Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Raphaela da Silva Ramos Fernandes
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/EBAC-9Q3N4B
Resumo: A fim de confluir desejos, permitindo livremente seus borrões, proponho um estudo da criação Regurgitofagia, do poetaperformer carioca Michel Melamed. Refiro-me ao espetáculo produzido em 2004, com recursos da bolsa de pesquisa RioArte, e ao livro homônimo, lançado pela Editora Objetiva no ano seguinte. Embora a obra escrita tenha sido publicada após a estreia da montagem, foi a partir das palavras no papel que Melamed pensou sua performance, e o fez porque sua letra já vinha preenchida de ação e voz viva. A ausência de um nítido estopim, desse modo, logo revela a impossibilidade de categorizar o trabalho do artista. Nesse sentido, percebo espetáculo e livro, ao mesmo tempo, como poesia, cena, o apetite de uma pela outra e a autodevoração. Antes de aprofundar-me em Regurgitofagia, porém, examino de forma geral certa poesia atual que se pretende cena, porque sem cessar foi cena, e aproveita o perfil dos novos tempos para reafirmar-se sem limites. Em seguida, investigo certa cena que se sabe poesia, como sempre se soube, retomando hoje a intensidade dessa convicção. Nessas etapas, entremeio textos e frases de Melamed às contribuições de variados autores, como uma preparação para a análise de Regurgitofagia. Valendo-me de duas imagens a de um ouriço enrolado em bola no meio da estrada, sugerida por Jacques Derrida, e a da estranha medida que separa terra e céu para os que habitam poeticamente, tratada por Martin Heidegger , exploro vibrações. Assim, abordo o percurso do sujeito que se enuncia desde a escrita até a performance, saindo de si sem se abandonar, e a tremura da cena e de seu ator, num constante dentro-fora do caos, dentro-fora do mundo. Essas oscilações seguem o rumo da poesia, aquela que aumenta a voltagem da vida. Compreendo, portanto, ser necessário preparar-se para acolher o solavanco. Em sua obra, Michel Melamed recebe choques como poesia. Os espasmos vigoram seu corpo, disponibilizam-no à afetação, à troca de eletricidade. Melamed é homem que pulsa, seja por meio da escrita performativa, em desassossegado diálogo com o leitor, seja com o auxílio da máquina apelidada de Pau-de-arara, que, em cena, acopla-se a seus pulsos e tornozelos, transformando em descargas elétricas quaisquer reações sonoras da plateia, captadas por microfones. Ao vibrar, o artista se permite ferir, tal qual o ouriço, e se permite abrigar pela vida, numa misteriosa habitação. Com Melamed, alcanço certa região do cruzamento na qual vislumbro a poesiacena e a cenapoesia. Ou ainda: sua poesiacenapoesia, uma vez que não posso discernir onde começa um desejo e outro termina. Constantemente, eles escorrem e se (con)fundem.
id UFMG_3fc8ef81602d80d61c5d0c39c2f20f5f
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/EBAC-9Q3N4B
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Maria Beatriz MendoncaRenato FerraciniAntonio Barreto HildebrandoRaphaela da Silva Ramos Fernandes2019-08-11T16:32:40Z2019-08-11T16:32:40Z2014-08-11http://hdl.handle.net/1843/EBAC-9Q3N4BA fim de confluir desejos, permitindo livremente seus borrões, proponho um estudo da criação Regurgitofagia, do poetaperformer carioca Michel Melamed. Refiro-me ao espetáculo produzido em 2004, com recursos da bolsa de pesquisa RioArte, e ao livro homônimo, lançado pela Editora Objetiva no ano seguinte. Embora a obra escrita tenha sido publicada após a estreia da montagem, foi a partir das palavras no papel que Melamed pensou sua performance, e o fez porque sua letra já vinha preenchida de ação e voz viva. A ausência de um nítido estopim, desse modo, logo revela a impossibilidade de categorizar o trabalho do artista. Nesse sentido, percebo espetáculo e livro, ao mesmo tempo, como poesia, cena, o apetite de uma pela outra e a autodevoração. Antes de aprofundar-me em Regurgitofagia, porém, examino de forma geral certa poesia atual que se pretende cena, porque sem cessar foi cena, e aproveita o perfil dos novos tempos para reafirmar-se sem limites. Em seguida, investigo certa cena que se sabe poesia, como sempre se soube, retomando hoje a intensidade dessa convicção. Nessas etapas, entremeio textos e frases de Melamed às contribuições de variados autores, como uma preparação para a análise de Regurgitofagia. Valendo-me de duas imagens a de um ouriço enrolado em bola no meio da estrada, sugerida por Jacques Derrida, e a da estranha medida que separa terra e céu para os que habitam poeticamente, tratada por Martin Heidegger , exploro vibrações. Assim, abordo o percurso do sujeito que se enuncia desde a escrita até a performance, saindo de si sem se abandonar, e a tremura da cena e de seu ator, num constante dentro-fora do caos, dentro-fora do mundo. Essas oscilações seguem o rumo da poesia, aquela que aumenta a voltagem da vida. Compreendo, portanto, ser necessário preparar-se para acolher o solavanco. Em sua obra, Michel Melamed recebe choques como poesia. Os espasmos vigoram seu corpo, disponibilizam-no à afetação, à troca de eletricidade. Melamed é homem que pulsa, seja por meio da escrita performativa, em desassossegado diálogo com o leitor, seja com o auxílio da máquina apelidada de Pau-de-arara, que, em cena, acopla-se a seus pulsos e tornozelos, transformando em descargas elétricas quaisquer reações sonoras da plateia, captadas por microfones. Ao vibrar, o artista se permite ferir, tal qual o ouriço, e se permite abrigar pela vida, numa misteriosa habitação. Com Melamed, alcanço certa região do cruzamento na qual vislumbro a poesiacena e a cenapoesia. Ou ainda: sua poesiacenapoesia, uma vez que não posso discernir onde começa um desejo e outro termina. Constantemente, eles escorrem e se (con)fundem.In order to converge desires, allowing freely their blots, I propose a study of the Regurgitofagia creation, of the performer-poet from Rio de Janeiro Michel Melamed. I refer myself to the play produced in 2004, with funds from the research grant RioArte, and to the homonymous book, released by the Objetiva Publisher in the following year. Although the written work had been published after the debut of the spectacle, it was from the words on paper that Melamed thought its performance, and he did it because his words already come filled of action and alive voice. The absence of a clear fuse, thus, reveals the impossibility of categorizing the artist´s work. In that sense, I perceive spectacle and book, at the same time, as poetry, scene, the appetite for each other and self-devouring. Before of I deepen myself in Regurgitofagia, however, I examine certain poetry that intends scene, because without cease was scene, and takes advantage of the profile of the new times for reaffirming itself without limits. Then, I investigate certain scene that itself aspire poetry, as always itself has known, resuming today the intensity of that conviction. In these phases, I intersperse texts and phrases of Melamed to the contributions of varied authors, as a preparation for the analysis of Regurgitofagia. Being worth me of two images that of a rolled in ball hedgehog in the middle of the road, suggested by Jacques Derrida, and the one of the strange measure that separates earth and heaven to those who dwell poetically, suggested by Martin Heidegger , I explore vibrations. Like this, I approach the journey of the subject that is enunciated since the writing until the performance, leaving of itself without be abandoned, and the flickering of the scene and of his actor, in a constant inside-outside of the chaos, inside-outside of the world. Those oscillations follow the route of the poetry, the one that increases the voltage of the life. I understand, therefore, be necessary prepare itself for receiving the jolt. In his work, Michel Melamed receives shocks as poetry. The spasms invigorate his body, make him available to the affectation, to the exchange of electricity. Melamed is a man that vibrates, either through performative writing, in an unquiet dialogue with the reader, either with the aid of the machine nicknamed of "Pau-de-Arara", which, on the stage, connects wrists and ankles, transforming sound reactions of the audience captured by microphones into electrical discharge. By vibrating, the artist is allowed to hurt, like the hedgehog, and allowing shelter for life, in a mysterious dwelling. With Melamed, I achieve certain region of intersection in which I glimpse to poetryscene and to scenepoetry. Or still: his poetryscenepoetry, since I cannot discern where begins a desire and another finishes. Constantly, they slide and (con)fuse themselves.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGTeatroRepresentação teatralPoesiaMelamed, Michel,  1976- Regurgitofagia Michel MelamedFronteiras desguarnecidasPoesiaCenaPerformancePoesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borrainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALraphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdfapplication/pdf1675085https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/EBAC-9Q3N4B/1/raphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf4c11da0755a65759a56f90be820c8e35MD51TEXTraphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf.txtraphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf.txtExtracted texttext/plain273114https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/EBAC-9Q3N4B/2/raphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf.txtec4062c952b69c731535cf022e4d705cMD521843/EBAC-9Q3N4B2019-11-14 09:45:51.156oai:repositorio.ufmg.br:1843/EBAC-9Q3N4BRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T12:45:51Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
title Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
spellingShingle Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
Raphaela da Silva Ramos Fernandes
Michel Melamed
Fronteiras desguarnecidas
Poesia
Cena
Performance
Teatro
Representação teatral
Poesia
Melamed, Michel,  1976- Regurgitofagia 
title_short Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
title_full Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
title_fullStr Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
title_full_unstemmed Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
title_sort Poesia e cena em Regurgitofagia, de Michel Melamed: o desejo que borra
author Raphaela da Silva Ramos Fernandes
author_facet Raphaela da Silva Ramos Fernandes
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Maria Beatriz Mendonca
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Renato Ferracini
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Antonio Barreto Hildebrando
dc.contributor.author.fl_str_mv Raphaela da Silva Ramos Fernandes
contributor_str_mv Maria Beatriz Mendonca
Renato Ferracini
Antonio Barreto Hildebrando
dc.subject.por.fl_str_mv Michel Melamed
Fronteiras desguarnecidas
Poesia
Cena
Performance
topic Michel Melamed
Fronteiras desguarnecidas
Poesia
Cena
Performance
Teatro
Representação teatral
Poesia
Melamed, Michel,  1976- Regurgitofagia 
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Teatro
Representação teatral
Poesia
Melamed, Michel,  1976- Regurgitofagia 
description A fim de confluir desejos, permitindo livremente seus borrões, proponho um estudo da criação Regurgitofagia, do poetaperformer carioca Michel Melamed. Refiro-me ao espetáculo produzido em 2004, com recursos da bolsa de pesquisa RioArte, e ao livro homônimo, lançado pela Editora Objetiva no ano seguinte. Embora a obra escrita tenha sido publicada após a estreia da montagem, foi a partir das palavras no papel que Melamed pensou sua performance, e o fez porque sua letra já vinha preenchida de ação e voz viva. A ausência de um nítido estopim, desse modo, logo revela a impossibilidade de categorizar o trabalho do artista. Nesse sentido, percebo espetáculo e livro, ao mesmo tempo, como poesia, cena, o apetite de uma pela outra e a autodevoração. Antes de aprofundar-me em Regurgitofagia, porém, examino de forma geral certa poesia atual que se pretende cena, porque sem cessar foi cena, e aproveita o perfil dos novos tempos para reafirmar-se sem limites. Em seguida, investigo certa cena que se sabe poesia, como sempre se soube, retomando hoje a intensidade dessa convicção. Nessas etapas, entremeio textos e frases de Melamed às contribuições de variados autores, como uma preparação para a análise de Regurgitofagia. Valendo-me de duas imagens a de um ouriço enrolado em bola no meio da estrada, sugerida por Jacques Derrida, e a da estranha medida que separa terra e céu para os que habitam poeticamente, tratada por Martin Heidegger , exploro vibrações. Assim, abordo o percurso do sujeito que se enuncia desde a escrita até a performance, saindo de si sem se abandonar, e a tremura da cena e de seu ator, num constante dentro-fora do caos, dentro-fora do mundo. Essas oscilações seguem o rumo da poesia, aquela que aumenta a voltagem da vida. Compreendo, portanto, ser necessário preparar-se para acolher o solavanco. Em sua obra, Michel Melamed recebe choques como poesia. Os espasmos vigoram seu corpo, disponibilizam-no à afetação, à troca de eletricidade. Melamed é homem que pulsa, seja por meio da escrita performativa, em desassossegado diálogo com o leitor, seja com o auxílio da máquina apelidada de Pau-de-arara, que, em cena, acopla-se a seus pulsos e tornozelos, transformando em descargas elétricas quaisquer reações sonoras da plateia, captadas por microfones. Ao vibrar, o artista se permite ferir, tal qual o ouriço, e se permite abrigar pela vida, numa misteriosa habitação. Com Melamed, alcanço certa região do cruzamento na qual vislumbro a poesiacena e a cenapoesia. Ou ainda: sua poesiacenapoesia, uma vez que não posso discernir onde começa um desejo e outro termina. Constantemente, eles escorrem e se (con)fundem.
publishDate 2014
dc.date.issued.fl_str_mv 2014-08-11
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-11T16:32:40Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-11T16:32:40Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/EBAC-9Q3N4B
url http://hdl.handle.net/1843/EBAC-9Q3N4B
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/EBAC-9Q3N4B/1/raphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/EBAC-9Q3N4B/2/raphaela_ramos_disserta__o_eba_2014.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 4c11da0755a65759a56f90be820c8e35
ec4062c952b69c731535cf022e4d705c
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589390613610496