O hormônio traz pra realidade todos os nossos sonhos ocultos: a experiência de mulheres transexuais e travestis com o processo medicamentoso de hormonização

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Thais Rolla de Caux
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-BB9JTM
Resumo: O processo de hormonização em pessoas trans objetiva reduzir características atribuídas ao gênero designado ao nascimento e induzir as características desejadas pela pessoa. Estudos demonstram riscos associados ao uso de hormônios. Porém, estes medicamentos podem assumir importância central na construção de corpos trans, e há estudos que demonstram que seu uso pode ser seguro. Mas, a violência à qual frequentemente o sistema de saúde submete as pessoas trans dificulta o acesso à saúde formal. A construção de possibilidades de saúde passa a se dar, majoritariamente, fora do sistema de saúde, e o uso de hormônios, por automedicação. Assim, é importante compreender vivências e demandas desta população e entender como se relacionam com o uso de hormônios. Este trabalho buscou compreender experiências de mulheres transexuais e travestis com o processo de hormonização. A metodologia do estudo é a fenomenologia hermenêutica, em uma perspectiva feminista. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 5 mulheres trans/travestis. A pesquisadora também realizou notas de diário de campo sobre as entrevistas e momentos nos quais esteve inserida especialmente em eventos dedicados à temática da saúde trans. As entrevistas foram transcritas na íntegra, bem como o diário de campo. Para análise dos dados, foi utilizado o software NVivo® 11. Todas as entrevistadas iniciaram o uso de hormônios na adolescência, por vias outras que não a prescrição médica. Em geral, o aconselhamento sobre o uso de hormônios foi feito por outras travestis. Foram demonstradas várias lacunas no atendimento às demandas em saúde das pessoas trans: despreparo técnico dos profissionais, questões relativas à violação de direitos humanos e desrespeito às identidades trans, patologização das vivências trans, insuficiência dos recursos do Estado e desinteresse na prestação do cuidado. Vimos que o compartilhamento de conhecimento sobre hormônios entre mulheres trans e travestis se configura em uma importante forma de redução de danos em relação aos riscos dos hormônios. Compreendemos também como os efeitos se materializam nos corpos, quais são os efeitos desejados e quais os sentimentos evocados a partir das experimentações de novas corporalidades. Entendemos sobre como experienciam e enfrentam efeitos adversos. Foram apontadas questões importantes para a prescrição de regimes hormonais que sejam mais seguros e atendam melhor aos objetivos das usuárias. A necessidade da efetivação das políticas públicas que propõem acesso aos procedimentos de modificação corporal de maneira gratuita foi um importante apontamento. Discutiu-se também a necessidade de que profissionais de saúde sejam capazes de prover um cuidado humanizado, verdadeiramente centrado na pessoa, com escuta ativa e de maneira holística. Desta maneira, apresentamos aqui a profissional farmacêutica como um possível elo para o cuidado, especialmente na oferta do serviço de Gerenciamento da Terapia Medicamentosa no cuidado à pessoa trans.
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Este trabalho buscou compreender experiências de mulheres transexuais e travestis com o processo de hormonização. A metodologia do estudo é a fenomenologia hermenêutica, em uma perspectiva feminista. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 5 mulheres trans/travestis. A pesquisadora também realizou notas de diário de campo sobre as entrevistas e momentos nos quais esteve inserida especialmente em eventos dedicados à temática da saúde trans. As entrevistas foram transcritas na íntegra, bem como o diário de campo. Para análise dos dados, foi utilizado o software NVivo® 11. Todas as entrevistadas iniciaram o uso de hormônios na adolescência, por vias outras que não a prescrição médica. Em geral, o aconselhamento sobre o uso de hormônios foi feito por outras travestis. Foram demonstradas várias lacunas no atendimento às demandas em saúde das pessoas trans: despreparo técnico dos profissionais, questões relativas à violação de direitos humanos e desrespeito às identidades trans, patologização das vivências trans, insuficiência dos recursos do Estado e desinteresse na prestação do cuidado. Vimos que o compartilhamento de conhecimento sobre hormônios entre mulheres trans e travestis se configura em uma importante forma de redução de danos em relação aos riscos dos hormônios. Compreendemos também como os efeitos se materializam nos corpos, quais são os efeitos desejados e quais os sentimentos evocados a partir das experimentações de novas corporalidades. Entendemos sobre como experienciam e enfrentam efeitos adversos. Foram apontadas questões importantes para a prescrição de regimes hormonais que sejam mais seguros e atendam melhor aos objetivos das usuárias. A necessidade da efetivação das políticas públicas que propõem acesso aos procedimentos de modificação corporal de maneira gratuita foi um importante apontamento. Discutiu-se também a necessidade de que profissionais de saúde sejam capazes de prover um cuidado humanizado, verdadeiramente centrado na pessoa, com escuta ativa e de maneira holística. Desta maneira, apresentamos aqui a profissional farmacêutica como um possível elo para o cuidado, especialmente na oferta do serviço de Gerenciamento da Terapia Medicamentosa no cuidado à pessoa trans.Trans people use hormones to reduce characteristics attributed to the gender assigned as birth and to induce the characteristics desired by the person. Studies show the risks associated with the use of hormones. However, these drugs may be of central importance in the construction of trans bodies, and studies have shown that their use can be safe. But the violence to which the health system often subjects trans people creates barriers to their access to formal health. The construction of health possibilities happens mainly outside the health system, and the use of hormones is often made by self-medication. Thus, it is important to understand the experiences and demands of this population and to understand how they experience the use of hormones. Thus, this work aimed to understand the experiences of transsexual and transvestite women with the use of hormones. The methodology of the study is hermeneutic phenomenology, from a feminist perspective. Semi-structured interviews were carried out with 5 trans women. The researcher also carried out field diary notes on the interviews and moments in which she was specially inserted in events dedicated to the theme of trans health. The interviews were transcribed in full, as well as the field diary. The NVivo® 11 software was used to analyze the data. All of the women interviewed started the use of hormones in adolescence, by means other than medical prescription. In general, advice on the use of hormones is made by other transvestites. Several shortcomings have been demonstrated in meeting the health demands of transgender people: professionals lacking technical abilities, issues related to human rights violations and disrespect to trans identities, pathologization of trans experiences, lack of publich resources and lack of interest in care delivery. We have seen that the sharing of knowledge about hormones between trans and transvestite women is an important way of reducing harm to the risks of hormones. We also understood how effects of hormones materialize in bodies, what are the desired effects, and what feelings are evoked from the experiments of new corporalities. We understood how they experience and face adverse effects. Important issues were identified for the prescription of hormonal regimens that are safer and better meet the goals of the users. The need for the implementation of public policies that propose access to the procedures of corporal modification for free was an important point. It was also discussed the need for health professionals to be able to provide humanized, truly person-centered care with active and holistic listening. In this way, we present here the pharmaceutical professional as a possible link for care, especially in the offer of the comprehensive medication management services in the care of the trans person.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGMedicamentos UtilizaçãoTransexualismoHormoniosTravestisTransexuaisExperiência Subjetiva Com o uso de MedicamentosProcesso TransexualizadorHormôniosO hormônio traz pra realidade todos os nossos sonhos ocultos: a experiência de mulheres transexuais e travestis com o processo medicamentoso de hormonizaçãoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_24.01_final.pdfapplication/pdf1125561https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BB9JTM/1/disserta__o_24.01_final.pdf5fd024e482e963e7f5835c9985aeb184MD51TEXTdisserta__o_24.01_final.pdf.txtdisserta__o_24.01_final.pdf.txtExtracted texttext/plain369743https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BB9JTM/2/disserta__o_24.01_final.pdf.txt7a54b1c3e3a1ed53ee74ff358265c772MD521843/BUOS-BB9JTM2019-11-14 08:36:52.6oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-BB9JTMRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T11:36:52Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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