Alguma coisa importa? Entrelaçamentos entre pessoas e materiais nas artes da cena

• Autor(a) principal: Lourenço Martins Marques
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/43972; https://orcid.org/0000-0002-0092-8461
• topic: Artes da cena; Objetos; Materiais; Companhia Suspensa; Tim Ingold; Perspectivismo ameríndio; Ingold, Tim, 1948-; Movimento (Encenação); Expressão corporal; Caracterização teatral; Criação (Literária, artística, etc.); Artes cênicas

Este trabalho busca discutir, no contexto das artes da cena, como objetos e materiais, ao se entrelaçarem aos movimentos humanos, participam e alteram as criações e os processos artísticos, operando uma mútua transformação. Defende-se que, nos trabalhos cênicos, não são apenas as histórias, representações e narrativas humanas que estão em jogo, mas também a profusão de movimentos que compõem a trama de relações entre humanos e não humanos. A abordagem pretendida se contrapõe ao tratamento dado à materialidade cênica que aborda os materiais confinados em forma de objetos acabados e que prioriza seus aspectos simbólicos, usos e representações. Procura-se, assim, discutir como a própria ideia de objeto vem obstruindo a percepção dos materiais, seus movimentos e entrelaçamentos. A fim de ampliar o escopo do debate acerca das relações entre corpo e objeto nas artes da cena, o presente trabalho busca na antropologia, em especial no livro Estar vivo, de Tim Ingold, e em estudos que abordam a cosmologia de diversos povos, subsídios para a reflexão sobre como diferentes culturas imaginam, descrevem e se engajam com materiais e objetos, problematizando as possíveis implicações das separações entre natureza e cultura, mente e matéria, humano e não humano, na maneira como essas relações se estabelecem. Essas questões são entrelaçadas aos apontamentos de autores como Patrice Pavis e André Lepecki, além de outros artistas e pesquisadores que abordam o estatuto do objeto em cena. Por fim, busca-se relacionar os aspectos discutidos ao longo da pesquisa com minha trajetória artística e, em especial, com dois espetáculos realizados no contexto da Companhia Suspensa: Alpendre, de 2010, e Margem, de 2016. Ao abordar os espetáculos, procura-se enfatizar o processo de pesquisa e a dimensão técnica por trás desses trabalhos, a fim de destacar o impacto da fabricação de aparelhos e traquitanas, dos procedimentos de montagem e da relação com diferentes materiais sobre o processo de criação artística.