Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Patricia Rocha Lustosa
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9KRFHY
Resumo: Os dispositivos de saber-poder presentes na mecânica disciplinar, na biopolítica e na governamentalidade são modais de análise que usamos neste trabalho para investigação dos processos de subjetivação engendrados no universo da internação de adolescentes autores de ato infracional em Minas Gerais. No campo disciplinar, trata-se do esquadrinhamento e da docilização dos corpos para comporem a engrenagem social de mais-produção, cuja meta é a chamada ortopedia social. O filósofo Michel Foucault asseverou que o poder disciplinar não era suficiente para explicar novos elementos da cartografia social. Destarte, em 1976, surgem indicações sobre a biopolítica como tecnologia de poder que extravasa a mecânica dirigida ao corpo, donde se vislumbra um poder que age sobre a vida, ou seja, atua no corpo coletivo, na população. Entram em cena as tecnologias de cuidado, o controle da saúde e os processos de multiplicação da vida. Ademais, aprimoram-se tecnologias de segurança que atravessam os muros do cadafalso e são incutidas em todos os âmbitos da gestão urbana sob as insígnias da polícia e da estatística ou aritmética política. Por fim, Foucault aproxima a biopolítica da governamentalidade, explicitando como a arte de governar conecta-se a todos os indivíduos e a cada um em particular, a partir da prática pastoral de condução das condutas, como também por uma razão de Estado, que perenemente atualiza suas estratégias de controle. Os modelos liberal e neoliberal alimentam tanto a postura do Estado que acolhe o homem de sucesso, o self made man, como a legitimação do poder de tutela desse Estado sobre determinados grupos, sobremaneira as classes pobres e subalternas da sociedade. Os dados da pesquisa provêm de reflexões sobre os dispositivos de sequestro que legitimam e aprimoram, até hoje, o modelo de internação de adolescentes. O olhar sobre a privação de liberdade, especialmente quando inventariamos a rotina institucional e a fala dos atores, mostrou-nos como esse dispositivo se atualiza, suplantando o controle dos corpos dos internos por ações do funcionário pastor, desde a primeira gestão daquela instituição, e conduz, finalmente, ao enlace entre disciplina, biopolítica e governamentalidade na produção da periculosidade juvenil e dos dispositivos socioeducativos que mesclam um Estado-providência pastoral e um Estado-punitivo de coortes da juventude pobre, que pautaram a construção da categoria biopolítica da insegurança.
id UFMG_6cc917296ad7cbe43be56e2522d33ec6
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9KRFHY
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Renarde Freire NobreAndrea Maria SilveiraFabio Roberto Rodrigues BeloPaulo Cesar Pontes FragaShara Jane Holanda Costa AdadPatricia Rocha Lustosa2019-08-13T16:10:27Z2019-08-13T16:10:27Z2013-09-26http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9KRFHYOs dispositivos de saber-poder presentes na mecânica disciplinar, na biopolítica e na governamentalidade são modais de análise que usamos neste trabalho para investigação dos processos de subjetivação engendrados no universo da internação de adolescentes autores de ato infracional em Minas Gerais. No campo disciplinar, trata-se do esquadrinhamento e da docilização dos corpos para comporem a engrenagem social de mais-produção, cuja meta é a chamada ortopedia social. O filósofo Michel Foucault asseverou que o poder disciplinar não era suficiente para explicar novos elementos da cartografia social. Destarte, em 1976, surgem indicações sobre a biopolítica como tecnologia de poder que extravasa a mecânica dirigida ao corpo, donde se vislumbra um poder que age sobre a vida, ou seja, atua no corpo coletivo, na população. Entram em cena as tecnologias de cuidado, o controle da saúde e os processos de multiplicação da vida. Ademais, aprimoram-se tecnologias de segurança que atravessam os muros do cadafalso e são incutidas em todos os âmbitos da gestão urbana sob as insígnias da polícia e da estatística ou aritmética política. Por fim, Foucault aproxima a biopolítica da governamentalidade, explicitando como a arte de governar conecta-se a todos os indivíduos e a cada um em particular, a partir da prática pastoral de condução das condutas, como também por uma razão de Estado, que perenemente atualiza suas estratégias de controle. Os modelos liberal e neoliberal alimentam tanto a postura do Estado que acolhe o homem de sucesso, o self made man, como a legitimação do poder de tutela desse Estado sobre determinados grupos, sobremaneira as classes pobres e subalternas da sociedade. Os dados da pesquisa provêm de reflexões sobre os dispositivos de sequestro que legitimam e aprimoram, até hoje, o modelo de internação de adolescentes. O olhar sobre a privação de liberdade, especialmente quando inventariamos a rotina institucional e a fala dos atores, mostrou-nos como esse dispositivo se atualiza, suplantando o controle dos corpos dos internos por ações do funcionário pastor, desde a primeira gestão daquela instituição, e conduz, finalmente, ao enlace entre disciplina, biopolítica e governamentalidade na produção da periculosidade juvenil e dos dispositivos socioeducativos que mesclam um Estado-providência pastoral e um Estado-punitivo de coortes da juventude pobre, que pautaram a construção da categoria biopolítica da insegurança.The knowledge-power devices present in mechanical discipline, biopolitics and governmentality are analysis modes for the subjectivity processes produced in the universe of adolescents detained for offenses in Minas Gerais. From the disciplinary standpoint, it's the probing and docilization of bodies to compose a social gear of more-production, whose goal is called "social orthopedics". Subsequently, philosopher Michel Foucault asserted that the disciplinary power was not sufficient to explain the new elements of social cartography. Thus, in 1976, there were indications of biopolitics as a technology of power that goes beyond the mechanics addressed to the body, where one notices a power that acts on life, that is, acts on the collective body, the population. Caretaking technologies, health management and life multiplication processes are brought to light. Moreover, security technologies that cross the walls of the hoards and are instilled in all areas of urban management under the banner of the police, statistics or political arithmetic are perfected. Finally, Foucault approaches the biopolitics of governmentality, explaining how the art of governing connects to all individuals and to each one in particular, from the pastoral practice of driving behavior to reasons of State, which perennially updates its control strategies. The liberal and neoliberal models feed both the position of the State that embraces the successful man the self-made man and the legitimacy of the State power of supervision over certain groups, especially the poor and working classes of society. The research data lead us to a series of questions about the reasons that legitimize and perfect, even today, the juvenile detention model. The perspective on the deprivation of freedom, especially when the institutional routine and speech of the actors were inventoried, showed us how this device is updated, supplanting the bodies of internal control by the pastor employee's actions, since the first management of that institution, and leads ultimately to the link between discipline, biopolitics and governmentality in the production of dangerous youth and socio-educational devices that mix a pastoral Providence-State and a Punitive-State" of cohorts of poor youth, which framed the construction of the biopolitics of insecurity category.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGSociologiaBiopolíticaGovernamentalidadeBiopolítica da insegurançaPoder disciplinarSegurançaBiopolíticaDispositivo socioeducativoDispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidadeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_impressa_patricia_lustosa.pdfapplication/pdf1572706https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9KRFHY/1/tese_impressa_patricia_lustosa.pdf4d4f15d45e61c4ad28ccec9f7a43cae4MD51TEXTtese_impressa_patricia_lustosa.pdf.txttese_impressa_patricia_lustosa.pdf.txtExtracted texttext/plain445846https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9KRFHY/2/tese_impressa_patricia_lustosa.pdf.txt2a4a60d3cb088a2050edf77cf8c4643fMD521843/BUOS-9KRFHY2019-11-14 14:51:54.423oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9KRFHYRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T17:51:54Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
title Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
spellingShingle Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
Patricia Rocha Lustosa
Governamentalidade
Biopolítica da insegurança
Poder disciplinar
Segurança
Biopolítica
Dispositivo socioeducativo
Sociologia
Biopolítica
title_short Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
title_full Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
title_fullStr Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
title_full_unstemmed Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
title_sort Dispositivos socioeducativos, biopolítica e governamentalidade
author Patricia Rocha Lustosa
author_facet Patricia Rocha Lustosa
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Renarde Freire Nobre
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Andrea Maria Silveira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Fabio Roberto Rodrigues Belo
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Paulo Cesar Pontes Fraga
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Shara Jane Holanda Costa Adad
dc.contributor.author.fl_str_mv Patricia Rocha Lustosa
contributor_str_mv Renarde Freire Nobre
Andrea Maria Silveira
Fabio Roberto Rodrigues Belo
Paulo Cesar Pontes Fraga
Shara Jane Holanda Costa Adad
dc.subject.por.fl_str_mv Governamentalidade
Biopolítica da insegurança
Poder disciplinar
Segurança
Biopolítica
Dispositivo socioeducativo
topic Governamentalidade
Biopolítica da insegurança
Poder disciplinar
Segurança
Biopolítica
Dispositivo socioeducativo
Sociologia
Biopolítica
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Sociologia
Biopolítica
description Os dispositivos de saber-poder presentes na mecânica disciplinar, na biopolítica e na governamentalidade são modais de análise que usamos neste trabalho para investigação dos processos de subjetivação engendrados no universo da internação de adolescentes autores de ato infracional em Minas Gerais. No campo disciplinar, trata-se do esquadrinhamento e da docilização dos corpos para comporem a engrenagem social de mais-produção, cuja meta é a chamada ortopedia social. O filósofo Michel Foucault asseverou que o poder disciplinar não era suficiente para explicar novos elementos da cartografia social. Destarte, em 1976, surgem indicações sobre a biopolítica como tecnologia de poder que extravasa a mecânica dirigida ao corpo, donde se vislumbra um poder que age sobre a vida, ou seja, atua no corpo coletivo, na população. Entram em cena as tecnologias de cuidado, o controle da saúde e os processos de multiplicação da vida. Ademais, aprimoram-se tecnologias de segurança que atravessam os muros do cadafalso e são incutidas em todos os âmbitos da gestão urbana sob as insígnias da polícia e da estatística ou aritmética política. Por fim, Foucault aproxima a biopolítica da governamentalidade, explicitando como a arte de governar conecta-se a todos os indivíduos e a cada um em particular, a partir da prática pastoral de condução das condutas, como também por uma razão de Estado, que perenemente atualiza suas estratégias de controle. Os modelos liberal e neoliberal alimentam tanto a postura do Estado que acolhe o homem de sucesso, o self made man, como a legitimação do poder de tutela desse Estado sobre determinados grupos, sobremaneira as classes pobres e subalternas da sociedade. Os dados da pesquisa provêm de reflexões sobre os dispositivos de sequestro que legitimam e aprimoram, até hoje, o modelo de internação de adolescentes. O olhar sobre a privação de liberdade, especialmente quando inventariamos a rotina institucional e a fala dos atores, mostrou-nos como esse dispositivo se atualiza, suplantando o controle dos corpos dos internos por ações do funcionário pastor, desde a primeira gestão daquela instituição, e conduz, finalmente, ao enlace entre disciplina, biopolítica e governamentalidade na produção da periculosidade juvenil e dos dispositivos socioeducativos que mesclam um Estado-providência pastoral e um Estado-punitivo de coortes da juventude pobre, que pautaram a construção da categoria biopolítica da insegurança.
publishDate 2013
dc.date.issued.fl_str_mv 2013-09-26
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-13T16:10:27Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-13T16:10:27Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9KRFHY
url http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9KRFHY
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9KRFHY/1/tese_impressa_patricia_lustosa.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9KRFHY/2/tese_impressa_patricia_lustosa.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 4d4f15d45e61c4ad28ccec9f7a43cae4
2a4a60d3cb088a2050edf77cf8c4643f
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589145939935232