise dos discursos e representações presentes nos dossiês judiciários e da observação das práticas, procuramos observar as acomodações, conflitos e disputas entre os profissionais do campo, buscando compreender como o campo sociojudiciário da delinquência juvenil se reconfigura. Concluímos que não vivenciamos o frenesi legislativo experimentado pela França nos últimos vinte anos, cujo impacto nas práticas tratamos de analisar. Entretanto, a história profunda de violência e violação dos direitos humanos, especialmente contra crianças e adolescentes, e a posição periférica e tardia do Brasil na adoção do modelo de intervenção fundado na doutrina da proteção integral, têm contribuído para a manutenção de tratamento punitivo, sem consideração aos direitos dos adolescentes, apesar da adoção do ECA.L'objectif de cette thèse est de comparer devant une situation de changement législatif, les réponses institutionnelles données à l'adolescent accusé de commettre un crime (acte infractionnel) au Brésil et en France. Pour cela, la ville de Belo Horizonte au Brésil et celle de Lille en France ont été choisies. Les recherches et les études sur la justice juvénile au Brésil et en France mettent en relief systématiquement les grandes transformations qui se sont opérées au niveau de la législation qui réglemente la justice sociale de la délinquance juvénile à partir de 1990 dans les deux pays. En France il y a un consensus sur les modifications faites au niveau de L'ordonnance 1945 en mettant en valeur la recrudescence de la pénalisation des mineurs délinquants, l'abandon des orientations de nature éducative-protectrice et l'approximation du droit pénal juvénile et celui de ladulte. Au Brésil, au contraire, les analyses mettent en relief les avancées de la Loi n°. 8.069 de 1990 et le progrès au plan constitutionnel du modèle tutélaire-répressif à travers l'expansion des garanties procédurales et de la notion de sujet de droits affecte les adolescents délinquants. Nous cherchons, au long de cette thèse à confronter les nouvelles orientations de la législation avec la production et les pratiques des organisations dans ce domaine. Le problème général qui a conduit nos recherches, et traverse la thèse, peut être synthétisé par la proposition suivante: Comment les changements dans la législation de la justice juvénile ont-ils affecté les pratiques, la composition et les relations de force entre les organisations et les professionnels responsables de la gestion et du traitement de la délinquance juvénile au Brésil et en France? En partant du présupposé qui stipule que le domaine de la justice sociale est un espace de dispute, de compétition et de négociation entre des professionnels des domaines judiciaire et socio-éducatif, nous analysons le parcours historique légal et pénal de la gestion de la délinquance juvénile en cherchant à identifier les grandes lignes qui ont marqué lévolution et les transformations de ce domaine dans les deux pays. Ensuite, nous examinerons la production institutionnelle, en justice sociale, de la délinquance juvénile face aux récents et profonds changements de la législation, à travers l'analyse de l'évolution de la comptabilité officielle (statistiques policières, judiciaires et prisonnières) relative aux mineurs délinquants en France et au Brésil. À la lumière de ces changements, nous faisons des interrogations sur le rôle joué par les organisations. Et finalement par le biais de lanalyse du discours et des représentations présentes dans les dossiers judiciaires et de lobservation des pratiques, nous tentons observer les accommodations, les conflits et les disputes entre les professionnels du terrain, en cherchant à comprendre comment la justice sociale de la délinquance juvénile se reconfigure. Nous concluons que nous n'avons pas lexpérience de la frénésie législative dont nous nous occupons dobserver limpact sur les pratiques et qui est expérimentée par la France durant ces vingts dernières années. Cependant, l histoire profonde de violence et de violation des droits humains, spécialement contre les enfants et les adolescents et la position périphérique et tardive dans l'adoption du modèle d'intervention fondé sur la doctrine de la protection intégrale, ont contribué au maintien du traitement punitif, sans considérer les droits des adolescents, malgré ladoption de lECA.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGSociologiaJustiçaSociologiaBrasilJustiça JuvenilFrançaMudanças, resistências e composições na justiça juvenil: abordagem comparativa entre Brasil e Françainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALfrederico_couto_marinho_tese.pdfapplication/pdf2691066https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9ZGGCU/1/frederico_couto_marinho_tese.pdfcc5fff2d067b1091f79362e0f3ec1da7MD51TEXTfrederico_couto_marinho_tese.pdf.txtfrederico_couto_marinho_tese.pdf.txtExtracted texttext/plain769524https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9ZGGCU/2/frederico_couto_marinho_tese.pdf.txt9f03a5043e1b42008410fd14effd71b5MD521843/BUBD-9ZGGCU2019-11-14 08:28:50.414oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-9ZGGCURepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T11:28:50Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false |
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