Trabalhadoras domésticas brasileiras: entre continuidades coloniais e resistências

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mariane dos Reis Cruz
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AYRNHH
Resumo: Esta dissertação investiga a atuação da colonialidade de poder e de gênero no trabalho doméstico remunerado brasileiro. Para isso, parte da construção de uma fotografia do que é o trabalho doméstico atual no país utilizando fontes estatísticas. Como forma de complementação e com o objetivo de dar dinamicidade à fotografia, rígida em sua essência, diversas narrativas, de trabalhadoras domésticas e sobre o trabalho doméstico foram utilizadas. Dentre as narrativas escolhidas, estão os relatos de vida de três ex-domésticas. Tais relatos mostram que a rememoração das experiências é método para a produção de si e importante forma de resistência. O retrato do trabalho doméstico tirado apresenta as seguintes características: mostra que o trabalho é realizado majoritariamente por mulheres de cor pobres, em posição de subalternidade. Assim, as categorias que o identificam historicamente são gênero, raça/cor e divisão sexual do trabalho, categorias que devem ser analisadas em conjunto, revelando a interseccionalidade no trabalho doméstico. Para afirmar a persistência de uma lógica colonial, faz-se uma montagem histórica das relações de trabalho doméstico desde o período escravocrata brasileiro até os dias atuais, desde a total de negação de direitos até a PEC das Domésticas. Essa revisão histórica do trabalho doméstico foi produzida junto a uma seleção de discursos, de domésticas, políticos, cidadãos comuns e juristas acerca do trabalho doméstico, as relações que o envolvem e a sua ausência de regulamentação. Os discursos mostraram que há uma continuidade nas relações domésticas brasileiras, relações que envolvem afeto, gratidão, negação e ausência de direitos. A divisão sexual e racial do trabalho que configura o trabalho doméstico, implica dominação de gênero e raciais, constituídas em conjunto com a colonização brasileira e que modelaram a forma de conceber e perceber o mundo colonial/moderno. O sistema mundial colonial/moderno classificou a população colonizada e definiu padrões e papeis sociais. Assim, as mulheres racializadas foram duplamente subalternizadas e silenciadas. No entanto, mesmo que o padrão instituído pelo sistema colonial/moderno ainda atua por meio da colonialidade de poder e de gênero, o feminismo, como linguagem, traduz as práticas de resistência das mulheres subalternas, seja em suas narrativas, seja na luta por direitos trabalhistas. Por fim, a práxis feminista decolonial é instrumento para uma verdadeira descolonização.
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O retrato do trabalho doméstico tirado apresenta as seguintes características: mostra que o trabalho é realizado majoritariamente por mulheres de cor pobres, em posição de subalternidade. Assim, as categorias que o identificam historicamente são gênero, raça/cor e divisão sexual do trabalho, categorias que devem ser analisadas em conjunto, revelando a interseccionalidade no trabalho doméstico. Para afirmar a persistência de uma lógica colonial, faz-se uma montagem histórica das relações de trabalho doméstico desde o período escravocrata brasileiro até os dias atuais, desde a total de negação de direitos até a PEC das Domésticas. Essa revisão histórica do trabalho doméstico foi produzida junto a uma seleção de discursos, de domésticas, políticos, cidadãos comuns e juristas acerca do trabalho doméstico, as relações que o envolvem e a sua ausência de regulamentação. Os discursos mostraram que há uma continuidade nas relações domésticas brasileiras, relações que envolvem afeto, gratidão, negação e ausência de direitos. A divisão sexual e racial do trabalho que configura o trabalho doméstico, implica dominação de gênero e raciais, constituídas em conjunto com a colonização brasileira e que modelaram a forma de conceber e perceber o mundo colonial/moderno. O sistema mundial colonial/moderno classificou a população colonizada e definiu padrões e papeis sociais. Assim, as mulheres racializadas foram duplamente subalternizadas e silenciadas. No entanto, mesmo que o padrão instituído pelo sistema colonial/moderno ainda atua por meio da colonialidade de poder e de gênero, o feminismo, como linguagem, traduz as práticas de resistência das mulheres subalternas, seja em suas narrativas, seja na luta por direitos trabalhistas. Por fim, a práxis feminista decolonial é instrumento para uma verdadeira descolonização.This dissertation investigates the performance of the coloniality of power and gender within the Brazilian domestic work. For this, part of building a picture of what the current domestic work entails in the country using statistical data. As a way of complementing and in order to give dynamism to the picture, rigid in its essence, different narratives by domestic workers regarding domestic work were used. Among the chosen narratives are the life stories of three former workers. These reports show that the recollection of experiences is a method for the construction of self and important form of resistance. The picture taken of domestic work shows the following characteristics: shows that the work is performed mostly by poor women of colour, in subordinate position. Thus, the categories that historically identify it are gender, race/colour and sexual division of labour and therefore should be examined together, revealing the intersectionality within the domestic work. To affirm the persistence of a colonial logic, a historic assembly of the domestic labour relations from the Brazilian slavery period to the present day is made, from total denial of rights to the PEC das Domésticas. This historical review of domestic work was produced from a selection of speeches, of domestic workers, politicians, ordinary citizens and jurists about the domestic work, relations that involve it and its lack of regulation. The speeches showed that there is a continuity in the Brazilian domestic work relations, involving affection, gratitude, denial and lack of rights. Sexual and racial division of labour that sets the housework implies gender and racial domination, established in conjunction with the Brazilian colonization and that modelled the way to design and perceive the colonial/modern world. This world system ranked the colonized population and defined standards and social roles. Thus, racialized women were doubly subordinated and silenced. However, even if the standard established by the colonial/modern system still operates through power and coloniality of gender, feminism, as a language, translates the practices of resistance of the subaltern women, whether in their narratives, whether in the fight for labour rights. Finally, the decolonial feminist praxis is an instrument for a real decolonization.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGTrabalho doméstico legislação BrasilDireitoEmpregados domesticos Legislação BrasilInterseccionalidadeRelato de vidaColonialidade de gêneroTrabalho domésticoFeminismoTrabalhadoras domésticas brasileiras: entre continuidades coloniais e resistênciasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o___mariane_cruz___trabalhadoras_dom_sticas_brasileiras.pdfapplication/pdf2801489https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYRNHH/1/disserta__o___mariane_cruz___trabalhadoras_dom_sticas_brasileiras.pdf4eadfe8c425e369ec6221e77c0584716MD51TEXTdisserta__o___mariane_cruz___trabalhadoras_dom_sticas_brasileiras.pdf.txtdisserta__o___mariane_cruz___trabalhadoras_dom_sticas_brasileiras.pdf.txtExtracted texttext/plain470910https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYRNHH/2/disserta__o___mariane_cruz___trabalhadoras_dom_sticas_brasileiras.pdf.txt7e100eb356999d54991fe5040606aee5MD521843/BUBD-AYRNHH2019-11-14 07:00:24.717oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-AYRNHHRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T10:00:24Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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