A ausência do trágico: a crítica da cultura em Nietzsche e Adorno

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Luis Francisco Fianco Dias
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/ARBZ-7X9GQN
Resumo: O texto que segue versa sobre a crítica de Nietzsche e Adorno à cultura e à produção artística contemporâneas, principalmente a partir de O Nascimento da Tragédia e Dialética do Esclarecimento, para poder tecer as concordâncias e divergências entre ambos. Um dos primeiros aspectos de concordância a serem destacados, então, é a respeito da inconsistência da racionalidade ocidental, o que vai recuperar, em ambos, a importância da estética e, mais especificamente, da arte. Por essa razão é que demos maior ênfase argumentativa às críticas da cultura tecidas por ambos a partir das suas reflexões sobre a arte, no sentido de perceber o quanto o desaparecimento do sentimento trágico denunciado por Nietzsche vai constituir um dos aspectos determinantes para a decadência da cultura mesmo na esfera cultural do capitalismo tardio, conforme as reflexões de Adorno e Horkheimer em sua crítica da indústria cultural. Nietzsche desenvolve em O Nascimento da Tragédia a oposição entre os dois princípios estéticos do apolíneo e do dionisíaco. Enquanto aquele é responsável pela plasticidade, pela forma, esse último é o elemento de profundidade da produção artística, é o que lhe possibilita seu peso, sua ligação entre arte e vida. Na medida em que o equilíbrio entre esses aspectos é suplantado pela superficialidade da produção cultural que Nietzsche chama de operística, ela se transforma em mero divertimento, aproximando as críticas de Nietzsche da cultura que lhe foi contemporânea às posteriores reflexões sobre a indústria cultural. A intenção de Nietzsche, nessa obra, nos parecer ser a de reabilitar os valores trágicos gregos como um meio de instaurar um sentido para a modernidade, barrando assim a decadência que diagnostica nela. Dentro dessa possibilidade de continuidade, destacamos a importância que ambos esses pensadores dão à dimensão trágica e seu peso para a vida humana ao longo de suas críticas a um modelo cultural que vai tender a eliminar essa tragicidade de suas obras, destituindo a produção cultural de sua profundidade e de sua possibilidade de incremento intelectual de seus destinatários. As produções culturais, transformadas assim de arte em mercadoria, terão como característica a leveza e, plenamente inseridas no cotidiano, servirão como modelo de sociedade e de comportamento social dos indivíduos, ao invés de serem uma expressão mediatizada do recalcado pela cultura, seja enquanto reflexo dionisíaco da dor e do terrível da existência, seja enquanto manifestação da dissonância.
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