Imaginando o inimaginável: linguagem e religião em J. M. Coetzee

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fernando de Lima Paulo
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/ECAP-7DSFD6
Resumo: O escopo do presente trabalho relaciona-se à percepção do registro religioso na obra do autor sul-africano J. M. Coetzee, tomando por base os seus três primeiros romances. A função desse registro no âmbito da ficção do escritor tem a ver com a idéia de religião como relego, a palavra latina para cuidado, que acho pode traduzir um exame cuidadoso acerca das possibilidades da linguagem em face da crise de representação no chamado momento pós-moderno, bem como uma procura por alternativas aos impasses advindos dessa crise. Coetzee utiliza-se da ficção como um modo de pensar e, assim, efetua inicialmente uma investigação do próprio meio lingüístico através de uma atitude auto-reflexiva na escrita, chamando atenção para os discursos hegemônicos e das relações de poder deles advindas. Este prática é perceptível nos romances em Dusklands e In the Heart of the Country, que se mostram reflexões não somente sobre textos ideologicamente motivados, mas também sobre as subjetividades que se formam no âmbito desses discursos. Nessa dinâmica, a linguagem volta-se sobre si mesma, gerando o perigo de infinitute e tem de se confrontar com o vazio da significação sempre deferida. Como resultado, o escritor elabora estratégias (a paródia, por exemplo) que tentam driblar essa possibilidade ao imaginar maneiras de expressar o desejo de reciprocidade em relação à alteridade, ou seja, ao elemento obliterado, emudecido, marginalizado dos discursos do poder. Desta forma, já se esboça um apelo ao registro religioso, quer seja através da alusão ao mito, quer seja através de narradores ensandecidos ou em auto-engano. Com isso, as opções discursivas nos livros apontam para um imperativo: imaginar uma maneira em que a escrita possa efetuar um jogo (play) de rearranjo de regras e convenções e, por esse meio, abordar o 'inimaginável', ou seja, o sofrimento, a justiça e a solidariedade - o intraduzível na linguagem. A consolidação desse processo provoca em Waiting for Barbarians, o terceiro romance de Coetzee, uma opção por um realismo 'reconstituído', longe dos arroubos metaficcionais dos livros anteriores e que se contrapõe à infinitude da auto-reflexão quando faz uso da alegoria e, por meio dela, tornar possível o processo kenótico de esvaziamento dos discursos do poder e a construção de algum tipo de relacionamento com o outro; esse relacionamento denomino caritas.
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